O SILÊNCIO DOS ENTENDIDOS…

Depois de três rodadas do NBB, a mídia em peso, dos sites aos blogs, dos analistas televisivos, e até os comentários na internet, anônimos ou não, batem numa única tecla, a vitoria das defesas, cuja evolução é quase obra de um milagre, onde um basquete mambembe de ontem, ressurgisse glorioso em função da redescoberta defensiva, numa unanimidade de dar  medo.

No entanto, os placares são muito próximos da temporada passada, assim como os assustadores índices de arremessos de três e os erros de fundamentos, como se todos tentassem mascarar uma dura realidade conotando progressos maravilhosos dos sistemas defensivos.

Mas o que não dizem, não comentam, não esclarecem, como num pacto opinativo secreto , é a escalada definitiva da dupla armação, agora escancaradamente utilizada pela maioria das equipes participantes, fator que modificou substancialmente a forma de atuar das mesmas.

Franca e Joinville, com seus cinco armadores compondo suas equipes, utilizam a dupla armação exterior ao perímetro, assim como o trabalho dinâmico e incansável dos três homens altos dentro do mesmo, modificando de forma decisiva suas maneiras tradicionais de jogar, e que estarão sendo seguidas muito em breve pelas demais equipes, ainda utilizando a dupla armação ligada e adaptada ao sistema único de jogo.

Em duas partidas que assisti,  Franca x Pinheiros, e Joinville x Flamengo, as mudanças técnico táticas foram evidentes e decisivas, nas quais os armadores intervenientes atuaram sempre no foco das ações, servindo continuamente os homens altos interiorizados e em alta movimentação dentro do perímetro, agilizando e dinamizando o jogo ofensivo calcado nos dois pontos, tão ou mais importantes que o tradicional e suicida de três, e que mesmo assim encontrou um ou outro jogador ainda arraigado ao estigma auto elegido de se considerar especialista na  elitizada longa distância.

Claro que estas equipes, formadas por dois, e até três armadores de boa qualidade técnica, se sobressaíram no aspecto defensivo, qualidade inata dos bons armadores, que somente atingem um alto estágio se sempre submetidos a defesas fortes e muito próximas, daí sua intimidade com os princípios norteadores de defesa.

E porque não comentaram, analisaram, ou mesmo nada disseram sobre a dupla armação, tão presente e modificadora de uma forma de jogar que nos pasteurizou nos últimos 20 anos? Não vi nenhum comentário a respeito quando a seleção feminina sub 17 ganhou o recente Sul Americano, tendo sido a única equipe de base vencedora nos últimos anos, e que saiu do país com quatro armadoras compondo a equipe, fato inusitado dentro dos rígidos parâmetros dos supervisores da CBB, mas que, em recaída inexplicável (será?…) destina a equipe sub 15 feminina para o Sul Americano próximo com somente duas armadoras!

Então torno a repetir, porque nada dizem, comentam, analisam, ou mesmo discutem?

Sei a resposta, já a conheço de muitos e muitos anos, resposta esta que sempre consubstanciou meu trabalho, minhas clinicas, meus artigos, minha luta, atitudes e ações que sempre divulguei, discuti, estudei e pesquisei, e que recentemente divulguei num vídeo , e outros mais serão veiculados aqui neste humilde blog, não para reivindicar autorias e invenções, mas sim tornar públicas conquistas de muitos técnicos, aos quais me somo numa pequena parcela, na contramão do mutismo, da negação e do não reconhecimento por parte de todos aqueles que se dizem apaixonados e conhecedores do grande jogo entre nós.

Exatamente pela importância da divulgação, discussão e análise de modificações técnico táticas de tal monta, é que se torna de transcendental importância a existência de uma Escola de Treinadores, que por seu papel modificador, através estudos e pesquisas fundamentadas na história passada, nas ações presentes e nas projeções futuras, jamais poderá ser estruturada e coordenada por profissionais que não aqueles ligados à técnica e ao ensino do basquetebol. Preparação física é outro departamento, paramédico por sinal…

Que prospere uma verdadeira Escola, com sua proposta instigante e inteligente, campo de provas para técnicos e professores de basquetebol e não de anilhas, pliometros, testes de esforço, exaustão, e padronizações…

Amém.



4 comentários

  1. Diego Felipe 17.11.2009

    É o mal de que a imprensa brasileira em geral padece: nunca aprofundar as análises. Isso sendo feito desde a imprensa policial, passando pela esportiva e indo até mesmo à politica.
    E também é fato triste o continuado comando desta ‘oligarquia’ na LNB, que como o senhor mesmo diz, tenta trazer uma ‘formatação’ ao basquete brasileiro. Sorte a nossa que alguns técnicos viram a seleção espanhola jogar o Eurobasket, e viram as vantagens da dupla armação na prática.
    Abraço

  2. Basquete Brasil 17.11.2009

    Infelizmente prezado Diego, essa realidade oligárquica que aí está dificilmente será vencida, à partir do momento em que a união associativa dos técnicos teima em não prosperar.Sem associações estaduais e posterior associação nacional, pouco ou nada de evolutivo poderemos esperar, a começar pela escola de técnicos que ora se organiza, nas mãos de um preparador fisico…
    Por aí já podemos avaliar o que nos aguarda.
    Mas não devemos perder as esperanças em dias melhores, que sem dúvida alguma ocorrerão pelas ações de uma plêiade de novos técnicos ávidos por progresso e trabalho sério. Um abraço, Paulo Murilo.

  3. Gil Guadron 18.11.2009

    Para entrenadores de Formacion.

    La formacion atacante con dos armadores tiene la ventaja de evitar en gran medida los “Traps” defensivos y favorece ofensivamente tanto el pase de entrada como el pase de “reverse”.

    Ademas favorece el balance defensivo despues de tomar un tiro.

    Recuerde:
    1- Practique los fundamentos del basquetbol en cada entreno, en condiciones lo mas cercanas a la realidad del partido.
    2- Tomen solo tiros de “alto porcentaje” ; estos son definidos y practicados en los entrenos.
    3- Permitales a los jugadores libertades de “toma de decisiones” en las acciones del juego/ lectura del juego.
    4- Jamas estereotipe o mecanize demasiado ningun sistema de ataque, pues lo hace predecible, favoreciendo la tarea defensiva.

    Con respetos.

    Gil Guadron

  4. Basquete Brasil 18.11.2009

    Preciso e cirúrgico Gil. Em quatro ítens tudo muito claro.E ainda tem gente que adora complicar o grande jogo…
    Um abração, Paulo.

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