35 seg…

E se não bastasse a maratona de ontem assistindo basquete a não mais poder, hoje, na Band Sports ainda resisti a mais dois jogos, um na ACB espanhola e outro na NCAA. Ficou faltando somente um do campeonato checheno, mais ai seria pedir demais.

Mas a experiência de hoje foi traumática, pois em ambas as transmissões tive o enorme desprazer, e até certo ponto incomodo, de ser bombardeado por comentários toscos e, pelo cartel do comentarista, comprometedor, pois em se tratando do importante e genial  assistente técnico da seleção principal brasileira e coordenador das divisões de base da CBB, comentou de tudo, absolutamente tudo, menos basquetebol, basicamente técnica de basquetebol.

Minto, pois lá pelos meados da segunda etapa do jogo da ACB definiu duas jogadas seqüenciais como muito bem executadas, e só.

Mas como bem executadas, sob que aspectos, de que formas e maneiras desenvolvidas, e em que situações e momentos de jogo, se ofensivamente individuais ou produtos coletivistas?  Enfim, definiu-as  como muito bem executadas, além dos repetidos rompantes de “que passe”, “que enterrada”, “que jogada”, “que finta”!

Tenho por principio de que um comentarista esportivo tenha a obrigação de esclarecer o público sobre as questões técnico táticas que estão se desenrolando na quadra, pois nem todos tem o conhecimento que tenho sobre a técnica do grande jogo, que por ser complexo em sua forma, deveria ser explicitado pelo profissional ali escalado para fazê-lo, e não ser testemunha passiva ( e revoltada) de envio de abraços e lembranças, almoços e jantares, testemunho de freqüência em clinicas mundiais, telefonemas e encontros com técnicos gabaritados, numa auto promoção de enrubescer um frade de pedra.

E mais adiante a hecatombe, quando ao responder uma colocação do narrador, de que um amigo o havia inquirido sobre a possibilidade de adotarmos nas divisões de base o mesmo tempo de posse de bola da NCAA, de 35 seg. , teve como resposta- “ Trata-se de uma abordagem sistêmica(?), pois o fato marcante é que temos de melhorar a técnica de execução dos fundamentos, e os 24 seg são mais do que suficientes, pois reportam a realidade do jogo, logo não sou a favor dos 35 seg de posse de bola. E veja que a media de posse de bola neste jogo é muito inferior aos 35 seg que as equipes tem direito…”.

E deste momento em diante passam os dois a cronometrar as posses de bola, exultando a cada desfecho abaixo do tempo limite de posse.

Lamentável, pois demonstraram o absurdo desconhecimento que tem, principalmente o genial técnico, do real significado do que venha a ser uma abordagem sistêmica, quando todo um processo evolutivo e educacional é desenvolvido respeitados os princípios inalienáveis da evolução neuro motora e bio psicológica de todos os jovens envolvidos em situações de aprendizagem, onde seus ritmos e etapas de maturação se diferenciam de individuo para individuo, numa progressão arrítmica e profundamente pessoal.

Logo, quando os americanos instituíram e mantêm os 40 e os 35 segundos em sua formação de base, têm como referencial básico o pleno e irrestrito respeito ao desenvolvimento escalonado e individualizado de seus jovens, habituando-os ao gestual correto dos fundamentos, independendo do tempo necessário a assimilá-los com pleno domínio de execução, inclusive nas ações defensivas, onde a persistência e manutenção do foco da ação se antepõe aos poucos ao desgaste inerentes às mesmas, num crescendo produtivo e perfeitamente assimilável por todos, os lentos e os rápidos de aprendizagem submetidos a um processo didático pedagógico equilibrado e correto. Não foi por acaso que a equipe brasileira no mundial juvenil, onde alcançou o quarto lugar, dirigida pelo comentarista de plantão, foi surrada pela equipe americana exatamente pelo embasamento adquirido por uma corretíssima abordagem sistêmica, antagônica à defendida pelo mesmo em sua coordenação das equipes de base e das clinicas da CBB, onde ao negar seguida e determinantemente todo o conhecimento, experiência, estudo e pesquisas dos grandes técnicos existentes no país, principalmente na formação, se arvorou, com seu grupo, inclusive na elaboração da escola de treinadores, como os únicos responsáveis e conhecedores na sua formulação curricular e  de preparo das seleções sob suas responsabilidades, ações estas herdadas da administração anterior, e que deveriam ser substituídas por outras mais condizentes à realidade de um basquetebol evolutivo e que tem a obrigação de se reformular histórica e tecnicamente, tendo como base os bons exemplos do passado, os péssimos entraves do presente, e as excelentes perspectivas em um futuro que fuja celeremente da absurda mediocridade que se instalou entre nós.

E ao final das transmissões fomos premiados com uma incoerência transcendental, quando nosso comentarista-técnico, ou técnico-comentarista afirmou-“Gostei de Clemson, principalmente pela sua defesa. É difícil manter uma pressão quadra inteira pelo tempo todo, mas o fizeram…” , em anteposição à sua não aceitação dos 35 seg de posse de bola nas divisões de formação, exatamente a responsável pela manutenção defensiva elogiada…

Mas o que é bom para eles, certamente não o é para nós, ainda mais quando teríamos de nos responsabilizar pelas tais “abordagens sistêmicas” , assunto para intelectuais frustrados e rancorosos que se mordem todos por não possuírem os QIs dos que dão as cartas, marcadas ou não, donos que são do futuro de nossas gerações.

Que os deuses se apiedem de nossos jovens, mesmo que por somente 35 seg.

Amém.



6 comentários

  1. Wilker 11.01.2010

    Muito legal a materia. Eu tambem sofro quando vejo os comentaristas falarem coisas sem sentido ou incorretas em relação a parte tática do jogo. Mas tambem nem todos tem uma boa noção de basquete pra saber comentar de maneira certa principalmente os da tv aberta. Acho q as emissoras devem se preocupar com isso.
    Parabéns pela matéria e pelo blog!!!

    Wilker – Cataguases-Mg

  2. Basquete Brasil 12.01.2010

    Obrigado Wilker pelo incentivo, mas infelizmente não acredito que as emissoras de Tv abertas ou fechadas invistam, ou preparem comentaristas técnicos. A exceção é a ESPN, não só para o bsquete, como para as demais modalidades. Só sinto, de verdade, que a mesma não invista num canal aberto, quando engoliria a concorrência com muita facilidade. Um abraço, Paulo Murilo.

  3. Jalber 12.01.2010

    Fico feliz em perceber o crescimento intelectual do atletas do Assistência aqui de Cataguases, preocupados com o grande jogo em todas as suas instâncias e podendo dizer com propriedade suas convicções. Parabéns Wilker!!
    Ao professor mais um artigo de qualidade pautado no argumento embasado. o que dizer além de parabéns?!!
    Quanto aos comentaristas, o melhor jogo que assisti foi um jogo pela internet que só tinha som ambiente, sem narração e sem comentaristas somente o lindo som ambiente, a música formadas pelos sons do grande jogo!!! Ótimo!!!

  4. Basquete Brasil 13.01.2010

    Também fico feliz com o despertar dessa juventude para as coisas sérias do esporte, da educação. E cada vez mais veremos outros jovens participarem das decisões, das discussões, e por que não, das definições de politicas orientadas ao futuro de nosso povo. Um abraço Jalber, e parabéns pelo seu trabalho ai em Cataguases.
    Paulo Murilo.

  5. Basquete no Corredor Esportivo do Moneró 15.01.2010

    Comentaristas bons mesmos são o Wlamir Marques, o Zé Boquinha e o Byra Bello,com estes até o telespectador que não entende de basquete passa a entender.

  6. Basquete Brasil 15.01.2010

    Respeito sua opinião prezado redator, mas poderiam ser um pouco mais Wlamir, o único que aborda o jogo técnico táticamente,que seria completo se não distribuisse tantos abraços e recados. Mas nem tudo é perfeito…
    Paulo Murilo.

Deixe seu comentário