O VIGÉSIMO SEXTO DIA – O JOGO…

Como jogamos bem hoje, como lutamos e perseveramos, como suprimos no limite da resistência aqueles que não estiveram junto a nós, mas perdemos, ao final do último quarto, contra uma equipe que venceu a pouco os grandes da competição, e que não ultrapassou os 70 pontos, mas perdemos, o que nos tornam, a mim e os jogadores, alvo dos descrentes de que algo de renovador possa transcender a mesmice técnico tática a que nos habituamos nos últimos 20 anos, mas infelizmente perdemos, quando uma vitória nos redimiria de tanta incompreensão e imediatismo vindo daqueles cuja mediocridade arrasa mentes e espíritos abertos, e que não se cansam do que fazem.

Que pena a não divulgação pela TV de um jogo, de uma peculiar maneira de jogar, senão diferente, eficiente, democrática, criativa, onde jogadores aprendem a ler o jogo de verdade, onde se ajudam e discutem os melhores caminhos, errando algumas vezes, mas indo de encontro às soluções sem pranchetas e controle coercitivo de fora para dentro da quadra, onde o técnico os assessora e aconselha, e não escravizando e bitolando.

Iremos continuar, treinaremos muito, trabalharemos sem limitações, para em breve, ou um pouco mais adiante, estarmos realmente prontos e plenamente donos de um sistema que nos caracterizará, nos identificará como uma equipe a ser respeitada e digna de ser apreciada.

Amanhã reinvidicarei um pequeno equipamento de vídeo, e reforçarei o pedido de alguns apetrechos de madeira que desenhei para auxiliarem no treinamento, principalmente de arremessos. São muito simples e eficientes, e que muita falta nos fazem. Enviarei também um pedido à LNB para que nos permita colocar o vídeo de um de nossos jogos aqui no blog, para que os jovens técnicos do país o avaliem, comentem e discutam sua validade, ou não. Seria uma ótima oportunidade que a Liga daria aos mesmos, tão carentes de informação de qualidade.

Ainda mantenho as esperanças de que a administração possa solucionar de vez o impasse com os jogadores que não disponho para treinamento e jogos desde a volta de São Paulo, e que tanta falta nos fizeram contra Franca e Araraquara, e que também farão neste fim de semana contra Bauru e Assis.

Mas apesar das derrotas, sinto que algo nos tem empurrado de encontro a estes novos tempos, patrocinados por um sistema de jogo que aceitaram e lutam para incorporá-lo definitivamente em sua s ações e em seus comportamentos, e da melhor forma que é desejável, como base de uma equipe, de uma verdadeira equipe.

Perdemos, mas em breve não perderemos mais, pelo menos da forma que nos tornam alvo do descrédito e da mais absoluta falta de visão de todos aqueles que se acham donos do grande jogo, já que pasteurizados e colonizados irremediavelmente. Busco e todos buscamos um verdadeiro sentido de equipe, solidificado no terreno fértil dos bons sistemas de jogo, e de um espírito de união que nos leve de encontro a vitoria, e a conseguiremos.

Amém.

Adendo 1 – Aos juízes da Liga.

Em 1972 publiquei na Revista Arquivos da EEFD/UFRJ um artigo sobre a defesa linha da bola, onde mencionava a enorme dificuldade em convencer os juízes das ações não faltosas na marcação frontal dos pivôs. Somente quando professor convidado nos cursos de formação de juízes da FBERJ, lecionado aspectos técnicos dos fundamentos do jogo, é que pude vagarosamente provar a ação não faltosa. Hoje esse tipo de marcação pode ser exercida livremente, e por conta desta evidência é que apelo aos juízes maiores atenções nas ações extremamente faltosas embaixo das cestas, onde o aspecto físico em muito transcendem o técnico, em evidente prejuízo ao basquete brasileiro. É bom lembrar que os critérios atualmente empregues nos aproximam aos padrões eminentemente físicos adotados e praticados na NBA, quando nossos esforços deveriam ser dirigidos aos padrões FIBA. São situações e atitudes que deveriam ser devidamente discutidas, estudadas e aplicadas corretamente nos nossos campeonatos, onde técnicos poderiam ajudar nos esclarecimentos, como os fiz alguns anos atrás  nos cursos de formação de juízes no Rio de Janeiro.

Paulo Murilo.



9 comentários

  1. Jakson Malacarne 08.03.2010

    Meu nome e Jakson e sou nascido em Vitoria. No Saldanha comecei a jogar basquete com 13 anos ate os meus 28 mas tambem joguei em outros estados. E tambem ajudava nas categorias de base do clube. Acompanhei sua chegada no Saldanha e por sorte encontrei o seu blog, desde entao venho acompanhando seus dias e os do Saldanha.
    Conheco alguns do seus atletas como o Case (que e como um irmao para mim), o Wanderson, o Diego, o Lucas (tambem foram meus atletas) e tambem o seu assistente Washington que e um cara fora de serio que me ajudou muito no meu inicio como jogador.
    Estou morando fora do Brasil e tentando trabalhar com o basquete por aqui (mas o ingles ainda nao esta bom), e ja faz algum tempo que nao trabalho com treinador, por isso achei a idea de voce colocar alguns video do sistema que voce esta usando no Saldanha e o seu metodo de trabalho.
    Muito Obrigado pelo espaco e muita sorte no campeonato torco pelo seu sucesso e saude para voce e sua familia.

    obs: Voce pode mandar um abracao para os caras por mim e dizer que estou torcendo muito por eles. E de meus parabens para o PAPAI CASE.

  2. Basquete Brasil 08.03.2010

    O abraço será dado daqui a pouco no treino desta manhã prezado Jackson, e obrigado pelo apoio, pelos votos de sucesso no trabalho. E fique certo que este espaço estará sempre aberto para você e todos aqueles que como eu amam o grande jogo. Paulo Murilo.

  3. Juvenal 08.03.2010

    Infelizmente professor, nós, enquanto brasileiros, temos essa mania de querer tudo de imediato, não aceitando trabalhos com resultados de médio prazo, ainda menos de longo prazo, o resultado? É a nossa sociedade cheia de valores deturpados.
    Com certeza o senhor tem apoio dos jogadores que realmente se dizem profissionais e os são, assim como tem de toda a torcida do Saldanha da Gama.
    O que vem nos incomodando são os famosos “corpos-moles” dentro de quadra, isso quando em quadra estão. Quem sou eu para julgar o caráter de A, B ou C. Tenho amigos dentro do Saldanha da Gama e sei da dificuldade de alguns, dentre os quais, ainda que com salário atrasado (problema administrativo, totalmente fora do controle do senhor) se dispõem a treinar e a jogar com gana de ganhar.
    Infelizmente o problema relacionado ao “estrelismo” de alguns jogadores são conhecidos há muito por todos, mas as vezes continuamos com os mesmos erros, erros esses que devem ser sanados ou, no mínimo, superados para que, enquanto equipe, se possa ter um trabalho uno digno de uma equipe e não apenas de jogadores que, por “ordem do destino”, vestem o mesmo uniforme.
    Assim como em qualquer trabalho o bem-estarismo é fundamental, no basquete e em qualquer outro esporte não pode ser diferente, deve-se unir forças e somar esforços para superar obstáculos e não jugar-se superior e se deslocar ou fingir que o problema não lhe atinge.
    Independente de qualquer coisa, nosso apoio continua incondicional. No jogo com o Franca alguns ilustres desconhecedores do basquetebol ensaiaram vaias, enquanto outros gritavam para “chutar de três”; encarecidamente professor, como torcedor do Saldanha, um dos fundadores e primeiro presidente da Fúria Vermelha do Saldanha da Gama, peço que ignore este tipo de manifestação que mostra a clara e evidente falta de conhecimento técnico e tático. Quem acompanha vosso blog e assiste aos jogos consegue perceber facilmente onde estão os ensinamentos dados pelo senhor e como estamos melhorando. O problema é velha, querem ver NBA em solo brasileiro.
    Fortes abraços professor…muita força e garra sempre.

  4. Basquete Brasil 08.03.2010

    Que relato gostoso de ler, e porque gostoso? Por ser autêntico e profundamente honesto, qualidade que prezo acima de tudo Juvenal. A Torcida Fúria Vermelha está de parabéns tendo você, fundador, como digno representante dela, e pode estar absolutamente certo de que vaias e incentivos para chutes de três partem de quem odeia e despreza o grande jogo, exatamente por não terem condições mínimas de entendê-lo em toda a sua dimensão de arte superior. E mais, enquanto aqui eu estiver terão de respeitá-lo integralmente, pois em caso contrario estarão sendo expostos ao ridículo papel de detratores do mesmo. Sigo na luta, sigo na certeza em dias melhores para o seu amado Saldanha. Obrigado. Paulo Murilo.

  5. Fábio /SP 08.03.2010

    Professor, não é nada fácil disputar um jogo de campeonato profissional com o desfalque de dois ou 3 jogadores de garrafão fundamentais ao esquema do time, mesmo assim o time virou vencendo Araraquara por 41 x 29!!! Prova de que o trabalho vai evoluindo e que essa forma de jogar pode e deve ser muito explorada. As questões que tenho são: 1) como o senhor trabalha o equilíbrio defensivo, visto que com 3 pivôs móveis, e só 2 armadores fora, em caso de perda de bola a bandeja adversária é quase inevitável? 2) Com os desfalques de pivôs, o senhor utiliza um lateral (ainda que bem mais baixo) para ser um dos 3 pivõs móveis do sistema? 3)O que seria e como é utilizado o apetrecho de madeira para trabalhar o arremesso dos atletas? 4) Defensivamente falando, o senhor treina outros sistemas que não a defesa linha da bola, como alternativas para variar contra outras equipes? Por hora é só, continuo atento na torcida e acompanhando o seu trabalho, aprendendo mais a cada dia. Obrigado pelo acesso, abraços,

    Fábio/SP

  6. Carlos Eduardo 08.03.2010

    Professor, apesar dos resultados do final de semana, o trabalho está em profunda evolução. Os números não metem. Mesmo distante, estou torcendo para o senhor continuar a frente do trabalho na próxima temporada. Boa sorte e parabéns pelo trabalho.

  7. Fábio/SP 08.03.2010

    Em tempo, Professor, o que o senhor define como fundamentos coletivos?

    E como pretende reconstruir a equipe após a notícia dada agora pouco do desligamento dos atletas Daniel Kaçamba, Lucas Costa e Mosley?

    Abraços, bom trabalho e paciência, torço muito

    Fábio/SP

  8. Basquete Brasil 09.03.2010

    Obrigado Carlos Eduardo, sem dúvida o trabalho tem evoluido bastante. Mas agora, com as dispensas de três jogadores básicos prevemos algumas complicações, principalmente pela ruptura de um entendimento técnico dentro da equipe. Mas vamos perseverar, sempre. Agora, quanto à próxima temporada somente a organização do clube pode estabelecer, comigo ou outro técnico envolvido. Esperemos pacientemente por um futuro, como sempre nesse país, incerto. Um abraço, Paulo Murilo.

  9. Basquete Brasil 09.03.2010

    Prezado Fabio, sem dúvida o trabalho sofrerá alguns recuos motivados pela perda dos três jogadores, mas iremos em frente. O equilibrio defensivo estará sempre guarnecido pelo posicionamento central de um dos armadores, que ao evoluirem livremente pelo perimetro externo, tem como uma das referências técnicas o posicionamento rotativo da região central da quadra. Outrossim, um rebote contando sempre com três atacantes a disputá-lo dificilmente permitirá que um defensor encontre muito espaço para iniciar um contra ataque, isso se conseguir a posse da bola sem combate direto.Outra duvida sua sobre que comporia a vaga deixada por um pivô móvel? Respondo sugerindo uma diferente terminologia. Que tal Alas-pivôs móveis? Fabio, todo e qualquer ala de boa estatura estará a vontade na posição de pivô, na medida direta de sua mobilidade e velocidade.Outra questão sua, os fundamentos coletivos, que os americanos(Olha o Bira Bello comentando…)chamam de Drills, nada mais são do que ações baseadas nos fundamentos exercidas por dois ou mais jogadores, compondo os exercicios especiais de fundamentos. Quanto ao apetrecho vou publicar um artigo somente com ele. Um abraço, Paulo Murilo.

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