O PLENO DIÁLOGO…

No espaço dedicado aos comentários do último artigo aqui publicado “ Um Congresso em Lisboa” , tive o privilégio de estabelecer um diálogo com um técnico do interior de Minas Gerais, o Henrique Lima, contando suas dificuldades, incertezas e questionamentos sobre a difícil missão de dirigir equipes de formação, pedindo sugestões e análises sobre treinamentos, sistemas e ações pedagógicas no ensino dos fundamentos e sistemas de jogo. Selecionei alguns trechos, deixando à curiosidade dos leitores o completo teor do mesmo.

  • Henrique Lima 26.04.2010 (4 dias atrás)

Professor te questiono pelo sistema Flex pelo seguinte:

É um sistema válido de passar para atletas que encaminham para o juvenil na próxima temporada?

Quais os pontos positivos de ensinar um sistema como este?

O senhor acredita que os atletas tem que sabe tais sistemas (este e o que senhor mencionou), ao menos o básico de cada um?

Eu fico sempre na dúvida disso em relação a estes sistemas e a melhor utilização dos mesmos, uma vez que os atletas podem e tendem a ficarem presos em uma maneira de jogar somente.

Enfim, as dúvidas não cessam Professor Paulo, apenas aumentam e parecem cada vez mais complexas e com soluções ainda mais escondidas! rs

Obrigado, um grande abraço e boa segunda feira!

  • Basquete Brasil 26.04.2010 (4 dias atrás)

Guarde bem para você prezado Henrique, jogadores só ficam presos a sistemas se os técnicos assim determinarem, pois os grilhões atados aos mesmos são imposições vindas de fora para dentro das quadras, ou por insegurança, ou por inflados egos. Jogadores autônomos e criativos, dentro de qualquer sistema, somente serão possíveis se dominarem a essência do grande jogo, seus fundamentos. O atual sistema proposto por mim é algo inusitado, pois preconiza a total liberdade criativa dos jogadores envolvidos com o mesmo. Mas para tanto, a necessidade básica se lastreia nos fundamentos muito bem treinados e estabelecidos, sem os quais o sistema morre no nascedouro. E assim para os demais sistemas, sejam eles quais forem.
É uma escolha difícil de pensar e raciocinar, mas comece pela base de tudo, o pleno conhecimento das habilidades pessoais e técnicas de seus jogadores, suas ambições, seus sonhos, e dai em diante estabeleça um sistema que potencialize estas questões. Esse é o caminho a ser percorrido pelos bons e autênticos técnicos, agindo antes de tudo como convincentes e preparados professores.
Um abraço, Paulo Murilo.

  • Henrique Lima 27.04.2010 (3 dias atrás)

Obrigado Professor Paulo!

Ontem tive a estréia como treinador da categoria Sub-17 (por que trocaram os nomes para estes siglas horrorosas?).

Foi um jogo que achei melhor do que o relato para mim das atuações anteriores. Temos um longo caminho para trilhar e muito que melhorar.

Porém, é possível e isso é o mais importante. A situação em que vivo aqui é de certa forma muito semelhante à situação que o senhor pegou em Vitória quando ali chegou. Relendo os textos do senhor do começo da trajetória, existem pontos em comum e serei eternamente grato por ter colocado à disposição todo seu trabalho nos artigos que escreveu naquele momento, fora os mais antigos que ando relendo também!

Agora estou mais tranquilo realmente após assistir à primeira partida! E é começar a treinar com base em tudo que estudei!

Um grande abraço Professor Paulo, espero não somente novos textos como sempre mais discussões!

  • Henrique Lima 27.04.2010 (3 dias atrás)

E faltou dizer Professor Paulo, assim como o senhor eu não fico dando gritos e aqueles excessos à beira da quadra.

Não vejo motivos para tal. Com certeza falo palavras de incentivo, mas nada de outro mundo. Acredito nisso após ler os textos do senhor sobre o tema e também após várias conversas com a minha professora de psicologia do esporte na faculdade.

Cheguei à conclusão que na formação, o mais importante é a troca de informações e o ensino do que está sendo feito. E tenho me pautado, não sei se corretamente, de explicar o que ocorre para aqueles que estão descansando no banco, mas que irão entrar na partida e que fazem parte do jogo e não podem ficar esquecidos.

Mas é complicado mudar a cultura apesar de necessária ser feita essa mudança, Professor. Neste ponto temos péssimos exemplos da mídia que praticamente vende que o que funciona é xingar os atletas, cobrar excessivamente como se ali resolvesse tudo, jogando fora o dia-a-dia do trabalho que é muito mais importante.

Um grande abraço e me desculpe os longos comentários!

  • Basquete Brasil 27.04.2010 (3 dias atrás)

Prezado Henrique, que belo testemunho o seu. Fico imaginando se eu tivesse mais acesso aos novos técnicos de todo esse imenso país, que outros testemunhos teria de igual magnitude? Esta é a minha idéia de uma escola de treinadores, aberta, lúdica, estudiosa e pesquisadora, e acima de tudo democrática, onde a curiosidade e o questionamento constantes amalgamam o raciocínio critico e impessoal. Temo pela escola que ai vem, com suas padronizações e formatações, ovo serpentário do lugar comum, da mesmice, do comando centralizador, autoritário e ditatorial. E ainda falam em democracia do alto(ou baixo?…)de uma comissão de 13 membros, todos envolvidos e professando um único sistema de jogo, que juram padronizar e formatar definitivamente pelo país afora. O décimo quarto membro (deveria ser por dirigir uma equipe da LNB), eu mesmo, jamais seria entronizado professando o oposto, gerando a dúvida, provando o óbvio, cultuando a liberdade de ação e expressão, mola fulcral e mestra do desenvolvimento do grande jogo entre nós, esquecido, padronizado e formatado por todos eles, e o mais constrangedor, coordenado por um preparador físico, não um técnico, um dos treze. Mas tenho esse simples e humilde blog, onde professores do interland nacional podem se manifestar livre e democraticamente, como você Henrique.
Desculpe o desabafo, mas na presença louvada e incensada pela mídia televisiva de 78 arremessos de três pontos, sendo 53 só da equipe que é dirigida pelo técnico do ano de São Paulo,e que arremessou somente 17 bolas de dois na terceira partida do play off contra o Flamengo, como um dos grandes jogos do NBB2, paira no ar a seguinte e emblemática questão- Até quando meus deuses, até quando?
Um abraço e continue sua saga Henrique, acredite em você, estude e pesquise, e se o sucesso advier, ótimo, se não, tenha a consciência de ter feito um excelente trabalho.
Paulo Murilo.

Juntemos a este singelo diálogo entre um velho professor e técnico, com um jovem interiorano que se lança no espaço atemporal de uma carreira depreciada e marginalizada, mas pleno de esperanças e ardor pela luta que testemunhará ser desigual e injusta bem mais adiante, sua imensa vontade de aprender, para termos a certeza de que continuará perseverando como  todo bom guerreiro, como todo bom educador.

E logo mais (1/5/10) em um hotel de São Paulo( por que não no Rio, sede da CBB?), quando a  Comissão Nacional de Treinadores se reunirá pela quarta vez no espaço de 3 meses, tempo em que foram formados os comitês  que definiram a regulamentação inicial, o planejamento estratégico, os conteúdos pedagógicos e as linhas de pesquisa, num recorde impar no mundo ( os espanhóis e argentinos levaram mais de vinte anos para atingir tais metas, e os americanos somente oitenta), determinando para maio o Cadastramento Nacional dos Treinadores e já estabelecendo o primeiro curso, o de nível três( Viu Henrique, primeiro os técnicos atuantes de cima, e só para 2011 os iniciantes, numa inversão também inédita no mundo, mas que garante a posição corporativista dos que ai estão), é que poderemos dimensionar a barbaridade que está sendo cometida, não fossem os mesmos assim definidos numa matéria publicada pelo Databasket  de 19/4/10 sob o título – Novas etapas da Escola Nacional de Treinadores –

(…) “Tudo foi definido de maneira democrática pela Comissão Nacional de Treinadores (CNT), que é composta  pelos técnicos convidados para formar os comitês de honra, de desenvolvimento e científico(…).

Como vemos, conceitos democráticos onde convite de quem manda substitue votos e mérito, numa irretocável evidência do que esperar da novel escola, a começar pela coordenação entregue ao mais graduado técn…não, a um preparador físico, que genialmente põe para funcionar um projeto de tal magnitude em 4 reuniões de seus subordinados técnicos, já que inferiores planificadores, tática, técnica, didática e pedagogicamente falando.

Será que tudo isso ocorreria ante a existência de uma forte associação de técnicos no país? Eis o preço a ser pago pela pusilânime omissão.

Que todas as equipes divinas nos protejam.

Amém.



2 comentários

  1. Henrique Lima 05.05.2010

    Professor Paulo Murilo, como vai o senhor ?

    Cheguei de viagem e vi o texto do senhor. Obrigado pelos elogios !

    Sobre a Escola de Técnicos, novamente vamos tentando fazer as coisas certas da maneira errada. Não me surpreende mais. Aliás, não causa mais espanto e tão pouco causa tristeza, uma vez que tudo isso é tão repetitivo, que chegou ao ponto de ser cansativo e se tornar “o certo” para tantos por aí ….

    Nunca entendi porque um Preparador Físico como “líder” da guinada entre nós técnicos, por que não um TÉCNICO ? E o pior, como a classe ainda reclama que trazem de fora os técnicos para o cargo de tecnico da seleção, uma vez que nem na própria entidade conseguimos comandar ?

    E tão pouco compreendo porque os técnicos da base, aqueles que tem a maior importância em qualquer processo de ensino de jogo, são sempre colocados em segundo, terceiro, décimo plano pelas pessoas que comandam.

    O senhor foi convidado por este grupo para ter algum cargo nesta escola ?

    Um grande abraço Professor !

  2. Basquete Brasil 06.05.2010

    Convidado eu Henrique? Eles não são loucos de me convidar, pois sabem que na primeira reunião eu proporia a destituição do coordenador preparador físico, amparado nos principios hierárquicos, de mérito e de condição profissional. Claro que isso seria impensável a um colegiado que almeja a liderança da escola, nunca a sua qualidade, e muito menos que realmente funcione, já que suas competências não chegam muito adiante do servilismo e da conivência com os patrões, que desejam o basquete onde se encontra.Os verdadeiros professores continuarão de fora, como sempre estiveram. Mas a Escola Carioca de Basquete, aqui representada por este humilde blog continuará informando, debatendo e dialogando o grande jogo, democrática e éticamente, como sempre o fez. Um abraço Henrique,
    Paulo.

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