

Recebo um email do amigo Alcir Magalhães convocando-me para opinar sobre os resultados pífios das seleções masculina e feminina nos recém findos campeonatos mundiais.
Coincidentemente, estava elaborando um artigo enfocando esse assunto, nada fácil por sinal, mas que de certa forma atende a convocatória do Alcir.
Foram os campeonatos da afirmação e solidificação do sistema único de jogo no atual cenário do basquete mundial, porém, com uma única exceção, como que confirmando a regra geral, a equipe masculina dos Estados Unidos.
Os dois torneios me fizeram lembrar de uma competição entre jovens pianistas clássicos na Rússia, sobre a obra de Chopin, onde uma mesma peça daquele gênio musical, foi o tema escolhido pelos 5 finalistas.
Imaginemos a cena de um teatro lotado, silencioso, respeitoso, com o imponente piano de cauda no centro do vasto palco, no qual, 5 jovens interpretes solaram uma mesma peça clássica, com a mesma partitura, sob o crivo analítico de uma mesma banca, para entendermos quais os critérios que os classificaram e premiaram.
Terá sido a beleza das interpretações, a sonoridade, o respeito à partitura original, a postura e presença cênica, ou além destes predicados, o profundo conhecimento da difícil e complexa peça, somente exeqüível se produto de uma técnica de execução somente possível de ser adquirida pelo treino intenso dos fundamentos musicais, desde o toque nas teclas, até o domínio da teoria musical?
Claro que algo de muito especial, mesmo ante a realidade linear que estava ali representada, definiria o vencedor, que não poderia ser outro, senão aquele que, mesmo contido dentro da rigidez da notação clássica, incluísse em sua apresentação um novo elemento, ou uma nova perspectiva não alcançada pelos demais concorrentes. E assim o foi.
Assim também o foi nesses dois mundiais, onde no masculino, uma equipe oriunda do país que popularizou e sedimentou o sistema único de jogo, que foi unanimemente praticado por todas as seleções intervenientes, os Estados Unidos, ao romper unilateralmente todo esse processo globalizado, levou de vencida a todos, num dos resultados mais previsíveis de todos os tempos, antepondo a essa previsibilidade todo o poderio de seu superior domínio nos fundamentos do jogo, no manuseio preciso da bola, do corpo e seus equilíbrios gravitacionais, até o domínio da leitura do jogo, movimentos análogos aos dos jovens pianistas, no domínio das teclas e da teoria musical.
No feminino, onde todas as equipes tiveram comportamentos lineares, rigorosa, técnica e taticamente iguais, somente o superior domínio dos fundamentos e da precisa leitura de jogo definiria o resultado, que repetindo o masculino, teve nos Estados Unidos o grande vencedor.
E a equipe brasileira? Bem, se pudéssemos traçar uma equivalência com o exemplo dado dos jovens pianistas, somente um diagnóstico poderia ser definido, para quem não teve o domínio das teclas e da teoria musical, a sucumbência ante a realidade, mesmo linear das demais equipes, na qual a inferioridade técnica nos fundamentos, e a má leitura de jogo, definiu com justiça e precisão a nossa classificação.
Mas, e a direção técnica, no que poderia ter influenciado, ajudado, contemporizado, minimizado ou potencializado? Resposta crua e objetiva? Nada, a partir do momento em que após 3 meses de preparação e treinamento, agregou na véspera do primeiro jogo na competição, duas jogadoras que sequer participaram dos mesmos, e vindas de uma competição com regras e conformações técnico táticas antagônicas ao que encontrariam na competição mundial, como fatalmente encontraram, dando no que deu…
Finalmente, no concernente à direção da equipe masculina, somente um fator foi determinante em nossa má classificação, a inadequação de nosso pífio domínio nos fundamentos do jogo, que praticamente anulou a concepção técnico tática proposta pelo técnico argentino, inviabilizando-a, levando a equipe para o improviso puro e simples, que mesmo demonstrando o talento de nossos jogadores, manteve-os vulneráveis às estruturas mais sólidas de nossos adversários, no ataque, e principalmente na defesa.
Concluindo, se não tomarmos um novo caminho no ensino e na divulgação de informações técnicas aos nossos técnicos e professores, responsáveis que são pela preparação fundamental de nossos jovens, aferindo e avaliando-os permanentemente, num movimento de massificação, nas escolas e clubes do país, em hipótese alguma chegaremos em 2016 com uma massa crítica que nos possibilitaria formar, treinar e preparar seleções condignas e competitivas, no que seria uma catástrofe anunciada.
Mas para tanto, urge que a CBB e a LNB, promovam o encontro daqueles técnicos e professores mais representativos na formação de base, assim como aqueles que lidam nas divisões superiores, todos irmanados no grande esforço visando o soerguimento do grande jogo nesse imenso país.
Fora isso, nada nos restará, a não ser as previsíveis lamurias protocolares, bem ao gosto daqueles que não desejam, que de forma alguma, retornemos à grandeza do passado, ao nosso lugar de fato e de direito.
Trabalhemos então, é o desfio que proponho, a todos…
Amém.