AMPLITUDE, REFERÊNCIAS E EQUILIBRIO…

Foi como tivéssemos visto dois jogos distintos em um só, quando oito jogadores disparavam na pista e dois outros apenas caminhassem na mesma, sendo que um deles ainda trotava na ponta dos pés, e o outro nos calcanhares, ação típica de defesa das articulações tíbiotarsicas ao excesso de peso sobre elas. Foi triste assistir um filme com dois enredos díspares, quando deveria existir somente um, claro, guardadas as particularidades de cada uma das  equipes

Brasília, com um pivosão um pouco mais rápido que o do Flamengo, se situava melhor no esquema adotado por seus companheiros, que ao transitarem permanentemente pelo perímetro interno, o colocava sempre de frente para a cesta, facilitando suas conclusões e rebotes ofensivos, ao passo que a turma carioca, enfiava a bola para o Caio e ficavam apreciando de camarote suas evoluções de costas para a cesta, quase sempre cercado por três ou mais defensores, sem que nenhum de seus companheiros se deslocasse para ajudá-lo (fotos). Esse foi o mais grave (e vem sendo durante o campeonato…) defeito de sua ofensiva, largamente compensado pela artilharia de fora perpetrada pelo Marcos, pelo Alexandre, o Benite, o Duda, e às vezes o próprio Caio. Como declarou o Marcos após o jogo, de que foi mal e as bolas não caíram, assim como as de seus companheiros, pensando ter explicado a derrota, no que não deve ter concordado o seu técnico, claramente desorientado nos pedidos de tempo, onde, inclusive, jogadores discutiam suas colocações por sobre a prancheta. Aliás, deveria ter sido a mesma arremessada para fora do ginásio, em um jogo onde detalhes defensivos, prioritariamente defensivos, não só de sua equipe, como de seu adversário também, deveriam ter sido discutidos e orientados olho no olho, e não coreografias ofensivas fadadas ao fracasso, ante as prioridades esquecidas, numa quadra sem limites e referências, perdida na imensidão de um ginásio gigantesco, vide a ineficiência nos seus longos arremessos direcionados a uma cesta pendurada no espaço infinito…Numa área dessa dimensão o contrair e expandir defensivo tem de ser permanente, monocórdio, repetitivo, sempre.

Taticamente, se é que existiu tal principio nesse jogo, a turma do planalto se houve bem melhor, pois soube se adequar à lentidão de seu grandão, e aumentar a velocidade quando da entrada dos outros dois gigantes da equipe, o Alirio e o Cipriano, assim como a manteve através seus armadores reservas, o Eric e o Isaac, todos muito velozes e ágeis, apesar da equipe em seu todo errar muito nos fundamentos. As duas equipes erraram 23 vezes, muito para essa categoria.

Mas, algo de muito específico sobressaiu no jogo, a marcação do Alex sobre o Marcos, que mesmo sendo um palmo mais alto, não conseguia sobrepujar a força e velocidade de seu insistente marcador, pelo simples fato de o enfrentar sempre em equilíbrio estável (vide foto), ou seja, com seu centro de gravidade projetado na área por ele ocupada, num artifício bem claro de que efetuaria um arremesso a seu bel prazer, mas esquecendo que seu tique de dar um pequeno saltito de pés juntos (atenção senhores e versados juízes, se o mesmo for executado após definido o pé de apoio, pelo espaço que for, mesmo ínfimo, ele terá cometido a infração de andar, ou não?…) não encontrava espaço suficiente pela eficiente  aproximação do Alex para junto de seu corpo ao pressentir a ação. Logo, o Marcos deveria desde o inicio enfrentá-lo em constante movimento, quando em equilíbrio instável o dotaria da velocidade inicial e antecipativa necessária para transpor aquela precisa barreira. Não o fez, ou não sabe, ou não foi instruído a fazê-lo, e perdeu, porque segundo ele as bolinhas não caíram…E pensar que um jogador de sua estatura seria letal se desenvolvesse o DPJ justo, preciso e eficiente a cada dois pontos tentados, em vez do desperdício endêmico dos três pontos. Foram 50 tentativas para 12 acertos pelas duas equipes, numa lamentável ausência de bom senso, dentro, e principalmente fora da quadra…

Mas como a festa foi bonita, e a grande torcida saiu satisfeita, valeu a noitada no planalto, e fico pensando como seria se voltássemos ao maracanãnzinho, ginásio eterno do basquetebol carioca e brasileiro, construído para o Mundial de 54 e onde conquistamos o Bicampeonato Mundial de 63.

Enfim, nunca se sabe o dia de amanhã…

Amém.

Fotos-Reprodução da TV e Divulgação LNB. Clique nas mesmas para ampliá-las.

E NÃO ESQUEÇAM DA I OFICINA DE APRIMORAMENTO DE ENSINO DO BASQUETEBOL

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2 comentários

  1. Douglas Gaiga 25.02.2013

    Olá, professor.

    Nada a acrescentar, apenas a aplaudir. São lindas essas explanações sobre biomecânica feitas por quem sabe, como o senhor. Poucos conhecem essas minúcias, muito menor número as executa, e desses poucos, as fazem por quase um “tique” inconsciente, aprendido de forma empírica de anos fazendo o errado, para descobrir o certo. Ah, se a maioria dos técnicos de base soubessem desses entre-meandros, e trocassem a gritaria desesperada que fazem a beira da quadra, por elucidações como essas… Digo isso por ter assistido um jogo entre equipes de base aqui em São Paulo e senti um misto de desespero e vergonha alheia ao ver os dois técnicos gritando, esperneando e até insultando seus jovens atletas, e, obviamente, os meninos não fazendo ideia do que fazerem em quadra diante de tal situação. Apenas eram vistos rostos vermelhos e veias saltando nos pescoços dos tais técnicos, e o ponto de interrogação nos rostos dos jovens atletas, enquanto um pedaço de plástico era tortamente rabiscado. Infelicidade do nosso basquete, que se projeta cada vez mais para o fundo do buraco. Para baixo e avante…

    Abraços, professor.

  2. Basquete Brasil 25.02.2013

    Olha, prezado Douglas, fico triste com o seu testemunho, assim como me alegro com o seu posicionamento, numa prova inconteste de que algo pode, e deve ser feito, para que saiamos desse impasse que tanto nos prejudica e atrasa.
    Pela existência dessa preocupante realidade, é que decidi concretizar a I Oficina de Aprimoramento do Ensino de Basquetebol, numa tentativa de colaborar, mesmo de forma limitada, para que tais distorções sejam amenizadas, através um maior conhecimento sobre os entre-meandros (adorei sua expressão…) existentes no âmago dos fundamentos do grande jogo. Somente espero que muitos jovens e veteranos técnicos prestigiem esse esforço que faço com satisfação e esperança em dias melhores. Creio que o nosso basquete merece um futuro melhor. Um abraço. Paulo Murilo.

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