A ENDEUSADA E MIDIÁTICA MESMICE…

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Um dia Nelson Rodrigues afirmou que “toda unanimidade é burra”, no que parece ser hoje a mais autêntica das verdades quando o tema é basquete brasileiro. Loas e unanimes ovações pipocam na mídia especializada situando o grande jogo como um produto em plena ascensão junto ao público, com competições cada ano mais acirradas e equilibradas, crescente vinda de estrangeiros dentro e fora das quadras, patrocínios mais fidelizados, retomando aos poucos o domínio continental, mesmo ainda muito carente naquele fator divisor de águas junto a realidade competitiva internacional, o fator técnico…

Sim o fator técnico é o nosso sempre exposto tendão, doloroso e incapacitante, na medida de nossa já estabelecida mesmice endêmica, implantada à sombra do sistema único calcado na NBA, e “enriquecida” com a aceitação de um reinado, o das “bolinhas”, que estabelece a convergência como padrão a ser copiado e seguido, inclusive, e de forma lastimável, pela formação de base em todo o país…

Hoje, lideres de nossa liga maior, vencem jogos atrás de jogos convergindo copiosamente, como ontem, quando Bauru derrotou Mogi (97 x 75) perpetrando 19/38 bolas de três e 14/24 de dois, com um dos seus pivôs, Hettsheimeir arremessando 6/14 lá de fora, e o ala armador Alex 7/10 da mesma distância, ante um sistema defensivo anacrônico e profundamente equivocado por parte de Mogi, pois mesmo enfrentando um sistema de jogo usado por todas as equipes da liga, inclusive ela mesma, com seus idênticos chifres, punhos, camisas, e correlatos, bastaria ter utilizado uma engenharia reversa do mesmo, na formulação antecipativa de um bom e eficiente modelo defensivo, no qual tentativas de bolas de três ao serem contestadas, opcionariam  defensáveis penetrações e bolas de dois pontos, equilibradas que seriam se a recíproca se baseasse também no princípio de que de 2 em 2 se vencem partidas, com mais segurança, eficiência e precisão, e não através de insanos duelos de bolinhas e mais bolinhas…

Mas o que se pode atestar com grande margem de segurança, é a generalizada aceitação, utilização e monocórdia presença de uma realidade, triste realidade, aceita por todos, jogadores, agentes, dirigentes analistas, jornalistas e, principalmente, os técnicos, todos estrategistas do caos existente e de muito difícil solução, a não ser que se adapte, pela incapacidade criativa de todos, algo diferenciado, ousado, corajoso, revolucionário, à imagem do proposto pelo Coach K após os sucessivos fracassos de seu país em mundiais e olimpíadas, hoje uma realidade que todos reconhecem pelos resultados alcançados em seus campeonatos nacionais e competições internacionais, onde um novo paradigma se faz presente, com uma proposta antagônica às rígidas posições de 1 a 5, marca indelével do sistema único, onde uma sempre presente dupla armação coordena as ações de três alas pivôs transitando permanentemente no perímetro interno em grande velocidade, agilidade e destreza nos fundamentos básicos, não esquecendo, inclusive, de algumas outras soluções encontradas, estudadas e aplicadas em outros países, inclusive o nosso, infelizmente aqui sufocada e varrida para baixo do tapete da história, pela descomunal força de um corporativismo insano e discriminatório, implantado desde algum tempo entre nós…

Enfim, ao patinarmos descontroladamente no bojo de uma sistematização anacrônica e tristemente limitadora, acrescida de uma “filosofia convergente”, onde bolinhas e enterradas se constituem no “ápice do basquete”, conforme a midiática opinião dos “entendidos de plantão”, em seu proposital, senão ignorante, desconhecimento do grande jogo, omitindo do mesmo os básicos fundamentos, como a estrutural condição de sua existência, coisificando-o ao nível de suas “convicções técnicas e táticas”, ausentes fatores estratégicos que explicam e justificam sua letal e estupida omissão…

Temo pelo futuro do basquetebol entre nós, que apesar de sua falseada grandeza midiática, não consegue, por mais que tente, esconder a falsidade maior, a de que aos poucos, porém irremediavelmente, involui naquele básico fator, o técnico, o fundamental, que o eternizou como o grande, grandíssimo jogo…

Amém.

Foto – Reprodução da TV. Clique na mesma para ampliá-la.

 



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