AS DUAS FRENTES DE LUTA…

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Nos idos de 2005, com o Basquete Brasil no seu nascedouro, iniciei uma série enorme de artigos sobre a politicalha instalada na CBB, fator que nos prejudicaria naquele e nos subsequentes ciclos olímpicos, fazendo companhia ao Melchiades Filho e o Alcir Magalhães na inglória luta a ser travada, o que foi feito, intensa e inesgotavelmente, até os dias de hoje.

A luta foi pautada pelo aspecto técnico, didático, pedagógico e administrativo, visando porém a massificação, o trabalho eficiente na base, o preparo de mais e melhores professores e técnicos, a existência forte e atuante de associações de técnicos, de jogadores, de juízes, todos irmanados pelo soerguimento do grande jogo.

Mais adiante vieram o Fabio Balassiano, a turma do DraftBrasil, o Rodrigo com o seu instigante Rebote, e a luta ganhou contornos mais robustos e confiáveis, e o mais importante, começavam a influenciar opiniões em escala crescente, expondo as mazelas da mentora aos olhares inquisitivos de um público mais bem informado e interessado.

No entanto, o enfoque proposto se fragilizava frente a uma legislação que em tudo e por tudo garante o status quo vigente, onde 27 presidentes federativos, eleitos pelos clubes de seus estados, somados agora ao presidente da associação de jogadores, elegem para a CBB o candidato alinhado a seus interesses, nem um pouco focados em ciclos olímpicos, massificação e trabalhos na base, cansativos e pouco rentáveis, e por conta disso impõem sua mediocridade, ciclo após ciclo, em duas décadas de decadência programada e inexorável finitude.

Veio a LNB, e com ela uma nova proposta de profissionalismo sério e programado, à imagem das grandes ligas internacionais, inaugurando uma gestão oposta a que se faz e aplica numa CBB, carcomida pelo protecionismo, fisiologismo e obscura administração orçamentária, em nada comparada a transparente gestão da liga, fator que desencadeou uma nova frente de questionamento sobre a utilização de verbas públicas por parte de uma evasiva CBB, ação liderada pelo Fabio com o seu combativo Bala na Cesta, inaugurando uma abordagem ainda não explorada, a contabilidade omitida da CBB, num belo trabalho de jornalismo investigativo, tornando pública a catástrofe administrativa da mesma, culminando com sua suspensão pela FIBA…

E neste ponto, não posso fugir de uma análoga situação nos idos dos anos 30 na Chicago dominada por um Al Capone brutal e sanguinário, mas que somente pode ser derrubado e enclausurado pela omissão de impostos ao governo federal, num país que conota crime inafiançável a sonegação dos mesmos.

Sem dúvida alguma, no esporte profissional de hoje o poder do dinheiro ganha contornos inimagináveis, sobretudo nas modalidades mais em evidência no mundo, onde o basquetebol se situa entre os mais praticados e rentáveis. No entanto, mesmo no país em que ele é mais desenvolvido.o campo profissional inexistiria sem a massificação na base colegial e universitária, onde sua continuidade é forjada nas aulas de educação física e nas equipes amadoras dos colégios e universidades espalhadas por todo o país…

Logo, e apesar do importante trabalho jornalistico de alta qualidade do Fabio, num ponto não posso concordar, quando ele afirma num vídeo que publicou no Facebook (…) Esporte não é, não é mais educação física. Esporte é saúde, inclusão e sobretudo negócio. Esporte é muito dinheiro envolvido, e muita gente que deveria sair do esporte por não ser séria, continua comandando o nosso esporte. Esse é o problema do basquete brasileiro hoje (…)

( declaração aos 28:40 min do vídeo)

Discordo frontalmente com essa declaração, pois infringe o mais elementar princípio do esporte, sua destinação educacional, cidadã, salutar, e acima de tudo, inclusiva, social e politicamente. O esporte profissional sorve somente uma mínima parcela desse universo educacional, selecionando os mais bem dotados atlética, mental, psicológica, e tecnicamente aptos as modalidades escolhidas, marcando a grande maioria de praticantes com seus princípios humanísticos e éticos, complementando sua instrução de qualidade, numa educação democrática, igualitária, e inclusiva…

Parabenizo o Fabio  pelo seu instigante e definitivo trabalho jornalístico, que muito ajudará a esclarecer os meandros secretos do grande jogo em nosso país, culminando as velhas lutas e lutadores que o antecederam, ao apontar com precisão o ponto chave que teve a primazia de abordar com seu costumeiro brilhantismo, os tortuosos caminhos das vultosas verbas alocadas e sua gestão equivocada e incompetente.

Amém.

Foto – Arquivo pessoal

Video – Facebook Bala na Cesta.



2 comentários

  1. Alcir Magalhães 17.11.2016

    9 h ·
    Grande mestre Paulo Murilo Alves, agradeço o seu reconhecimento, pelo trabalho que fiz frente ao Clipping do Basquete, muita coisa que hoje esta acontecendo foi tragédia anunciada pelo Clipping do Basquete ha muitos anos atras. Inclusive, durante estes quase 15 anos de clipping, fiz varios trabalhos de avaliação de gestão do basquete brasileiro pela CBB, com criticas e propostas de soluções, sempre encaradas como se eu fosse oposição a gestão inicialmente do Grego depois do atual presidente. O Clipping do Basquete, nasceu em 1997 em Londrina, sugestão do excelente profissional do basquete, Marcus Hygino, meu irmão de vários campeonatos. Precisamente neste campeonato recebi o apelido pelo Marquinhos de senador, muitos me conhecem, mais pelo apelido, senador, do que pelo próprio nome. Este apelido nasceu por morar em Brasília e devido minha articulação no congresso técnico antes de um campeonato brasileiro juvenil, em Londrina. Depois definido e assinado, ficou a dúvida quem realmente era eu naquela conjuntura, ou seja, apenas pai de atleta. Saindo de uma pelada no Moringão , o Marquinhos quando estávamos na mesa de um bar, mandou a seguinte , senador vc que é tão articulado na politica do basquete, tem tanta informação pq não começa a divulgar isto para gente, inicialmente um grupo de 7 pessoas. Somente sabemos das coisas nos campeonatos quando vc vem. Me propus a repassar informações de forma precária, tendo em visto que não tínhamos naquela época a facilidade de divulgação por meio eletrônico que existe hoje, mesmo assim fazia chegar as pessoas informações a esses 7 disseminadores, recebiam e procuravam divulgar. Pasmem as informações eram repassadas via telex, telefone, como estava sempre no Rio e SP, usava as reuniões de bate papo em botequins, para transmiti-las.Assim nasceu o Clipping do Basquete, sem qualquer objetivo político somente de informar o que estava acontecendo no basquete brasileiro com mais amplitude. Isto durou de 1997 até 2012 ou 2013, quando vi que estava dispendendo muito tempo com mal defunto, o basquete. Resolvi me afastar do basquete, com a certeza de dever cumprido como demonstrei na minha carta, enviada a todos os participantes do clipping, mostrando que o basquete estava falido e que os maiores inimigos do basquete estavam dentro do próprio basquete, acho que não estava tão errado.

  2. Basquete Brasil 18.11.2016

    Lutamos muito Alcir, ainda lutamos, e continuaremos lutando até quando der, até quando algo de justo, técnico e coerente mude o que ai está, não só na gestão, mais básica e principalmente no aspecto técnico e formador das futuras gerações, pois sem as mesmas o grande jogo inexiste, mesmo que cercado da melhor administração possível. Formação de base, formação de mais e melhores professores e técnicos, sistemas diversificados de jogo, direção meritória de equipes, capilarização nacional de informações técnicas, são caminhos necessários e estratégicos para o soerguimento do basquetebol neste enorme e desigual país. Um abração, Paulo.

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