O IMPASSE TÉCNICO, TEM SOLUÇÃO?…

Tenho publicado insistentemente artigos sobre a extrema pobreza técnico tática que impera altaneira e irremovível em todas as equipes da elite nacional, espelhando e modelando as divisões de base, e desaguando nas seleções nacionais que nos têm representado por três décadas sem nenhuma perspectiva racional que projete qualquer alteração, por menor que seja, num cenário de mesmice endêmica, onde as minguadas tentativas de mudança, pouco ou nada puderam fazer para conter essa avalanche de mediocridade e absoluta tendência a uma autofagia terminal que aí está, escancarada e cruel para com o grande jogo, onde nem as coberturas midiáticas festivas conseguem mascarar espetáculos com média de 27 erros de fundamentos, e onde 2/3  dos jogos se enquadram numa alucinante convergência entre os arremessos de 2 e 3 pontos, com estes se impondo gradativa e irresponsavelmente cada vez mais, desnudando a mais absoluta aversão defensiva no perímetro externo, num confesso desconhecimento técnico de princípios defensivos individuais e coletivos, por parte de téc…digo, estrategistas, e jogadores que não são ensinados e preparados na primária e básica ação do jogo centenário, defender sua cesta, para depois atacar, e não aplicarem diligente e sistematicamente a cultura da “falta tática”, aval de sua incompetência defensiva…

Sim, a grande maioria desconhece os mais rudimentares princípios defensivos, e isso fica bem claro durante as apresentações festivas, coloridas e absurdas nos rabiscos desconexos apostos em pranchetas midiáticas, nas quais somente garranchos ilustrando ofensivas são designados, num delírio de via única, onde fatores e ações defensivas dos adversários são solenemente descartadas, como se na quadra existisse somente cinco atacantes, que deverão se deslocar para frente, para trás, para os lados, em curva, em retas, em ziguezagues, bloqueando, cortando, mudando de direção, sem que nada e ninguém os impeçam, senhores absolutos que emergem de uma mente embevecida pelo vasto cabedal de conhecimentos que imagina possuir, ali demonstrados e elaborados por estrategistas que sequer opõem um pontinho, um x, um zerinho que seja, ilustrando defensores, que na opinião de todos eles, seriam impotentes para  conter tanta genialidade tática ali desenhada, sabedores de antemão que nada daquela encenação dará certo, pois ações de jogo são irrepetíveis, fugidias, pelo motivo mais primário inerente aos jogos coletivos de contato, a de que movimentos agônicos e antagônicos se contrapõem inversamente, fluindo em direções somente reveladas no momento da ação, daí sua imprevisibilidade, conotando a beleza das ações advindas, tanto das iniciativas ofensivas, como também das defensivas, se antecipativas ao ataque efetuado. Logo, e por definição, ações ofensivas somente serão estabelecidas com razoável precisão se, ao contrário de serem planejadas para utopicamente darem certo, como sonham os estrategistas, devessem ser desenvolvidas para desencadear no adversário comportamentos defensivos que, quanto mais previsíveis forem, maiores serão os benefícios advindos da escolha ofensiva, e isso em hipótese nenhuma emanará de uma prancheta ensandecida, e sim do treino, duro, extensivo, detalhado, esmiuçado e acima de tudo, discutido, aceito e compreendido, tanto por quem ensina,orienta e dirige, como pelos que aprendem, treinam e executam o que consideram ser o correto a realizar, com precisão, dedicação, e total entrega…

No entanto, conceituou-se que a prancheta define a estratégia do jogo, claramente aplicada em jogadas inventadas nos momentos críticos, e não “exaustivamente” treinadas, como afiançam comentaristas, onde o detalhe (os célebres detalhes…) definirão vencedores e perdedores, quando a sapiência do estrategista de plantão se fará presente, brilhante e salvadora, que na realidade dos fatos, somente serve como vitrine de pseudos e parcos conhecimentos, e eficiente biombo separando sutilmente comandante de comandados, ambos cônscios de que nada daquilo funcionará, mas que apregoa e exibe ao mundo midiático e ignorante das realidades do grande jogo, os mais recônditos detalhes  ali inseridos com a arte de um Dali, como passaporte de uma omitida grandeza, na mais crua realidade, que somente se manifesta integralmente no treino, e somente lá, árduo terreno que não perdoa os medíocres, os incompetentes, os arrivistas e aventureiros, mas que premia os professores e técnicos de verdade, que conhecem, estudam, pesquisam para ensinar o que aprenderam, orientar o que experimentaram e dirigir os que, como ele, penaram a dureza do treino, e não o vislumbre colorido do nada, absolutamente nada, exposto nas reluzentes testemunhas do vazio, do absoluto e triste vazio, de uma infame e descerebrada prancheta…

Uma dura realidade se materializou nestes terríveis anos de obscurantismo técnico e tático, a de que hoje praticamos um basquetebol padronizado, formatado, individualizado e engessado por um sistema único de aprender, treinar e jogar campeonatos municipais, estaduais, nacionais e internacionais, desde a formação até a elite, totalmente copiado (e muito mal…) das equipes profissionais americanas, que mesmo apresentando hoje algumas poucas divergências, consumou e cristalizou uma forma de jogar, onde os embates 1 x 1 são priorizados, contando com regras que os potencializam à margem das utilizadas universalmente pela FIBA (e aqui ressalto uma tremenda incoerência da mesma, que se sente competente em intervir na CBB, suspendendo-a das competições por problemas econômicos, administrativos e dívidas com ela, mas jamais teve força e coragem, mesmo sendo absoluta no mundo do basquetebol, de intervir nos Estados Unidos que se mantêm ao largo de todas as diretrizes competitivas e de regras em seu território, permitindo, no entanto, que participem de mundiais e olimpíadas, quando concordam como exceção, jogar com as regras que regem o basquete internacional), numa atitude de subserviência lamentável e altamente comprometedora…

Este é o tremendo impasse com que nos deparamos no caminho do soerguimento do grande jogo entre nós, o equívoco brutal que defronta o que fomos, o que fazíamos, e como atuávamos, chegando no século passado a ser considerado o quarto país mais desenvolvido na modalidade, somente atrás dos Estados Unidos, União Soviética e Iugoslávia, com a atual situação de penúria no preparo técnico e tático de suas equipes e divisões competitivas, pelo fato suicida de tentarmos emular um modo de jogar para o qual não temos estrutura formativa e econômica para mantê-lo minimamente competitivo para os padrões internacionais…

Como ultrapassar tantos obstáculos, que numa época não tão distante assim, vencíamos pela força de uma formação de base altamente competente, gerando jogadores de alta qualidade, que enriqueciam tecnicamente os campeonatos de todas as categorias, e que por força de uma geração equivocada de dirigentes, técnicos e analistas, deslumbrados por uma forma de jogar baseada no espetáculo e na força descomunal de seu poder econômico,  levou-nos pelos caminhos da imitação e divulgação de valores incompatíveis com nossa realidade antítese da deles, corrompendo nossos valores e liquidando nosso posicionamento, arduamente conquistado, no cenário altamente competitivo internacional. Como reverter tal situação, como? Somente vislumbro uma tênue brecha de luz nessa realidade, voltar nossas vistas e parcos recursos para a base formativa, com todas as armas que ainda possuímos, nas figuras de nossos melhores professores e técnicos, que ainda batalham heroicamente por este país à fora, convocando-os para a elaboração de princípios e estruturas didático pedagógicas que nos liberte de tanta mediocridade institucionalizada, de uma mesmice endêmica sufocante, e que liderem as divisões de base e seleções nacionais, apontando para os verdadeiros valores da liderança consciente e competente, fundamentada na larga experiência adquirida ao trilharem o longo e penoso caminho das pedras, onde o mérito supera largamente todo o processo absurdo do QI, do protecionismo, do escambo politiqueiro, e acima de tudo, do engodo midiático, como o que ilustro neste artigo, que de forma alguma pode definir o grande jogo, principalmente o que jogávamos, nos brindando com três campeonatos mundiais, um vice e três terceiras colocações olímpicas, quando pranchetas eram somente utilizadas para relacionar presença de jogadores nos treinos, e nada mais…

Sei que poderemos nos reencontrar com nosso destino vencedor, bastando nos abstermos de incorrer nos erros a que nos impuseram de trinta anos para cá, dispensando aqueles que tiveram todas as oportunidades e as traíram, reconvocando aqueles afastados pela intolerância corporativista e verdadeiramente retrógrada, daqueles que abominam e temem o novo, o ousado, e tudo mais que os obriguem a sair da zona de conforto injustamente contemplados…

Amém.

Vídeo – Reprodução da TV.



Deixe seu comentário