BRAND, BRAND NEW!!!…

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Foi um jogo com resultado mais do que previsível, dada a fraqueza do basquetebol chileno, principalmente quanto a estatura, desproporcional a da equipe brasileira, que se saída dominaria os rebotes, o que realmente aconteceu. Com uma defesa permanentemente na linha da bola, por sobre um sistema de jogo correlato ao que praticamos, formatado e padronizado desde sempre, bastou anteciparem-se às manjadas jogadas para forçarem os andinos aos arremessos de três, em que são para lá de medíocres, originando uma torrente de contra ataques de extrema facilidade. No entanto, quando os chilenos conseguiam chegar mais próximos à cesta, pudemos atestar que ainda nos falta muito de técnica e posicionamento defensivo, principalmente nas coberturas, demonstrando o enorme trabalho que o técnico croata terá pela frente para afinar sua defesa no âmago do perímetro interno, e mais trabalho ainda para forçar o grupo às contestações no externo, pois ficou bem claro que as inúmeras oportunidades de arremessos longos dos chilenos protagonizariam um outro desfecho fosse o adversário uma equipe com bons especialistas da longa distância, dos muitos que encontraremos daqui para diante…

Daqui a pouco, na arena da Barra, duelamos com os venezuelanos, equipe bem mais capacitada que a chilena, quando poderemos atestar a quantas estamos defensivamente, pois lá na frente insistiremos no sistema único, até que o novo técnico encontre tempo hábil para um treinamento mais específico dentro de suas convicções técnico táticas, vagamente esboçadas com a utilização positiva da dupla armação (Yago, Fisher e Benite se revezaram nas funções), e que hoje a noite poderá contar com mais tempo em quadra do Fulvio, formando duplas permanentemente ativas na armação da trinca de alas pivôs, poderosos dentro do perímetro, pois a partir do momento em que o Lucas e Hettsheimeir perderem uns quilinhos a mais, e o Varejão recobrar um pouco mais de sua mobilidade, atuando em constante movimentação com os alas Alex, Lucas Dias e Mendl, estará a seleção muito próxima do que melhor se faz em algumas seleções mundiais, a americana e a espanhola, como exemplos, até o dia em que entenderemos que a dependência pelos jogadores da NBA e da Euroliga, em muito poderá ser minorada com a adoção de um sistema de jogo realmente fluido e veloz, com o mencionado equilíbrio entre jogo externo e interno que o novo técnico expôs em suas recentes entrevistas, e pela aferição que externou sobre a fraqueza defensiva de nossos jogadores, frutos da enorme permissividade na arte de defender seu território, marca registrada do basquetebol de onde é originário…

Como vemos, o nosso bilíngue croata é fã de carteirinha da dupla armação e de uma trinca de homens altos, ágeis e vigorosos trafegando sôfregos e ariscos pela cozinha de seus adversários, levando lá para dentro um problemão para resolverem, e não esse pastiche de jogo de passes periféricos e chutação desenfreada que praticamos sob a égide e bênçãos de estrategistas que agora, no umbral de um possível sucesso croata, rapidamente adotarão o sistema brand new, pois novidades como essa nunca aparecem, ou são reconhecidas por aqui…

Mas pera lá! Como não são conhecidas por aqui, como? Por acaso não o introduzi em nosso país no NBB2 dirigindo o Saldanha da Gama por 11 jogos no returno daquela competição, vencendo equipes poderosas, mesmo estando em último lugar na tabela? Já contei essa história em dezenas de artigos aqui nesse humilde blog, não esquecendo o fato inconteste de que vinha desenvolvendo e aplicando essa sistema a mais de 40 anos, por todas as equipes que dirigí, seleções estaduais inclusive, sempre divulgando e discutindo uma forma diferenciada de jogar o grande jogo, desde que o Basquete Brasil iniciou sua jornada em setembro de 2004. Porém, o que ninguém explica o porque de não mais ter tido oportunidade em qualquer equipe brasileira, mesmo tendo sido apontado como o melhor técnico daquela competição pela maioria dos blogs de basquetebol, numa marginalização injusta e indesculpável, criminosa até…

A mídia explode agora veiculando a grande novidade, e inclusive O Globo abre o espaço que divulga a NBA (honestamente, o que ela representa para o nosso basquetebol, o que?) para matérias como esta que reproduzo, onde “descobrem” encantados algo que fizemos e dominamos a décadas, porém sem o apoio, a divulgação e o reconhecimento da irmandade corporativa que se apossou do grande jogo no país, tornando-o cada vez menor, até quase o extinguir, mas que agora, graças a um inteligente e astuto croata, nos redimirá com seu sistema de dupla armação e três homens altos, velozes, ágeis e ariscos, praticando o basquetebol total, sem especialistas em posições e sim especialistas no jogo, exigindo para tal uma completa revolução na arte, por nós esquecida, do competente e exigente ensino dos fundamentos, detalhes abominados por estrategistas mais preocupados em jogadas de passo marcado, e não fruto das técnicas individuais e coletivas, da criatividade e da sublime arte da improvisação…

Ele não usa a prancheta, e segundo um embevecido comentarista, se relaciona olho no olho (alguém já discutiu isso até a exaustão…), mostrando falhas e brechas a serem exploradas, incentivando e apoiando seus jogadores, não dando chiliques ao lado da quadra, nem pressionando teatral e  agressivamente a arbitragem, ele simplesmente cuida de seus jogadores, dentro e fora da quadra, e por isso tudo prevejo que poderá fazer um bom trabalho por aqui, pois traz algo de Brand New a esse pago tupiniquim, algo que não conhecemos, ou…

Será que não conhecemos, mesmo? Meus deuses, como são hipócritas e omissos, propositalmente omissos todos os componentes desse corporativismo mafioso que odeia o grande jogo, pois incapazes de reconhecerem minimamente sua grandeza, sua complexidade de grande, grandíssimo jogo, e que não é para qualquer um, pranchetado, ou não…

Amém.

Foto – Reprodução do O Globo de 26/11/17. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.



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