A MASSACRANTE FORMAÇÃO…

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Lá pelo início do quarto final do jogo Flamengo e Liga Sorocabana, o comentarista da transmissão do facebook discorre solene – “Volta o Flamengo com a formação que massacrou o Mogi no último jogo, com três armadores, Ramon, Pecos e Cubillan, e o Marcos de 3 e o JP Batista de 5, uma formação  arrasadora”… – Ouvi o testemunho hiper abalizado, porém não pude conter a surpresa pela precariedade de um comentário hermético para o público que o sintonizava, falho do princípio ao fim, e destituído de um mínimo de validade frente ao histórico do jogo, a começar pelas declarações pré jogo da direção técnica dos paulistas ao afirmar que levaria o jogo ao máximo de exigência física e atlética, condições básicas para poder derrotar o Flamengo, principalmente no quarto e derradeiro tempo de jogo. Logo, teriam os cariocas de agilizar suas ações como contrapartida da disposição de seu adversário ( uma equipe bem mais jovem…), a começar pela opção da dupla armação, utilizada por todo o tempo por Sorocaba, e utilizar mais um armador, para superá-la em velocidade também, ou seja, e segundo a setorização do analista, armar o jogo com três “uns”, as vezes quatro, pois o Marcos  atuou fora do perímetro por quase todo aquele quarto, e de onde partia célere em suas constantes penetrações, sobrando o JP um pouco mais atuante dentro do mesmo, e com o qual dialogou com passes e finalizações de curta distância. Então, como caracterizar o 4 e o 5 dentro daquela formação, a não ser pelo vício arraigado pela especialização obrigatória de jogadores de basquetebol, de 1 a 5, que no atual panorama mundial vêm perdendo velozmente essa rubrica tutelada de fora para dentro das quadras pelos estrategistas, incapazes de aceitar a necessária e inadiável polivalência libertadora dos jogadores, os quais deveriam preparar nos fundamentos, orientar e dirigir neste sentido, e não encordoa-los como marionetes, prendendo-os aos seus esquemas ilusórios e irreais, que projetam em suas pranchetas mais ilusórias e irreais ainda, numa midiática tentativa de se fazer o centro decisório das ações dentro da quadra, anulando com sua infernal e constante  ingerência a plena criatividade dos verdadeiros protagonistas do grande jogo, os jogadores…

Naquela formação, todo e qualquer padrão teórico se torna pífio, pois três arquitetos de jogadas, para si ou para o grupo, se bastam, pela inata criatividade e adquirida habilidade técnica, frente a qualquer exógena indução comandada, onde os homens altos (3, 4 ou 5, segundo a classificação obtusa existente) complementam uma movimentação praticamente aleatória, dirigida e administrada pelo trio (ou dupla) de armadores, deixando os estrategistas pendurados na broxa, pois veem liquefeitos seus devaneios de passo marcado nos chifres e punhos, fator fundamental para todos eles, pela necessidade pública de comprovação de seus deificados e midiáticos conhecimentos de pretensos gênios do basquetebol, fator que seria bastante atenuado pela ausência televisiva transmitindo seus vazios e auto promocionais discursos…

Que absolutamente não são, muito pelo contrário, pois se apropriam de conhecimentos e experiências passadas, sem sequer referenciá-las (atitude impensada para a grande maioria), lançando-os ao arbítrio dos mais experientes e rodados jogadores (basicamente os americanos), que na maioria das vezes improvisam ao largo do sistema único de jogo, aquele que definem como o “basquete internacional”, o único que conhecem, ou pensam conhecer…

Então, porque a menção de inexistentes 4 e 5 numa situação de jogo em que suas denominações se perdem no vazio tático, e  não a analise técnico individual e coletiva dentro do campo de jogo? Por que não definir o que via como uma autêntica e inapelável pelada recheada de midiáticas enterradas e bolinhas de três, facilitadas pela inexistência defensiva e sequer esboçada, por que não? Ah, claro, poderia denegrir o “alto nível” da maior competição nacional da modalidade, que por conta de sua comprovada mediocridade técnica nos fundamentos básicos do jogo, e a mesmice tática endêmica, desde sempre implantada, formatada e padronizada, conta com minguado publico perdido nas imensas arenas, que nem os candentes pedidos de narradores e comentaristas o sensibiliza, a não ser aquele ligado a torcidas futebolísticas, que torcem em pé nas cadeiras, destruindo-as, brigando e vociferando contra arbitragens, seguindo o exemplo dos estrategistas postados ao lado das quadras, incentivando-os na barbárie…

Que me perdoem os profissionais de mídia que se encontram em volta do NBB 10 Anos, mas não será da forma ufanista e irreal como cobrem, narram, comentam e divulgam o grande jogo, que o levarão de volta ao proscênio ora ocupado pelo voleibol, pois este se destaca pelo poderio técnico e tático, pelos excelentes técnicos e professores, proprietários e desenvolvedores da forma, do sistema brasileiro de jogar sua modalidade, que outros países tentam copiar, alguns com grande sucesso, quando o espetáculo de seus jogos se concentra exclusivamente dentro da quadra e não cercados de penduricalhos comuns aos nossos irmãos basqueteiros do hemisfério norte (e aqui agora copiados), onde a disputa inter racial e política serve de arriete a suas manifestações desportivas, como batalhas a serem vencidas, degustadas e guardadas na memória desportiva do país, que são fatores que não se coadunam com a nossa realidade, onde todos se encontram embarcados num mesmo barco, carcomido e furado, resultante da nossa absoluta falta de uma política educacional na formação de base de nossa juventude, que são verdades que não se alinham com o circo que está sendo montado, em vez de concentrarmos todos os esforços e os parcos recursos na procura estratégica de novos caminhos e concepções técnico táticas, de uma formação conscienciosa e responsável de novos técnicos e professores, e de uma formação de base integra e completa, a fim de nos soerguermos do enorme e profundo buraco em que nos encontramos, fatores estes que jamais deveriam ter como espelho referencial o que vem sendo apresentado como exemplo de bom basquetebol, onde enterradas, hemorragias de três pontos, tempos técnicos absurdos e movidos a palavrões, pressões descabidas as arbitragens, ufanismos narrativos, inverdades e poucos conhecimentos comentados, jogadores robotizados de um lado e outros mais maduros reacionários de outro, téc…digo, estrategistas irreais, grosseiros e impositivos rabiscando incontrolavelmente suas risíveis pranchetas, num cenário em que uns poucos se salvam, dirigentes megalômanos contratando nominados jogadores e não os pagando, deixando de fora outros bons e menos dispendiosos, assim como muitos jovens, e uma liga que fecha os olhos para o maior de todos os óbices que nos estrangula e humilha, a ponto da CBB ir buscar lá fora o técnico da seleção nacional, o fator eminentemente técnico tático, onde jogadores da elite cometem erros terríveis de fundamentos (imaginem a base então…), e praticam um sistema ofensivo de jogo absolutamente ultrapassado, mas conveniente até bem pouco tempo a uma NBA voltada aos confrontos de 1 x 1, chave  de seu sucesso (inclusive com a permissividade de regras específicas), mas que hoje já encontra sucedâneo  com formas diferenciadas de jogar o grande jogo, a começar pela já notória busca pela polivalência de seus jogadores , onde a figura do pivozão já se encontra em processo de  extinção, assim como a enxurrada dos arremessos de três também e aos poucos já começa a ser contestada com vigor, fazendo valer sua mais importante e histórica  valência desde a formação, o ato de defender, defender, defender, que absolutamente não é a nossa matriz preferencial de comportamento…

A opção pelo modelo feérico, e a não adoção  do desenvolvimento de formas diferenciadas de jogar, desenvolvidas desde a formação de base, assim como a procura de professores capazes de desenvolver projetos factíveis e realistas a nossa realidade econômica e cultural, existentes no país, porém afastados coercivamente pelo corporativismo implantado a pelo menos 30 anos, nos trava e nos joga cada vez mais para trás, e não será simplesmente lançando dois e até três armadores (majoritariamente estrangeiros) agindo aleatoriamente dentro da quadra, que nos remeterá de volta ao caminho perdido daquelas três décadas para cá, e sim girando 360 graus no que vem sendo feito até agora, que foi exatamente a feliz atitude tomada pelo voleibol brasileiro, com a ajuda inquestionável das vultosas verbas do Banco do Brasil, sem as quais jamais teria atingido o grau de eficiência que alcançou, nacional e internacionalmente, transferidas politicamente da modalidade que planejou, criou e iniciou aquele poderoso patrocínio (idealizado pelo grande professor e técnico Heleno Fonseca Lima) , o basquetebol, o grande, grandíssimo jogo, neste enorme, desigual e injusto país.

Amém.

Foto – Divulgação LNB.



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