REFLEXIONANDO II…

No início deste ano publiquei o artigo que reproduzo abaixo, salientando, entre outros assuntos, a extrema pobreza de nossos jovens sub 21, nos fundamentos básicos do jogo, na ante sala da elite do NBB, cuja competição LDB, está sendo situada pela mídia especializada e técnicos graduados, como a NCAA tupiniquim, responsável pela alimentação das franquias da competição maior, e mesmo a seleção nacional, porém com um pormenor que, rigorosamente, não vem sendo levado muito a sério desde que a LDB foi criada a alguns anos atrás, o correto preparo da jovem turma nos acima mencionados fundamentos, e não só em suas equipes, como na base inicial do processo de aprendizagem, onde o “preparo” nos sistemas táticos, formatados e padronizados desde sempre, se sobrepõem as básicas necessidades técnicas do jogo, que constituem os pilares para a consecução dos sistemas táticos mais primários, quiçá os mais complexos e evoluídos, que se tornam inócuos sem tal fundamentação…

Naquele último torneio, a média de erros alcançou o absurdo número de 36,6 por jogo, fator crítico que exigia uma remodelação no processo de ensino/aprendizagem, para que no recém iniciado LDB 2018 pudéssemos, enfim, darmos o grande passo na direção de sistemas de jogo bem jogados, onde o coletivismo pudesse se impor ao individualismo grosseiro e destituído de fundamentação razoável, fator obrigatório a todos aqueles jogadores que aspiram a liga maior. Mas, não é o que atestamos até agora, quando a LDB atinge a quarta rodada, com a média de erros atingindo 36,2 por jogo, praticamente a mesma da competição anterior, com jogos atingindo 46 erros primários de fundamentos, sem contar com as convergências em arremessos de 2 e 3 pontos, onde a hemorragia dos 3 se situa ainda muito longe de ser estancada, e claro, contando com todo o apoio e incentivo dos estrategistas da maioria das equipes…

O amargo resultado desta mais amarga realidade ainda, constataremos com certeza, nas competições internacionais, onde arrivismos e aventuras irresponsáveis ecoarão a fragilidade de como “preparamos” nossas gerações, ano após ano, décadas, sem que seja destinadas aos nossos melhores técnicos e professores as responsabilidades fruto de estudo, pesquisa e árduo trabalho formativo, até mesmo na criação e desenvolvimento de novas formas de jogar o grande jogo, tendo como suporte inamovível e indiscutível, do pleno ensino e conhecimento dos fundamentos que o tornam realmente grande…

Daqui a um pouco a seleção masculina enfrentará o Canadá, na classificatória ao Mundial, com seu técnico expressando publicamente sua negativa ao jogo baseado no “chega e chuta” a que testemunhou logo após sua chegada, mas que não encontrou eco por parte de estrategistas e jogadores, cada vez mais concentrados na influência Curry/Warriors, modelo que nem mesmo a seleção americana pratica, e tendo em seus mais próximos assistentes a defesa e utilização deste modismo, o que revela uma incoerência de comando absolutamente incompreensível, e cujos resultados poderão ser perigosos, pois uma seleção reflete, em tese, a realidade competitiva de um país, sendo a mesma o espelho a ser refletido às gerações que a comporão…

Temos muitos jovens na seleção, inclusive na armação de jogo, onde a exigência de larga experiência e leitura tática de jogo é exigida, sem concessões, e mais ainda, o pleno e consciente domínio e conhecimento dos fundamentos, de todos eles, necessários ao desenvolvimento tático e estratégico nas competições mais  relevantes, fatores que vejo e pressinto como ainda muito falhos em nossos melhores jogadores, frutos que são, e continuarão sendo por um longo período, da fragilidade nos fundamentos, negados aos mesmos por uma geração de estrategistas pranchetados, que desconhecem a fulcral essência do grande jogo, sua estrutura maior, seus fundamentos…

Amém.  

Eis o artigo:

REFLEXIONANDO…

sexta-feira, 2 de março de 2018 por Paulo Murilo Sem comentários

      Em recente artigo, Fabio Balassiano apontou avanços  substanciais no gerenciamento do basquetebol brasileiro, tanto pela CBB, quanto pela LNB, tendo como foco principal a reforma dos estatutos da primeira, estratificado desde sua fundação, e que finalmente galgou um patamar bastante positivo, principalmente na composição de seu colégio eleitoral, agora acrescido de jogadores e técnicos, algo tido como impossível a bem pouco tempo atrás. No entanto, um nevrálgico ponto deixou de ser analisado, o fato da escolha dos técnicos ter sido feita pelo presidente da ATBB (Associação dos Técnicos do Basquetebol Brasileiro), uma entidade que sucedeu a APROBAS, que deixou de existir pela baixa adesão dos técnicos, assim como a anterior ABRASTEBA, quando do falecimento de seu presidente e mantenedor Moacyr Daiuto, aspecto que parece pode se repetir, face a baixa adesão dos técnicos à nova associação, que com as antecedentes, contava quase que exclusivamente com técnicos paulistas…

Pois bem , numa recente matéria do Databasket pela internet, o presidente da ATBB comunica que pessoalmente indicou os dois técnicos para compor o colégio eleitoral da CBB, ao contrário da CBB que que se utilizou do voto universal para indicar os jogadores representativos, e era de se esperar que o mesmo acontecesse pela direção da ATBB, que inclusive se auto nomeou o representante no Conselho Administrativo da CBB, e mais, comunicou que propôs a administração da ENTB com a possibilidade de inclusão de cursos a distância, ou seja, uma entidade que de forma alguma alcançou representatividade nacional, pois conta com baixa adesão de técnicos, experiência que não chega a dois anos de atuação, e como suas duas predecessoras, sendo composta quase exclusivamente por técnicos paulistas, apontando claramente que, em hipótese alguma, permitirão que o controle técnico do basquetebol brasileiro saia de sua direta influência, que data da primeira administração do grego melhor que um presente, que garantiu sua eleição sobre o Renato Brito Cunha, com o decisivo apoio dos paulistas, em troca do domínio absoluto do setor técnico da entidade maior (é bom lembrar que até aquele momento a CBB, com sede no RJ, comandava o setor técnico, época em que o basquetebol brasileiro alcançou suas maiores conquistas internacionais, com três mundiais e cinco medalhas olímpicas), dando início a hecatombe que se instalou entre nós, e que aí está escancarada pela padronização e formatação do nosso indigitado basquetebol, inserido coercitivamente no tenebroso sistema único de jogo, da base até a elite, dando início ao corporativismo exacerbado que tanto nos oprime e humilha…

Mas não satisfeito, ensaia um convite para que durante o jogo das estrelas no Ibirapuera, os técnicos se reunam para num “brain storming” discutirem caminhos e sugestões para que a presidência os representem, mas onde, se já se decidiu fazê-lo sozinho e seus dois parceiros? Parece não, é realmente surreal ( e mais um lembrete, foi durante o Mundial Feminino neste mesmo Ibirapuera em 1971, durante um seminário técnico, que lancei a idéia de fundarmos uma associação de técnicos, que contou com a adesão imediata de mais de 180 técnicos nacionais e alguns internacionais, dando início àquela que seria a segunda associação nas Américas, perdendo somente para a NABC, fundada em 1926. Foi um consenso absoluto, fruto de uma iniciativa democrática discutida por todos os presentes  Abri mão da da unânime indicação a presidência (aos 32 anos me considerei jovem demais para o cargo, além de algumas rusgas com a CBB), em nome do técnico e professor Antenor Horta, tendo na vice presidência o professor Moacyr Daiuto, ficando como secretário da mesma. A ANATEBA foi dois anos mais tarde dissolvida pela negação da CBB em apoiá-la, quando do lançamento do Mini Basquete no país).

Honestamente, a CBB não pode repetir o brutal erro cometido quando do lançamento da ENTB, levando-a ao fracasso e praticamente sucumbir ao seu péssimo e incompetente projeto de ação. Uma Escola é algo de transcendente importância, e que deve reunir a nata de professores e técnicos, veteranos e alguns jovens promissores, inclusive aqueles que pertencem a associações estaduais de técnicos (aqui no RJ existe uma, e quem sabe em outros estados), para aí sim, reunidos em torno de uma imensa mesa, estabelecerem aquelas importantes discussões para a formação de base, e o estabelecimento de uma autêntica e séria ENTB, e não mais um capítulo de imprevidência e oportuno continuísmo, exclusivo de um grupo no perene comando técnico do grande jogo no nosso imenso e injusto país…

E um dos resultados nefastos dessa influência pode ser descrito por alguns e singelos números que ocorreram nas semifinais e final da LDB, categoria sub 20 de jogadores que já deveriam estar prontos para o NBB, onde alguns já competem e cujos erros nos fundamentos básicos são preocupantes, pois os tornam ineficientes no desenvolvimento de sistemas de jogo, ofensivos e defensivos, os quais somente se tornam produtivos com o pleno domínio dos mesmos, e por essa indiscutível razão, serão extremamente limitados nas ações que exigem criatividade e improviso consciente na consecução dos sistemas propostos, e consequente leitura de jogo. Aqui os resultados:

– Nos 24 jogos desta fase final, foram cometidos 871 erros de fundamentos, ou 36,2 por jogo na média.

– Por equipes :

– Pinheiros 112 (22.4 pj); Flamengo 108 (21.6 pj); Minas 108 (21.6 pj); Paulistano 98 (19.6 pj); Ceará 90 (18.0 pj);  São José 81 (16.2 pj); Franca 76 (15.2 pj); Curitiba 70 (14.0 pj).

– Finalistas :

– Pinheiros/Franca – 25/17 – 42 erros

– Paulistano/São José – 15/20 – 35 erros

– Jogo com mais erros – Paulistano/Minas (28/27) 55 erros.

– Para um razoável padrão na elite de 5-8 erros por equipe, alcançaram os novos jogadores : 1 jogo com mais de 50 erros; 6 entre 40 e 50; 4 entre 30 e 40; 5 entre 20 e 30, e absolutamente nenhum abaixo dos 20 erros. Seria interessante que fossem contabilizados os erros de toda a competição, com resultados assustadores, confiram, ou não se deem ao trabalho, para que, não? Noves fora a endêmica chutação de três…

Complementando o desanimador quadro, o jogo da primeira rodada da Liga Ouro entre Brusque e Cerrado apresentou os seguintes e absurdos números – 32 arremessos de 2 pontos e 74 de 3, sendo que ao fim do segundo quarto perpetraram 3 de 2 pontos e 26 de 3, simplesmente inacreditável!…

Agora a pouco o Paulistano arrasou o Botafogo arremessando 19/29 de 2 pontos e 21/43 de 3, sedimentando a “nova filosofia” de jogo tupiniquim (como ninguém defende, é uma excelente oportunidade de agregar vitórias e recordes aos currículos, e que se explodam os resultados nas seleções mais a frente), até o dia em que as equipes reaprendam a defender, a contestar, mas claro, se derem importância aos fundamentos básicos do jogo, desde a base, preferencialmente, ou mesmo praticá-los na elite, por que não, porque não?…

Mas algo de “positivo” que vem acontecendo nos jogos da seleção dirigida pelo Petrovic, a sua progressiva adesão aos chutes de três (vide o Magnano), inclusive nos contra ataques e por parte dos pivôs, num gritante contra ponto aos seus conceitos croatas de basquetebol, o que seria lastimável se olvidados, espero contrito que não…

No mais, fazendo coro ao meu permanente e atento interlocutor, que me considera um empedernido pessimista, alerto ao mesmo que, muito pelo contrário me considero um irremediável otimista, a ponto de vislumbrar uma tênue esperança em dias melhores para o grande jogo entre nós, na medida, mais tênue ainda, de que afastemos dele aqueles que no fundo o odeiam, pelo simples fato de não o entenderem naqueles pontos que tem de grandioso, sua inesgotável capacidade criativa, ousada e corajosa, mesmo  aviltado e agredido sem maiores contemplações, pois o que tem importado de verdade é a bola sagrada de três, a enterrada monstro, o toco transcendental, o duplo e o triplo duplo, as pranchetas que falam, os palavrões e coerções a jogadores e árbitros, a patética mímica extra quadra, as violentas torcidas de icônicas camisas, os tatibitates craques que exportamos antes do tempo, a importação dos que não servem mais para a matriz, e a continuidade da mesmice endêmica em nossa autofágica forma de jogar, negando as diferenças, o bom senso, o criativo e o ousado, em nome do que aí está  Um novo ciclo olímpico já foi iniciado, e nada parece que aprendemos técnica e taticamente, mas meus deuses, até quando, até quando…

Amém.

 



2 comentários

  1. João 14.09.2018

    Treinador..realmente, o LDB é brabo de ver, só tomando muito chá de boldo com camomila pra aguentar…agora sem brincadeira, é muito erro de fundamento com certeza… em se tratando de base para um futuro do nosso basquete é super-preocupante pq é quase como um amador .. a chutação de fora e o péssimo aproveitamento é gritante…na equipe sub-18 aqui da cidade estabeleci que na leitura do jogo só se chuta do perímetro como recurso e não como fim..o senhor sabe, que muita coisa desse jogo passa pelo mental, pelo entendimento do que acontece em quadra, e nisso vejo muito pouco trabalho na preparação dos nossos jovens atletas…e eles tem talento treinador,…ta sendo mal colocado isso p a maioria deles….abraço coach.

  2. Basquete Brasil 14.09.2018

    Prezado João, concordo com seus pontos de vista sobre o que ocorre dentro de uma quadra, fator que amplia o que não ocorre fora dela, principalmente nos treinos, onde a prioridade é a prática dos sistemas de jogo que fluem das cabeças “geniais” de estrategistas, que sequer se preocupam em qualificar seus jogadores para o emprego dos mesmos, omitindo o preparo técnico dos fundamentos que simplesmente desconhecem, e sem os quais nada do que premeditam e teimam em aplicar se tornam realidade. Esse é o maior dos problemas que o grande jogo enfrenta neste enorme e injusto país, terra dos aventureiros e apaniguados. Mas dia virá em que mudaremos, e torço fervorosamente por isso. Um abraço. Paulo Murilo.

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