A ABSURDA AUSÊNCIA DOS FUNDAMENTOS BÁSICOS (From Veneza)…


    Veneza é uma cidade diferente, enigmática em sua clausura histórica, repleta de signos, piazzas, pontes e canais, alguns mal cheirosos, outros cortando-a como veias e artérias pulsantes de vida e tradições, cercada por um mar encapelado e varrido por um vento frio e cortante, num todo que atrai visitantes de todo o mundo em busca de algo inusitado e místico, de uma persona refletida em suas máscaras carnavalescas, primorosamente elaboradas,  senhoras de segredos e mistérios. Sem dúvida, uma cidade única em sua diversidade clássica…

    Foi no impacto deste cenário que pude, pela primeira vez nessa viagem, acessar um jogo do NBB pelo facebook, Ceará 67 x 71 MOGI, cujo impacto foi o reverso do sentido pela descoberta de Veneza, sem mistérios, enigmas, tradições, inovações, somente gerando uma única questão, numa simples e objetiva pergunta – Como pode uma equipe auferir qualquer possibilidade de vitória arremessando 9/43 bolas de 3 pontos e 14/28 de 2 (Mogi venceu com 16/65 e 31/72 respectivamente), numa atitude inverossímil e comprometedora para sua direção técnica, que permitiu  tal comportamento arrivista e destituído de qualquer princípio taticamente lógico, demonstrando uma brutal ausência do mais primário sentido de coletivismo, primando pelo individualismo radical e anárquico?…

    Somemos a tudo isso o expressivo e lamentável numero de 29 (11/18) erros de fundamentos, para termos uma nítida imagem de um jogo que gerou alguns comentários de um ex jogador, tais como: – “Se você ficar preocupado com os erros, você não joga”. – “ Você precisa tirar da cabeça a possibilidade de errar. No basquete se erra mais do que acerta”. Vindo de um ex jogador cuja especialidade era o arremesso de fora, numa frequência elevada de erros e acertos, e que em mais um de seus comentários, ao ver um dos americanos do Ceará concluir uma cesta chargeado fortemente, definiu ser aquela uma das grandes qualidades daqueles  jogadores, concluir pontos mesmo sob forte pressão, mantendo o nível de direcionamento da bola sob total controle, mesmo desequilibrado, aspecto esse que não mencionou, por desconhecimento de tal tecnicismo, ausente em toda sua carreira por jamais ter sido direcionado às técnicas para tal comportamento, pelos técnicos que o formaram e treinaram através os muitos anos de quadra, fator maior que explica a fragilidade dos nossos arremessadores quando contestados de verdade, forte e proximamente. No momento em que se tornar íntimo conhecedor dessas técnicas de empunhadura, para o controle do eixo diametral da bola, fator originário de sua rotação inversa em torno do mesmo, mantendo-o paralelo e equidistante dos bordos externos do aro após seu lançamento,  sejam quais forem os impactos corporais sofridos pelo arremessador em suas tentativas, na curta ou longas distâncias, poderá formular e emitir comentários que muito ajudarão na compreensão de certos erros técnicos, e quem sabe reconsiderar a sua assertiva de que “ Se você ficar preocupado com os erros, você não joga”, pois não se tratará de não errar, e sim saber com precisão porque errou, conhecimento este que diminuirá em muito a frequência dos mesmos…

Erros de fundamentos tem explicações óbvias quando considerarmos  seriamente o que venha a ser o controle exercido sobre o instrumento básico de trabalho de um jogador de basquetebol, a bola, com seu comportamento instável e errático, sujeita a desvios e rotações insuspeitadas, exigindo um treinamento direcionado a perfeição em seu domínio, no drible, no passe, na finta, nos arremessos, movimentos esses em perfeita harmonia com os deslocamentos do corpo imbuído de velocidades variáveis, equilíbrios e desequilíbrios controlados e controláveis, coordenação e absoluto domínio de dois centros de gravidade, do corpo e da bola, unidos e indivisíveis em seu todo, numa simbiose que quanto mais perto da perfeição estiverem, maior a definicao da habilidade real de qualquer jogador treinado e senhor de sua movimentação em quadra, a serviços pleno de sua equipe, através o conhecimento também pleno de suas potencialidades…

Quem sabe um dia treinaremos nossos jovens, e porque não, nossos adultos nessas técnicas, para enfim retornarmos ao cenário internacional do grande jogo, ao qual já pertencemos, exatamente porque os treinávamos nessas técnicas, hoje  esquecidas, minimizadas, trocadas por “sistemas avançados e modernos de jogo”, para gáudio e auto promoção de uma geração de estrategistas mais preocupados com suas pranchetas midiáticas e titulos, do que ensinar o grande jogo no que ele tem de real importância, mas que dá um trabalho danado de chato e demorados “ resultados”…

Amém.

Fotos – Arquivo pessoal.



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