VAMOS FALAR SÉRIO, MINHA GENTE (From Bolonha)…


    De carro percorremos, eu e os dois filhos, estradas vicinais daqui de Veneza ate Bolonha, melhor caminho para conhecer o interior rural e vinícola desta zona nortista italiana, com sua exuberância, mesmo em inicio invernal, porém de uma riqueza histórica e tradicional que choca aos olhos de tão bela e profunda. Parreirais a perder de vista contrastam com indústrias modernas numa coexistência dividindo um solo antigo porém renovado pela tecnologia de ponta. Sem dúvida alguma um belo passeio e melhor ainda, um aprendizado inesquecível…

    Chegando em Bolonha, uma rápida estada no hotel e partimos para conhecer um pouco desta bonita cidade, menos elétrica como as anteriores, porém suntuosa em suas igrejas, parques e ruínas pré históricas. Na volta, acesso a internet para saciar a curiosidade sobre o basquetebol brasileiro, me deparando com os resultados e números de duas partidas : Unifacisa 99 x 83 Mogi, e Franca 87 x 88 São Paulo. Checo os números, que mantendo a mesmice crônica que tem dominado o NBB, somente capitalizou minha curiosidade para quatro itens: – 33/68 nos arremessos de 2 e 29/66 para os 3, no primeiro jogo consultado, e 32/61 e 26/54, respectivamente, no segundo, números estes que bem explicam e expõem a dura realidade do grande jogo, retratada fielmente num numero final: – 65/129 de 2, 55/130 de 3 nos dois duelos, ou seja, uma convergência absoluta entre arremessos de 2 e 3 pontos, tendência essa que vai se avolumando a cada rodada, antevendo um futuro para lá de sombrio para esse triste e violentado basquetebol brasileiro…

    Tinha algumas e esperançosas dúvidas de que algo poderia melhorar, ser reconsiderado, ajustado, corrigido, mas não, piora a cada etapa, como uma virose letal de insensibilidade que se alastra como num rastilho de pólvora, num ““deixa pra lá, para ver como fica” atroz e descerebrado, até certo ponto, doentio. ‘É um absurdo cruel que técnicos (?), não, estrategistas, se permitam admitir convergências sem uma contrapartida a altura, como por exemplo, ensinar, treinar e aplicar defesas mais fortes e presentes nas contestações ao tiroteio descabido de equipes que enfrentam, até mesmo no comportamento da sua, pois tanto descalabro ofensivo somente se torna possível pela mais ausente presença defensiva, quando jogadores sequer desconfiam da existência de técnicas posicionais e blocantes contra dribles e, principalmente, arremessos, e uma das técnicas mais primárias ‘é a de se antepor frontalmente aos homens posicionados próximos à cesta, adiando passes incisivos com consequente volta para o perímetro externo, mantendo o homem da bola pressionado por todo tempo que a tenha sob domínio, assim como a técnica primária da flutuação lateralizada (detalhes ilustrados aqui), que difere da longitudinal em tudo e por tudo do que empregam solenemente como conquista definitiva de defesa. Que ponham em suas cabecinhas pranchetarias, que passes provocados em elipse são contestados automaticamente, pois um defensor se deslocando linearmente consegue chegar antes ou simultaneamente ao destino de qualquer passe dado daquela forma, mantendo-o no foco posicional e equilibrado ante o atacante destinatário do mesmo. Simples não? Mas exige treinamento, duro, persistente e detalhista, onde o “ deixa que resolvo” não pode ser admitido, e sim “ o sei como fazer”, antítese do que temos visto nas quadras, onde o arrivismo e o descompromisso vagueiam solene e regiamente, ocasionando o que aí está, uma permissividade consentida e adotada por ambos os contendores, os de dentro e, principalmente os de fora da arena de circo que criaram, gerando as tão sentidas convergências…

    Preocupam-me sobremaneira os duros enfrentamentos que teremos pela frente a nível mundial, onde defesas contestatórias ganham terreno a cada temporada, enquanto as nossas regridem numa progressão aritmética assustadora, para gáudio de narradores ensandecidos pelas bolinhas, pelas enterradas e pelos tocos monumentais, ignorando o verdadeiro sentido do jogo, que é defensivo/ofensivo na mesma medida, sem atalhos e perdas de tempo, acompanhados por alguns comentaristas a serviço de uma popularização do grande jogo (muito pequeno para eles…), baseada no “ espetáculo”, nos números de likes e assistência, enquanto os ginásios e arenas se mantém desérticos, ecoando seus berros e esgares ridículos, e não como deveria sê-lo, pela alta técnica individual e coletiva, e por sistemas de jogo que revelassem habilidades e não histrionismos oportunistas e interesseiros…

    Creio que é chegada a hora, quase tardia hora, de trabalharmos os fundamentos como devem ser trabalhados, os ofensivos e os defensivos, ferramenta básica de todo jogador que se preza, e de toda equipe que se propõe a ser grande na acepção do termo, e não essa mixórdia que estão apresentando como o “ NBB como vocês nunca viram”…

    Pelo menos eu e alguns verdadeiros desportistas já vimos basquetebol carradas de vezes muito melhor, o verdadeiro grande, grandíssimo jogo, aqui mesmo, em terra tupiniquim, com somente transmissão radiofônica, ginásios abarrotados em todas as categorias etárias, onde apreciávamos jogadores de verdade, técnicos da mais alta qualidade, e resultados internacionais irretocáveis. Porque perdemos o trem da historia? Respondam vocês, PHD’s do nada…

    Amém.

Fotos – Arquivo pessoal.



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