O SUTIL GRANDE JOGO…

Ontem recebi um email com a seguinte mensagem – Paulo, boa noite. Você viu as estatísticas do jogo Facisa x Paulistano, com 28 de 80 bolas de três e 41 de 72 bolas de dois? Os times jogaram para 213 e 205 pontos. Ninguém marca ninguém.-

Confesso que daria um tempo as críticas que venho fazendo sistematicamente aqui nesse humilde blog sobre o carnaval ( é pouco, sim palhaçada…) em que estão transformando o grande jogo, mas a simples mensagem acima, a primeira recebida após tantos artigos publicados a respeito, me encorajou a dar continuidade na divulgação e decorrente luta contra a insana autofagia que o vem esmagando e humilhando seguidamente…

Isso mesmo, caro leitor, sob a batuta (não a prancheta) de uma horda de americanos inteligentes e razoavelmente habilidosos, que rapidamente se inteiraram da realidade de nossos geniais estrategistas, todos em busca dos famigerados “resultados”, não importando os meios para alcançá-los, desencadearam, seguidos de um ou outro “especialista” nacional e alguns bons jogadores platinos, a era do “chega e chuta”, institucionalizando-o pragmaticamente, onde o termo defesa fica de lado, aceito por todos, numa refrega descerebrada, mas repleta de “grandes emoções” sacudindo entranhas de torcedores, dirigentes, estrategistas ensandecidos de beira de quadra, e principalmente, uma mídia absolutamente ignorante do que venha a ser o grande jogo, onde as pouquíssimas exceções se perdem nas vãs tentativas de comentar e analisar um jogo totalmente diferente daquele que é transmitido aos berros, com menções e palavreado de duplo sentido, ufanismo descabido, palavrões, mascarando o que não enxergam, por não entender, a representatividade de um genial desporto, meca de decisões inteligentes e criativas desde sempre (fatores que passam muito ao largo das prosaicas, ridículas e midiáticas pranchetas), onde a improvisação consciente atinge o incompreensível para todos eles, ou quase todos, vamos ser justos…

O resultado de tanto obscurantismo temos visto e testemunhado na grande maioria de nossos resultados internacionais, em todos os segmentos, masculinos e femininos, quando nos deparamos de frente com equipes nacionais que professam um outro tipo de grande jogo, aquele fundamentado numa base sólida e responsável, nutrindo equipes em permanente evolução, a luz dos verdadeiros preceitos do esporte, da educação, da cultura enfim, e não esse pastiche bolorento que nos impingem ano após ano, décadas de liderança de um corporativismo sem vergonha e criminoso…

No jogo em questão atingimos a marca de 28/80 bolas de 3, e 41/72 de 2 pontos, e mais cedo do que pensamos atingiremos as 100 bolinhas mágicas e salvadoras de 3 pontos, aquelas incensadas e suplicadas por comentaristas e narradores a serviço de uma hecatombe que nos lançará no Guinness da incúria e da estupidez, é só aguardar mais um pouco, um pouco, um pouco…

Um dia antes pensei em assistir um jogo do Bauru, pois me aguça a idéia de ver uma equipe sair um pouco da mesmice endêmica que nos assola, mas qual nada, tive de retroceder, pois dividindo a tela com os jogadores, um cara de boné bradava aos céus uma narração escalafobética, ininteligível, e o pior, sem um botão ou comando em que eu pudesse me desfazer da insigne intromissão televisiva, me obrigando a seguir a sugestão de um twitter na coluna do lado que dizia – Se não está gostando, mude de canal”-, que foi o que fiz contristado por não poder assistir um pouco das novas idéias sistêmicas da equipe paulista…

Finalmente, consegui assistir o jogo do Flamengo na Argentina contra o Córdoba, quando a equipe carioca começa a ensaiar um modo de atuar, contando com a já costumeira dupla armação, agregando uma movimentação interna mais atuante de seus alas pivôs nas curtas distâncias, onde o pivô Vargas destôa por sua baixa velocidade ofensiva, porém com boa presença defensiva, principalmente nos rebotes, travando bastante, quando em quadra,  a proposta de livre trânsito no perímetro interno platino por parte de uma equipe que aos poucos, descobre que o jogo de proximidade de seus bons e ágeis homens altos bem dentro das defesas adversárias, em muito evoluirá, na medida em que muitas de suas longas bolas de três deem preferência ao jogo interno, mais preciso e eficiente, pois de 2 em 2 também se vence jogos com placares dilatados, pela otimização lógica das muitas bolas falhadas na festança de uma artilharia estatísticamente inferior, em todos os sentidos (foram perdidas 21 tentativas de 2 pontos e 23 de 3, de um total de 13/34 e 9/32 respectivamente, assim como os argentinos obtiveram 18/39 e 3/26), bastando que seguissem as continhas primárias de substituírem metade das bolas de 3 falhadas, no caso 11, por tentativas de 2, onde estavam absolutos, para vencerem com muita folga aquele, e quem sabe, futuros jogos, numa evolução técnico tática de relevante bom senso, exemplificando para as futuras gerações de jovens uma atitude diametralmente oposta a que se instalou em nossa forma de atuar, tornando-a medíocre e  previsível, logo facilmente contestada e defensável, para gáudio de nossos adversários na esfera internacional, muito mais evoluídos nos fundamentos básicos individuais e coletivos, onde a defesa é aspecto prioritário em sua forma de jogar…

Equipe juvenil do CR Flamengo – 1965

Quem sabe me anime continuar a assistir o “NBB que você nunca viu”, com todos os jogos veiculados pela TV e Internet, morto de saudades de um tempo em que percorria quadras e ginásios para, ao vivo, sem narradores e comentaristas como a maioria que aí está, testemunhar jogos de alta qualidade, aquela que nos brindou com três títulos mundiais e quatro medalhas olímpicas, também colaborando humildemente no preparo de grandes jogadores, de maravilhosos cidadãos, ensinando, preparando e treinando-os nas duras competições, nos jogos e na vida, através o grande, grandíssimo jogo, com seriedade e sacrifício, jamais com palhaçadas, de quem, no fundo, bem lá no fundo, o odeia por não ter acesso a sua sutil e magnífica grandeza…

Amém. 

Fotos – Reproduções da TV. Desculpem a qualidade, meu editor de imagens apresentou falhas, que serão corrigidas.



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