O TALCO MILAGROSO…
Depois do jogo de ontem, depois do frisson causado pelo mesmo em toda a crônica dita especializada, depois do show patriótico das pitonisas de plantão na reverência ao delfin e sua presença salvadora da honra nacional, depois de assistirmos um único jogador colocar a bola embaixo do braço e definir toda e qualquer jogada, na mais autêntica performance do “arma que eu chuto” vista nos últimos tempos, depois de uma vitória claudicante ante uma equipe fraquíssima, depois de tudo que assistimos incrédulos ante a passividade acachapante de uma comissão técnica, onde nem a prancheta milagrosa era levada muito à serio pelos jogadores em volta da mesma, e que um inédito e emblemático distanciamento dos demais integrantes da comissão”unida e uníssona” se fazia constrangedoramente notar, além da declaração da estrela da noite de que somente ao final da partida é que descobriu junto à quadra um talquinho que evitaria que a bola escorregasse das mãos, o que teria aumentado muito sua produtividade(deuses meus, sequer posso imaginar o que ocorreria…), pois bem, depois de tudo isso assaltou-me uma sensação de que algo de profundamente errado está ocorrendo, e que se não forem tomadas sérias e urgentes decisões, muitos e preocupantes problemas surgirão quando enfrentarmos equipes de verdade.
Inicialmente, constatou-se que técnico-táticamente nada mudou, a não ser o fato de um único jogador ter tomado em mãos a responsabilidade de ganhar o jogo sozinho, fazendo com que o comentarista da ESPN Brasil, quase sempre tranqüilo em suas análises, se exasperasse em algumas ocasiões em que tal atitude anulava qualquer disposição da equipe em jogar conjuntamente, provocando inclusive algumas tímidas ações de notórios individualistas de tentarem o mesmo caminho, com resultados nada promissores, principalmente nos segundo e terceiro quartos da partida. Ficou também muito clara a cada vez maior dificuldade que os dois bons jogadores que atuam na NBA têm no jogo de 1 x 1 sob as regras da FIBA, onde flutuações e ajudas dificultam sobremaneira suas atuações ofensivas, assim como a difícil readaptação às ações defensivas motivadas pelo mesmo motivo, as regras diferenciadas entre NBA e FIBA. Nosso delfin saiu com 5 faltas atuando por pouco tempo ao que está acostumado, e o Spliter já vai se enquadrando no novo esquema que terá de enfrentar em 2009. Saiu com 5 faltas também.
Jogamos com dois armadores, é verdade, fato que de principio parecia auspicioso, mas que rapidamente foi esquecido quando o Leandro resolveu, ou foi resolvido (Por quem, meus deuses? Grande dúvida…), a iniciar sua missão redentora de salvar a pátria vestida de bufantes calções. E aí foi o que se viu no primeiro quarto do jogo. E de tal maneira essa atuação foi marcante, que sua ausência inicial no segundo quarto e inercial no terceiro colocou o restante da equipe num marasmo conclusivo, que propiciou à medíocre seleção canadense uma aproximação perigosa e preocupante, que somente foi contornada com a repentina disposição do Valter em tomar às rédeas do jogo no quarto final, quando armou e defendeu com tirocínio e eficiência, inclusive fazendo o Leandro atuar como deveria ter feito desde o principio, com e para a equipe.
Temos pedreiras pela frente, e como já foram definidos os papéis que cabem a cada um dos integrantes da equipe, dentro e fora da quadra, fica a grande dúvida. Como realmente jogaremos esse importante e transcendental campeonato? Com dois armadores bem definidos e coordenados? Com um só armador como viemos atuando nos últimos 20 anos, o que tem nos custado caro nos torneios internacionais? Ou mesmo, numa confusa e difusa combinação de nada com não sei o que, ensaiada no jogo de ontem, e que por felicidade encontrou um adversário absolutamente incapaz tecnicamente de se aproveitar de nossa deficiência?
Treinamos muito pouco, principalmente os jogadores mais emblemáticos e ditos fundamentais. Jogamos fora um tempo precioso de preparo e lapidação antes e durante o Pan, quando, em vez de trombetearmos que seria um torneio de “passagem”, deveríamos ter investido determinadamente naqueles jogadores que efetivamente nos seriam úteis e presentes no Pré-Olímpico, este mesmo campeonato em que agora participamos sem sequer termos bem, ou razoavelmente treinado um verdadeiro e sólido sistema de jogo. O que vemos, é uma aplicação inodora e indolor (…mas que pode se tornar extremamente dolorosa) de um check list, que neste exato momento tem todos seus itens preenchidos pelos “xis” do grande delfin.
Que me perdoe a grande, unida e uníssona comissão, ou reassumem seu verdadeiro papel, mesmo teimando com suas antigas convicções, ou então veremos jogadores tomarem em suas mãos o comando da seleção, com talquinho ou sem ele, pois numa taba que tem mais cacique do que índio, vence aquele com o tacape maior e mais aderente com o talco milagroso.
Temos alguma chance? Sim temos, não muitas, mas temos. Falta-nos somente um assumido comando, que de posse de uma eficiente borracha, firme nos dedos com o auxilio do talco aderente, apague vigorosamente os “xis” apostos nos itens do check list, retomando o controle do leme de um barco que poderá estar indo à deriva pela inconsistência de comando e princípios técnico-táticos.
Precisamos reverter tal situação, com bom senso e muita coragem, Amém.