FUNDAMENTANDO O FUTURO.

Vi os dois jogos, contra os Estados Unidos e contra a China. E o que dizer sobre nossa seleção sub-19? O de sempre, repetitivo, monocórdio, desolador. Valores potencialmente interessantes, mas destituídos de fundamentos do jogo. Valentia, audácia, coragem, inesgotável energia, velocidade irrefreável, todo um repertório juvenil anarquizado pela ausência dos princípios fundamentais do jogo. Dribles inobjetivos e frágeis nas mudanças de direção, passes fora do tempo, fintas inadequadas, posicionamentos defensivos equivocados, colocação errônea nos rebotes, ausência de movimentação sem a bola, atitude antecipativa insuficiente. E além desse corolário de deficiências, a obrigatoriedade de agirem dentro de um sistema de jogo cujo controle decisório está fora da quadra, inserido nas delimitações de uma prancheta, acionada por uma comissão técnica, como se todos os jogadores fossem marionetes presos a cordéis. Do outro lado, no caso dos americanos, uma escola que tem nos fundamentos a essência de sua maneira de jogar, onde as ações individuais e coletivas se complementam técnica e táticamente, em quaisquer situações sistêmicas que venham a utilizar, tendo como elementos facilitadores os conhecimentos e domínio das técnicas do jogo por todos os integrantes da equipe, altos e baixos, armadores e pivôs, efetivos e reservas.

Nossos jovens jogadores, alguns realmente promissores, estão abandonados quanto ao treinamento que deveriam ter para atingirem um padrão aceitável, transmitido aos mesmos por professores e técnicos que realmente conheçam e dominem a arte de ensinar basquetebol, efetiva, responsável e cientificamente falando, padrões estes bastante distantes de um ensino calcado em um sistema castrador, que privilegia posições e especializações de jogadores, como se cada um deles pertencesse a um setor da quadra, dividida por capitanias hereditárias, territórios a serem preenchidos pelos devaneios exteriorizados em rabiscos desconexos nas pranchetas de técnicos completamente dissociados da realidade complexa de um jogo formidável, mas exigente na busca da síntese de todos os valores que o compõe. Alcançá-la e dominá-la é a tarefa, aparentemente utópica, de todos os envolvidos no processo, técnicos e jogadores, pesquisadores e dirigentes, e por que não, jornalistas. Mas para tanto há de se observar o preceito básico, desafiador e culminador do mesmo, o conhecimento, execução e domínio dos fundamentos do jogo, sem os quais nenhum sistema, por melhor que seja exposto e desenhado em uma lastimável prancheta, atingirá um patamar além de medíocre e fadado ao fracasso, como vem ocorrendo entre nós por mais de duas décadas.

No entanto, reconheço que a atual situação do basquetebol brasileiro, com seu implantado sistema único de jogo, baseado no decrépito passing game, e na pouca atenção a sistemas defensivos, fruto do pouco, ou nenhum interesse em maiores e profundos estudos, tem beneficiado um grupo de profissionais itinerantes e donos de fatias de um mercado pseudamente profissional, em conluio com muitos jogadores, fator que espelha uma realidade indigente e destituída de uma verdadeira política que pudesse vir a beneficiar o esporte como um todo, e pela importância do mesmo junto ao processo educativo dos diversos segmentos da juventude do país.

E é justamente nesse ponto que se faz urgente e necessária a atuação conjunta dos técnicos e professores, em prol de uma unidade de pensamento evolutivo que venha a privilegiar o estudo, a pesquisa, a troca permanente de experiências e opiniões, informações e literatura pertinente, e também o congraçamento tão necessário a consecução de todos estes objetivos. Impossível? Irreal? Inexeqüível? Creio honestamente que não, como também acredito ser uma tarefa extremamente difícil, demorada e sofrida, mas nunca impossível, irreal, e tampouco inexeqüível.

O que falta? Vontade, determinação e um profundo amor ao grande jogo, ao jogo de nossas muitas vidas. Amém.

MONÓLOGO DA PRANCHETA.

Quarto final do jogo, o técnico pede um tempo, se coloca no meio do circulo de jogadores, ajoelha-se, empunha a caneta hidrográfica, e com a prancheta sobre uma das coxas inicia o que podemos denominar como

“o monólogo da prancheta”. Nesse momento de absorção total, sem elevar o olhar aos circunstantes, desanda a elaborar através de rabiscos desconexos, uma miríade de jogadas perfeitas, com dribles exatos, passes milimétricos, deslocamentos e bloqueios primorosos, lançamentos precisos, onde letras e números enunciam seus comandados, em perfeitas harmonias coreografadas, sem erros, e…como pode omitir? Sem uma menção, um rabisco, um pontinho sequer, que representasse os defensores, inexistentes dentro dos devaneios na busca da jogada perfeita. E seu olhar enternecido pela obra prima que acaba de criar se mantêm fixo na prancheta, magnetizado ante tanta beleza conceptiva, tanta genialidade que somente ele protagoniza, pois os circunstantes, seus comandados, seus jogadores, ávidos por uma palavra objetiva não estão à altura compreensiva ante e presente a uma obra de arte pura, e também sequer ante um simples olhar, compreensivo ou não, um simples olhar, amigo, profundo, esclarecedor. Os jogadores se vão à luta, e um movimento pausado de lado de mão apaga a obra de arte, preparando a superfície brilhante para um próximo e ansiado monólogo. Essa imagem não só ocorreu naquele quarto final, como se repetiu durante todos os tempos pedidos, nos quais, uma só observação sobre determinados movimentos executados pelos jogadores adversários, na defesa ou no ataque, poderiam ter mudado os rumos da partida, como, e por exemplo, as ações do jogador Macvan, um ala-pivô forte e muito rápido, que se lançava de fora para dentro do garrafão para encontrar-se com passes antecipativos, colocando-o em ação progressiva e imparável, já que seus marcadores temiam, ou não sabiam marcá-lo pela frente e à frente de seu caminho. Com tal ação fez 38 pontos dos 80 de sua equipe, levando-a à vitória merecida. Onde estava a prancheta em seu monólogo com o técnico na orientação de seus jogadores objetivando freá-lo? Como é possível um jogador de 16 anos atuando em pivô móvel ter à sua disposição trajetos à cesta tão livres?

Por outro lado, nosso futuroso e forte pivô, Paulão, era acionado permanentemente em posição estática, na expectativa de uma progressão calcada em sua pujança física, o que levou o técnico adversário a uma flutuação dupla e até tripla sobre o mesmo, anulando-o em muitos e importantes momentos da partida. Duas situações antagônicas, protagonizadas por pivôs fortes e habilidosos, mas orientados por concepções técnicas muito e decisivamente diferentes.

As duas equipes atuavam com dois armadores de boa técnica, porém, os sérvios agiam ofensivamente sempre tendo seus pivôs em constante movimento, em conjunto com os demais jogadores. Nossa equipe era ativa e dinâmica através os armadores, mas mantinha os pivôs estáticos e voltados para os corta-luzes fora do perímetro, ação que os sérvios somente executavam entre os armadores e poucas vezes com os alas, mantendo o pivô sempre próximo à cesta.

Enfim, foi um jogo em que o coletivismo sérvio superou o brilhantismo individual de alguns de nossos jogadores, que poderiam ter sido beneficiados com informações e orientações mais precisas, ao serem prejudicados pelo comovente monólogo entre uma prancheta e seu deslumbrado interlocutor, o que foi uma pena, realmente uma pena.

Mas ao progredirmos na utilização efetiva de dois armadores, já demos um salto qualitativo, que cedo ou tarde, nos beneficiará, a não ser que o

“monólogo da prancheta” deite de lado tão promissora conquista. Torço ardorosamente pela volta do olho no olho entre técnicos e ávidos jogadores, estabelecendo o “diálogo das verdades”, aquelas que devem e podem ser ditas sem rabiscos e quimeras. Amém.

DE MANSINHO…

Tenho acompanhado pela TV o Campeonato Mundial sub-19 masculino que acontece na Servia, no qual a equipe brasileira é dirigida por um dos integrantes da famigerada comissão diretiva da equipe principal. E o que tenho testemunhado é uma guinada radical no conceito ofensivo da equipe, que vem utilizando sistematicamente dois armadores, dois alas velozes e um pivô de força. Trata-se de uma autêntica subversão técnico-tática se levarmos em consideração o fato de que esse mesmo técnico, quando na direção de seu clube, e mesmo como assistente da seleção, jamais abriu mão de uma formação com somente um armador, conforme ficou estabelecido desde sempre entre os componentes da”coesa e uníssona” comissão. Engraçado, bastou assumir uma seleção nacional de importância, já que representa o que de melhor temos em termos de renovação, para, “descumprindo” normas pré-estabelecidas pelo supervisor de seleções nacionais, o técnico numero um, estabelecer como norma técnico-tática, o sistema que foi largamente utilizado pelas quatro equipes finalistas do campeonato nacional, quando a utilização sistemática de dois armadores foi aceita e estabelecida por todos. Digo descumprindo, pelo fato da seleção nacional nos últimos amistosos contra o Uruguai ter se mantido na formação de um armador, dois alas e dois pivôs de choque.e mais estranho ainda, é que os dois outros assistentes também se utilizaram de dois armadores em seus clubes nos jogos do nacional. Cisão? Acho e tomara que sim, pois a convocação neneziana do ótimo armador Valtinho, fez com que a seleção para o Pan passasse a contar com três armadores puros em seu plantel, e não existirá maior contra-senso se somente um deles jogar de cada vez. Como agirá o técnico numero um? Se manterá arraigado ao sistema que vem utilizando e divulgando pelo país através cursos de reciclagem (melhor seria lavagem cerebral) , numa atitude solitária? Ou se obrigará a assumir o comando efetivo, ao invés de diluí-lo em uma fachada “coesa e uníssona”, que nunca espelhou a realidade dos egos envolvidos no processo? Eis um fator que, apesar do sistema falho e absurdo escolhido, o faria verdadeiramente responsável direto, de comando assumido, primado que endossa qualquer liderança que se preze. Ou mesmo, simplesmente lançará mais uma cortina de fumaça para encobrir tantos desencontros, não só técnico-táticos, como comportamentais?

São indagações que se convenientemente respondidas, ou melhor, solucionadas, em muito ajudaria o basquetebol brasileiro a se livrar do penoso ônus de se perpetuar através o sistema de jogo que o tem penalizado por mais de vinte anos. A recém oitava colocação da equipe feminina no mundial sub-17, quando venceu um único jogo, é mais uma contundente prova de que a presença de somente duas armadoras na equipe a torna fragilizada e insuficiente ante as exigências cada vez maiores de jogadoras altamente especializadas nos fundamentos do jogo.

Nossos cadetes e juvenis, cada vez mais se ressentem desta grotesca falha de planejamento, que privilegia jogadas coreografadas, no lugar de um domínio efetivo dos fundamentos, dando margem para que o técnico da equipe feminina para o Pan venha a público se queixar de que não temos mais armadoras no país. E o que fez na função por mais de vinte anos para minorar tal deficiência? Por que não as preparou em quantidade? Afinal é um dos palestrantes oficiais da CBB na implantação das tais “filosofias” de jogo. Por onde ficaram as simplórias didáticas de ensino dos fundamentos, que americanas, australianas, tchecas e outras, mantêm presentes em seus programas de ensino do grande jogo, relevadas entre nós em nome das táticas maravilhosas estabelecidas no bojo de pranchetas mágicas?

A seleção sub-19, em sua ainda hesitante subversão, poderá, quem sabe, mesmo na ausência de um resultado consagrador, mudar um pouco a realidade em que vive o nosso basquete, sob um primado autoritário e completamente fora de nossas mais preciosas características, onde o outrora criativo, técnico e audacioso jogador brasileiro, viu seu espaço vitorioso ser substituído por uma geração colonizada de técnicos, muito mais voltados ao serviço de suas vaidades e pseudos capacidades de liderança. Suas posições individualizadas e obliteradas ao conhecimento comum e democrático nos levou ao abismo em que nos encontramos, e queiram os deuses que a jovem seleção na lonjura européia dê um primeiro passo para sua libertação.Afinal, trata-se de uma seleção brasileira, e aquela mais importante para nossa realidade. Serão aqueles que renovarão os caóticos princípios longamente implantados entre nós, ou não. Torço para que sim. Amém.

MÃOS AO ALTO !

“Quero ver todos com as mãos para o alto, saltando, pulando, dançando, vamo lá”. É assim que se apresentam os astros do rock em seus shows populares, e é assim que retorna a seleção brasileira, com seus cardeais armando (?) as jogadas coreografadas com a bola acima da cabeça, como que atendendo aos rogos dos astros do rock. Até o excelente Valtinho aderiu à moda, esquecendo por momentos que um armador a tem sempre rente ao solo, o máximo possível, obrigando o defensor a perder o controle de seu centro de gravidade. Mas não, com a formação base de um só armador puro, o Valter, o que se viu no primeiro quarto foi um show de bolas acima da cabeça, facilitando e telegrafando os passes, nos mais do que conhecidos”movimentos” de chifre, punho, coc disso e coc daquilo, sem contar que no primeiro ataque, repito, primeiro ataque o arremesso de três pontos foi assassinado, digo, assinado, pelo pivô Murilo. O segundo ataque flagrou o ala-armador Alex dando um passe nos pés do pivô que penetrava de frente para a cesta. No terceiro ataque, o ala-armador Marcelinho dá um passe para fora da quadra desenquadrando o outro ala que penetrava. “A equipe está se preparando para o Pré-Olímpico,“passando” pelo Pan, mas levando-o à serio, já que a prioridade é o Pré”. Foram declarações repetidas em três entrevistas antes do jogo,definindo o Pan do Rio de Janeiro como um torneio de “passagem”, com medalha garantida, a de ouro. Muito bem, ou muito mal? Pelo que vimos nos três primeiros ataques deste segundo jogo, repetindo o que ocorreu no primeiro três dias atrás, se não tomarem cuidado a”passagem”pode custar muito caro, vide o voleibol no último Pan em S.Domingos.

Tão caótica e risível era a disposição tática da equipe, atendendo as exigências cardinalícias impostas por uma absurda e questionável liderança baseada em antiguidade e em enriquecimento curricular, que a“comissão coesa e uníssona”, acredito que no mais profundo contragosto fez entrar um segundo armador , o Huertas, que mesmo pouco inspirado, acertou a marcação e ordenou os ataques, fazendo com que a equipe se distanciasse no placar, fator ocorrido também no primeiro jogo. E enquanto a equipe pode contar com dois armadores verdadeiros na quadra, mesmo manietada e engessada num sistema de jogo que já transcendeu a qualificação de crime, ajuizando para a mesma e para o basquete brasileiro, o qual representa, o rótulo de suicida, demonstrou quão equivocada é a manutenção em quadra de jogadores que pouco entendem de posicionamento defensivo, domínio dos dribles e dos passes, variáveis indissociáveis na efetivação das mais rudimentares táticas ofensivas e defensivas, aquelas que fazem uma equipe jogar em conjunto, e não no sistema que dominam como ninguém, aquele do”armem que eu chuto!”.

“Estamos renovando a equipe, lançando novos valores, mas para o Pré-Olímpico os veteranos é que estarão na linha de frente”. Mudando uma ou outra palavra, foi esta a afirmação do técnico coligado antes do jogo. Será que tal posicionamento já foi avalizado pelo selo neneziano? O Valter já está posicionado, o que considero positivo dada a grande qualidade do mesmo, somente discordando veementemente da forma em que foi convocado. O Leandro, outro excelente armador, deverá estar na linha de frente, finalizando, como quer o delfin. Ele próprio, Varejão e Spliter fatalmente constituirão a base da seleção, com dois armadores, ou não? E como ficam as convicções da douta comissão, toda ela fundamentada em um só armador e dois cardeais, e mais um terceiro que se agregará ao torneio que interessa como vitrine internacional? Se serão dois os armadores pela injunção e vontades incluídas no check list do delfin, como ficarão os cardeais? E o Papa de Ribeirão? O que terá a dizer, a exigir e a se impor como um verdadeiro técnico?

Dou uma pequena dica, humilde, pois nunca me candidatei à raposa felpuda, aquelas que habitam o mundo cebebiano, mas que ante a impossibilidade política e napoleônica de mudanças nos comandos das seleções, que a atual reveja seus conceitos coreográficos e pranchetários, e com urgência urgentíssima, desenvolva sistemas baseados em dois efetivos armadores, e em três homens altos em permanente movimentação dentro do garrafão, e que estes armadores também arremessem bem na média distância, e razoavelmente na longa distância, mas que acima de tudo e de todos dominem com razoável perfeição os fundamentos básicos do jogo, destinando aos homens altos as grandes lutas nas duas tabelas, e que também sejam capazes de após os rebotes irem complementar as jogadas de contra-ataques, e que lutem, mesmo que saibamos dos interesses profissionais envolvidos, com um mínimo de patriotismo e grande coragem, aquela que reverencia e perdoa deslizes materiais. Será uma grande oportunidade de mesmo sob o espectro de um check list neneziano tentar liderar uma equipe cuja influência de comando exógeno se situa em contrafação ao comando endógeno, aquele que qualifica o verdadeiro líder. Ainda está em tempo, ainda.

Infelizmente, e após lutar para conseguir alguns ingressos na torrinha (tenho um bom binóculo), irei assistir a seleção brasileira “passar” pela arena de milhões de reais, para junto aos 15 000 de incautos torcedores relembrar, no meu caso de velho combatente, a gloriosa “participação” da seleção campeã mundial no também glorioso Maracanãnzinho, com25 000 mil felizes torcedores.

Espero, de coração, que um dia essa liderança administrativa e técnica (?) encerre sua”passagem” retrógrada e nefasta, pois não há mal que sempre dure, e que delfins, cardeais e papas se percam na poeira de suas insignificâncias, de suas arrogantes e caipiras posições, lapitopi incluso. Amém.

SERÁ?

Numa recente declaração ao jornal O Globo, o técnico da seleção brasileira masculina “crê que, apesar dos desfalques, o elenco tem uma base experiente: Valtinho, Nezinho, Marcelinho, Marcelo Huertas e Alex, com a qual é possível lutar pelo ouro”. Caramba, que virada sô!! Para quem tinha convocado somente dois armadores, Nezinho e Huertas, o que caracterizaria jogar com somente um armador puro, já que Marcelinho e Alex sempre foram considerados por ele como alas-armadores, a “sugestão” neneziana sobre o Valtinho mudou o conceito de armação da equipe radicalmente, pois os cinco mencionados jogadores passaram a ser a “base experiente da equipe”. Base, se bem entendo, é aquela que joga e lidera uma equipe dentro de quadra, e pelo que constatamos pela relação final para o Pan, três são armadores e dois alas-armadores, dos quais, três estarão certamente no quinteto base, situação tática que caracterizou as quatro equipes finalistas no recém findo campeonato nacional. As duas outras posições serão escolhidas dentre o batalhão de cinco pesos pesados convocados e já efetivados na equipe. Dois alas puros completam o plantel, os dois Marcos.

Como vemos, tratava-se de uma seleção convocada e possivelmente escalada para dar continuidade ao sistema tradicional de um só armador, dois homens altos trombadores e intimidadores, e dois alas arremessadores. A entrada de mais um armador de peso na relação final, alterou o projeto de continuísmo da “filosofia” implantada, ou pelo menos, arrefeceu sua integral utilização, dando a todos aqueles que ansiavam algo de novo um tênue alento de que a entrada de mais um armador, propicie maior qualidade nos fundamentos, e conseqüente otimização técnico-tática. Afinal de contas, e segundo afirmação do próprio técnico, trata-se de jogadores que constituem “a base experiente da equipe”. Estou realmente curioso para saber em que vai dar tal convocação, que fere frontalmente certos princípios arraigados dentro da comissão técnica, e que encontraram em dois deles algumas reavaliações quando dirigiram suas equipes de clubes no recém findo nacional, onde se utilizaram de dois armadores.

Como mais este fator do check list apresentado pelo Nenê foi atendido, resta-nos a expectativa de presenciar e testemunhar mais um remake de técnico à serviço de craque, que desde já organiza e relaciona a lista daqueles que estarão no Pré-Olimpico, no qual os restantes itens serão devidamente preenchidos.

Os dois jogos contra o Uruguai ganham enorme importância, não pelo jogo em si, mas pela averiguação do que pretende estabelecer a comissão quando divulga a agora existente “base experiente da equipe”, leve por sinal, em contraste com o batalhão de lutadores de sumo no banco. E aja banco para resistir a tanto peso…

PS- Check List publicado em 24/06/2007.

BRASILIA, UMA ESPERANÇA.


De todos os lugares por que passei, trabalhei e lecionei, nenhum me causou mais impacto do que Brasília. Lá estive por três anos, de 1967 a 1970. Com poucos anos de formado em Educação Física, mas com um bom nome no meio desportivo como técnico de basquetebol, fui para o planalto central repleto de sonhos e enorme vontade de trabalhar no meio colegial, único ambiente propício ao desenvolvimento desportivo-educacional, responsável pelo progresso cultural e científico das grandes nações. A estrutura colegial de Brasília em tudo e por tudo preconizava um futuro revolucionário para a nação brasileira, mas que, infelizmente, viu todo aquele brilhante planejamento tomar outros caminhos que não aqueles implantados no nascedouro da grande capital. Numa época em que o sistema colegial somente contava com dois razoáveis ginásios poli-desportivos , o do Colégio do Plano Piloto e do Colégio Marista, toda uma gama de competições escolares foram desenvolvidas com brilhantismo e intensa participação de atletas e espectadores. Foi nessa época que iniciamos, junto a outros técnicos, a preparação de equipes de basquete feminino, culminando, no ano de 1969 com a conquista dos Jogos da Primavera, no Rio de Janeiro, competição esta patrocinada pelo Jornal dos Sports, e de renome nacional. Foi a primeira equipe brasiliense de jogos coletivos vencedora de uma competição de caráter nacional, e que meses mais tarde, influenciou a CBB a organizar, em Brasília, o primeiro Campeonato Brasileiro Juvenil Feminino, hoje uma competição tradicional e responsável pelo surgimento de futurosas atletas. Dez anos atrás estive em Brasília, e na companhia do grande amigo Pedro Rodrigues, companheiro daqueles primeiros, inesquecíveis e gloriosos tempos, pude atestar o quanto a cidade evoluiu como metrópole, ficando pasmo com a grande quantidade de ginásios existentes, numa situação oposta a que vivíamos nos anos sessenta. Comentei com ele que não entendia os motivos do pouco interesse que o basquetebol despertava nos jovens, apesar dos esforços de alguns abnegados, mesmo contando com tão boa infra-estrutura material, numa cidade vocacionada para o desporto. Desinteresse e falta de planejamento foram os motivos que ele me apresentou, o que desencadeou entre nós horas de discussões na busca de explicações para tantos e lamentáveis desperdícios. Na semana que passou, a equipe de Brasília venceu o Campeonato Nacional Masculino, numa façanha digna dos maiores elogios, demonstrando que novos ventos começam a soprar no planalto central, e que tudo leva a crer que venha a explodir um grande movimento, inclusive de base, para o desenvolvimento do basquetebol naquela mágica cidade. Trinta e oito anos se passaram desde que um grupo de jovens estudantes venceram para Brasília uma competição de renome nacional, e que passados tantos anos volta a brilhar com a grande conquista do Campeonato Nacional. Oxalá tão brilhante feito desencadeie decisivas e permanentes ações, que garantam a continuidade de planejamento e competente execução, de um projeto que somente beneficiará o futuro do basquetebol daquela região, repleta de uma juventude ávida de conquistas, e tão necessitada de apoio e oportunidades. Parabéns a todos, e muito obrigado pelo ótimo trabalho concretizado.

ÁGUA MOLE EM PEDRA…

Chegou ao final o Campeonato Brasileiro de Basquetebol, e a equipe de Brasília o venceu com categoria e invejável adaptação a novos conceitos, que apesar de tímidos, já se fazem importantes para a retomada rumo a melhores oportunidades no cenário internacional. Seguiu junto às outras semi finalistas o caminho traçado pela equipe de Franca quanto a utilização plena de dois armadores permanentemente na quadra, agilizando e otimizando o jogo pela maior qualificação dos drible e dos passes, assim como a maior mobilidade defensiva e nos contra-ataques. Venceu por ter em seu plantel, não dois armadores, mas quatro, o que o tornou poderoso em todas as etapas de cada partida. No entanto, como em todas as outras equipes que enfrentou nas finais do campeonato, o sistema padrão, infelizmente adotado em todo o país e pela maioria esmagadora dos técnicos, em todas as divisões competitivas, se manteve irretocado, principalmente pela persistência dos pivôs nas ações de corta-luzes no perímetro externo, tirando-os das proximidades da cesta, originando dessa forma o aparecimento nefasto dos “pivôs especialistas” nos arremessos de três pontos, expondo-os às ridículas e geralmente mal-sucedidas investidas driblando para dentro do garrafão, numa ação que nunca treinaram, demonstrando a fragilidade de seus fundamentos de jogo, assim como, desnudou o grande hiato existente no condicionamento técnico que separam armadores de alas, de tal forma gritante, que a escalação dos armadores no lugar daqueles se tornou lugar comum nas equipes que chegaram às finais. O aspecto positivo, foi sem dúvida nenhuma, a conscientização de jogadores e técnicos, de que o domínio dos fundamentos de drible, fintas e passes, determinariam os vencedores, e neste ponto, o advento dos armadores se fez presente, pela valorização do há muito esquecido domínio dos fundamentos do grande jogo.

A próxima etapa, como venho defendendo desde sempre, será a melhoria no treinamento dos alas e pivôs, colocando-os próximos ao nível dos armadores, ao mesmo tempo em que sejam desenvolvidos, estudados e largamente utilizados novos sistemas de jogo, que potencializem nossas melhores habilidades de destreza, velocidade e flexibilidade, substituindo de forma definitiva a deformação física visando peso e poder de choque, características que conotaram notoriedade a um grupo de preparadores físicos totalmente dissociados do espirito do jogo, aquele que sempre praticamos com maestria, inteligência e voluntariedade criativa. Já é hora de acabarmos com esse charlatanismo oportunista, irmão siamês daqueles “especialistas de auto-ajuda”, muito atuantes quando competições de alto nível servem de vitrine para tais absurdos. Agora mesmo, quando da preparação da seleção brasileira para o Pan, me deparo com a seguinte noticia publicada no site Databasket: A seleção brasileira adulta masculina terminou nesta quinta-feira a fase de avaliação fisica. A equipe está treinando no ginásio do Paulistano, em São Paulo, para a disputa dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, de 25 a 29 de julho. Com base nos resultados, a comissão técnica irá direcionar os treinamentos.

“Os testes foram elaborados para avaliar velocidade, força e resistência aeróbica e anaeróbica dos atletas. Sua importância são os parâmetros para direcionar e dimensionar os treinos evitando desgastes desnecessários que possam expor os atletas a lesões” explicou o preparador físico da seleção masculina, Clovis Franciscon”. Ou seja, exercícios de fundamentos, que na maioria das vezes são exaustivos, trabalhos técnico-táticos, enfrentamentos 1 x 1, 2 x 2, etc., que devem ser repetidos quantas vezes forem necessários, coletivos meia-quadra e quadra inteira, de agora em diante terão de ser adequados pelos preparadores físicos, numa inversão de valores absurda e comprometedora para aqueles técnicos que se submeterem a esses falsos preceitos científicos, que ousam substituir o ensino e a pratica dos fundamentos do jogo pelas anilhas e apetrechos usados por aqueles que nunca praticaram o basquete para valer. O técnico elabora a metodologia de treinamento, e os preparadores físicos o auxiliarão com seus conhecimentos para que tal planejamento atinja suas metas, e não o contrario, como o exposto na reportagem acima descrita. Por essas e por outras, é que nosso basquete, apesar dos resultados medíocres que vem alcançando, ainda serve de vitrine para uma turma, hoje inclusive contando até com jogadores, para se promoverem em causa própria, em nome de pseudo-técnicas de alto rendimento, auto-ajuda e bons contratos no exterior. No entanto, não vemos estudos que promovam a melhoria nos arremessos, nos dribles, nas fintas, pesquisas acadêmicas que dissequem movimentos básicos para uma execução mais aprimorada dos fundamentos, estudos que abordem com seriedade sistemas de jogo, princípios defensivos, conceitos de táticas e estratégias, dimensionamento estatístico, enfim, ciência do desporto.

O campeonato chegou ao fim, mas deu inicio a uma pequena revolução de conceitos técnicos há muito esquecidos entre nós, e que deveria ter continuidade na seleção brasileira que se prepara para duas competições internacionais, sendo que a segunda, o Pré-Olímpico, é de extrema importância para a modalidade. Mas desde a convocação, e mesmo com a induzida lembrança do jogador Valtinho, treina a equipe com três armadores, numa constatação de que somente dois deles serão aproveitados, pois essa é a posição da comissão técnica, para a qual o exemplo demonstrado pelas equipes no brasileiro é de somenos importância.

O irônico dessa posição da comissão, é que fere um principio aceito por todas as grandes seleções do mundo, que são a representação do basquete praticado em seus países, sendo suas seleções o resultado de todo um trabalho de base e de uma maneira de jogar. No nosso caso, as seleções nacionais, da base às adultas, se negam às evidências, e se mantém no limbo que implantaram entre nós. Mas ainda está em tempo de reverem certos e tortos conceitos, mas é preciso ter coragem para reconhecerem e mudarem, pelo bem do nosso basquetebol. Amém.

ARTIGO 300 – A LUTA CONTINUA

Terminada a etapa de Brasilia, na qual os donos da casa se impuseram nas duas partidas, algumas considerações podem ser feitas, primordialmente às de caráter técnico-tático. Fora as mesmas, é de se lamentar que uma decisão da maior importância para a divulgação do basquetebol na capital federal, aquela que deveria ser o centro irradiador cultural e desportivo, e não só político do país, a de se ter levado tão acirradas e importantes decisões para um local que semanas atrás carreou um caudal de 25000 pessoas empolgadas, e que por exigência de jogadores, e por que não, comissão técnica, foram mantidas no acanhado ginásio onde treinam. A desculpa de que perderiam os referenciais da quadra, o que beneficiaria com algumas vantagens a equipe de Franca, cai no vazio como evidencia técnica, principalmente pela grande experiência dos jogadores envolvidos na disputa, a maioria com retrospecto internacional e vivencia mais do que suficiente para anular as pseudo desvantagens anotadas. Perdeu a juventude de Brasília uma oportunidade impar de assistir bons jogos e bons jogadores, aqueles que preencheriam seus imaginários juvenis. Perdeu também o patrocinador, ao abdicar de uma exposição de mídia ampliada em “somente” 20000 pessoas, fora aquelas agregadas às dimensões de um evento não muito comum de acontecer em se tratando de basquetebol nos dias atuais. Foi uma atitude tola e caipira, não muito condizente com os valores que integram a equipe, superiores em alguns aspectos aos de seus adversários. Faltou confiança em suas possibilidades, faltou tirocínio publicitário. Depois não venham reclamar da falta de exposição de mídia, da falta de apoio popular.

A parte técnico-tática representou a decisiva e inquestionável dominância dos armadores nessa nova e bem vinda tendência em nosso basquetebol. Bato na tecla de que o sistema de jogo implantado no país continua intocado, não só pelos técnicos, como pelos jogadores. O grande diferencial foi a paulatina e irrefreável substituição dos alas tradicionais, bons de arremesso, mas péssimos de fundamentos, por armadores plenos dos recursos ausentes naqueles, fatores que aos poucos foram sendo adotados por algumas equipes, principalmente as quatro semifinalistas. Outra razão predominante foi a nova postura dos homens altos, agindo como pivôs moveis e ágeis no perímetro interno, interagindo junto aos dois, e até três armadores, o que dinamizou o jogo e tornou-o muito próximo daquele que praticávamos vinte anos atrás.

Essa oportuna e estratégica mudança beneficiou enormemente os sistemas defensivos, o que ficou patente nos dois primeiros quartos do segundo jogo da série, nos quais seis jogadores habilidosos se enfrentaram rigidamente e incansavelmente, características inerentes aos armadores. E finalmente, operou-se o retorno contundente dos contra-ataques, referenciados pela qualificação dos dribles e dos passes.

O próximo jogo em Franca, se constituirá numa autentica prova dos nove ante essa nova tendência que se inicia no âmago de nossas melhores equipes, que quando agregadas de alas mais qualificados nos fundamentos, retomando seus lugares ora, e justamente ocupados por armadores puros, propiciarão um enorme alento ao nosso combalido basquetebol.

Mas um último fator, talvez o mais importante deva ser mencionado, o papel futuro dos técnicos envolvidos nessa nova tendência, ou seja, a obrigação que todos têm daqui para diante, de desenvolverem novos sistemas, novas estratégias, novas formas de treinar seus jogadores, independendo de posições, idades e prestígios, nos fundamentos do jogo, desde os mais básicos, dando aos mesmos as condições necessárias para recriarem na quadra os sistemas propostos nos treinamentos, até mesmo aqueles rabiscados nas pranchetas que alguns, por vicio ou hábito, ainda teimarão em aposentar. E que essas novas (não tão novas assim…)

propostas tenham como referenciais o preparo das seleções nacionais, pois seus responsáveis não poderão omiti-las por teimosia e irresponsável auto-suficiência, incorrendo em gravíssimo erro ao negarem evidências

inquestionáveis. Torço para que reconsiderem posicionamentos pétreos, anulando um pouco certas ingerências nenesianas, que depreciam a disciplina, o respeito hierárquico e os princípios do bom e decisivo comando. Amém.

PS- Aconteceu no segundo quarto do jogo de hoje. O juiz assinalou uma infração de andar com a bola cometida pelo pivô de Brasília, mesmo estando em ação de drible. O comentarista da TV não entendeu o que ocorria e manifestou a dúvida enfaticamente. Agiu corretamente o juiz, pois o drible estava sendo executado acima do peito, fazendo com que a bola se mantivesse por longo tempo, e conseqüente espaço, em contato com a mão, originando a quebra do binômio drible-passada. No artigo que escrevi a semana passada, Sistemas III – Treinando fundamentos II, abordo exatamente essa questão. Correto o juiz.

MISSÃO PRÉ-OLÍMPICO

O PESO DO COMANDO.

Corria o distante ano de 1966, estava eu com 25 anos, jovem técnico das divisões de base do CR Vasco da Gama, quando fui convidado pela Federação do Rio para dirigir a Seleção Adulta Feminina no Campeonato Brasileiro daquele ano em Recife. Era uma época de grande prestígio no basquete feminino, cujas finais, sempre com São Paulo, arrastavam multidões e tinha ampla divulgação na mídia, inclusive no novíssimo meio televisivo. Numa equipe onde atuavam jogadoras do quilate de uma Norminha, Delci, Marlene, Neuci, Marli, Atila, Regina, Zezé, Rosália, Angelina, Didi, Luci, que enfrentariam em mais uma previsível final jogadoras inesquecíveis como Nilza, Odila, Ritinha, Nadir, Darci, Elzinha, Amelinha, Neusa, Marlene Righetto, Irene, todas elas formando a base da Seleção Brasileira.

Antes de um dos treinos que realizávamos no ginásio da Policia do Exercito, conversávamos com a grande jogadora Marlene, que polida e educadamente ponderava que não se sentia segura e confiante com o sistema de jogo que eu desenvolvia nos treinamentos, que diferia bastante dos que ela se acostumara nas equipes de que participou. Fiz ver a ela que tivesse paciência e confiasse na proposta técnica que desenvolvia junto a equipe, e que em breve teria nela um dos suportes básicos para o sucesso da mesma. Tudo isso discutido em particular, e que somente hoje, 41 anos depois torno público. Nem o restante da equipe soube algo a respeito, e como garanti, foi a Marlene a grande estrela da final com São Paulo com seus maravilhosos 38 pontos, na única partida que disputou, pois havia se contundido seriamente ao final dos treinamentos no Rio.

E porque relato tal fato tantos anos depois de ocorrido? O noticiário dos últimos dias trouxe à baila, em todos os meios de comunicação, as declarações de insatisfação técnica da grande estrela da NBA, Nenê, contra os métodos de treinamento da Seleção Brasileira, seu não aproveitamento tático satisfatório no último Pré-Olimpico quatro anos atrás, seus pedidos de modificações no âmago da comissão técnica com o aproveitamento de dois técnicos estrangeiros sugeridos por ele, assim como o pedido de convocação de jogadores de seu agrado, não relacionados pela CBB. Foi veemente a respeito de alimentação, transportes, e até sobre os figurinos dos uniformes de treinos e jogos. Enfim, colocou as cartas na mesa como um delfim que se julga acima da nossa realidade, muito diferente do eldorado em que se encontra atuando.

No entanto, não existem evidências que tenha tido esse tipo de comportamento nos Estados Unidos, quando alteraram seu físico radicalmente, a ponto de tornar suas articulações impotentes de resistir à massa corporal adquirida, e tampouco se rebelar quando o obrigaram a mudar seu estilo de jogo, colocando-o perante um impasse em ser um ala-pivô, sua formação básica, ou um pivô de choque, o que causou sérios embaraços em suas duas temporadas iniciais, e que só foram minimizados na temporada terminada recentemente, quando perdeu 17-8 kg.,suficientes para recobrar um pouco de sua outrora agilidade, aliviar um pouco as tensões articulares, e se fixar como o ala-pivô que sempre foi. Mas claro, o grande montante de dólares envolvidos em seus contratos, tornaram tais impasses meros e diminutos detalhes.

Mas aqui chegando, esclarecendo suas divergências técnico-táticas, e por que não, administrativas, depois de quatro anos sem defini-las objetivamente, numa ambigüidade que ora se manifestava contra a direção da CBB, e ora contra os métodos de treinamento da comissão técnica, resolveu publicamente, em todos os canais de mídia, derramar sua magnanimidade em defender e salvar o basquete brasileiro do desaparecimento, colocando, não mais o grego melhor que um presente no foco de seus ataques, e sim a comissão técnica em seu todo, já que sugeriu não um ,mas dois estrangeiros para dela fazerem parte, mas que, por sorte nossa, falam português…

E o que o titular da comissão declara após a divulgação do posicionamento constrangedor e nocivo, por ser inadequado e inaceitável vindo de um jogador, e o pior, de forma indireta, pois assumido e divulgado por meios de comunicação de massa. O que disse o Head-coach? “Ninguém é inocente de não ter jogadas para os atletas de cada posição. Os jogadores têm total liberdade de expor seus pontos de vista, e qualquer técnico inteligente sempre os ouve”. E complementou-“Trazer técnicos estrangeiros é atribuição da CBB, e não minha”.

Sim caro coach, é inteligente ouvi-los, como ouvi a grande Marlene, de frente, olho no olho, como duas pessoas profundamente interessadas em bem servir a seleção, em particular, com isenção e honestidade, e não trombeteando liderança que não possui, nem entre seus pares, vide declarações de alguns deles após o último mundial de triste memória, mas confiando no peso milionário de participar de uma liga que nos torna, em seu cotidiano e entendimento, de importância secundária, perante o mundo globalizado do qual ora faz parte.

Não caro coach, muito mais importante é manter íntegra uma liderança fundamental para a constituição do sentido de equipe, base e cerne de todo e qualquer esforço dispendido por uma coletividade desportiva que se propõe representar um país. Nosso candidato a herói nacional extrapolou suas responsabilidades de atleta de elite, colocando-se numa posição de salvador da pátria, para muitos órfã de líderes, mas agredindo e ferindo princípios hierárquicos inquestionáveis, em se tratando de uma equipe nacional em formação.

Sim caro coach, urge uma retomada de posição, enérgica e decisiva, fatores necessários para a tentativa, tênue bem sabemos, de nos classificarmos para vôos maiores no campo internacional, mesmo ante o abusivo, inoportuno e malicioso posicionamento do candidato a salvador do basquete brasileiro.

E ao final deste lastimável embate ficam algumas perguntas- Se os dois técnicos estrangeiros não forem contratados, se as jogadas da seleção continuarem as mesmas, se os jogadores indicados não forem convocados, se os transportes e a alimentação não melhorarem, se os uniformes continuarem apertados, como reagirá o grande jogador? Aceitará a situação tendo como única garantia o seguro exigido pela NBA pago? Ou aproveitará para pular fora, numa situação por ele mesmo provocada? E os demais integrantes da comissão, o que têm a dizer? Se nada tiverem a dizer, se calarem e aceitarem o repto, ai sim, nosso herói terá tido razão no confronto, e nada mais restará para a “unida e uníssona” comissão senão o caminho da roça, e com o lapitopi caipira embaixo do braço.