PELAS FRESTAS…
Numa bela crônica no O Globo de hoje, Míriam Leitão comenta a atuação da Ministra Marina Silva, e sobre sua corajosa trajetória de vida, e como a enfrentou. “Para mim, a fresta foi um curso do Mobral, que eu ia à noite, depois que saía da casa onde trabalhava como doméstica. Às vezes, assistia à aula em pé, porque não tinha cadeira”. Ao final, Míriam afirma que: “Marina Silva pode ou não continuar ministra, mas, certamente, ficará na mesma luta pelo meio ambiente brasileiro. Se há uma pequena fresta, Marina passa por ela. Ela é assim”.
Essa é uma grande lição de como ser possível influenciarmos o meio em que vivemos, mesmo que para tal, tenhamos de nos esgueirar pelas pequenas frestas deixadas pelos poderosos sistemas político-sociais que nos cercam. Isso também vale para o ambiente esportivo, em suas nuances políticas e interesses de terceiros, não só no aspecto técnico, como, também, no aspecto administrativo.
Um bom exemplo é o trabalho ora realizado em S.Bernardo do Campo, no que concerne a novos conceitos técnico -táticos desenvolvidos desde a formação de base pelo técnico Julio Malfi,
que numa matéria publicada no site Databasket de hoje, demonstra ser possivel, e altamente desejável, que se procure encontrar novas facetas de treinamento e soluções táticas no preparo de equipes, fugindo da mesmice que se implantou em nosso basquetebol a muito tempo. Sabedor que tais mudanças exigem um trabalho à longo prazo, se lança ao mesmo com determinação, escudado pelo exemplo de Marcel de Souza, em sua luta pela implantação do sistema de triângulos, do qual é ferrenho defensor. São atitudes como esta que deveriam pautar o comportamento dos técnicos brasileiros, principalmente aqueles envolvidos com a formação de base, a fim de que, e através a diversidade de experiências, pudéssemos ir de encontro, mais adiante, de uma autêntica e sistemática forma de treinamento, vizando a formação de nossos jovens, e não, como se vê atualmente, atados a um único sistema, que tem provado sua absoluta inoperância em todos os níveis em que é maciçamente aplicado.
Desde algumas décadas passadas tenho defendido esse posicionamento, não só na direção de minhas equipes, como na infinidade de cursos e palestras que ministrei pelo país afora durante todos estes anos. Também começo a perceber que alguns técnicos já começam a se reunir para a tão benéfica troca de conhecimentos e experiências, de uma maneira tímida, bem sei, mas com as esperanças redobradas de que é o caminho correto à ser seguido.
Falta-nos o apoio administrativo, federativo, confederativo, para a implementação de novas e ansiadas metodologias. Mas para que isto se torne realidade, faz-se necessário que as federações se afinem a este projeto de urgente necessidade, para que possamos emergir do fundo do poço em que nos metemos, por comodismo e subserviência. As eleições em algumas delas se aproximam, as tão sonhadas frestas, num sistema perverso de política interesseira e oportunista, tão ao gosto da mentora da nefasta situação em que nos encontramos, a CBB. Que desportistas e basqueteiros, realmente determinados no soerguimento do grande jogo, se disponham a penetrarem nas pequenas frestas que ora se apresentam, sendo que a principal delas, e a mais estreita, é a que propugna pelo afastamento dos falsos dirigentes, todos travestidos de esportistas, mas que não negam suas verdadeiras posições, de beneficiários dos cofres confederativos.
Os técnicos brasileiros, precisam influenciar os dirigentes dos clubes, associações e ligas, que são aqueles que detem o poder do voto federativo, e que mais adiante elegerão os dirigentes da CBB, através debates, intensas trocas de experiências, e que por intermédio de seus estudos metodológicos e busca por novos caminhos e soluções técnico-táticas, tragam para seu lado a divulgação pela mídia, que no fundo, será a grande e decisiva fresta para alcançarem sucesso em suas, nossas, longas e sofridas lutas.
Esse pequeno blog tem seguido o caminho do contraditório a tudo de errado que se abateu sobre o nosso basquetebol, não abrindo mão, em tempo algum, do direito à indignação ante tanta insensibilidade existente na pseudo-elite que teima em seguir caminhos que não levam, como jamais levaram, a lugar algum, a não ser os paradisíacos passeios e resorts que carimbam os passaportes de seus apanigüados e oportunistas integrantes.
Esta é a tênue fresta que podemos nos esgueirar, aquela que dá a seus comensais a plena confiança na impunidade de seus atos. Mas, até quando?