A ONIPRESENTE CHIFRE…

É chifre para cima, chifre para baixo, para o lado, invertido, falso, forte, dissimulado, chifre para tudo e para toda situação de jogo. Sem dúvida o chifre está valorizado, e como.

Tempo pedido, discute-se, às vezes xinga-se, outras silenciam, mas ao final o lembrete: -“vamos de chifre, ah, pra baixo”…

E lá vão os jogadores chifrar o oponente, mas com uma importante ressalva, o fazem sem mudar, acrescentar absolutamente nada ao que vinham, vem e virão a fazer enquanto jogarem, pois simplesmente… chifram.

Observo atento, não, concentrado, concentradíssimo na jogada chifre em questão, e nada, absolutamente nada vejo de diferente, inovador, criador, ou mesmo contestador, nada.

-“Os caras não podem continuar a ganhar os rebotes no ataque, não podem arremessar livre de fora, bandeja então, nem pensar. Marquem forte, e usem a chifre (alto, baixo, pro lado, ora, o que importa desde que seja a chifre…)”.

Mas como todo jogador criativo, exemplo, o Shamell, atuando dentro de uma chifre genérica, sai de sua zona preferida para os chutes estratosféricos de três (às vezes depreendo ser essa a verdadeira função das chifres, colocar jogadores para arremessos de três, será?), e mata o jogo com seis pontos seguidos de DPJ, um deles acrescido de reversão, todos de dois pontos, próximos, seguros, eficientes, fechando a série para a sua equipe.

Do outro lado, uma equipe ensandecida nos arremessos de três e um furor de inócuos dribles por parte de armadores que simplesmente resolveram riscar o jogo interior de suas preferências, e claro, atuando numa chifre polivalente.

Nos três jogos finais as duas equipes finalistas do paulista, perpetraram um 58/145 nos arremessos de três, contra 111/205 de dois pontos, e cometeram juntas 78 erros em perdas de bola, e tudo sob a égide de jogadas nunca obedecidas e defesas permissivas, mas ambas, perfeitamente alinhadas pela mais emblemática das jogadas exigidas, quem sabe até um sistema, a onipresente chifre.

O que me preocupa de verdade, é que o argentino também tem uma queda por ela, o que justifica a sempre presente hemorragia dos três, que nos tem causado tantos contratempos.

E foi sob esse cenário que um talentoso Shamell resolveu e definiu um jogo de 2 em 2, simples e nada glamoroso, sem enterradas e tocos cinematográficos, apesar de ter levado um decisivo na terceira partida da série.

Mas com ou sem chifre, parabenizo a equipe do Pinheiros por sua conquista, e ao Shamell em particular, por sua inteligente opção.

Amém.

OBS-Antes que me questionem – DPJ- Drible, parada e jump, classica jogada dos que sabem jogar o grande jogo.

SEM IMPORTÂNCIA?…

Sem importância? Como sem importância em se tratando de uma seleção brasileira num torneio internacional?

Lá estava a maioria de nossos veteranos, a base da equipe campeã nacional, o pivô líder na posição no NBB, e que só não foi ao Pré Olímpico face a uma cirurgia no ombro. E mais, o Benite , um dos armadores na conquista da vaga olímpica, e uma gama de jovens talentos para serem analisados dentro de uma competição com seleções de respeito, como Porto Rico e Republica Dominicana, além das sempre bem representadas Argentina e Estados Unidos. E tudo isso não tem importância? Ou queremos, ou teimamos em projetar uma futura performance em Londres contando somente com a base veterana representada em Guadalajara?

Quando a câmera da TV passeou pelo banco da seleção nos minutos finais do jogo contra os dominicanos, pudemos testemunhar o quanto de sofrimento e decepção estampava os rostos de toda a delegação, e a foto acima bem representa o estado de espírito da mesma, incrédula pelo pífio resultado.

E o quanto esse “pífio resultado” representa para Londres, já pensaram nisso? E o que terá de ser analisado, estudado, pesado e modificado pelo Magnano depois do que constatou na pratica quando uma equipe de escaldados veteranos e um armador jovem foram batidos por defesas pressionadas, em meia quadra pelos americanos, e quadra inteira pelos dominicanos, deixando serem descontados 17 e 20 pontos de vantagem naqueles jogos, e o pior, em apenas um quarto de cada jogo?

E que tal recordarmos que mesmo jogadores saudados como sumidades, como o Huertas e o Luz se viram em maus lençóis em Mar Del Plata quando fustigados por pressões pontuais, em nada comparadas com as pressões utilizadas no México?

Então, nos vemos com um problema de difícil solução em dupla armação (utilizada em ambos os jogos como medida para se safar das pressões, geralmente reunindo Nezinho e Benite), imagine então com somente um único armador, como a maioria absoluta de analistas, críticos, técnicos e torcedores reivindicam, afim de “garantir” a estatura da equipe? No entanto esquecem que ambos, Huertas e Benite se situam na faixa dos 1,90m, que para armadores de oficio auferem um bom padrão. O que não pode é querermos escalar Marcos, Marcelo e Alex como armadores sem as qualificações técnicas para a posição.

Mesmo os armadores, e esse Pan centrou bem a questão, viciados por anos e anos de solitária incumbência de liderar suas equipes, e que raramente sofreram em sua progressão pelas varias categorias, de marcações pressionadas de qualidade, deixaram de incluir em seus arsenais de habilidades técnicas aquelas manobras em sintonia fina, que os diferenciam de armadores forjados e formados em países onde a arte de defender é realmente levada a serio. É o que temos visto, comentado e alertado ano após ano em nosso país, e que se revelaram em toda a sua dimensão trágica neste Pan, e mesmo em muitas situações no Mundial e Pré Olímpico. Ou seja, uma referencia baseada única e exclusivamente na precariedade de nossa formação de base, onde os fundamentos do jogo foram, são, e continuarão sendo negligenciados, se não tomarmos e implementarmos profundas mudanças na forma de ensiná-los, principalmente os de defesa, que se constituem no pólo irradiador na melhoria dos fundamentos de ataque, numa troca progressiva de conhecimentos técnicos individuais e coletivos, adquiridos exponencialmente.

Sem importância, minha gente? Creio que agora o bom técnico argentino já tenha coletado da forma mais objetiva possível, os dados necessários para a formação de uma seleção consistente para Londres, constatando na mais dura das práticas o quanto de precária se encontra a nossa armação, e o quanto de trabalho que terá de despender para solucionar, ou amenizar tal vácuo, e onde a busca de outras soluções, e mesmo armadores, se fazem estrategicamente urgentes, pois acredito que temos jogadores nacionais talentosos para a posição no país, necessitando somente de um treinamento mais concentrado e competente, além, e isso ficou bem claro, de um sistema de jogo que privilegie o domínio absoluto e duplicado da bola, para daí em diante municiar o jogo interior, onde, pela primeira vez em muitos anos, temos jogadores altos, rápidos e atléticos em boa quantidade, formando uma equipe dinâmica, aonde todos venham a se movimentar incessantemente, tanto dentro como fora do perímetro, e não estabelecidos em suas capitanias hereditárias, pontuais e estáticas, na busca do triplo, da bolinha salvadora.

Por tudo isso, o Pan foi de uma utilidade transcendental, como base de analises e coleta de dados, que se não foram suficientes para vencer, o foram para projetar uma realidade que não podemos e nem devemos omitir, para que não se repita em Londres, onde os realmente melhores, mais técnicos e capazes deverão estar, e somente eles.

Amém.

NORMAL?…

“Foi um jogo normal, elas souberam explorar nossos erros e venceram”. (Declaração do técnico da seleção feminina depois do jogo com a equipe de Porto Rico pela TV Record).

Desculpe discordar, mas não foi um jogo normal, mas sim um jogo muito mal jogado por uma equipe teimando no sistema único, contra outra jogando em dupla, e às vezes em tripla armação, com somente um arremedo de pivô, driblando, fintando e penetrando em velocidade sem qualquer anteposição por parte de uma defesa ironicamente inferiorizada pela estatura desproporcional, ou seja, jogadoras baixas e rápidas superando em seu ataque jogadoras mais altas defendendo com lentidão, sem ajuda, e pressionado fortemente na defesa induzindo-as ao erro pelas enormes falhas nos fundamentos básicos do jogo, principalmente os defensivos, marca registrada entre nós. Defender o que defendemos contra equipes inferiores gerou uma falsa idéia de superioridade, contestada quando a realidade de boas praticantes dos fundamentos se fez presente nesse jogo.

As porto-riquenhas se impuseram por um ataque extremamente veloz, e uma defesa mais veloz ainda, jogando na anteposição e na pressão sobre a armação brasileira, sobre uma pivô desgastada e enfraquecida por uma gripe, e contando com o péssimo aproveitamento dos arremessos de fora do perímetro, num quadro que não foi e nem pode ser revertido por um único detalhe, não estavam preparadas para aquele tipo de atitude técnico tática, configurando-se daí para diante um jogo que nada teve de normal, pelas características antagônicas de nossas jogadoras, impossibilitadas de uma dupla armação sequer tentada e muito menos treinada, que equilibraria as ações, e de um jogo interior mais rápido e menos concentrado numa Erika visivelmente combalida, e uma Damiris que ainda tem muito o que aprender, a começar pelo seu arremesso de media distância, inconsistente e imaturo.

A equipe brasileira terá de se reformular bastante para enfrentar uma Olimpíada com nível bem acima da nossa realidade, principalmente na armação, num jogo mais dinâmico tanto fora, como dentro do perímetro, e um sentido defensivo consistente, começando numa reformulação voltada à pratica massiva dos fundamentos, sem os quais sistemas de jogo simplesmente não funcionam. Teremos tempo para isso? Creio que sim, basta coragem e ousadia para, ao menos, ser tentado.

Amém.

Foto- Divulgação CBB.

INTELIGENTE E SAGAZ…

Inteligente e muito sagaz esse técnico do Flamengo, ao iniciar o jogo em Brasília com o quarteto estelar recém contratado, mais o referencial do time, Marcelo. Leandro, Caio, Kammerichs e Jackson viram a bola ir ao alto e permanecer por lá para sua equipe, batida sem dó por um adversário tradicional que atua junto a muito tempo, e mesmo que se utilizando de um sistema padronizado tinha os jogadores certos para cada posição ocupada na quadra de jogo.

E por que inteligente e sagaz? Pelo simples fato de cumprir um acordo movido por interesses econômicos e promocionais numa abertura de temporada,  expondo um produto de alta qualidade individual, que dificilmente poderá se abster de jogadores não tão medalhados, em nome de um conjunto harmônico e equilibrado, uma equipe enfim.

Aí estão os caras, torcida fanática e analistas de plantão (quando para ambos os “nomes” é que importam…), ai estão, mas… funcionam em grupo?

Para qualquer técnico iniciante, torcedor lúcido ou analista com um mínimo de conhecimento do grande jogo, claro que não funcionaria jamais, ou o Leandro, vindo de uma Liga onde as flutuações defensivas são proibidas, e os armadores atuam em duplas, encontraria facilidades em suas feéricas penetrações em passadas e não através dribles contínuos? Nunca, daí sua declaração ao final da partida se dizendo surpreendido com o jogo físico mais intenso aqui do que na Liga em que atua a nove anos, como se não soubesse disso. Além do mais, um pivô de alta mobilidade, como o Kammerichs dificilmente reduziria e coordenaria sua velocidade com um pivosão como o Caio, assim como um Jackson se afinaria com o Leandro de características semelhantes. Sobrava o Marcelo, que perdido nessa galáctica indefinição tática nada pode fazer para minorar o estrago inicial, a não ser assumindo a armação, abrindo mão de sua arma contumaz, os longos arremessos.

Pronto hinchada, satisfeitas as apresentações, vamos ao que interessa, tentar ganhar o jogo, mesmo estando bem atrás no marcador. Coloquemos um armador de oficio, um pivô tão rápido como o argentino, para movimentar o perímetro interno dos candangos, recoloquemos o Marcelo onde sabe jogar e atuar, e vamos ver no que dá!

Claro, empatou e tomou uma boa dianteira, que se mantida a nova formação poderia vencer sem margens a dúvidas.

Mas, e o investimento, o marketing, os altos interesses em jogo, como ficariam? Volta todo mundo, e seja o que os deuses quiserem… e não quiseram pela obviedade da ação, e  ponto.

Entrementes, a equipe do planalto central, experiente, batalhadora e unida em torno de uma base sólida e testada, mantendo sua proverbial produtividade, liderada por um Alex inspirado, sem sofrer rupturas e desvios táticos, soube administrar as oscilações rubro negras, para vencer com justiça um jogo que de amistoso teve muito pouco, e perante um excelente público numa manhã de domingo.

O técnico argentino vai ter sérios problemas para o NBB4, principalmente na administração estelar que ajudou a formar, mas que deveria jogar sem prioridades de escalação, já que existem posições conflitantes dentro do sistema que se propôs a introduzir na equipe, fator este que impossibilita adaptações frente a características de alguns jogadores, antagônicas que se tornam para o mesmo.

Mas, quem sabe, o término do locaute na NBA não venha minorar bastante as sérias dúvidas que assaltarão, com certeza, os conceitos de jogo e equipe do nosso hermano?

Que é inteligente e sagaz ao administrar egos e interesses de fora e dentro da quadra, sem dúvida, mas será suficiente para vencer o NBB4?  E se o locaute persistir? Tenho lá minhas dúvidas.

Amém.

O CAMINHO POR VIR…

Vencer uma final de pré olímpico por mais de 40 pontos (74×33), demonstra em toda a sua extensão o enorme fosso que separou a seleção brasileira das demais, apesar de em algumas partidas mostrarmos sérias deficiências nos fundamentos, principalmente nas alas.

Mas num fundamento mostramos uma clara evolução, a defesa, que foi o fator determinante no resultado final. O exemplo de coletivismo defensivo da seleção masculina, numa competição onde os adversários foram mais qualificados do que na competição feminina, parece que inspirou positivamente a equipe e sua comissão técnica, mesmo com algumas falhas pontuais no posicionamento defensivo de algumas jogadoras, e pelo fato de não adotarmos a defesa frontal das pivôs adversárias, que nas Olimpíadas serão muito superiores às desse pré olímpico.

No entanto, algo de muito positivo aconteceu nesse jogo final, quando nos dois últimos quartos ensaiamos jogar com duas armadoras e duas pivôs, numa ação de jogo interior que praticamente liquidou toda e qualquer possibilidade reativa da equipe argentina, incapaz de frear o poder ofensivo interior e a esmagadora superioridade nos rebotes.

A seleção está bem servida de boas e talentosas pivôs, podendo desenvolver sistemas de jogo que as priorizem, como poucas equipes poderão fazê-lo em Londres, numa perspectiva que deveríamos investir com vigor e inteligência, fugindo de vez do estereótipo técnico tático que nos empobreceu nas últimas duas décadas, apresentando algo de inovador frente ao sistema único adotado pelas demais seleções classificadas, inclusive a nossa. Erika, Clarissa, Damiris, Francilene, Nadia, formam uma boa base para um jogo interior forte e ousado.

Mas tal evolução necessitaria de uma dupla e permanente armação para alimentá-la com precisão (como a ensaiada nesse jogo final), além do apoio mútuo ante defesas pressionadas, assim como um apreciável reforço defensivo pela velocidade de deslocamento e combate efetivo à armação adversária. Agindo dessa forma, nossa deficiência nas alas seria bastante atenuada, pois de dois em dois também se vencem jogos, por mais duros que se apresentem, além do fator inovador, em nenhum momento previsto por um basquete formatado e padronizado internacionalmente. Se jogarmos dentro dos padrões vigentes, teremos poucas chances de enfrentamento, ante seleções fundamentalmente mais bem preparadas do que a nossa.

Enfim, é certo que as classificações olímpicas nos beneficiará na retomada do prestigio do basquete tupiniquim, o que não é pouco, mas não suficiente se não mudarmos nossa forma de jogar, e preparar as novas gerações estruturadas numa formação sólida da base, onde os fundamentos terão de ser desenvolvidos e ensinados através técnicas didática e pedagogicamente bem planejadas, sendo essa a mais importante missão de uma ENTB convenientemente reestruturada e redimensionada para a execução de um projeto de tal envergadura.

Parabéns às jogadoras e comissão técnica que conseguiram tão importante feito, mas agora é que começa, de verdade, o caminho olímpico.

Amém.

Foto Divulgação FIBA. Clique na mesma para ampliá-la.

DAMIRES E OS FUNDAMENTOS…

Terminado o primeiro quarto do jogo, simplesmente não consegui retornar para o segundo, o terceiro, mas o fiz no quarto, ainda incrédulo com o baixo nível nos fundamentos do jogo, por ambas as equipes. Se brasileiras e canadenses formam as duas melhores equipes deste pré olímpico, independendo de qual se classifique, muito pouco alcançarão em Londres, pois conseguem cometer erros básicos numa sucessão assustadora, senão constrangedora.

Claro, acontecem exceções, muito poucas, mas acontecem, e a Damires é uma delas, e muito mais por conta de sua espontânea vitalidade, força e coordenação motora, do que o real conhecimento e domínio dos fundamentos básicos, que aos 18 anos já deveriam estar bem aprendidos e sedimentados, para que ao nível de uma seleção nacional, se impusesse consistentemente, e não em oscilantes lampejos.

Assim como ela, a Clarissa e a Babi, possuem um grande talento, que será definitivamente perdido se uma forte indução aos fundamentos não for priorizada, muito além , muito mesmo, antes de introduzi-las em coreografias impostas e pranchetadas, sem que as mesmas possuam o competente domínio técnico individual para exequibilizá-las.

Em um artigo aqui publicado em 1/8/2011, UM TALENTO MVP, apontei um erro de empunhadura da Damires, que tornava seus arremessos inseguros e não direcionados com firmeza, comparando sua técnica com a da jogadora americana Hartley, no momento decisivo da soltura da bola. No jogo de ontem, vislumbrei uma boa evolução nessa técnica (vide fotos), na qual a palma da mão cedeu o contato na bola às pontas dos dedos, tornando factível o alinhamento do polegar e mínimo ao nível horizontal do aro da cesta, dando aos três dedos centrais a correta função de acelerar e impulsionar a bola à mesma. Seu bom aproveitamento nos curtos arremessos, e mesmo nos longos durante o jogo, atestou essa bem vinda evolução, contrastando com algumas sérias falhas a ser corrigidas o mais rápido que for possível.

Damires pegou 11 rebotes, mas em todos eles chegou ao solo com o rosto direcionado da mesma forma de quando os captou no ar, que quando defensivos, com a vista voltada para a linha final. Se no momento do domínio da bola girasse seu corpo em 180 graus, teria o mais amplo domínio visual da quadra possível, podendo rapidamente localizar companheiras livres, desencadeando contra ataques mais velozes, ou mesmo saindo driblando para o ataque. Nos ofensivos, tal rotação a dotaria do posicionamento de tripla ameaça, podendo driblar, passar ou arremessar com mais precisão, já que evitaria o bloqueio verticalizado das defensoras.

Mas é no ato de driblar, origem dos cortes, mudanças de direção, e decorrentes passes em velocidade, que comete o mais elementar dos erros, o olhar para a bola (vide foto do jogo com o Paraguai), quando perde o contato visual de suas companheiras e o posicionamento defensivo das adversárias, tornando a ação eminentemente pessoal, que é o erro mais freqüente da maioria das alas e pivôs da seleção, sem contar a ausência da ambidestralidade.

Em hipótese alguma um(a) jogador(a) deverá olhar para a bola, em nenhuma situação de jogo, e sim percebê-la se utilizando da visão periférica, e a angular quando exerce o drible. São visões que se complementam na dinâmica do jogo, que juntamente ao domínio do equilíbrio corporal, compõem as bases estruturais do mesmo, do grande jogo.

Como vemos, talento, estatura, força física, inteligência e criatividade temos em boa conta, nos faltando fundamentação técnica, sem a qual nenhum sistema de jogo funcionará a contento, se é que funcionará, a não ser nas ilusórias e fantasiosas mentes de muitos de nossos técnicos e suas gloriosas pranchetas, só que elas não driblam, passam, fintam, defendem, saltam, reboteiam e arremessam com um boa dose de qualidade e competência. Ficam lá, no colo ou no chão, emitindo traços e rabiscos desconexos, como a exigir movimentos e ações através uma sofisticada coreografia, cuja concepção ignora propositalmente que a maioria daqueles atentos circundantes não possui fundamentação técnica para atendê-la. Essa é a triste realidade. Tem correção?

Sim, mas não nas mãos de estrategistas.

Amém.

Fotos O Globo e Divulgação FIBA. Clique nas mesmas para ampliá-las.

UMA COERENTE CONVOCAÇÃO…

Todo bom professor, assim como os técnicos desportivos sabem muito bem o que venha a ser uma progressão pedagógica, que é uma somatória de elementos didáticos cuja resultante é a sólida aprendizagem de um, ou mais módulos de ensino.

Quando essa progressão é descontinuada, acontecem fraturas na aprendizagem dos módulos propostos, criando vácuos, que se não preenchidos, põe a perder grande parte dos esforços despendidos até aquele momento.

O técnico Magnano, não somente sabe, como demonstra conhecer esse mecanismo com o seu metódico trabalho, buscando um novo posicionamento de comportamento técnico tático da seleção, cuja conquista da classificação olímpica demonstrou o acerto inicial de seu trabalho. No entanto, a meta a ser atingida em Londres, ainda carece de um maior preparo, no intuito de serem sanadas ou atenuadas carências ainda existentes na equipe, que se não for mantida a continuidade do árduo trabalho, as fraturas acima mencionadas se imporão irremediavelmente, principalmente na armação e no jogo interior ofensivo, e na sedimentação do rígido conceito defensivo que implantou.

De frente a tão complexos aspectos para a formulação de uma competente estratégia visando os sérios, rudes e tão próximos embates olímpicos, é que o sagaz argentino efetuou essa convocação, que está coalhando a grande rede de comentários que vão do esquecimento de determinados jogadores, ao prejuízo que estará causando aos clubes a que pertencem os selecionados, numa discussão onde as causalidades deveriam ceder espaço às verdadeiras intenções do mesmo.

Vejamos por partes:

– Os jogadores do Brasília, Alex, Guilherme e Nezinho, dos mais experientes e veteranos da seleção, sofreram uma grande mudança técnico comportamental sob o comando do Magnano, principalmente no posicionamento defensivo e na contextualização do coletivismo proposto e  exigido por ele, mas ainda carecendo de importantes ajustes, a fim de que tais comportamentos fossem mantidos durante todo o transcurso dos jogos, sem sofrerem oscilações das que ocorreram amiúde em Mar del Plata. A participação desse trio em mais uma intensa rodada de treinamento, aproveitando o fato da equipe candanga não disputar grandes torneios até o Pan, seria a grande oportunidade para que o Magnano influenciasse esse importante núcleo no que acredita ser o caminho a ser tomado pela seleção.

– O mesmo poder-se-ia afirmar sobre a dupla flamenguista, também liberta de sérios torneios até o Pan, e assim como o pessoal de Brasília, necessitada de um reforço de aprendizagem no conceito Magnano de ser e jogar.

– Como o Spliter, apesar da greve na NBA, não se dispôs a jogar campeonatos fora dos Estados Unidos, arriscou o Magnano sua convocação, talvez a mais acertada, visto a baixa produtividade do excelente pivô, mais retrabalhado do que treinado nos Spurs, numa mudança de fundamentação técnica que, saltando aos olhos, o fez, infelizmente, regredir em seu excelente condicionamento europeu. Essa nova rodada de treinamento, principalmente fundamental, seria de ótima valia para ele.

– Benite, Murilo e também o Nezinho, com a ausência dos europeus e do Marcos, único dos básicos envolto numa competição de alto nível, onde seu clube investiu prodigamente, teriam uma nova oportunidade de se inserirem nas conceituações do Magnano, agindo quase como um personal training para uma competição, que se não tão importante no plano internacional, mas perfeitamente apta a um melhor preparo visando Londres.

– Quanto aos novos, o armador Davi, o ala armador José Roberto, o ala Bruno, e o pivô Cristiano, constitui-se numa convocação justa, pois visando a necessária renovação, já a situa dentro dos conceitos do argentino, mantendo sua coerência de trabalho.

Enfim, como continuidade de um trabalho, aparando arestas diagnosticadas e sentidas no pré olímpico, nesse momento antecedente ao Pan, e com vistas a Londres, creio que o Magnano agiu com precisão e inteligência, guardando suas observações finais quando do acompanhamento do NBB4, e de certos óbices que todos, de dirigentes e agora jogadores outrora críticos, colocaram em suas mãos, sobre a dupla da NBA, participar ou não (será que teremos ressuscitado Pilatos?…), numa situação que o porá a prova perante si mesmo, ainda mais se tratando de um hermano, colocada por outros não tão irmãos assim.

Creio que tomadas de posição acionadas de livre arbítrio por adultos responsáveis, sabedores da significância de uma camisa de seleção nacional, não deveriam ser discutidas, nem proteladas, já que tomadas voluntaria e espontaneamente, cabendo tão somente a todos nós desejarmos que prossigam suas carreiras felizes e realizados, e somente isso.

Amém.

Foto divulgação FIBA Americas. Clique na mesma para ampliá-la.

“O BASQUETE MODERNO”…

Percorri todos os canais que transmitiram o Eurobasket, profundamente interessado pelas análises técnico táticas dos especialistas que cobriram os jogos de algumas das melhores equipes do mundo FIBA.

Aguardei ansioso analises sobre os sistemas de jogo empregados, suas concepções, evoluções, novidades, até mesmo retrocessos, mas o que nos era informado jamais ultrapassava o 5 x 5, imbatível num momento, inseguro em outro, inexistente mais adiante, ah, que em alguns momentos a zona 2-3 era utilizada, em outros a pressão ½ quadra, e só.

Mas os tocos fantásticos, os petardos de três arrasadores, as sublimes enterradas, as inenarráveis pontes aéreas e o coletivismo mágico dos espanhóis, galgaram o Olímpo reverencial, o supra-sumo da arte desportiva, o basquete moderno.

No entanto, por se tratar de um jogo de equipe, esperava que fossem salientados, discutidos e analisados aqueles aspectos que realmente pudessem concorrer para o desenvolvimento do nosso basquete, afinal de contas estavam se apresentando as melhores equipes européias, que junto à equipe norte americana serão nossos adversários diretos em Londres.

Esperei em vão por algo incompreensível para todos, já que definitiva e lamentavelmente atados ao sistema único, o único que conhecem e defendem.

Então, gostaria de apresentar a todos esses senhores a seleção do campeonato, eleita pelos bons entendedores do grande jogo na Europa, e cuja formação, na foto acima, conta não com dois, mas três armadores (vá lá, o Navarro é um ala-armador, mais armador do que ala…) e dois alas pivôs, rápidos, ágeis, flexíveis, e acima de tudo, hábeis nos fundamentos do jogo.

Kirilenko, McCalabbe, Parker, Navarro e Gasol, que juntos às suas seleções derrubaram os últimos resquícios do basquete paquidérmico, estático e marcado por jogadas coreografadas, fazendo eco à pequena revolução patrocinada pela equipe campeã mundial do Coach K, definiram o rumo e a concepção de jogo que será estabelecida em Londres, e que, infelizmente ainda é solenemente negada entre nós (mas, embrionariamente ensaiada na seleção), a da dupla armação e dos alas pivôs dinâmicos e tão bons nos fundamentos quanto seus companheiros de armação, guardadas as devidas proporções, que são concepções advindas do mais profundo e vasto preparo nos fundamentos desde as divisões de base, e sua manutenção nas divisões adultas, e mesmo nas seleções.

-Dois armadores e três alas pivôs? Alguém já pensou isso por aqui?

-Certeza que sim.

-Onde, quando, por onde anda?

-O que importa, não o tiraram de circulação?

-Triste…

Amém.

INQUESTIONÁVEIS DIFERENÇAS…

Foram duas grandes semi finais no pré olímpico europeu, mas ambas com uma característica em comum, o fortíssimo jogo interior, onde montenegrinos, espanhóis, russos e franceses apostaram todas as suas fichas no mesmo, insistindo com seus pivôs extremamente ágeis e velozes, comprimindo as defesas, e consequentemente liberando o perímetro externo para os arremessos de média e longa distâncias, equilibrados e precisos.

Obviamente, criaram-se situações em que as defesas foram obrigadas ao combate externo, originando uma terceira via, a dos cortes e penetrações em alta velocidade, e o mais emblemático, é que tais situações técnico táticas foram as mesmas para as quatro equipes, variando somente nos momentos em que foram exequibilizadas.

Identicamente, espanhóis e franceses tiveram em seus terceiros quartos os momentos em que uma conjunção de jogo interno, penetrações externas e arremessos de três foi a responsável por suas incontestáveis vitórias, levando-os a final, já classificados para Londres.

Se formos mais explícitos, todos jogaram em dupla (e até tripla) armação, dois pivôs dentro do garrafão e um ala que em muitas oportunidades agia como um terceiro pivô, numa formação tática que desconhecemos(?) e não ousamos(?) utilizar por aqui, onde as exceções não contam…mesmo.

Era engraçado ouvir um dos comentaristas televisivos um tanto evasivo, já que entusiasta dos arremessos de três, que segundo ele é o modus vivendi do basquete moderno, ante a realidade do jogo interno de 2 em 2, apresentado pelas equipes semi-finalistas, tão em desacordo com suas inabaláveis concepções de jogo, omitindo o que naqueles momentos ficava claro à análise de quem entende o grande jogo, o fato de que para todas aquelas excelentes seleções, e por extensão, ao basquete que praticam em seus países, serem os arremessos de três complementares, e não a base de seu jogo.

Mas para além de qualquer outra consideração, um fato marcava e delimitava a atuação das excelentes equipes, seu insuperável sentido de equipe, onde cada peça exercia sua função visando um todo, fossem estrelas ou não, nas quais um Parker, um Navarro, um Kirilenko, um McCalabbe, trabalhava e lutava em torno de um bem comum, com a humildade dos grandes campeões.

Também nos classificamos no Pré Olímpico de Mar del Plata, e encontraremos franceses e espanhóis em Londres, mas será que estaremos em igualdade de condições técnico táticas com os mesmos e  outras equipes não menos competentes?

Se não contarmos com uma trinca de bons armadores, podendo usar uma dupla armação, e não somente o Huertas, não jogarmos com pelo menos dois pivôs com boa movimentação ofensiva e ação antecipativa  na defesa, como a marcação à frente dos pivôs e altamente treinados no bloqueio de rebotes, e uma boa dupla de alas, que atuem em penetração ou mesmo como um pivô móvel, e principalmente, se nos conscientizarmos de que os arremessos de três fazem parte do jogo, e não se constituem no jogo, teremos razoáveis chances em Londres, que só não serão de primeiro plano, pelo fato inquestionável da sempre presente deficiência que nos pune naqueles mais importantes e definidores momentos de um jogo decisivo, nossa ainda não contornada e corrigida deficiência nos fundamentos do jogo, que sonho seja a nossa meta prioritária para 2016.

Amanhã, às 15hs poderemos assistir a grande final entre espanhóis e franceses, num jogo que deveria ser gravado por todos os nossos técnicos, para sempre se lembrarem de como jogar com os pivôs, de como dividir responsabilidades entre dois armadores, de como devem atuar os alas, dentro ou fora do perímetro, e não ficarem atrelados ao sistema único de jogo, responsável pela perpetuação de técnicos e jogadores irmanados num corporativismo  garantidor de empregos e posições destacadas em nosso engessado basquete.

Precisamos fugir e nos livrar dessas nefastas amarras, adotando conceitos plurais, abertos e instigantes, desde a base, priorizando os fundamentos individuais e coletivos, e principalmente preparando e treinando na pratica nossos futuros técnicos, acompanhando e assessorando-os em seus locais de trabalho, e não provisionando e certificando-os em cursilhos de 4-5 dias através uma ENTB/CBB/Cref, equivocada didática, pedagógica e tecnicamente falando.

Cinco anos nos separam da Olimpíada no Rio de Janeiro, e urge em caráter absolutamente prioritário mudarmos nossa forma de ver, estudar, pesquisar, preparar e desenvolver o grande jogo no país, e para começar que se façam presentes, atuantes e executantes os verdadeiros professores e técnicos existentes e politicamente esquecidos do país, pois fora isso nada mais poderá, como não está podendo, ajudar em nosso soerguimento. Essa é a nossa realidade.

Amém.

Foto-Divulgação FIBA.

PONTO FINAL…

Custo a engrenar o comentário, pois algumas cenas ficaram marcadas no jogo final desta Copa América, como após duas tentativas bem concluídas de cesta, e sendo lançado faltosamente pela linha final, o Scola mesmo caído cerra os punhos e vibra intensamente, numa demonstração de garra e vontade de vencer o rival histórico. Por outro lado, a medonha visão de um grupo de jogadores (não todos…) profissionais aderindo a uma estética advinda do futebol, no que ele representa de pior, “moiconando” seus cabelos, numa demonstração de que os festejos pela classificação estiveram bem acima do que o foco direcionado a uma decisão de campeonato, importante pelo fato de que do outro lado se encontrava um possível adversário olímpico, jogando em seus domínios e ferido pela derrota de dois dias atrás, num cenário de confronto que dificilmente poderá ser emulado na preparação para Londres. Temi que, para concluir a pífia representação inicial, uma dancinha fosse estimulada, como a da preliminar com a participação de dominicanos e portorriquenhos, parecendo estarem felizes da vida  pela não classificação. O descompromisso da nossa seleção ficava evidente, inclusive em boa parte do primeiro quarto, quando perdeu por 21 x 9!

O segundo quarto foi bem mais disputado (parecendo que a ficha tinha enfim caído…), com a seleção se utilizando de dois pivôs, o Spliter e o Hettsheimeir, forçando os jogadores altos argentinos a um duelo que nos favoreceu em algumas jogadas, suficientes para vencer por 18 x 14, numa confirmação de que se tivesse entrado no clima decisivo desde a véspera a contagem teria sido bem mais próxima do que os 35 x 27 que encerrou a primeiro tempo da partida.

Retornando bem mais concentrada na defesa e no jogo paciente no ataque, a seleção voltou a vencer por 21 x 15, levando a decisão para o quarto final, num esforço que teria sido bem menor se tivesse, repito, iniciado o jogo com mais seriedade e menos carnaval.

No quarto final da apresentação no pré, enfim o Magnano colocou em quadra o Benite  junto ao Huertas, abrindo um 8 x 0 empolgante, para logo a seguir com a entrada do Alex, jogar com os três e os dois pivôs, tornando a movimentação da bola mais veloz e de difícil marcação por parte dos argentinos. Mas desse ponto em diante o fator feérico retornou, primeiro com um monumental toco de aro sofrido pelo Hettsheimeir (no ataque seguinte, concluiu com uma bandeja clássica, provando ter aprendido a lição…), e dois passes errados nas duas jogadas subsequentes, do Guilherme e do Marcelo Machado, ambos que teriam sido espetaculares, mas inadequados àquela altura do jogo, em seus momentos cruciais, dos quais os argentinos se aproveitaram para fechar em 80 x 75, cabendo lembrar os 12/21 lances livres tentados pela seleção.

Sei que muitos criticarão os pontos que acima apontei, ressalvando os momentos de intensa alegria e conseqüentes festejos pela classificação alcançada, mas o semblante contraído e preocupado do Magnano nos momentos decisivos do quarto final, bem demonstrava que ali ele estava para vencer o jogo, sua determinada  prioridade, e para a qual (a vitória) trabalhou tanto, dando a ele uma certeza,  de que muito ainda falta para que a seleção atinja o ápice do comprometimento, impermeável e blindado a qualquer manifestação que arrisque, mesmo de leve, o objetivo final a ser alcançado. Depois sim, que raspassem tudo que quisessem e pudessem, se é que o fariam…

Amém.

FOTOS-Divulgação FIBA Americas