CONVOCAÇÃO? QUESTÃO DEFINIDA…
Meses atrás, o técnico Moncho Monsalve deu uma entrevista afirmando que não alteraria a maneira brasileira de jogar, mas incluiria na equipe ações de jogo armado, cadenciado, “com aquele passe a mais”, bem ao modo europeu de jogar, não fosse ele um dos mentores da escola espanhola, atual campeã mundial. Afirmou também, que entrevistaria todos os jogadores na Europa e nos Estados Unidos, assim como trataria com especial atenção aos casos dos “rebeldes” Nezinho e Marcos, sendo que para o último falaria de homem para homem.
Sua convocação, mais do que de cartas marcadas, primou pela total incoerência, pois estabelecer jogo armado e cadenciado com os armadores convocados, o Huertas e o Valter, cercados de jogadores de correria, como Alex, Marcelo, Guilherme e Leandro, não parece ser a formula acadêmica que tanto apregoou, preferindo manter o sistema “seja o que os deuses quiserem”, que jamais será mudado em trinta e poucos treinos, e quatro ou cinco amistosos. E se tudo acontecer sem os já corriqueiros imprevistos de atrasos na apresentação, contusões e cansaços residuais. Além do mais, a propalada entrevista de homem para homem, se realmente aconteceu, ou mesmo foi esquecida em nome da disciplina, puniu os dois rebeldes com a não convocação, uma justa pela recusa de jogar com a camisa nacional, a outra, injusta, pois o Marcos pagou sozinho pelo motim de alguns jogadores auto investidos em líderes, que peitaram a comissão técnica, e viram suas abomináveis ações escancaradas em público através suas inábeis declarações, mas que espelhavam a triste e revoltante realidade no seio da seleção. A convocação ora liberada ao conhecimento público, deixa passar em branco aqueles tristes acontecimentos de insurgência explícita, que originou a total quebra de comando, e que resultou no formidável fracasso no Pré, mas que para o espanhol de plantão nada que uma boa conversa não possa resolver. Somente temo ser ele o próximo a ser defenestrado pela liderança cardinalícia, que permanece intocada e imune a qualquer crítica e perda de mandato, donos que são de suas capitanias hereditárias, quando de a muito deveriam ter cedido seus espaços a jogadores mais novos e promissores, ou mesmo um pouco mais veteranos, porém disciplinados e respeitadores, como todo jogador de seleção deve ser.
Os 14 convocados deixam transparecer que somente casos de ordem física definirão a formação final, e dentro da posição de pivô, com seus sete candidatos. Pena que um outro armador de verdade não tenha sido convocado, mesmo veterano, numa posição onde a experiência conta tudo, como o Helio de Franca, apontado nos dois últimos anos o melhor jogador dos campeonatos acontecidos em São Paulo, e que conotaria junto aos outros dois armadores convocados, o Huertas e o Valter, a tão anunciada candenciação da equipe, e controle emocional nas horas em que a armação consciente e experiente pode ser a fronteira que separará derrota e vitória, num torneio decisivo para nós.
O outro furo imperdoável na convocação, fruto do total desconhecimento dos bons jogadores que atuam no país, foi a não convocação do melhor reboteador de todos os campeonatos e torneios realizados nos últimos anos, o Probst, dono de uma qualidade rara entre os pivôs, a de dominar com maestria a noção de tempo-espaço, arma decisiva para a obtenção dos rebotes defensivos e ofensivos, que foi a arma fundamental em todas as grandes conquistas do basquete brasileiro, em todas as nossas grandes equipes, masculinas e femininas, abrindo o leque de opções aos nossos arremessadores e finalizadores. E o mais estranho e comprometedor, é que nem na equipe B ele foi convocado, numa demonstração de ignorância sobre as reais qualidades que fazem parte da qualificação de um bom pegador de bolas. Rogério seria o outro convocado com justiça, numa posição carente entre nós, a de ala experiente, calejado e que, apesar de veterano passa por uma fase de grande competência e brilhantismo, superior a alguns pseudo donos do pedaço.
A convocação da equipe B, inteligentemente composta de 18 jogadores, na demonstração de isenção política, mas exercendo-a de forma a calar opositores desavisados, peca pela quantidade de jogadores escolhidos por sugestões de quem os viu atuar ou ouviu falar, sem a presença fundamental de quem os deveria convocar, o técnico. Por essa falha imperdoável, jogadores desconhecidos jogando em equipes universitárias americanas de segunda linha, assim como em clubes europeus inexpressivos , tomam lugar de jogadores que aqui atuam e lutam por uma oportunidade na seleção. No caso daqueles que jogam na Super Copa, será que seriam levados a serio e convocados se fossem somente 14 vagas, um número mais do que suficiente para a formação definitiva de uma seleção, onde as oportunidades seriam mais democráticas e justas? Acredito que serão diluídos nas seis dispensas, ante a “qualidade” daqueles que atuam no exterior. Mas algo ficou bem claro nessa fictícia convocação, o melhor armador, o melhor reboteiro e o melhor ala dos campeonatos paulistas, ao não pertencerem a clubes que atuam no Campeonato Nacional ficaram de fora, como prova inconteste de um poder central, profundamente político e completamente distante das necessidades reais de nossas seleções, sejam A, B ou Ç.
E nesse caudal de interesses, alguns inconfessáveis, flutua nosso Paulo Sampaio, o bom técnico do Flamengo, que ao mencionar candidamente que sempre trabalhou para atingir tal posto, sonho de todo técnico, esquece o mote popular “de que nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai.”
Torço para que não se deixe iludir pelas felpudas raposas que habitam o cenário basquetebolistico nacional , e continue a ser o bom profissional que sempre foi, não trocando o que já alcançou pela busca do velocíno banhado no ouro dos incautos.
Amém.