PROTEGIDA SUBSERVIÊNCIA…
Ginásio cheio numa manhã de sábado, final da liga feminina de voleibol, ambiente festivo e colorido, famílias inteiras presentes, 11 mil não pagantes, já que subvencionados por uma confederação rica, poderosa e determinante na política desportiva do país, fruto de seus resultados marcantes nas competições internacionais, Olimpíadas em particular, resultados merecidos, que fique bem claro.
No agora rebatizado templo do voleibol brasileiro, que desde a sua construção para sediar o Campeonato Mundial de Basquetebol de 1953, e onde dez anos depois nos sagramos bi-campeões mundiais, e que sempre foi a casa dos grandes espetáculos do nosso basquetebol, hoje impera absoluto o voleibol, destinando hipoteticamente a arena multiuso da Barra da Tijuca, construída para os Jogos Pan-Americanos, como a substituta do outrora templo do basquetebol brasileiro. Mas, o que vemos acontecer através a frieza empresarial dos mandantes esportivos do país, é a transformação da grande arena em palco de shows, igrejas e sabe lá mais o que, terceirizada a um grupo francês a preço de banana, e renegada em sua gestão pelo COB, que assumiu as duas outras grandes obras vizinhas, o parque aquático e o velódromo, que são atividades esportivas não competitivas com o grande voleibol, cujos dirigentes, muitos egressos de suas fileiras, comandam e influenciam politicamente o desporto nacional.
Houve uma época, não tão distante assim, onde o basquete, o vôlei e o futsal disputavam arduamente os espaços nas quadras brasileiras, não só nos clubes, nas escolas, nas faculdades, nos próprios municipais e estaduais, numa luta de disponibilidades e horários, que aos poucos se transformou em verdadeira luta pela sobrevivência, principalmente pelo crescimento desproporcional do futsal ávido pela posse do terreno, que até aquele momento era dividido pelo basquete e o vôlei, duas modalidades de ensino altamente complexo, ao contrário do futsal com seu apelo popular e de fácil aprendizado. As quadras tinham as mesmas medidas, e pisos, que se não de estrutura ideal, mas que atendiam as necessidades daquelas atividades. Pouco a pouco o futsal foi se impondo, levando ao declínio a pratica do basquete, que ao contrario do vôlei não tinha as praias e as ruas de recreio como alternativa de pratica. Incontáveis espaços foram se rendendo ao futsal, fossem públicos ou particulares, levando, principalmente o basquete à derrocada e a participação cada vez menor dos jovens. Se vigorassem naquela época as medidas hoje consideradas oficiais para uma quadra de futsal, parecidas com a do Handebol, muito dos prejuízos sofridos pelo basquete teriam sido evitados, já que atuariam em espaços diferenciados. Por outro lado, as medidas bem menores de uma quadra de vôlei, permitiu que colégios, clubes e pequenas associações de bairro mantivessem o interesse do mesmo junto aos jovens, inclusive pelo equipamento e o espaço accessíveis à sua pratica.
E o vôlei se estruturou, se aperfeiçoou e estabeleceu padrões de excelência através dirigentes e técnicos comprometidos com o sucesso e o denotado trabalho, construindo uma estrutura em tudo particular, com pisos específicos para as grandes competições, e um centro preparatório dos mais avançados do mundo, enquanto o basquete, patinando em sua estrutura desgastada ante a avalanche do futsal, não soube, e não teve a audácia do vôlei, no sentido de inovações e busca da qualidade. Ao contrário, centrou sua atividade política no paternalismo e no centrismo de um grupo voltado aos seus interesses particulares, através o continuísmo administrativo calcado na troca de favores e benesses.
Pobre basquete, destituído do seu templo ( só falta a troca do nome de Gilberto Cardoso …), despejado da grande arena da Barra, onde o grego melhor que um presente na final do basquete feminino do Pan sequer foi convidado para a entrega das medalhas pelo COB, comandado por voleibolistas, que em hipótese alguma desejam o soerguimento do basquete, antigo concorrente a segundo esporte no gosto do brasileiro. E como numa prova de supremacia, submete o helênico dirigente à entrega do troféu de terceiro lugar na liga de vôlei, no seu antigo terreiro, a uma equipe paulista que também participa dos campeonatos de basquete. Todo sorridente, faz a entrega protocolar, sem sequer aquilatar o desprestígio de que se faz vítima, para gáudio daqueles que o suplantaram na lábia e na certeza da inamovível posição conquistada, que se manterá incólume e livre de uma nada desejável concorrência, enquanto o mesmo se mantiver no comando da CBB.
Infelizmente, a realidade política tem um peso descomunal na promoção desportiva no país, e o voleibol a tem sob controle, a ponto de abrir mão de 11 mil ingressos em uma final de impacto nacional, televisionada em canais privados e abertos, numa prova inconteste de poder e absoluta certeza da inquebrantável posição conquistada. E na sombra rasteira de todo esse poder gravita uma administração subjugada e mantida a salvo de suas nem sempre saudáveis ações políticas e administrativas, pelo poder que não o deseja sequer próximo do nível alcançado a muito custo. Raposas felpudas se entendem, e sabem muito bem manter a hierarquia da matilha, principio básico na sobrevivência do grupo.
Amém.