O EMOTIVO RACHÃO…

Não foi propriamente um jogo, e sim um pungente rachão, onde sistemas de jogo inexistiram, defesas idem, e o pior, um número absurdo de erros (29) divididos irmãmente pelas duas equipes.

Foi duro de assistir, como está sendo duro de comentar, pois se de um lado vimos um Tijuca desconjuntado, com cada jogador querendo vencer o jogo sozinho, alguns declaradamente fora de forma física, outros superando limitações técnicas, e uns poucos assumindo suas qualificações de jogadores de uma liga superior, como o Casé, o André, o Bahia, o Colonese e o Diego, por outro, uma equipe declaradamente tensionada, física e emocionalmente, parecendo um elástico estendido ao seu máximo, bem próximo de sua total ruptura.

E em alguns essa ruptura está bem próxima, como no caso do Marcio, que após alguns minutos de atuação, desaba seu corpo totalmente crispado no solo, onde com a ajuda de um assistente tenta alongar músculos tensos e cansados, ou a pior das tensões, a mental, onde um Probst se descoordena tecnicamente, um Drudi se fixa teimosamente no seu delimitado espaço para os curtos arremessos, e dois americanos buscam um GPS para se colocarem taticamente numa quadra onde se joga um jogo incompreensível para eles, afinal, Franca tem 18 jogadas de ataque, que o diga o sérvio recém contratado, que ainda deve estar estudando as cinco primeiras…

Então, de um lado uma equipe jogando aleatoriamente, e cujo arremedo de uma jogada planejada tinha somente um ponto de partida, as penetrações de um habilidoso André (vide foto), para finalizações, ou assistências a um dos pivôs. No mais, briga intensa nos rebotes, onde foram muito bem, 11 lances livres perdidos, e mais nada.

Do outro lado, um Helio fulgurante, ajudando técnica e taticamente seu técnico pai, claramente cansado com a situação decadente de sua equipe, cujos motivos somente ele poderá contornar, não fosse o decano e mais experiente dos técnicos da liga.

Mas algo deve ser mencionado com muita atenção, a atuação de um dos mais subestimados jogadores que conheço, o Casé (foto), que foi o artífice da vitoria de sua equipe, com uma atuação irretocável na segunda prorrogação, quando defendeu, reboteou e pontuou de forma realmente magistral, tendo sido o  único que prestigiou publicamente o demissionário e competente técnico Miguel Palmier, que cometeu um único erro ao subir para a liga superior, o de  manter a grande maioria de uma equipe vencedora na Copa Brasil, mas insuficiente tecnicamente no patamar de cima, onde condicionamentos técnicos, táticos e físicos delineiam sua trajetória na mesma, e onde ter um plantel se torna mais importante do que uma equipe básica.  Uma liga superior não perdoa grupos fechados e capitanias hereditárias de jogadores, sendo simples e objetivamente o lugar para os melhores, ou no caso da LNB, deveria ser…

Enfim, foi um jogo para ser esquecido, e os dois técnicos, o contratado e laureado Miguel Ângelo da Luz, e o decano Helio Rubens, terão um imenso trabalho para reencaminhar suas fraturadas equipes de encontro a um destino vencedor. Torço para que sim, a ambos.

Amém.

Fotos – Divulgação LNB. Clique nas mesmas para ampliá-las.

ARTIGO 900 – O RETRATO DE UMA TRISTE REALIDADE…

Quero dedicar esse artigo, o de número 900, a todos aqueles que trabalham pelo grande jogo neste imenso e injusto país, mas que apesar de toda sorte de obstáculos e incompreensões, continuam a lutar e perseverar dentro, e muitas vezes além de suas possibilidades profissionais e econômicas, pelo soerguimento da grande paixão de suas vidas, o basquetebol.

O email que recebi do Prof. Jalber Rodrigues da cidade de Cataguases em Minas Gerais, ilustra com propriedade a verdadeira situação do basquete feminino no país, servindo de parâmetro a uma profunda reflexão sobre o esporte de base no limiar de uma Olimpíada que será aqui realizada em 2016.

 

Jalber Rodrigues
basquetebol-kta.blogspot.com/
jalber.rodrigues@gmail.com
189.83.17.232

Enviado em 06/01/2012 (2 days ago) as 10:51 pm (2 days ago)

Professor,estou um pouco afastado dos comentários, mas não da leitura. Por anos acompanho a luta incansável pelo soerguimento do basquete no Brasil através de excelentes artigos publicados aqui no blog. No masculino as coisas são difíceis… imagine como é no feminino…fazer base no feminino ainda nem se fale… trabalhamos muito duro, muito mesmo para fazer o mínimo… as meninas não tem expectativa nenhuma… porque e para que se dedicar ao basquete? como fazer com que as meninas trabalhem forte? Como competir com as baladas, com a internet e com a desconfiança dos pais de que “jogar bola não leva a nada”? Não conseguimos nem vincular a educação ao esporte? As críticas são sempre duras e mais pesadas… mas corretas… porém ferem a quem se doa ao máximo e não consegue respaldo, apoio, credibilidade… se o basquete feminino de São Paulo está nessas condições imagine o resto do Brasil? imagine no interior de Minas? Precisamos de ajuda professor!! Precisamos de ajuda! Queremos ter excelentes meninas praticando o fino do basquete… mas precisamos de ajuda professor! Sugestões?!
Desculpe o desabafo e abraço professor!

O que mais podemos acrescentar, meus deuses. Como e de que forma poderemos ajudar perante um quadro tão cruel como esse? Como?

Amém.

OBS-Clique na foto para ampliá-la.

A DUPLA (E EFICIENTE) ARMACÃO DO UBERLÂNDIA…

Dificuldades no trânsito, mesmo num sábado, mais dificuldades ainda para estacionar o carro próximo ao Tijuca, e pronto, chego ao ginásio no início do quarto final do jogo entre Flamengo e Uberlândia. No placar, 59×59, antevendo um final duro e emocionante.

Encontro meu filho, preocupado com minha demora, e pergunto como estava vendo o jogo, basqueteiro que é. “Pai, que baita time esse do Uberlândia, jogando em dupla armação, com um Valtinho cadenciando o jogo, dois pivôs leves e muito rápidos em constante movimento, e um Robert Day preciso, constante, e anulando o Marcelo de forma contundente.”

Com esse relatório, se inicia o quarto decisivo, mas não antes de cumprimentar o Paulo Sampaio, técnico campeão da LDO, o José Geraldo, com quem trabalhei no Barra da Tijuca por muito tempo, tendo sido o primeiro técnico do meu filho André, ali presente, um surpreendente Meneses, grande diretor de basquete do Botafogo nos anos sessenta, a quem não via de longa data, o Cicero Tortelli, campeão mundial em 63 e presidente da AVBRJ, e o Marcio Andrade, técnico dos bons, todos presentes na famosa “curva do pipoqueiro” daquele mítico ginásio ( pareço até os comentaristas da ESPN e Band).

Foi um quarto perfeito do Uberlândia, marcando com precisão e força, principalmente na contestação dos arremessos de três rubro-negros, e cadenciando o jogo com um perfeito trabalho de dupla armação com o Collum e o Valter, acionando os pivôs Cipolini e Gruber, e um instigante Day se deslocando aleatoriamente pelos perímetros, pontuando com presteza e defendendo com maestria.

A equipe mineira se impôs jogando muito rápido quando precisou, e cadenciada por principio, arremessando 8/16 nos três pontos, 25/40 nos dois, errando somente dois lances livres (15/17), além de conseguir oito rebotes a mais que seu adversário, que para um jogo desse nível é muita coisa.

No intervalo entre os jogos, no bar do TTC, escuto do Marcio Andrade o comentário de que o sistema de dupla armação e pivôs móveis tinha sido a constante do jogo mineiro, e que cada vez mais esse sistema estava se revelando surpreendente e altamente eficiente, e que minha persistente insistência sobre o mesmo estava se tornando numa oportuna realidade. Fiquei feliz com o comentário, pois representa uma diferente opção de jogo, frente ao sistema único presente de forma absoluta entre nós nos últimos vinte anos. Um outro senhor vem me parabenizar pelo artigo Os Americanos que publiquei aqui no blog, pois levantou uma vasta discussão sobre a massiva presença desses jogadores, ocupando vagas que poderiam ser preenchidas com jovens promissores nacionais, tão pouco considerados pela maioria das equipes da LNB. Mais ainda feliz fiquei por constatar a forma espontânea das manifestações sobre os artigos aqui publicados, demonstrando que pouco a pouco idéias, discussões e sugestões vão alcançando significativa penetração no mundo do basquete brasileiro, abrindo oportunidades de evolução e busca de um efetivo soerguimento do grande jogo entre nós, torcedores incondicionais que somos desde sempre.

Ao voltar para à quadra, para o segundo jogo, me encontro com o velho amigo Ary Vidal, lembrando a ele o nosso Seminário em Abril (que vai ser amplamente divulgado, tendo como título – 50 anos de Educação Física e Desportos) comemorativo ao cinqüentenário de nossa formatura na ENEFD/UB (atual EEFD/UFRJ), sendo sua presença “tão importante, como obrigatória”. Sorrindo responde – “Estaremos todos lá”.

Mais tarde um pouco, comento o jogo entre Tijuca e Franca, um assunto que merece reflexão e paciente análise, depois de duas prorrogações. Estou cansado.

Amém.

Foto- Fernando Azevedo

LARRY, O TRANSGRESSOR…

-“Noite de gala do Larry, o mito. Fantástica exibição para deixar o Magnano ligado para Londres. A CBB deveria estar mexendo os páusinhos no Ministério da Justiça para naturalizá-lo…”

A mídia se assanha ante a divina performance do americano “mais brasileiro do pedaço”, mesmo já tendo conhecimento da negativa do MJ sobre o assunto, e não se conforma, ainda mais quando sutil e politicamente o presidente da CBB “deposita” nas mágicas e isentas mãos do argentino (afinal ele é…argentino) a suprema decisão sobre as convocações dos magos da NBA que se negaram ir ao Pré Olímpico de Mar Del Plata. Caramba, já imaginaram os quatro da grande liga, mais o Huertas e a turma européia?  Medalha na certa!!

Como desprezos antigos não cunham medalhas, que se danem princípios, ética, superados nacionalismos, decrépitos patriotismos, pois o que conta (inclusive nos bolsos…) é medalha, e estamos conversados.

Mas, voltemos a Bauru na noite de ontem, quando vimos duas equipes trocarem figurinhas por três longos quartos (inclusive o Larry), com uma hemorragia de arremessos de três, 20 erros de fundamentos (o paraguaio “anda” demais e adora chutar para além do perímetro, onde é encontrado para bloqueios o jogo inteiro…), inexistência defensiva externa, e consentida internamente, como num jogo de compadres, até que, no quarto final o Larry resolveu jogar “à vera”como deveriam ambas as equipes o fazer desde o começo, principalmente no cumprimento do ritual defensivo, quando, ai sim, pudemos constatar qual equipe pode ser considerada superior a outra, pois, como num passe de mágica, com a subida da defesa para fora do perímetro externo, contestando os arremessos de três, e dobrando por cima do fraco armador, Bauru impôs uma diferença de 20 pontos (32×12), dando números finais ao jogo, evidenciando sua supremacia.

Então, o Larry não foi tão mítico assim, pois se poupou para um quarto final, o que duvido aconteceria em sua equipe universitária americana, onde defender é caso de honra, e quase sempre por 35seg de posse de bola dos adversários, provando mais do que nunca que está perfeitamente sintonizado com o basquete tupiniquim no que ele tem de mais simplório, sua pungente limitação técnico tática, onde pivôs são esquecidos, provocando nos mesmos reivindicações aos longos arremessos (se todos chutam, por que eu não?…), armadores focam mais a pontuação do que a assistência, e alas, indefinidos tática e estrategicamente desde a formação, centram seu poder de fogo nos arremessos de três e não na capacitação às fintas e ao drible incisivo ao perímetro interno, como os bons alas devem atuar.

Sem dúvida o Larry é um bom jogador para a realidade do sistema único com sua mesmice endêmica, mas, um excelente artista quando emerge do usual rame-rame que vivencia, ao saltar por cima das amarras, deixando fluir sua criatividade , poderosa presença ofensiva, e defensiva também, para num único quarto definir e decidir um jogo previsível e caduco.

Mas daí colocarmos em sua improvável convocação o nosso destino olímpico, vai uma enorme diferença, pois nos situa no perigoso bordo de sermos incapazes de formar bons armadores, no que até pode parecer real, se teimarmos nesse limitadíssimo sistema único, monitorado, formatado e padronizado, em vez de algo inusitado, flexível, criativo, corajoso e acima de tudo responsável, para que nossos jovens se vejam perante o novo, o absolutamente novo, como na explosão criativa do Larry no quarto final do jogo de ontem, quando ao romper com a mediocridade fez luzir algo que nos é permanentemente negado, a arte de jogar e amar o grande jogo.

Foi uma grande demonstração de fundamentos do jogo, simples assim, fundamentos.

Amém.

Foto-O pivô Agba do Baurú. Sergio Domingues DHP Foto

FIM DE UM ATO…

Fim de um primeiro ato, fim de uma etapa que tem de ser continuada, começo de um longo caminho, espinhoso, escarpado e acima de tudo, sonhado.

A LDO tem de dar seguimento a um trabalho longamente acalentado, e profundamente necessário ao soerguimento do grande jogo desde sempre. Continuidade e muito planejamento se tornam prioritários a um projeto dessa magnitude, pois dele depende diretamente o sucesso da fundamental renovação das equipes do NBB.

Mas ao apagar das luzes desse primeiro campeonato, algumas considerações se fazem necessárias, a começar sobre o jogo final.

Numa partida que sacramentou a tendência do jogo em alta velocidade, comum a todas as equipes participantes do quadrangular final, tanto o Flamengo, como Bauru não aliviaram o acelerador em nenhum momento, fator que prejudicou a equipe paulista de maneira decisiva, quando ao colocar 12 pontos de vantagem no terceiro quarto, optou em se manter rápida na quadra, aspecto este que só beneficiou os cariocas na busca de pontos no menor tempo possível, que foi o que aconteceu no quarto final. Abrandasse o ritmo de jogo naquela altura em que liderava o placar com razoável diferença, Bauru venceria pela quebra da intensidade ofensiva do Flamengo, para o qual a manutenção da alta velocidade o mantinha no foco do jogo. E foi o momento em que as equipes mais correram, e por isso mais erraram, nos dribles, nas fintas, nos passes, nos longos e desnecessários arremessos, e acima de tudo nas defesas, desgastadas fisicamente pela desenfreada correria. Faltou alguém que colocasse “a bola debaixo do braço” no Baurú, assim como a armação do Flamengo manteve e acelerou mais ainda o ritmo, incluindo uma pressão quadra inteira, responsável pelo desmantelamento ofensivo paulista, culminando com algo absolutamente inusitado, quando um pivô reserva, o Ricardo Bampa, arremessou com sucesso duas bolas de três pontos, sem ser minimamente contestado, e concluiu um passe interior do armador Gegê com uma bandeja simples (terceira foto) e eficiente, ganhando o jogo com justiça, muita luta e enorme dedicação, mesmo jogando de forma atabalhoada e descoordenada.

Mas, o preocupante foram os altos índices de erros nos fundamentos por todas as equipes intervenientes, numa clara e indiscutível evidência da falha formação de base neste básico ponto, comprovando a preferência dos técnicos pela imposição técnico tática por sobre os fundamentos do jogo, desde muito cedo, desde o inicio da formação, seguindo a diretriz da formatação e padronização imposta ao grande jogo no país.

Entretanto, algo constrangedor ocorreu no ginásio do Tijuca, quando todo um lance de arquibancada e cadeiras foi vetado ao público, sendo liberado o lance enfrente às câmeras de televisão, para transmitir a impressão de ginásio lotado para uma decisão veiculada nacionalmente pela mesma, tirando o conforto de muitas crianças e mulheres presentes, num claro desrespeito aos mesmos, e indesculpável numa praça de esportes com o ingresso liberado, num estratagema condenável e perigoso ( duas primeiras fotos).

Finalmente, me vi convidado pela direção da LNB, para ao final da competição fazer entrega de um dos prêmios concedidos aos mais eficientes, aquiescendo com satisfação ao mesmo. E qual foi minha surpresa quando entreguei o troféu de técnico mais eficiente ao Paulo Sampaio do Flamengo, conhecido por mim desde sua época de jogador, com o qual sempre mantive um salutar relacionamento, mesmo quando exerci algumas criticas sobre opções técnicas do mesmo, mas sempre pautadas pela isenção e pela ética profissional. Sei do respeito que ambos mantemos, e o parabenizo, assim como toda a sua jovem equipe pela conquista, importante para o basquete do Rio de Janeiro, tão abandonado desde a fusão da Guanabara com o Estado do Rio, quando deixamos de ser o segundo estado mais rico da federação, para nos tornarmos num município à beira da miserabilidade econômica e moral em que nos encontramos.

Mas acredito, como bom carioca, que dias melhores virão.

Desejo a todos um 2012 pleno de saúde, esperanças e muita paz.

Amém.

 

Fotos- Reprodução da TV, divulgação LNB e produção própria,

Clique nas mesmas para ampliá-las.

VÍCIOS ADQUIRIDOS…

Sem dúvida alguma a LDO é um campeonato que vem preencher um enorme vácuo na trajetória da maioria dos jovens que saem das divisões de base em direção a elite do basquetebol nacional.

No entanto, não basta participar do mesmo sem que possuam o preparo básico adquirido nas divisões de formação, principalmente quanto aos fundamentos individuais e coletivos do grande jogo. E sob esse aspecto eclode uma questão – estarão esses jovens realmente preparados para a divisão principal?

Analisemos dois dos melhores armadores dessa competição, o Gegê da equipe do Flamengo, e o Raphael de Brasília, ambos com alguma experiência em equipes do NBB, ambos considerados reais promessas para 2016, mas que, no entanto, a exemplo de grande parte dos armadores das demais equipes participantes da LDO, em absoluto estão preparados tecnicamente para exercer um papel de líderes de equipes dentro do atual estágio em que se encontram no domínio da ferramenta básica para tão importante papel, os fundamentos do jogo.

Vejamos o jogo de ontem, quando ambos se enfrentaram ofensiva e defensivamente, arbitrados por um trio de juízes, sendo um deles arbitro internacional, mas que, omitindo a aplicação das regras, permitiram que ambos as violassem sucessiva e permanentemente durante toda a partida, ao driblarem incorretamente nas mudanças de direção e nos cortes laterais e em reversões, paralisando momentaneamente a bola em suas mãos (e por isso mesmo interrompendo sua trajetória livre de encontro ao solo), caracterizando a infração de condução, se estivessem em parada momentânea, ou andar com a bola, se em deslocamento. Por se tratar de um movimento muito rápido, a captação fotográfica do mesmo é bastante difícil, mas o exemplo acima (segunda foto) demonstra com clareza a violação, pois a bola se encontra espalmada por baixo, caracterizando a interrupção da sua trajetória descendente de encontro ao solo. A visão acurada do vídeo do jogo demonstra inequivocamente, que tal ação foi desenvolvida em todo seu transcorrer, por ambos os jogadores, em grande velocidade, “facilitando”, pela imobilidade transitória da bola, transposições defensivas e penetrações improváveis se executadas dentro do espírito das leis do jogo, e tudo sob o beneplácito da arbitragem. Essa violação, que é reprimida na Europa, bastante tolerada na NBA (afinal o espetáculo deve priorizar a estética…) e eventualmente punida por alguns de nossos juízes, que erroneamente a classificam como condução, quando o jogador está em movimento, no que seria andar com a bola, pois o binômio ritmo-passada é descontinuado, gerando a violação.

Outra falha lamentável nos fundamentos é a da imprecisão e aplicação dos passes, onde um dos preceitos mais dogmáticos existentes no grande jogo é o de hipótese alguma ser permitido que os mesmos sejam realizados paralelamente à linha final, pois se interceptados tornam impossível sua defesa, principalmente se originados pelo (s) armador (es) da equipe. A primeira foto demonstra com clareza uma das muitas tentativas executadas desse tipo de passe nos jogos da LDO.

Muitas outras falhas nos fundamentos poderiam ser apontadas, para serem discutidas à luz da grande carência formativa de nossas gerações de jovens, muito mais treinados e orientados às táticas e sistemas de jogo, do que ao efetivo domínio dos fundamentos, sem os quais aquelas se tornam inócuas e falimentares.

No entanto, aquelas duas apontadas acima, que são características dos armadores em suas funções de levadores de bola, fintadores estratégicos e alimentadores de seus companheiros, fora e dentro dos perímetros de jogo, são por demais importantes e decisivas para serem minimizadas em sua execução e finalidade, quando está em jogo o futuro do nosso basquetebol, que ainda padece da ignorância de alguns segmentos que o compõe, sobre o verdadeiro conhecimento exigido no preparo de nossos jovens, em direção à plenitude dos fundamentos do grande jogo.

Vícios adquiridos na formação são de difícil, (sem ser impossível) correção, exigindo de todos, professores, técnicos, e por que não, juízes, atenção e cuidados constantes para que não se fixem e se perpetuem para muito além da prática deste grande, grandíssimo jogo.

Amém.

Fotos-Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

A 120 KM/H…

“Quero ver o time a 120 km/h”- Foi essa a instrução do técnico do Flamengo ao início do jogo, e que justiça seja feita, foi obedecida integralmente, pois daí para diante pudemos testemunhar uma das maiores correrias vistas em uma quadra de jogo, e o mais emblemático, seguida pela equipe do Paulistano, como se tivessem combinado a ação previamente. E mais emblemático ainda foi a constatação de que o jogo preliminar, entre Bauru e Brasília tenha se pautado da mesma forma. Em síntese, as quatro finalistas da LDO propuseram na prática mais uma competição de corrida em velocidade, do que um jogo pensado e desenvolvido com técnica apurada nos fundamentos, e na qualidade dos sistemas propostos. Aliás, o sistema proposto, o único que conhecem e praticam, onde pivôs continuam jogando no perímetro externo, bloqueando, armando (foto) ou arremessando à cesta, de três pontos; armadores se situando fora do foco das ações em sua corridas por trás das defesas; uma infinidade de passes contornando as defesas, originando penetrações forçadas pelo esgotamento dos 24seg , com arremessos desequilibrados, e muitas vezes fora do aro da cesta.

Ao lembrar o grande Wlamir Marques, que sempre afirma ser a extrema velocidade inibidora do raciocínio, do pensar o jogo, e que os jovens deveriam correr menos e pensar mais, podemos aquilatar o quanto de desperdício de talentos está ocorrendo com essa frenética forma de jogar.

Perdas e perdas de bola acarretadas por dribles desconexos, fintas equivocadas, passes fora do tempo, arremessos despropositados, posicionamentos defensivos errados dentro do perímetro e inexistentes fora dele, num incentivo explícito aos arremessos de três; movimentação nula sem a bola é agravada pelo desenfreado ritmo imposto por um modelo anacrônico, formatado e padronizado do sistema único de jogo.

Equipes com dois, e até três jogadores com mais de 2,05m não sabendo jogar com os mesmos, mantendo-os, a exemplo da divisão adulta, como buscadores das bolas perdidas dos longos arremessos de seus companheiros, desconhecendo os giros de 180 graus ao conquistarem os rebotes, forçados e orientados a bloqueios muito distantes do perímetro interno, sua destinação de direito, enfim, atuando como coadjuvantes eternos em suas equipes. Mas quando recebem um passe ao lado do garrafão, e iniciam os dribles de costas para a cesta, todo o restante da equipe, como que paralisada pela tentativa de seu pivô, não se move da inércia catatônica  de que fica possuída, caracterizando seu desconhecimento do que venha a ser jogar sem a bola, principalmente quando a mesma se situa bem dentro da zona restritiva.

No entanto, bons valores justificam a regra geral com suas habilidades de exceção, principalmente aqueles que já atuam na categoria adulta, como o Gui, o Gegê, o Fred, o André, o Ronald, e outros com poucas oportunidades na mesma, mas que pouco se desenvolverão se não forem profundamente exigidos no preparo e pratica constante dos fundamentos, e que tenham a oportunidade de se situarem técnica e taticamente em sistemas outros de jogo, além do coercitivo e inibidor sistema único, onde os grandes beneficiários desde sempre, os técnicos, hesitarão muito em abandonar suas privilegiadas posições de estrategistas, que os situam pratica e pretensamente, como os donos do jogo, como bem comprovam suas pranchetas, pródigas e prolixas na elaboração de jogadas infalíveis, mas sempre e completamente omissas quanto ao posicionamento defensivo, mesmo primário, de seus oponentes face ao que projetam e planejam.

Nosso basquete de base se encontra absolutamente órfão de criatividade, de espontaneidade, de domínio dos fundamentos, de conhecimentos técnico táticos outros que não o onipresente sistema único, e que agora, como grande conquista, se encontra sob o jugo da velocidade inconseqüente, impensada e estéril, aquela situada a 120 km/h.

Frear para pensar com mais lógica e raciocínio, seria uma boa solução, um bom começo para acelerar o processo de amadurecimento técnico e tático desses jovens. Eles já fazem por merecer um melhor preparo, visando um futuro mais promissor.

Amém.

Fotos- Reprodução da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

O ALICERCE DO GRANDE JOGO…

FUNDAMENTALISTA

 

Por Hermínio Barreto

 

 

O que será isso de treinador fundamentalista?

Será um treinador que sabe de fundamentos; um treinador que sabe ensinar fundamentos; ou um treinador que consegue que os seus jogadores aprendam e apliquem os fundamentos?

Estou mesmo a ver. Não direi espanto, mas pelo menos alguma estranheza, isso sim. Perguntarão?

 

– Será que se vai descobrir agora que o basquetebol não anda para a frente porque já não temos treinadores fundamentalistas?

 

Mas isso já todos fomos, julgamos. Hoje outras preocupações nos acompanham. Estamos noutro nível.

Esta é boa! Então agora que a literatura de ponta nos alerta para o equilíbrio a perseguir entre a preparação física e a mental (até já sei umas coisas de cibernética); agora que tenho gravações em vídeo para preparar (e falta-me tempo) a estratégia para o próximo jogo; agora que tenho de treinar as saídas de pressão e as combinações ofensivas para as “boxes” que tenho de enfrentar; agora que tudo tenho para andar para a frente!…

É verdade, caro “Coach”. É duro, mas é verdade.

Interrompa por breves instantes o fluxo das idéias que neste momento percorrem e preenchem o seu pensamento (vem aí mais uma época e imagino quanta coisa bonita vai nessa cabecinha), e medite um pouco.

Desde já as minhas desculpas por ir interromper a leitura da sua última Scholastic Coach (Triangle & Two “Hearth Defense”), mas prometo não roubar-lhe muito tempo.

Pois foi também numa Scholastic Coach (viajávamos para os Açores para mais um curso), que o “Velhão” (1) me passou, e daí retirei o motivo para este meu comentário.

Não é nenhum trabalho de fundo. É apenas uma entrevista. A personalidade entrevistada, quem não a conhece no mundo do basquetebol? Trata-se de John Wooden.

Como jogador foi considerado o melhor Base dos primeiros cinqüenta anos do basquetebol. Como treinador, da UCLA, ganhou dez títulos (NCAA) em doze épocas. Dois antes de Lew Alcindor; três com Alcindor; dois depois de Alcindor; dois com Bill Walton; e dois depois de Walton.

JOHN WOODEN, o único homem que entrou para o “HALL OF FAME” na dupla qualidade de jogador e de treinador.

Quando joguei, diz Wooden, não havia postes. Mas como treinador já foi diferente. E hoje, pese embora uma significativa melhoria na qualidade técnica e física dos jogadores, o jogo não evoluiu. O talento dos jogadores e o seu estilo de actuação não estão ao serviço da equipa.

Tive dois excelentes treinadores. Glen Curtis no Liceu e Piggy Lambert na Universidade. Curtis era um extraordinário FUNDAMENTALISTA. Piggy era um “expert” na preparação física e no relacionamento com os jogadores. Direi mesmo, que para a época (1920), era um fora de série.

Porque a essência das coisas que asseguram o sucesso no jogo não mudou, e isso tem a ver primeiro com os fundamentos, e depois com a aplicação dos fundamentos ao serviço do jogo (pormenor que não preocupa os treinadores de hoje, como preocupou os de ontem). Se Piggy Lambert voltasse a treinar, voltaria a ser, hoje, um treinador com sucesso.

Resta acrescentar que Wooden disse isto em Novembro de 1985. Mais: disse nos Estados Unidos e para o basquetebol americano.

Se o essencial se mantem;

Se a essência desse essencial são os fundamentos;

Se uma equipa se faz aplicando os fundamentos;

E se um treinador dos anos 20, porque não desprezava o essencial, se voltasse a treinar hoje teria sucesso;

O que deveremos ser nós para o nosso basquetebol?

Só mais um segundo. Estou a terminar. Tem já a seguir uma linha, que deixo em branco para si.

 

……………………………………………………………………………………………………

 

Escreva a sua resposta. Conserve-a. No final da época, releia. O seu ano de trabalho ajudará a corrigir ou a melhorar a resposta.

 

Uma achega mais. Recolhi da cronista Hélia Correia, a propósito de “queremos saber agora o que é ser europeu sem estarmos bem seguros do que é ser português”, em crônica intitulada “Colagens”: “Despojados que estamos da tragédia e da glória, tentamos copiar, sem grande convicção, os sinais de progresso e da modernidade sem que antes saibamos produzir-lhe a essência”.

 

(1)   “Velhão”, com respeito e consideração.

PS- O “velhão” mencionado no texto se refere ao Prof. Teotônio Lima, decano dos treinadores de basquetebol de Portugal.

 

Veiculo esse texto do grande professor Hermínio Barreto de Portugal, publicado na Revista “O TREINADOR”, número 16, em junho de 1986, órgão divulgador da  Associação Nacional de Treinadores de Basquetebol, e que se notabilizou como grande jogador, treinador e comentarista da RTP, além de professor do ISEF (hoje FMH/UTL), grande amigo e autor prestigiado por toda a comunidade européia de basquetebol, com quem tive a honra de trabalhar no Gabinete de Basquetebol do ISEF, quando do meu doutoramento no país irmão.

PRESENTE DE NATAL…

 

PRA QUEM?

 

Rodapé – Espaço que o mesmo  jornal

reserva para as noticias do

basquete nacional, quando

o faz…

 

OBS- Clique na imagem duas vezes

para ampliá-la (O Globo, 25/12/2011).


UM EMAIL ESCLARECEDOR…

Assunto Professor Paulo
Remetente Henrique Lima
Para Paulo Murilo
Data Ter 09:09

 

 

Professor Paulo Murilo, como está?

 

Primeiramente, um feliz natal e feliz 2012, de muita paz, saúde, basquetebol e textos. E da minha parte, obrigado por tantos ensinamentos, ainda que à distância,

mas com a proximidade que a internet pode nos proporcionar. Embora alguns reclamem da modernidade, acredito que é melhor poder ler seus textos pela internet,

essa ferramenta excepcional, do que nunca ter tido a oportunidade de lê-los, caso isso não existisse !

 

 

Agora, o senhor viu Chris Paul e Chauncey Billups juntos na armação do Los Angeles Clippers? Dois armadores fantásticos, da melhor qualidade, jogando juntos.

No garrafão, dois laterais, o fabuloso Blake Griffin e o excelente Caron Butler, apenas um pivô, embora cru nos fundamentos (o que é uma pena), mas com

muita velocidade, agilidade e qualidade no saltos e tempo de bola para tocos, além de pegar alguns rebotes, De Andre Jordan. Mo Williams, outro veterano armador, é o

sexto homem. O Clippers montou um belo e organizado time. Caso o senhor não tenha visto, lhe recomendo.

 

O Dallas jogando com Kidd e Barea, parece que não passou despercebido por aquelas bandas, já por aqui, poucos esforços, talvez por isso eu tenha gostado de Minas

e Limeira, é algo fora do nosso padrão e que o senhor batalha tanto para ser pensando, refletido e praticado.

 

Um forte abraço,

 

Henrique Lima

 

Ao receber esse email de um leitor de longa data, com o qual travei (e ainda travo) excelentes debates, me vi perante um impasse do tipo – “Que bom que ele existe”- pois nos obriga a optar por um de dois caminhos, ou se desiste de batalhar por um ideal, ou segue-se na luta, mesmo que dificilmente (não impossível…) o alcancemos. E que ideal é esse, caro Paulo? O de ver, testemunhar uma efetiva e séria mudança no nosso modo de jogar, sentir, ver e ler o jogo de outra forma, que não a mesmice endêmica a que nos atrelamos subservilmente  nas últimas duas décadas. E esse email nos obriga a lembrar que a luta mal começou, e que muito ainda há por vir, principalmente quanto à dupla armação (dupla mesmo, e não um reparo substituindo um dos alas por um armador dentro do sistema único…), e um jogo mais dinâmico e veloz dentro do perímetro, com dois e até três pivôs móveis (ou alas-pivôs se preferirem), modificando a essência do jogo, numa guinada radical e ousada no mundo formatado e padronizado do basquetebol.

Essa guinada se torna necessária, na medida em que celeremente o sistema único se aproxima da exaustão, pelo quase absoluto controle do jogo por parte dos técnicos, com suas coreografias repetitivas, e suas pranchetas absurdamente impostas como um dogma sagrado. A criatividade, o livre pensar e ler o jogo por parte dos jogadores tem de ser resgatado dessas coercitivas amarras, a fim de que seja recriado o maior dos tesouros deste grande jogo, o amor incondicional em jogá-lo, desde a formação até as divisões adultas.

Mas como fazê-lo Paulo, pois simplesmente copiar o que vai dando certo não garante o sucesso de uma equipe, já que determinantes e decisivas transformações exigem toda uma didática de ensino, profundamente alicerçada em estudo, pesquisa e trabalho árduo, ações essas que não encontram muitos adeptos entre os estrategistas de plantão.

Isso me recorda o testemunho de um veterano técnico que  disse  algo referente a minha obsessão de estudar sistemas de jogo – “Por que vou quebrar minha cabeça com isso se você já o faz? Basta ver o que dá certo e copiar…”.

Essa é uma realidade que se repete ad perpetuam em nosso basquete, e não só o nosso, como no de muitos países, até mesmo aqueles considerados de ponta, aonde a concentração de talentos de 1 a 5, contratados a peso de ouro, vem garantindo a perpetuação dos tais estrategistas, para os quais ensinar algo a um deles, mesmo um  movimento fundamental, sequer é cogitado, e por um único aspecto, não sabem como fazê-lo, ficando a espera de quem o faça, para oportuna e simplesmente…copiar.

Por tudo isso, nunca a necessidade de evoluir tenha alcançado o patamar da sobrevivência a que chegamos, onde o investimento transcendental tem de ser concentrado na formação de base, através a somatória de esforços daqueles que realmente concentram o conhecimento do grande jogo, na contramão dos simplificadores estratégicos que teimam em formatá-lo e padronizá-lo à mesmice endêmica em que o aprisionaram. Trata-se, repito, de sobrevivência do grande jogo entre nós.

No próximo dia 27 poderemos ver ao vivo o quadrangular final do torneio da LDB para a divisão sub 21, até agora acompanhado por estatísticas, nas quais o índice de erros de fundamentos chegam a assustar pelos seus elevados e injustificáveis números, assim como também poderemos testemunhar a existência, ou não, de algo técnico tático inovador, ofensiva e defensivamente falando, já que se trata da geração sucessora da que ai está competindo no NBB.

Lá estarei torcendo contritamente para que algo de novo e de bom esteja nascendo no âmago do grande jogo.

Desejo a todos os professores, técnicos, jogadores, diretores, jornalistas, ou simples e apaixonados torcedores que lêem e prestigiam esse humilde blog, um Feliz Natal, e um Ano Novo de conquistas e pródigo em saúde e muita paz.

Amém.