Recebi ontem (17/9/10) este email enviado pelo Felipe Modesto, sugerindo um debate sobre alguns aspectos dos fundamentos postos em pratica pelas jogadoras brasileiras, confrontado-os com os praticados por jogadoras de outros países, analisando diferenças e técnicas consoantes aos mesmos. Aí está uma excelente oportunidade de discutirmos um dos fatores mais negligenciados em nosso basquete, o ensino, pratica e aplicação dos fundamentos básicos do jogo. Ao final teço algumas opiniões à respeito do tema, e abro o espaço para o discutirmos.
Professor.
Por favor, perdoe uma eventual presunção de minha parte em tentar entrar em
um debate que possa estar ligado ao meio academico, mas penso que o assunto
pode ser aberto em blogs e sites especializados
Estou enviando a mesma analise que foi enviada ao Balassiano para que possa
ser iniciado esse debate.
Estamos às vésperas do Mundial Feminino. EUA e Austrália dominam a
modalidade.Além de diferenças técnicas entre australianas e americanas em
relação ao resto do mundo, tenho notado uma diferença na mecânica dessas
jogadoras.
Penso em abordar especificamente os casos das jogadoras brasileiras e seus
déficits mecânicos.São peculiaridades em movimentos de execução de
fundamentos do jogo que começam na formação das atletas e culminam em certos
"vícios de movimento" nas atletas brasileiras.
A análise é rererente a três fundamentos do jogo.
*1 - Arremesso*
Exclua Hortencia, Janeth, Iziane e talvez Micaela.Repare como as jogadoras
arremessam.O movimento de arremesso começa como uma espécie de passe de
peito.As meninas seguram com as duas mão na "orelha" da bola que está
próxima ao tórax.Aí sim começam os movimentos de pernas bem sutil que termina
com a extensão dos braços e um chute que sai no máximo na altura dos olhos,
sem jump.
Conclusão: arremesso lento, baixo e fácil de marcar.A jogadora só arremessa
de estiver livre, bem livre.
Ex:Bethania, Fernanda Beiling, Helen, Adrianinha, Chuca, Taiara e uma
infinidade de jogadoras.
Aí é só notar o arremesso das "gringas". Taurasi, Catchings, Penny Taylor
e
TODAS as outras "gringas" arremessam como "homens".Jump alto,
acima da
cabeça e muito rápido.Difícil de ser marcado.
*2 - Drible*
Aqui só dá para excluir a Paula.A meninas batem bola de um jeito muito
lento.Quando a bola toca no chão e volta para a mão delas repare no tempo
que ela fica suspensa no ar, apoiada na palma da mão virada pra cima,
naquela "quase condução".Se alguém contar quantas batidas de bola a Helen
dá
para atravessar a quadra e comparar com a Sue Bird, arrisco que a Bird bateu
umas 10 a 15 vezes mais.
Bater mais vezes a bola possibilita uma maior velocidade com o controle dela
e mais facilidade na hora de executar dribles rápidos.Você já viu uma
brasileira dando um crossover?
Todas as brasileiras dão essa cadencia no movimento e isso torna o 1 contra
1 muito falho.Até Iziane e Janeth batiam bola assim.Aí você olha para a
Taurasi e vê porque mesmo com uma mão esquerda não muito boa ela tem
facilidade em fazer bandeja.A condução de bola e o drible são rápidos graças
a essa mecânica.
*3 - Parada Brusca*
Só me lembro da Lígia (ex-Ourinhos) fazendo esse tipo de jogada no
Brasil.Sabe aquela batida forte com uma espécie de salto e a parada para
subir para a cesta, típica de pivô?Todas as norte americansa fazem
isso.Todas as universitárias americanas fazem.
Se uma pivô brasileira for fazer dá impressão que elas vão tropeçar.
Ninguém pegava essa jogada da Lígia e é uma outra baita diferença mecânica
entre as nossas e as "gringas" australianas e americanas.
Podem argumentar que o potencial de força e torque de algumas jogadoras é
maior, mas a Hortencia que jumpeava e a Paula que batia bola com o tronco
ereto e sem a "quase conduzida" não eram exemplos de porte atlético. Por
isso que eu acho que é uma questão de mecânica, de base.
Bom, é isso professor. Escrevi no trabalho, bem corrido e na informalidade
porque é uma sugestão mesmo.
Obrigado pela atenção.
Abraço.
Com vemos, é um assunto ícone deste espaço, os fundamentos do grande jogo. O que teria a dizer a mais do que venho publicando nestes seis anos de blog?
Vejamos:
Arremessos- A grande maioria das meninas desenvolvem ambivalência de forças nos braços, ao contrário dos meninos que desenvolvem quase sempre uma dominância em um deles. Como desde cedo a inexistência de materiais e espaços adaptados aos mais jovens é norma geral em nosso país, elevar uma bola oficial à cesta, se torna mais efetiva com uma aplicação de força dupla do que única. A ambivalência mencionada, direciona a bola com mais precisão pelo menor esforço em fazê-lo. Pouco a pouco o habito de assim arremessar vai se solidificando, tornando sua correção posterior bastante improvável. Some-se a esta constatação o fato da presença quase institucional das defesas zonais nas divisões de base, e temos reportado o quadro que ora discutimos. Pequenas, porém efetivas, adaptações em materiais e regras no preparo das divisões de base, sem que títulos e medalhas sejam os objetivos a serem alcançados nessa fase, corrigiriam tais falhas de formação, e produziriam melhores e mais eficientes jogadoras.
Drible- É um grave engano considerar-se a parada de bola na mão como condução, quando na realidade a infração cometida é a de andar com a bola no ato de driblá-la, pois a regra coíbe a interrupção das trajetórias descendentes e ascendentes no ato do drible, interrompendo o binômio ritmo-passada deste fundamento. É uma artimanha muito ensinada e praticada a fim de que fintas, mudanças de direção e reversões sejam efetuadas ao largo do domínio do corpo em torno de seu centro de gravidade concomitantes às ações acima descritas. Com a permissividade das arbitragens e de técnicos não muito compromissados com os fundamentos, já que orientados aos sistemas de jogo, a deficiência se avoluma com os anos de prática, num erro cumulativo e comprometedor.
Parada brusca- ou o DPJ (Drible, parada e jump), que mesmo nos Estados Unidos nos campeonatos universitários, somente foi resgatado de dois anos para cá, e jamais no nosso caso. Treinei muito este fundamento no Saldanha da Gama, com enormes vantagens. Jogo preferencial no perímetro externo e contra ataques a qualquer custo mataram a pratica do DPJ, mas aos poucos ele está sendo resgatado pela reintrodução de sistemas de jogo que não o único até agora empregado.
Como vemos, um prato cheio para discussões e posicionamentos. O espaço está aberto. Obrigado Felipe pelo email.
Amém.