MUNDIAL-O SEXTO DIA: UM JOGO EM P&B…

Decididamente não foi um jogo, vamos assim dizer, normal. De um lado a equipe brasileira atuando seriamente, marcando sem as dobras do jogo de ontem, e por isto mesmo se antepondo às tentativas de arremessos de três dos croatas, cadenciando o jogo no ataque, usando o jogo interior com insistência, e contra atacando pela alta eficiência de seu rebote defensivo, e pela estranha ausência dos rebotes croatas, sua arma mais poderosa desde sempre, onde um Tomic tirou férias ao cometer sua quinta falta ao inicio do terceiro quarto.

Fiquei incomodado com a passividade croata, pelo desinteresse croata, pela ausência de luta e dedicação da forte equipe croata. Não era esta a medida de comparação que estava esperando no forte teste para a nossa seleção, não mesmo. E como o tom ufanista da transmissão da Sportv me incomodava mais ainda, mudei para o canal ESPN, exatamente no momento em que seus analistas  externavam suas estranhezas pelo comportamento de nossos adversários, comentando inclusive que os mesmos não estavam nem tentando  vencer, já que um enfrentamento com a Sérvia, país da antiga Iugoslávia assim como a  Croácia, trariam ao público algumas diferenças a serem resolvidas numa competição mundial, numa rivalidade histórica, e que para nós, enfrentar uma Argentina seriamente desfalcada, seria mais vantajoso do que duelar com a fortíssima Sérvia. Ao que um dos comentaristas adicionou em tom jocoso, de que nem precisaria terem ido ao  ginásio, bastando um acordo no hotel, ou um “rachão” entre compadres.

Os comentários casavam com a minha opinião, de que os croatas não se empregaram física e tecnicamente como vinham fazendo na competição, e como ambos estavam classificados, o interesse de jogar com a Sérvia, como num acerto de contas no campo desportivo( Político? Bélico?…), num cenário de alcance mundial, já que muitas das diferenças ficaram embutidas nos vales dos Balcãns, se fez prioritária, e de uma forma não muito antiética., como num jogo em P&B…

Para a seleção brasileira, que se apresentava bem mais corrigida de seus defeitos crônicos, um maior empenho croata dimensionaria suas reais possibilidades neste mundial, e não um passeio onde o Marcelo Machado teve a oportunidade, até agora única neste mundial, de arremessar absolutamente sem marcação, desde o drible, a troca de mãos e a finta para a esquerda( sua rotina ideal de arremesso) um bom número de tentativas de três bem sucedidas, o que dificilmente se repetirá daqui para diante.

Como bem pareceu ter sido uma decisão unilateral, nossa seleção cumpriu seu papel com uma maior eficiência do que nos jogos anteriores, mas não pode aquilatar com maior precisão suas reais condições técnico táticas, que serão testadas na próxima quarta feira contra nosso grande rival( felizmente só no campo esportivo…), quando somente um dos competidores seguirá a trilha em direção ao possível, porém dificílimo, pódio.

Agora fico realmente curioso com o papel que desempenhará o Magnano, conhecedor profundo dos jogadores hermanos, na preparação e desenvolvimento de nossa seleção para este emblemático e decisivo confronto, já que somente um deles prosseguirá no campeonato. Seu título maior, o de maior significância para um técnico desportivo, o olímpico, foi conquistado, para o supremo orgulho de sua nação, na direção de nossos adversários de quarta feira, e honestamente afirmo, que sua dimensão de técnico superior agora é que será definida, onde os fatores  nacionalidade, pátria e comprometimento profissional, serão testados em definitivo, pois estará em jogo não a sua integridade humana, e sim os mais autênticos valores da competição puramente desportiva, unindo povos, mentes e corações.

E que vença o melhor.

Amém.

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10 comentários

  1. Henrique Lima 03.09.2010

    Que serie maravilhosa do Mundial, estes diários !

    Fiquei sem internet por dois dias e ficarei por mais tres ou quatro, quando retornar, lerei todos que perderei !!

    Um grande abraço !

  2. Basquete Brasil 03.09.2010

    Sinto pena de não poder lá estar para contar mais historias dentro e fora das quadras. Mesmo assim, continuarei na missão de relatar o que realmente sinto a respeito de tão importante competição.
    Um abraço Henrique, Paulo.

  3. Luiz Eduardo 03.09.2010

    A Croácia entregou o jogo?
    Professor, acho que existe um certo exagero. O time croata é o se viu ontem. Ha tempos ocupa posição mediana no cenário Europeu. Na minha humilde opinião, não vai ter a mínima chance contra a Sérvia.
    A ideia de que eles querem pegar a Servia para “acertar as diferenças” soa um pouco fantasiosa. Esses jogadores se enfrentam constantemente no basquete europeu, sem mencionar o fato de que dois atletas da Servia são croatas de nascimento.
    Existe até uma liga com os principais times da Eslovenia, Croacia e Servia.
    Acho que o Brasil jogou bem sim, fez o jogo ficar fácil.
    Tomic é um jogador que faz muitas faltas, vide jogos do Real Madrid. Não me estranhou nenhum pouco a sua eliminação ontem.
    Abraços

  4. Fernando M.V. 03.09.2010

    Prof. Paulo, embora eu tenha adorado o resultado, e até a forma como o Brasil se postou, tambem estranhei a apresentação de nosso ¨Adversário¨, e não consigo assistir pela sportv, pelos motivos pelo sr. comentado. O Danilo vem comentando de forma interessante na bandsport, comenta as movimentaçoes, as jogadas, rendimentos dos jogadores, mas sem tentar formar opnião.
    Quero agradecer sua ultima posição final ao meu comentario no post anterior, ficarei mais atento aos fundamentos, muito obrigado.

  5. Giancarlo 03.09.2010

    Olá professor,

    Quanto ao nosso grande, mas não único problema à frente, Luis Scola, qual a seu entender seria a melhor forma de marcá-lo? Aliás, nesse nível de jogo, nessa fase do campeonato, vale destacar marcação especial para um só jogador?

    Penso inicialmente que o ideal seria uma defesa individual e contar com o Anderson para cercá-lo. Não tem a força do argentino, mas possui muito mais agilidade (espero que o tornozelo permita, claro) e envergadura para dar conta do recado.

    Naturalmente, ninguém vai anular um jogador desse quilate, que possui muitos recursos e movimentos debaixo da cesta, tem arremesso muito sólido de média distância, passa bem a bola e, ufa!, é entrosado ao extremo com essa equipe, que sabe girar à sua volta. É um problemaço. Mas acho que o Anderson pode causar problemas, por ser muito inteligente também e estar acostumado com o rival – eles se enfrentam há muito tempo.

    Espero que o Magnano não queira fazer muitas dobras para cima dele, porque, se não fizermos uma boa rotação (e desconfio que não o faremos), isso pode abrir a quadra para o resto da companhia, com chutadores perigosos como Leo Gutierrez e Paolo Quinteros e atletas mais qualificados como Pablo Prigioni, que são ameaças tanto de fora como em infiltrações.

    Leo Gutierrez é outro que me preocupa, porque é um exímio arremessador de três pontos, adora estragar a festa do Brasil e apresenta um problema, caso fique na quadra por muito tempo – pode afastar nosso Splitter da tabela.

    E por aí vão minhas preocupações, e isso é fascinante no basquete. Ajuste atrás de ajuste seguido por mais ajustes, que podem nem mesmo ser os finais. Uma ação leva a uma reação sem parar.

    Zona? Individual mesmo? Dobrar no Scola? O que o senhor acha mais recomendado?

    Um abraço,
    Giancarlo.

  6. Basquete Brasil 03.09.2010

    Prezado Luiz Eduardo, uma coisa é entregar um jogo, outra é não se importar muito com ele, quando as posições onde se encontram as equipes satisfaz a ambos. Quanto ao fato de existir uma liga congregando a Servia, a Eslovenia e a Croácia não afasta o aspecto beligerante que existiu entre eles, dai a elogiável tentativa de apaziguamento através o desporto. Por acaso a Bóznia, foco crucial das divergências politico religiosas faz parte da liga? E Montenegro? E uma coisa é participar de campeonatos regionais, outra é participar de um mundial, de uma olimpíada, onde a visão do mundo é mais abrangente.Nós mesmos já facilitamos um jogo num panamericano para Cuba, a fim de evitar a entrada dos americanos na fase semi final, num capítulo jogado para baixo do tapete da história, e sem perder o jogo, somente permitindo que a diferença de pontos beneficiasse a equipe cubana, dai a pouca repercussão do fato na nossa imprensa, menos pela revolta pública dos americanos dentro do ginásio e através sua imprensa.E muitos exemplos podem ser expostos de situações onde interesses de várias espécies muitas vezes sobrepõem a disputa desportiva. Nossa equipe fez a parte dela com competência, mas não foi testada como deveria, e aguardavamos , pela postura condescendente da equipe croata, satisfeita por sua opção. Será algo instigante testemunhar o jogo de amanhã entre as duas equipes balcãnicas, para constatar se realmente a Croácia repetirá sua atuação contra nossa equipe,mesmo que perdendo o jogo, assim como deveremos ser premiados na terça com um jogo entre rivais históricos, mas somente no campo desportivo, já que os politicos e os bélicos se perderam ao longo da história, irmãos, hermanos que somos.Não existem “fantasias” no mundo do desporto profissional, seja em que modalidade for, dai termos sempre de nos ater aos fatos, e nada mais que aos fatos.A lisura técnica e comportamental é o grande fator educativo do desporto, que deveria ser prioridade em nossas escolas, assim como as artes e a música, para fazer frente aos deslizes sócio comportamentais do genero humano em sua falibilidade existencial.
    Os croatas não entregaram o jogo, simplesmente criaram a oportunidade de enfrentar num mundial a quem realmente interessava, seus rivais servios, o que de certa forma nos beneficiou também, pela certeza de um enfrentamento ante uma equipe, que no momento, é menos problemática que a equipe servia no campo técnico tático. Jogamos bem e seriamente, mas sem sermos testados como deveriamos ser, infelizmente.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  7. Basquete Brasil 03.09.2010

    Temos, todos nós, de ficarmos atentos aos fundamentos do grande jogo, nosso histórico tendão de Aquiles, sempre visado por flexas adversárias, prezado Fernando.No momento que equacionarmos este problema, teremos avançado no tempo, no tempo das grandes conquistas. Um abraço, Paulo Murilo.

  8. Luiz Eduardo 03.09.2010

    Certo professor! Acho que “entregar o jogo” foi exagerado da minha parte.
    Mas continuo achando que, se ainda não fomos testados como deveriamos,é por que atualmente temos uma equipe superior a croata. Sempre os vi como um time que se torna apático quando em desvantagem.
    Bosnia e Montenegro(Macedonia também) fazem parte da liga sim. Essa liga é denominada liga adriática. O esporte acima da guerra.
    Abraços e continue escrevendo sobre o mundial!

  9. Basquete Brasil 03.09.2010

    Pronto Giancarlo, mais uma bananosa que você coloca em minhas mãos! Não sou o técnico da seleção( jamais o serei…), mas, o que faria se o fosse? Dê uma boa olhada em dois jogos que postei no blog, principalmente os contra Brasilia e Joinville, e fique observando a ação defensiva( em alguns momentos de passe para o pivô, pois não tive tempo suficiente para estabelecer a ação de forma permanente…)à frente do pivô adversário.Nessa situação, a primeira reação do oponente é o desestimulo do passe, já que a camisa visada não é a de sua equipe, a segunda é a do passe retroativo, ótimo para quem defende, pois são mais segundos que perdem em seu ataque, a terceira é o passe por cobertura, que se bem coberto oferece ótimas opções defensivas, e finalmente, se o atacante de posse da bola não tiver ainda driblado, a penetração, que encontrará de saída a anteposição do defensor de seu próprio pivô. Como vemos, a simples postura de uma marcação frontal, desencadeia quatro possibilidades ofensivas, num caudal de decisões em frações de segundos, induzindo enormes possibilidades ao erro, pela multiplicidade de opções.
    Seria o que treinaria, enfatizaria, exigiria execução, permanente e incisivamente, exatamente porque incluiria no adversario a necessidade de pensar mais, analisar mais, originando um novo fator, a escolha correta de uma ação em uma única tentativa,em uma fração de segundos, aspecto que exporia ao atacante, consciente ou inconscientemente o fatal medo de errar.
    Marcar à frente, com um Spliter forte e rápido, como a Alessandra e a Tuiú no mundial da Australia, marcando as grandes pivôs da China e dos Estados Unidos, tirando-as de suas rotinas de arrietes mortais quando de posse da bola. Era o que faria, mas não sou o Magnano, logo…
    Audacioso? Não prezado Giancarlo, simplesmente convicto de que desde sempre devemos fugir das rotinas e das mesmices se quisermos realmente evoluir, e consequentemente, vencer. Um abraço,
    Paulo.

  10. Basquete Brasil 03.09.2010

    Pronto Luiz Eduardo, nos entendemos, sem concordarmos, o que é muito bom, pois gera a discussão sadia e evolutiva. Obrigado pelos esclarecimentos sobre a liga, confesso meu idesculpável desconhecimento, mas acontece, inclusive comigo. Um abraço, Paulo Murilo.

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