E NÃO É QUE CONVERGIRAM?…

Folheando o jornal, tendo ao fundo a TV ligada num filme do Mel Gibson (O Patriota, se não me engano…), me chamou a atenção uma cena que já tinha visto centenas de vezes, em centenas de filmes de guerras coloniais, quando dois exércitos se encaram (na acepção do termo…), a uns 50-60  metros de distância, e sequencialmente, um de cada vez, disparam seus rifles de tiro único, varrendo a cada salva dezenas de combatentes enfileirados ombro a ombro, quando do recarregamento de suas armas, num ritual de morte anunciada, como num duelo de quantos permanecerão de pé ao fim da carnificina, e onde a ação de se defender inexiste, resumindo-se tudo numa simplória (porém mortal) questão de pontaria.

É o que vemos no nosso atual basquetebol, com duas equipes duelando nos arremessos de três pontos, com defesas também inexistentes (e olha, que em distâncias bem inferiores aos 50-60 metros do exemplo bélico acima…), para contabilizarem ao fim da refrega “quantos” petardos foram encaixados.

Quando do artigo A Temível Convergência, chamava a atenção sobre a galopante tendência que se apresentava nos últimos jogos da NBB3, por conta de algumas equipes que preocupantemente convergiam os arremessos de 3 com os de 2 pontos, caracterizando um desligamento proposital de seus sistemas de jogo, numa teimosa e mais preocupante ainda, atitude de insurgência, nem sempre sutil a seus técnicos, mentores dos referidos sistemas, treinadores dos mesmos, cobradores e penalizadores de suas execuções em quadra,  que por conta da “chutação” desenfreada e aleatória, estariam sendo coniventes(?) com uma situação, para a qual não encontrariam soluções aceitas pelos jogadores.

E a convergência se deu no jogo entre o Flamengo e a equipe de Brasília na rodada passada, quando alguns números deveriam ser seriamente analisados por todos, técnicos, jogadores, analistas e torcedores, pois exibem um momento perigoso e sorrateiro para o grande jogo, já que o minimiza a extremos, que se não corrigidos, nos levarão a um modelo de comportamento em tudo correlato aos confrontos dizimadores das batalhas coloniais. Vejamos esses números:

– O Flamengo arremessou 19/32 bolas de 2 pontos, e 12/32 de 3 pontos,numa convergência absoluta.

– Brasília arremessou 12/29 de 2, e 12/26 de 3 pontos, numa quase total convergência.

– O total de 31/61 arremessos de 2 pontos perfizeram 50,8%, e os 24/58 de 3, 41,3%, ou sejam, foram perdidos 30 arremessos de 2 e 34 de 3 pontos, numa prova altamente preocupante de desprezo pelos sistemas ofensivos, em mais da metade das tentativas perdidas, e tudo isso por ambas as equipes!

A continuar tal tendência, numa divisão referência para os jovens iniciantes, muito em breve assistiremos, não mais um jogo de inteligência e sagazes habilidades em direção às cestas, para arremessos mais precisos pelo menor distanciamento, e sim um duelo em tudo similar aos combates coloniais, onde o aniquilamento sem defesas se tornará o paraíso dos menos capazes, ai incluídos com todas as honras e fanfarras, aqueles omissos técnicos.

E pensar que afastaram a linha de três em 50cm no afã de redimir o jogo técnico e tático, mas não o suficiente para, de uma vez por todas, voltarmos a praticar o grande jogo, através grandes jogadores, e não jogadores que se julgam grandes, e na companhia de técnicos não tão grandes assim…

Temos de encontrar uma, ou varias soluções técnico táticas, a fim de não reduzirmos nosso basquete a um confronto de egos e falsos especialistas, numa hemorragia de arremessos de três inconsequente e suicida.

Amém.

OBS – Clique na foto para ampliá-la.



8 comentários

  1. Gil Guadron 02.04.2011

    Hoy dia Sabado se jugaran las semifinales del Campeonato Universitario de EEUU.

    El objetivo del ataque en el basquetbol es tomar el tiro mas facil, y entre mas cerca de la canasta mucho que mejor, y esto se logra con elevados niveles de destrezas , dominio de los fundamentos, y juego en equipo.

    El tiro de tres es apenas un elemento mas en el arsenal tecnico-tactico de un equipo.

    Gil Guadron.

  2. Basquete Brasil 02.04.2011

    Já fiz as pipocas(corn), convidei o André, e estou a postos para o Final Four, que deverá ser sensacional, com uma semi final de cinderelas, e a outra com gigantes tradicionais. Depois comentaremos os jogos. Um abraço Gil. Paulo.

  3. Carlos Alex Soares 03.04.2011

    Meu Caríssimo Professor…

    sensacional!

    Nosso jogo se resume a isso: chutar, chutar, chutar de 3 pontos. Confesso que eu era exímio nesses arremessos, mas tinha outras características: ótimo drible, bom passe (mágico, eu diria) e visão de jogo – aprendi que armador deve enxergar todos em quadra e assim me deliciava com assistências inesperadas.

    Hoje não. Craque é o que pontua acima dos 20 pontos por jogo, mas desperdiça outros 20 pontos…

    Precisamos alertar os jovens para o uso dos fundamentos de forma eficaz e a utilização da arma de 3 pontos como recurso adicional, não como obrigação do ataque. Talvez assim tenhamos chance de medalha em 2020 – quiçá, como torcedor, tenhamos medalhas já em 2012.

  4. Victor Dames 03.04.2011

    O bom de ler seus artigos, professor, é que passamos a ter uma ótica específica logo após na observação do jogo…

    O que me salta aos olhos é o pouco volume ofensivo da maioria dos times do NBB nos arremessos de 2. Desperdiçar um arremesso, ao meu ver, é executá-lo mal; não quer dizer que uma bola que não entra é um mal arremesso, outros fatores podem impedir a cesta, deste uma boa intervenção defensiva (um tapinha, um toco alto) até a imprevisível sorte…

    O que vejo é que algumas equipes estão até contendo mais os arremessos longos, e por isso mesmo selecionando-os melhor, e que muitos jogadores se acham aptos a “arriscar” chutes (na NBA não vemos mais que dois ou três especialistas por equipes, aqui nunca menos que quatro ou cinco), mas continuam arremessando pouco de 2. Para que esses arremessos apareçam no placar (os de três acabam fazendo sempre a diferença), é preciso tentá-los, posicionar os jogadores para executá-los, criar os espaços necessários para sua boa execução. Lamentável ver contra-ataques em que selecionam um difícil arremesso de três a uma simples bandeja ou uma fácil enterrada, não a espetaculosa, mas aquela útil nos casos de mano a mano.

    Espero não ter dito bobagens, nobre professor, mas de toda forma, acho que não me afasto muito de seu modo de pensar o nosso grande jogo.

    Abraços!

  5. Basquete Brasil 04.04.2011

    Certíssimo Carlos, alertarmos nossos jovens para os fundamentos é a pedra de toque a ser alcançada, e não só alertar, mas fazê-los trabalharem exaustivamente por esse país afora. Mas para tanto, precisaremos investir em novas formas de ensinar, treinar e fazer jogar, através sistemas que privilegiem os arremessos médios e curtos, que enalteçam a defesa, o dominio da bola e do corpo, e acima de tudo, o espirito coletivo de equipe. Uma ENTB bem coordenada(?), planejada e competente, seria de grande e fundamental ajuda, onde professores e técnicos, especialistas em didáticas e pedagogias especificas ditariam os rumos a serem seguidos, dai a importancia estrutural e acadêmica de sua coordenação ser responsabilidade de um professor e técnico, cuja linguagem formativa e técnico tática fosse compreendida por seus pares, como deve ser em qualquer ESCOLA, em qualquer país que leve a serio uma politica desportiva.
    Será Carlos, que atingiremos tais metas?
    Um abração, Paulo.

  6. Basquete Brasil 04.04.2011

    Sua analise está corretíssima Victor, e fico sempre na torcida de que os comentários aqui postados tenham qualidade e objetividade, que são fatores importantes para o desenvolvimento e maior compreensão do grande jogo, assim como os seus. Obrigado por sua sempre bem vinda participação. Um abraço, Paulo.

  7. Thiago Tosatti 04.04.2011

    Caro Professor!!
    Ontem depois de muito tempo fui ao Pedrocão, e acabei ganhando um presente. Pelo menos ontem não houve uma chutação de tres pontos desenfreada por parte de time de Franca, se esforçou na defesa conseguindo contra-ataques finalizados em bandejas, e várias cestas próximas do aro. Alguns arremessos de tres foram realizados com o jogador totalmente livre e equilibrado, com a bola saindo de dentro para fora, onde o passe encontrou o jogador ja de frente para a cesta. Torço para que esta seja uma mudança permanente na forma de jogar e não apenas uma partida aleatória.
    Abraços Professor!!

  8. Basquete Brasil 04.04.2011

    Bem observado, prezado Thiago, realmente o técnico de Franca é um dos poucos a se reinventar permanentemente no nosso basquete, e isso aos 70 anos, o que é elogiável e inspirador. Somente uma espectativa, o fato do mais insistente arremessador de três da equipe não ter jogado, o Jovem Benite. Se em sua volta for respeitado esse posicionamento de valorização dos mais precisos arremessos de dois, e dedicação integral à defesa, ai sim, teremos uma equipe temivel para a reta decisiva do NBB3. Esperemos então. Um abraço, Paulo Murilo.

Deixe seu comentário