VOLTANDO…

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Parei por duas semanas com o grande jogo, quando me dediquei ao V Congresso Brasileiro de Dança Moderna, organizado pela minha filha Andrea Raw, e dando inicio à reforma de minha casa depois de 39 anos de construída. Mesmo assim, assisti uns poucos jogos pela TV e Web, com uma NBA endeusada por aqui, mas que não me comove, desde que a conheci in loco pelos idos dos anos sessenta, quando percebi ser um outro jogo, em nada alinhado ao basquete internacional, que queiram, ou não os deslumbrados tupiniquins, ávidos e sempre prontos a consumí-lo como o prana dos deuses, que cá para nós, deixa muito a desejar, noves fora os milhões de dólares que insuflam a cabeça de muita gente, órfãos crônicos que somos da pobreza econômica e cultural, frutos de uma educação nada compatível a uma “pátria educadora”…

Fica muito difícil para mim assistir um provecto Lebron jogar (ou tentar…) sozinho, com sua equipe(?) abrindo caminho para suas penetrações facilitadas pela regra das coberturas vigentes na grande liga, assistido por um técnico conhecido como um excelente tático no basquetebol FIBA, mas sujeitado ao centrismo e estrelismo do imperador de Cleveland, estertorando sua cansada e judiada musculatura, massoterapicamente trabalhada durante as partidas, resultante de um esgotamento pouco aceitável para um jovem (?) de sua pretensa idade…

Do outro lado, uma equipe que procura o jogo mais coletivista, mesmo contando com um  fora de série nos fundamentos do jogo, como o Curry, agregado ao grupo como formidável armador que é, além de ser um virtuose na arte de arremessar, tanto fora, como dentro do perímetro…

Pela Web, um circo de horror, mais um, numa divisão formativa, a mais importante, a sub 16 masculina, varrida da Copa América da categoria  por potencias como a República Dominicana e Porto Rico, concluindo com um centenário placar contra os Estados Unidos…

Mas o que realmente assusta são as carências técnicas individuais, os fundamentos do jogo, violentados nestas três partidas com os seguintes números: – Perdas de bola – 93 (31 pj na media)

               – Arremessos – De 2 pts – 60/138 (43,4%)

                                      – De 3 pts – 15/52 (28%)

                                      – Lances livres – 51/93 (54%)

              Ou seja, uma equipe nacional de base que não domina, sequer razoavelmente, os básicos princípios do manejo de bola e do corpo, e que sequer ostenta boas técnicas nos arremessos, com percentagens muito abaixo do exigido para uma seleção representativa do basquete de base nacional. Resultado? O de sempre, derrotas por “não atuar no padrão e errar muito nos fundamentos”, segundo seu técnico, esquecendo que os fundamentos deveriam constar da formação, aprimorados nas seleções, e que o “padrão” se torna inverossímil sem o domínio dos…fundamentos…

Mais assustador ainda é a continuidade da frágil formação dos técnicos e professores no país, com as cargas das disciplinas técnico desportivas sendo minimizadas nos currículos das escolas de educação física, substituídas pelas da área biomédica, tornando a tarefa básica de ensinar a ensinar secundária, lançando o conhecimento dos desportos a um mínimo inqualificável e rasteiro, que nenhuma ENTB, no caso do Basquetebol, substitui num nível, pelo menos, aceitável, com seus cursos de “provisionamento” de 4 dias…

Aqui, desta humilde trincheira, nos últimos dez anos de Basquete Brasil, apontamos, discutimos e sugerimos caminhos para a formação de base no nosso imenso e injusto país (e isto bem antes de especializados, que parecem professar a quimera da existência do basquetebol se iniciar com suas vindas ao mundo…), lastreado nos mais de 50 anos antecedentes de muito trabalho e dedicação à causa do grande jogo, hoje coisificado em sua mais estrutural importância, a formação de base (cujos princípios são muito, muito antigos, coisa de mais de um século de pesquisas, estudos e vastíssima bibliografia…), fator que resume a verdadeira dimensão que nos tolhe desde sempre, o fator técnico, simplesmente o fator técnico, resultante da imperícia e má formação de nossos técnicos e professores, mais voltados, em sua maioria, às táticas e sistemas de jogo, omitindo, por desconhecimento ou oportunismo, o laborioso e difícil mister de ensiná-lo em sua complexa essência, através seus fundamentos, seus olvidados e marginalizados fundamentos…

Então, enquanto não sentarmos em torno de 27 mesas, para discutirmos acalorada e enfaticamente, como alcançar e desenvolver didáticas específicas para o ensino responsável e evolutivo dos fundamentos do grande jogo, nada conseguiremos, a não ser a manutenção do compadrio, a culpabilização dos famigerados “detalhes”, a busca dos álibis salvadores que tentam justificar derrotas mais do que previsíveis, e o adiamento espúrio e odioso da negação ao mérito, obstado pelo mais deslavado, contundente e, até certo ponto criminoso, reinado do Q.I….

Até lá, convivamos com o que aí está, amando e desejando uma Rapunzel, digo, NBA, inalcançável e pródiga em parcas benesses,  migalhas de seu poderio hegemônico esportivo, cultural, e por que não, geopolítico…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV e Web. Clique nas mesmas para ampliá-las.

 



6 comentários

  1. Renato Buril 15.06.2015

    Professor Paulo, gosto muito dos seus comentários e concordo em grande parte. Desde a minha época de atleta ( 20 anos atrás ) até os dias de hoje nada muda em relação aos treinamentos. Todos os atletas treinam os fundamentos em grupo e focam na parte tática de uma equipe ( tipos de defesa e jogadas no ataque ). Acredito na forma individualizada para desenvolvimento dos fundamentos, consertando os mínimos detalhes dos erros da mecânica do jogo, ocupação adequada dos espaços na quadra ( ofensivamente e defensivamente ) e ensinamento para decisões de melhores opções defensivas e ofensivas ( o tal do QI de basquete ). Isto é o que exergo como ex-atleta,mas têm algo errado com esta minha visão do jogo ou é por aí mesmo ???

  2. Basquete Brasil 16.06.2015

    Errado, Renato? De jeito nenhum, corretíssimo, pena que muito pouco seguido por nossos técnicos formadores, sempre procurando talentos “feitos”, como se os mesmos fossem produtos de geração espontânea, o que na realidade inexiste. Formar bons jogadores e melhores cidadãos denota tempo, muito trabalho, muito conhecimento. Infelizmente é o que nos falta para retomarmos o caminho perdido a muito tempo.
    Um abraço, Paulo Murilo.

  3. Walter Carvalho 16.06.2015

    Ola Professor Paulo,

    Numeros assustadores. Que trabalho de formacao? Formacao de “x” e “y” jogadas multiplas de ataque, etc… sem saber passar, cortar, driblar e utlizar espacos e angulos de uma forma eficiente?

    E uma pena! Fico muito triste com o que li no seu artigo!

    Ate breve,

    Walter

  4. Andre 18.06.2015

    Olá, Paulo Murilo, vc já declarou que não se entusiasma com a NBA, mas parece que o novo campeão, Warriors, é um exemplo daquilo que vc repete aqui nesta coluna o tempo todo! Hoje li Balassiano e ele comentou nesta mesma linha. Poderia fazer uma análise mais específica sobre o time do Warriors?

  5. Basquete Brasil 18.06.2015

    Caro Walter. é mesmo para chorar de tristeza, e o pior é sai ano, entra ano, e nada muda, pois o compadrio e o escambo político somente tende a aumentar, numa torrente de incompetência inacreditável. A ATBB já estabeleceu sua prioridade voltada ao mercado de trabalho na elite (o que eu já esperava…),adiando para não sei quando a sua mais importante finalidade, o soerguimento do grande jogo à partir da formação de base, cujo IBOPE não a atrai midiaticamente. É uma pena, mesmo…
    Um abração. Paulo.

  6. Basquete Brasil 18.06.2015

    Sem dúvida alguma o farei, prezado Andre.
    Um abraço, Paulo Murilo.

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