O HÁBITO…

O Pedro me liga e dispara – Parece que poderemos esperar coisa boa em Londres. Estou animado, e já reservei hotel e ingressos para assistir…

Que bom que o velho amigo vai a uma Olimpíada, e mais ainda, esperançoso de uma boa participação brasileira. Mas me reservo o direito de ponderar sobre tão otimista previsão, pois ainda muito teremos de melhorar, ou mesmo mudar a forma de jogar, principalmente quanto ao coletivismo pretendido pelo Magnano, dirigindo jogadores que, em alguns casos bem marcantes divergem inconscientemente desse saudável posicionamento do argentino.

Arremessar de três somente na bola que volta do perímetro interno, e mesmo assim se as condições de equilíbrio e espaço forem a favor, é a exigência do técnico, que tenta priorizar o jogo interior, a fim de explorar ao máximo o potencial de seus pivôs no jogo seguro das bolas de curta e média distância, além, é claro, forçar as faltas dos pivôs adversários.

Mas algo destoa dessa tendência, o hábito arraigado desde sempre por parte dos cardeais, agora acrescido do Marcos, todos fissurados nas bolinhas em qualquer situação de espaço mínimo, inclusive em contra ataques. E foi num desses que o Magnano advertiu o Marcelo, mesmo com a conversão do arremesso.

Num jogo desse nível, em que o adversário se mostrou deficiente em todas as suas linhas, tal facilidade de espaços eram argumentos atraentes para a turma da bolinha, esquecendo que a prioridade nesta fase do treinamento deveria ser centrada no tipo de jogo que não professam em seus clubes e em suas participações estelares. E o incansável técnico lembrava isso a todo o momento, energicamente em algumas situações, e nesse ponto, lembro como altamente positiva a proibição de microfones nos pedidos de tempo e nas entrevistas televisivas, principalmente numa fase de estruturação técnica e tática visando à grande competição de julho, e que deixou órfãos os “comentaristas de comparação”, ou seja, que projetam nas falas e interferências dos técnicos suas posições e preferências pessoais, na contra mão do que agora são forçados, pela proibição, a analisar o que vêem, e não o que escutam.

Outro fator ainda tem de ser considerado, a de que o hábito de chutar a qualquer pretexto, adquirido frente à fragilidade de nossas defesas, é o mesmo que tornam nossos jogadores negligentes defensivamente, e aí, prezado Pedro, é que o problema se avulta, pois é de difícil correção, que podemos constatar facilmente na progressão dos quartos do jogo. Iniciamos com toda a energia, mas não mantemos o foco defensivo, exatamente pela ausência de praticá-lo desde as divisões de base, pois o mesmo exige continua e persistente insistência, até se tornar um hábito dos mais positivos.

Hoje, teremos pela frente uma seleção de verdade, muito técnica e aguerrida, quando, ai sim, poderemos avaliar com alguma precisão a quantas andam as influências vindas do sul, da terra onde desde muito cedo, já que na formação de base, jogadores dão ao hábito de defender o mesmo valor do de atacar, ano após ano de sua trajetória rumo a boas e equilibradas seleções, ao contrário dos nossos jogadores, pobremente formados e informados, quando, por força de seu talento, optam por técnicas midiáticas como maravilhosas enterradas (pivô que se preza, ali embaixo, tem de enterrar- recado da maioria dos comentaristas), e arremessos de três de outro mundo…

Com o Delfin pacificado e em boa forma, e os cardeais ainda reticentes quanto às suas facilidades restringidas nas bolinhas, veremos como nos comportaremos coletivamente daqui para diante, torcendo para que algo que restringe todo um projeto modificador do Magnano possa ser atenuado a níveis que comportem sua tentativa mais do que válida, de tornar essa equipe competitiva ao máximo, o hábito, que situa nossos jogadores atuantes no perímetro externo quando atacam, e ausente do mesmo, quando defendem.

Conseguirá mudar esse panorama o bom técnico argentino? Difícil, Pedro, não impossível, na medida em que todos realmente se comprometam, e se envolvam com a retórica de quem já venceu a grande competição, numa outra realidade, num outro comprometimento, o de base, o de formação.

Torço para que consiga, mesmo, sem ressalvas, mas com cautela e esperança.

Amém.

Foto – Divulgação CBB, Clique na mesma para ampliá-la.

UM BOM CAMINHO…

 

A equipe ainda está incompleta, treinou em segredo, falou muito pouco, e mesmo assim através uns poucos jogadores mais midiáticos, e veio para um jogo contra um adversário muito fraco e previsível.

Reapresentou sua disposição defensiva vista em Mar del Plata, mais robustecida com uma táboa mais consistente e forte pela presença do Nenê, que em conjunto com o Varejão e o Spliter, sem dúvida alguma formarão um dos núcleos defensivos mais fortes da competição olímpica.

Ofensivamente, pelo que foi apresentado, algumas pequenas tendências puderam ser apontadas e observadas, sem, no entanto apresentarem algo de realmente inovador. Nas fotos 1 e 2, temos algumas pistas pela observação do posicionamento defensivo dos maoris à vontade e majoritários na primeira foto, e sob pressão de três brasileiros no âmago do perímetro na segunda, quando toda uma gama de possibilidades se descortinam pela intensa movimentação interior de nossos jogadores, e o posicionamento da armação exterior, pronta  para dar seguimento às possíveis e várias opções de jogadas, mas com um fator restritivo, quando o segundo armador na ocasião, o Alex, ocupa uma posição que deveria estar sendo exercida pelo Guilherme, não só por sua maior estatura, mas pela habilidade que demonstra quando em ação dentro do garrafão, principalmente nos arremessos curtos e com reversão, assim como seria mantido um forte equilíbrio defensivo pela presença do Alex junto ao Nezinho.

Na foto 3, mais uma vez vemos um ala pivô de grande estatura e velocidade, o Marcos, se situando muito fora do perímetro, claramente se posicionando para o tiro longo, quando poderia estar colocando toda a sua habilidade pontuadora a serviço de arremessos mais precisos e eficientes se dentro do perímetro.

No entanto, algo de muito positivo pudemos observar no transcurso da partida, como a intensa movimentação de todos os jogadores, e não duplas ou aventuras solitárias, como podemos atestar na foto 4, onde bloqueios simultâneos dentro e fora do perímetro mantêm a defesa adversária colada nos atacantes, originando daí bons espaços para ações ofensivas mais perto da cesta, otimizando os ataques, para de dois em dois avançarem no placar.

Na foto 5 temos uma situação perto da ideal, com praticamente todos os homens mais altos da equipe dentro da zona de rebotes, permitindo dessa forma que segundas situações de ataque aconteçam com mais frequência. Rebotes ofensivos é uma garantia bastante segura de sucesso, ao acrescentar ataques extras em jogos mais difíceis e decisivos.

O que não pode ocorrer é permitir que uma superioridade posicional defensiva supere as possibilidades acima mencionadas, com podemos observar na última foto, que é uma constante em nossos campeonatos regionais e nacionais, fator que poderíamos releva desde a base, pela ação coletiva constante de todos os jogadores, principalmente junto à cesta.

Enfim, pontos positivos estão sendo implementados, e razoavelmente utilizados pelos jogadores, ainda muito presos a vícios de longa data, inclusive os mais jovens da seleção. Acredito que a continuidade desse trabalho proposto pelo Magnano, sirva de parâmetro aos demais técnicos, no intuito de tentarmos mudar nossa endêmica forma de jogar, aspecto este somente possível pela reformulação didático pedagógica no ensinar o grande jogo entre nós, através a criação de metodologias de longo prazo, informatizadas e divulgadas ao longo de um bem elaborado projeto de alcance nacional, bem ao contrário das reuniões de fim de semana até agora patrocinadas por uma ENTB equivocada e errática.

Acredito que possamos melhorar bastante no decorrer da preparação, e que, se optarmos por uma dupla armação e um jogo interior intenso por parte de nossos potentes alas pivôs, muito de oportunidades poderemos auferir nas grandes competições que participaremos até 2016.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

FÁBIO, UM LUTADOR…

Olá Professor Paulo,

Escrevo lhe para contar que neste final de semana encerramos nossa participação nas finais do INTERCEUS 2012 sub-17 masculino de basquete conquistando a medalha de prata da competição!

Estamos muito felizes porque essa medalha veio como resultado e recompensa a muita dedicação, união e trabalho duro,  e quero que o senhor saiba que muito se deve a filosofia de jogo que tenho adotado ( a qual o senhor é uma das grandes referências).

Se chegamos tão longe, muito deve-se à superação de limites individuais e coletivos, esta foi minha primeira experiência com o sistema de dupla armação, tenho certeza que só deixamos equipes tecnicamente superiores para trás (inclusive o campeão do ano passado) por conta de nossa forma de jogar diferenciada. Na final perdemos para uma equipe com muitos meninos de clubes, inclusive atletas federados, então a disparidade técnica e física era brutal, ainda assim dificultamos o máximo que pudemos.

No fim nos coube à medalha de prata, o que num primeiro momento deixou os meninos chateados, pela sensação de “perda do ouro”. Conversamos bastante e logo enxergaram de outra forma, valorizando a nossa conquista. Sei que o senhor já passou por situações dessas, gostaria de pedir uma palavra sua sobre essa questão de medalhas de ouro, prata e bronze para que eu repasse aos meninos.

Um grande abraço, obrigado pela resposta no blog também, logo comentarei mais, tenho acompanhado tudo,

Fábio

obs: segue anexa uma foto nossa com o troféu de prata e as medalhas.

Recebi esse email de um jovem técnico de São Paulo, reafirmando minha convicção de que podemos vencer etapas tidas como incontornáveis no atual panorama do basquete no país. Recentemente o Fábio foi ao meu encontro em Mogi das Cruzes, quando lá estive para acompanhar a final do NBB4,  e onde  tive o enorme prazer em conversar com ele por mais de 6 horas, que passaram rapidamente, ofuscadas pelo seu ardor e empenho em discutir sua grande paixão, o grande jogo.

E que mais poderia acrescentar àquela conversa tão rica e produtiva que tivemos, senão pedir que continue o belo trabalho que promove junto a juventude que lidera, lembrando a todos seus jogadores que dêem o máximo de valor à sacrificada conquista, lembrando sempre que um outro fator se sobrepõe às medalhas e troféus na fase da vida em que se encontram, o de adquirirem o máximo de técnicas individuais e coletivas possiveis, pela incessante prática dos fundamentos, que é a ferramenta mestra do jogo, e que deverá ser praticado em todas as etapas de suas vidas,  enquanto jogadores.

Parabenizo a todos, e ao Fábio em particular, por sua seriedade e profunda honestidade como professor e técnico, sempre pronto a aprender, assim como a ensinar e transmitir incondicionalmente o grande jogo.

Amém.

Foto – Equipe sub 17 do C.E.U. Jaçanã, vice campeã do INTERCEUS 2012 – São Paulo. Clique na mesma para ampliá-la.

O TIRO NO PÉ…

Meus amigos, do que adianta defender uma tese provada no campo de jogo por anos e anos, de que de dois em dois pontos podemos vencer jogos, atingir contagens elevadas, defender com mais precisão, agilizar tanto o jogo interior, como o exterior, dotar os jogadores do poder decisório em quadra, item tão temido por tantos técnicos, por aprenderem e apreenderem a arte da leitura de jogo, por sedimentarem no dia a dia dos treinos os fundamentos do jogo, ferramenta visceral para a execução dos sistemas ofensivos e defensivos, pela aprendizagem ao diálogo sobre o que treinam e jogam, entre si, e com seus técnicos, numa mútua relação de confiança, respeito e consideração, professando uma autêntica dupla armação, e uma corajosa e diferenciada ação interior através uma tripla utilização de alas pivôs, rápidos, ágeis, flexíveis, e acima de tudo plenamente participantes do jogo, e não coadjuvantes de uma interminável hemorragia de arremessos de três pontos, que tanto empobrece nossa autofágica maneira de jogar o grande jogo.

Foi o que ocorreu, pela milionésima vez no jogo com a Venezuela, quando de dois em dois pontos endurecemos um jogo perfeitamente ao nosso alcance, para numa falha sucessão de bolinhas de três, propiciarmos contra ataques venezuelanos que esticaram o placar além dos 20 pontos.

E o que dizer do jogo da Sub 18 contra os americanos, que jogaram dentro de nós, enquanto treinávamos a pontaria de fora, sem falar na brutal diferença na postura fundamental de seus jogadores, frutos de uma escola que nos negamos a praticar, trocando um tempo precioso de formação por formatações e padronizações de sistemas de jogo, numa opção equivocada e absurda.

Senhores, utilizar uma dupla armação adaptada ao sistema único é praticamente um tiro no pé, pois retira do foco da ação exterior um dos armadores, que ridiculamente vai executar bloqueios dentro do garrafão, e de encontro aos grandes pivôs, enquanto seu companheiro de armação se vira sozinho e sem balanço defensivo presente, além de somente poder contar para uma jogada incisiva com um dos alas, claramente inferiores nos fundamentos básicos de drible e passes, pela ausência do outro armador. O resultado se reporta aos passes de contorno, num crescendo inócuo e destituído de penetração aos pivôs, que por conta de uma movimentação sagital se postam de costas para a cesta, quando deveriam atacá-la de frente e em veloz movimentação, situando-se dessa forma um tempo adiante dos defensores, que é a arma mais letal para superá-los.

O que poderia dizer ou acrescentar a mais, frente a resultados tão medíocres por repetitivos, e tão solidificados por padronizações e formatações?

Nada, se frente a uma realidade imutável, solida e corporativista.

Tudo, se uma fresta, por tênue que fosse, de repente, se abrisse para algo de novo, iluminando caminhos abertos pelo diálogo, pelo trabalho conjunto daqueles que realmente conhecem e amam o grande jogo, e que comungassem princípios e conhecimentos entre jovens e veteranos técnicos e professores, no reencontro de um destino rompido e violentado pela mesmice endêmica que tem ferido de morte nossa maior riqueza, a criatividade inata de nossos jovens, enclausurada que se encontra nos limites de uma lamentável prancheta.

Mantenho uma contida esperança, de que nossa seleção olímpica possa vir a romper alguns desses grilhões, apresentando um jogo voltado ao perímetro interno, através um pleno domínio no externo, equilibrando ações voltadas ao coletivismo defensivo e ofensivo, onde arremessos de media e curta distância, mais precisos e eficientes, se sobreponham definitivamente às aventureiras bolinhas, lastreado por um sistema defensivo ousado e corajoso, base verdadeira de uma equipe de alta competição. Que assim seja, torço e espero.

Amém.

Foto-Divulgação CBB. Clique na mesma para ampliá-la.

EM TEMPO- Agora,  oficialmente na America do Sul, estamos em quarto…

DUPLA O QUE?…

Toca o telefone, e o amigo Pedro do lado de lá da linha me alerta –Paulo, até que estão inovando, pois estão jogando com dois armadores… Pera lá Pedro, substituir um ala por um armador dentro do imutável, rígido, ciclópico sistema único pode ser tudo, menos jogar em dupla armação. E para conseguí-lo, uma mudança estrutural tem de ser desencadeada na forma de se situar e ler o jogo, pois atuar em dupla exige dos armadores um completo domínio das possibilidades oferecidas por um perímetro externo amplo e desafiador, onde a visão periférica se expande no mais amplo sentido criativo, alimentando pluridirecionalmente um perímetro interno sutil, ou escancaradamente habitado por alas pivôs velozes, ágeis e em permanente movimento, ferindo a defesa em seu âmago, e não contornando-a através óbvios e inócuos passes destituídos de objetividade e precisão, culminando em arremessos apressados e desequilibrados.

Mas o pior de tudo é a constatação de que nomes, por si só, não definem uma boa seleção, a começar por uma opção técnico tática compromissada com um sistema de jogo em tudo e por tudo absolutamente equivocado. Sim, tínhamos dois armadores em quadra, um Nezinho dito de ofício, e um Benite gravitando entre equipes na busca incessante e imatura de uma posição permanentemente confrontada com sua tendência anotadora, a mesma de seu companheiro “armador”, que por conta disso desandaram nas bolinhas, no individualismo crônico, negligenciando o jogo com seus pivôs, relegando-os ao notório papel de “apanhador de sobras”.

Bem, isso tudo no plano ofensivo, porque no defensivo meu amigo, algo de muito, muito sério está grassando em nosso basquete, o mais absoluto desprezo pela ação no perímetro externo, por onde os paraguaios (meus deuses, aonde chegamos…) fizeram uma festa do arromba nas bolinhas, jamais contestadas, sequer tentadas através um simples e singelo movimento defensivo, como num trato inter pares, já sedimentado em nosso dia a dia, o de quem acertar a última, ganha.

Pedro, garanto a você, e bem sei que pensa o mesmo, de que temos melhores e mais comprometidos jogadores que lá não estão na maioria das posições, porém, inominados que são, ao gravitarem por equipes menos midiáticas, se perdem no injusto e perverso anonimato de um basquete anacrônico e desleal.

Numa coisa tenha a mais absoluta certeza, não se adquire conhecimento e sabedoria no grande jogo por osmose, como alguns pensam ao gravitarem em torno de um campeão olímpico. Tempo, estudo e experiência ainda ditam as regras do comando, da liderança, da ousadia, do livre pensar, da real e comprovada competência, enfim.

Quem sabe um dia acordaremos para a realidade do grande jogo, um dia…

Amém.

Foto – Divulgação CBB. Clique na mesma para ampliá-la.

GERSON…

Estava em Portugal fazendo meu doutoramento em 1986, e ali do lado, na Espanha, transcorria o Campeonato Mundial de Basquetebol, com a grande presença da equipe brasileira. Meus estudos não permitiam que lá fosse assistir a competição, mas a acompanhava através os jornais e a TV.

E foi uma caminhada brilhante a da nossa seleção, com atuações coletivas inesquecíveis, e algumas contundentes presenças em quadra por parte de jogadores que defendiam uma tradição de qualidade histórica em nosso país, e que acima de tudo amavam defender sua gloriosa camisa, sem protelações, recusas, esquivas e interesses que não fossem os da seleção.

Um destes jogadores se elevou ao máximo de sua posição, o grande pivô Gerson. Reboteiro inigualável sucedeu o inesquecível Ubiratan, pelo poder defensivo, pela dedicação, pelo amor ao grande jogo. Rivalizou e superou jogadores como Sabonis, David Robinson, Wiltger, tendo ao seu lado outro mito nos rebotes, o Israel.

Terminou o Mundial como o maior e mais eficiente jogador na difícil e altamente especializada arte dos rebotes, com brilho e poder.

Na quarta feira passada, o grande jogador foi retirado do recinto onde a seleção olímpica treinava por ordem de um técnico estrangeiro. Lamentável, vergonhoso, constrangedor.

Mas quem sabe, talvez mereçamos, por nossa omissão e subserviência.

Amém.

Fotos – Reproduções. Clique nas mesmas duas vezes para ampliá-las.

“NOMES”…

Depois de postar uma notinha de rodapé com a final do NBB, o jornalão publica hoje uma meia página de equivoco completo, pois, seguindo a tendência colonizada e subserviente de grande parte de nossa mídia esportiva (?), teima e força a opinião de que basquete seja um jogo individual, demonstrando sua mais absoluta ignorância sobre o grande jogo, pequeno para ela.

Mas lá para dentro da matéria, o Durant coloca as coisas nos devidos lugares, quando afirma: – “Todos estão falando sobre meu duelo com LeBron, mas é Thunder contra Heart(…) Não é um jogo de um contra o outro para vencer a série. Os times é que vão decidir tudo, e vai ser divertido”.

Como vemos, o jovem jogador tem um bom senso mais evoluído do que a turminha torcedora…e ignorante da realidade do grande jogo…

Sem dúvida alguma assistiremos logo mais o inicio da mais divulgada, incensada e cultuada série de peladas monumentais, protagonizadas por excelentes jogadores, as mesmas que em hipótese alguma serão emuladas pela equipe olímpica americana sob o comando do Coach K, isto porque, se assim  jogasse em Londres, não pegaria o caneco, pois jogar uma competição FIBA, com suas regras diferenciadas da NBA quanto aos embates e violações, complicaria sua participação frente a equipes mais afeitas às mesmas, além de se comportarem como equipes, e não como palco de solistas geniais.

Sei muito bem que esse enfoque levantará imensos e contrariados comentários, e mesmo aversões, mas mantenho esse ponto de vista, bem aproximado do grande professor, comentarista e brilhante jogador Wlamir Marques, quanto a essa inegável constatação, a de que há muito, a NBA desenvolve um jogo basicamente focado no individualismo exacerbado, como ponto de sustentação de apelo popular pela busca do estrelismo, da paixão pelos ídolos e materialização iconográfica.

Por conta dessa triste realidade, aqui pela terra tupiniquim, dirigentes e, às vezes, técnicos, que se reestruturam para o NBB5, correm aberta ou veladamente na busca dos “nomes”, dos melhores e mais ranqueados “1 a 5”, para comporem suas equipes, comparando-os posicionalmente, pareando-os, como personagens de futuros embates 1 x 1, sabedores que são de que a contratação de um bom numero deles por sobre as demais equipes, provavelmente os tornarão “imbatíveis”, pelo menos em suas concepções megalomaníacas, condições estas que fazem a festa de agentes inteligentes e oportunistas, principalmente num mercado que tende a crescer junto à relativa estabilidade econômica do país.

Claro, que num país em que um sistema único de jogo prevalece de forma incontestável e esmagadora, o enfoque descrito acima se encaixa com precisão cirúrgica, já que dificilmente contestado por qualquer outro modo de se ver e jogar o grande jogo, e concretizado pelo estabelecimento da mesmice endêmica técnico tática, que se faz presente desde sempre entre nós.

Kevin Durant, singelamente põe os pingos nos is, lá, na terra do basquete, dos contratos milionários, da Xanadú que grande parte de nossa mídia e torcedores sonha em pertencer, o de como deve ser visto, sentido e jogado o basquetebol, e não aquele que professamos subservientes e colonizados da forma mais fantasiosa e irreal possível.

Enquanto isso, muitos, muitos mesmos, jogadores jovens e veteranos são esquecidos por não terem “nomes” midiáticos, mas prontos e aptos para alçarem novos sistemas de jogo que os redimam e projetem do limbo em que se encontram, pela ignorância e submissão a um sistema único, mantido por uma confraria, um corporativismo técnico tático que nos oprime, humilha e fere de morte. Aliás, ontem mesmo nossos hermanos, por mais uma vez, nos lembraram disso.

Que nossa seleção fuja um pouco, ou o suficiente, desses grilhões absurdos e ignorantes, arejando nosso jogo, nossa defesa, nosso espírito empreendedor e corajoso, como se comportou a geração do grande Wlamir, com seu coletivismo e pluralidade. Torço por isso.

Amém.

Foto – Reprodução do O Globo de 12/6/2012. Clique na mesma duas vezes para ampliá-la.

A VITÓRIA INCONTESTE (E JUSTA) DE UMA MESMICE ENDÊMICA…

Com um ou dois minutos do segundo quarto de jogo, o Murilo cisma de trazer a bola da defesa para o ataque, quando bem no meio da quadra, ao tentar um corte, se atrapalha com a bola, perdendo-a para o Cipriano, que serve a um Arthur leve e solto numa bandeja inadmissível para uma decisão de campeonato. Foi naquele momento que ficou escancarado o destino final do jogo, no limiar de um segundo quarto, talvez, a decisão mais tranqüila de todos os NBB’s até agora disputados.

E porque tranqüila? Vejamos:

– Apesar da desnecessária, porém habitual enxurrada de bolinhas de três, com a equipe de São José arremessando 5/23, e Brasília 6/26, num jogo que estava sendo decidido dentro do perímetro por parte dos candangos, mesmo assim 20 ataques seus ficaram inoperantes pelas, repito, desnecessárias e aventureiras tentativas, ao passo que pela incapacidade de insistir e forçar o jogo interno, São José, perpetrou 18 tentativas que se perderam pela imprecisão e desmedida pressa ante um placar que se alargava a cada minuto da partida.

– Jogadores viciados nas bolinhas, como Guilherme e Arthur, foram decidir o jogo em precisos DPJ’s, boas reversões, e melhores ainda penetrações por sobre uma defesa temerosa em perder seu melhor jogador com faltas, em dobras imprecisas que deixavam brechas imensas para arremessos curtos e médios, precisos e mais equilibrados, por parte de uma experiente e veterana equipe.  Mesmo com tal vantagem, e como afirmei acima, por puro hábito, tentaram os jogadores da capital, arremessos  completamente fora de um contexto que os favorecia pelas enormes fendas na defesa sanjoanense.

– Outrossim, com uma defesa focada no âmago de seu perímetro, afastando o Murilo da tabela, ou cercando-o nas disputas dos rebotes, inviabilizando-o ofensivamente, e vigiando fortemente o armador Fúlvio, que ao bloquear na altura do peito um arremesso de três do Nezinho, bem no inicio do jogo, viu-se daí por diante motivo de uma ação defensiva e ostensiva por parte do armador candango, como num ajuste de contas pelo bloqueio recebido, intenso e decisivo na inoperância de seu opositor. Com tais ações defensivas, a equipe de Brasília garantiu seus contra ataques precisos e indefensáveis, reinou dentro do perímetro adversário, e só não venceu com mais diferença por ainda não saber estancar uma persistente e crônica hemorragia de três.

Outro fator preponderante nesse jogo foi o absurdo, por exagerado, número de erros de fundamentos, 27, sendo que 17 de São José, o que demonstrou sua imprecisão e nervosismo.

Como nervosismo em uma equipe finalista, e até bem pouco tempo a de melhor produtividade da Liga, como?

Pela ausência de uma consciência tática efetiva para o enfrentamento de uma equipe, que como ela, jogava da mesma forma, agia com semelhantes jogadas, variava ofensivamente com notória previsibilidade, e se utilizava magistralmente da rodagem de seus encanecidos jogadores básicos. A equipe de São José falhou onde não poderia falhar de modo algum, na defesa, na rotação estratégica, e principalmente, na presunção de que um jogo aberto a favoreceria pela notória ausência de contestação dos longos arremessos por parte de um adversário, que, exata e inteligentemente, resolveu contestá-los na decisão, bem lá fora do perímetro, e mais ainda, concentrando seus maiores esforços lá dentro, bem lá dentro de seu garrafão.

Por conta destes aspectos acima relacionados, alguns pontos ficaram bem claros, e mostrados na série de fotos que fiz ( sim, lá estive), que contam um pouco do jogo, mas suficientes na demonstração do quanto variou Brasília em sua forma de jogar ( se utilizou inclusive da dupla armação e jogo interior de pivôs), em oposição à completa ausência de definição tática por parte de uma equipe indecisa e fragilizada por não ousar, criar, e acima de tudo, arriscar sair da mesmice endêmica ( será que se mantêm daqui por diante?) que afasta da formação de base exemplos de como jogar o grande jogo de forma diferenciada, inusitada e criativa, portal que elevaria nossas chances no cenário internacional.

Observemos as fotos:

1 – Inicio de jogo. Ataque linear de Brasília. Notar afastamento do    Murilo no combate direto ao Alírio.

2 – Ataque totalmente aberto do São José, com defensores na Linha da Bola fechando o garrafão, e dobra lateral no Fúlvio, comandados pelo Alex.

3 – Fúlvio eleva erroneamente a bola acima da cabeça, com poucas opções de passe para o interior. Notar o correto bloqueio no Murilo, uma constante em toda a partida.

4 – Ataque interior de Brasília, com os três homens altos e dupla armação fora do perímetro.

5 – No 3º quarto insistência do São José pelo jogo aberto, inócuo e inferiorizado, com seu pivô afastado da cesta. (Desculpar foto desfocada).

6 – Neste 3º quarto Brasília abandona um pouco o jogo interior, voltando às temerárias bolinhas, como essa do Nezinho, o que aproximou o placar em 6 pontos.

7 – Por outro lado, a continua ausência do Jefferson na ajuda ao Murilo nos rebotes, fator determinante na derrota de sua equipe.

8 – Outro momento de ausência de foco interno do São José.

9 – Completa ausência de contestação de um arremesso de três do Guilherme, com seu defensor com os braços completamente arriados, uma constante de toda a equipe no confronto.

10 – Exemplo maior e constante de ausência de jogo interior ante o posicionamento defensivo de Brasília.

11 – A solitária briga do Murilo no rebote. Indesculpável.

12 – Mais uma tentativa de três de São José sem rebote corretamente colocado, outra e determinante constante no jogo.

13 – E mais outra com o Murilo bem contido por um eficiente Alirio, Chico fora e Fúlvio deslocado para uma improvável tentativa de rebote.

14 – Jogo ganho, hora de Brasília emular seu oponente, abrindo seu ataque, prova de sua maturidade e total domínio sobre o sistema único de jogo.

15 – A turma do Basketeria em ação.

16 – O redator aqui exercendo sua inatacável opção de vivenciar o grande jogo.

 

Foi uma vitória inquestionável e justa, da equipe mais experiente e madura, numa competição em que não encontrou um basquete diferenciado que a pudesse derrotar como foi um dia, exatamente por ter se deparado com um no NBB2, onde se sagrou campeã,  e nas competições internacionais onde o sistema único tem galgado uns degraus a mais do que entre nós. Se não nos ajustarmos a essa realidade, já poderemos arriscar a consecução de um tetra para o NBB5, consolidando definitiva, conceitual e irreversivelmente o sistema que tanto nos limita e oprime.

Amém.

Fotos – Paulo Murilo. Clique nas mesmas para ampliá-las.

OS (UTÓPICOS) CAMINHOS DO NOVO…

O blog Território LNB publicou no passado dia 29 uma matéria bastante interessante….e enigmática, Uma seleção na final do NBB, pois em suas entrelinhas deixa em suspenso o seu ponto fulcral, ou seja, o como fazer.

Sem dúvida alguma a escolha dos jogadores que comporiam a formação em dupla armação e trinca de alas pivôs, determinaria uma fortíssima equipe base, assim como os demais componentes da mesma, cuja rotatividade a dotaria de imensas variações táticas, não fosse um único fator restritivo, o como formá-la.

Fazer e formar, ou fazer acontecer e a forma de exequibilizar um projeto tão ao largo do que existe e está implantado na realidade do nosso basquete, eis a questão.

Num cenário tão enraizado como o técnico tático do nosso basquete, com o seu imutável e monocórdio sistema único de jogo, qualquer mudança em seu âmago implicaria uma verdadeira revolução de costumes, de formas, de pensamento, de ação conjunta, e mais ainda, individual, com implicações e conseqüências verdadeiramente imprevisíveis quanto a comportamentos, jamais como fator evolutivo frente aos mesmos. Mudar custa muito, pois exige renúncia espontânea, entrega consciente, absoluta confiança nos novos valores, insistência e perseverança para alcançá-los e conquistá-los.

São exigências na busca do novo, do instigante, do ousado, do corajoso, mas acima de tudo, do incerto, porém desejado futuro.

E para tanto são exigidos novos conceitos pedagógicos, novos enfoques didáticos, nova estratégia comportamental e tática.

Claro que, a busca de novos e abrangentes caminhos, exigem lideranças, conceitualmente novas, e não adaptadas ao pré existente, ao status vigente. Por isso é que não bastam seleções de jogadores que comporão o novo posicionamento, a nova forma de atuar e jogar, sem o acompanhamento de quem os guiarão pelos novos caminhos, aqueles em que acreditam, conhecem, estudam, pesquisam e ensinam com a mais absoluta certeza do que fazem, e para onde querem ir, alcançar, conquistar, estabelecendo novos valores, novas percepções, novos e arejados tempos.

Então, podemos, enfim, definir e concluir  que não basta exercitarmos um novo conceito tático em torno de uma seleção de jogadores, se não o referendarmos com uma direção comprometida  e compromissada com o mesmo,  inserida em seus princípios reformuladores, em tudo e por tudo na contra mão do que está profundamente estabelecido no basquetebol do nosso país.

Fica então em suspenso uma última indagação:  Quais técnicos e professores poderiam estabelecer tais mudanças ao se defrontarem ante novas didáticas de ensino, pertencentes a uma específica pedagogia voltada à dupla armação e triplo jogo interno? Acredito que muito, muito poucos, excluindo-se desta ínfima comunidade o bom técnico apontado no artigo para orientar a hipotética seleção, por não professar, aplicar ou ensinar em tempo algum o sistema proposto, provavelmente por não acreditar no mesmo, direito inalienável seu.

Amém.

Foto – Divulgação LNB. Clique na mesma para ampliá-la.

QUANDO AS PERNAS FALHAM (OU NUNCA FUNCIONARAM)…

– “É jogo para pouca tática e muita disposição”, afirma o jogador Helio do Flamengo antes do jogo.

– “O jogo se ganha com o coração, na vontade, e às vezes a estratégia fica de lado”, declara o jogador Fúlvio no intervalo do jogo.

Com um cenário desse, o que esperar taticamente de um jogo tão importante?

E não deu outra, que como num cartão de visitas, deu-se uma bolinha de três por parte do Fisher, seguida de outra do Marcelo, inaugurando um jogo fundamentado nas afirmações dos jogadores acima, e continuado até o quarto final, quando a equipe carioca, em vez de voltar ao jogo interior, para de 2 em 2 pontos retomar a partida, preferiu as “bolinhas de 5 pontos”, como se a hipotética e sonhadora existência delas fosse real. Somemos a esse panorama uma constatação avassaladora, não mais a incapacidade técnica e fundamental de defesa, individual e coletiva, mal de que padecem muitos e muitos jogadores e equipes brasileiras,  aumentada pelos muitos anos percorridos de estrada por alguns deles. Querer, e em alguns casos saber defender, difere frontalmente do poder, física e tecnicamente, defender. A capacidade de se postar fisicamente no ato de defender, onde a mobilidade dos membros inferiores têm de ser levada a extremos, somada a uma aguçada percepção de tempo e espaço, não são qualidades que dispensem condicionamentos físicos e mentais ordenados,  extremamente treinados e afiados.

Pagamos demais para ver o que acontece, principalmente quanto aos arremessos de fora do perímetro, como numa aposta inter pares de quem acerta mais e erra menos, como num desafio permissivo em ambos os contendores, atitude esta somente factível quando jogam de forma igual ou semelhante, onde as oportunidades se dividem igualmente, e que seria diferente na forma e nos resultados se algo inovador, insólito, corajoso e realmente diferente, fosse colocado neste carrossel girando sempre na mesma direção, com as mesmas luzes, a mesma e monocórdia melodia, o mesmo e medíocre destino, o girar indefinidamente sobre si mesmo.

Tímida e receosamente, algumas de nossas equipes tentam a dupla armação, que seria uma valida tentativa de incrementar o jogo interior com mais e precisas técnicas, num acréscimo de qualidade fundamental e de inteligentes ações táticas, e por que não estratégicas, já que profundas mudanças seriam incrementadas, fugindo celeremente da mesmice técnico tática que tem nos escravizado a longo e longo tempo.

A equipe de São José, errou muito menos, marcou melhor, principalmente no perímetro interno, onde contou com rebotes de qualidade com o Murilo e o Chico, e contra ataque superior, onde o Fúlvio e Laws brilharam intensamente, e com uma ressalva de peso, pois arremessaram 27/42 de dois pontos, e admissíveis 10/16 de três, contra 26/49 e 7/23 respectivamente por parte dos cariocas.

No próximo sábado poderemos atestar algumas evoluções importantes para o basquete brasileiro, quando duas das equipes que se notabilizaram por suas artilharias de fora do perímetro, se enfrentarão numa final. Caso São José volte a optar pelo seu poderoso e eficiente jogo interno e nos contra ataques, frente a uma equipe que marca inconsistentemente, mas ataca com sofreguidão a partir do perímetro externo, e que penetra com assiduidade e precisão, reforçando e posicionando sua defesa, terá boas chances de vitória, mas que para tanto precisará proteger das faltas seu farol de referência, o Murilo, pois será por aí que Brasília, com seu mais do que experiente plantel, apostará suas fichas, num jogo com táticas previsíveis e tradicionais. Vence aquele que quebrar tal evidência. Quem viver verá.

Amém.

Foto – Divulgação LNB. Clique na mesma para ampliá-la.