APERLTA , APERLTA…
“Aperlta, aperlta…” , gritava o possesso técnico instruindo à beira da quadra para que seu atleta Biro tentasse barrar as sucessivas investidas dribladas e fintadas do armador de Franca,que àquela altura estava adorando a “aperltação” que sofria, já que se desvencilhava com facilidade e podia efetuar suas assistências e arremessos precisos de dois e três pontos, desequilibrando o jogo, mas que poderiam ser um pouco mais dificultados se em vez de “aperltar” , seu marcador flutuasse um ou dois passos atrás, sem no entanto perder o controle exercido sobre o tronco do excelente armador, que por ser a parte do corpo com menor velocidade de deslocamento, tornar-se-ia possível mantê-lo num razoável campo defensivo, ao dificultar sua livre investida à cesta. Uma simples correção de postura (sempre os fundamentos…) e atitude poderia ter equilibrado as ações, em vez de berros equivocados de “aperlta, aperlta…” .
Logo a seguir a equipe de S.Bernardo cai numa defesa por zona 2-3 contra um ataque 1-3-1. Pronto, a festa se consumou com o Drudi, como um dos “uns” concluindo o que quis e o que não quis. E para culminar, o mesmo Drudi, agora se especializando na defesa à frente do do pivô, lançou-os, tanto o Argentino, como o Bambú, para fora do garrafão para terem a posse de bola, quebrando decisivamente o jogo interior, um dos pontos fortes da equipe do ABC.
Com pequenas, e incisivas mudanças técnico-táticas, a equipe de Franca vai se distanciando da mesmice que campeia no cenário do basquete nacional, principalmente ao inverter o seu próprio sistema de atuar, mas guardando na memória de seus jogadores todos os movimentos e jogadas que praticaram por longos anos, como um antídoto no enfrentamento de seus oponentes ainda aferrados ao velho e enraizado sistema de jogo. Como numa engenharia reversa, a equipe de Franca praticamente ”advinha” as linhas de passe formuladas pelos seus adversários, exatamente por tê-las empregado à exaustão, somando-se a este formidável progresso, a aplicação da verdadeira defesa linha da bola, que é a única que permite a permanente marcação dos pivôs pela frente, já que o sistema de flutuação lateralizada assim o permite com precisão e confiabilidade.
Um outro fator determinante foi a escalação do jogador Felipe, que apesar de muito alto tem um apreciável controle dos fundamentos de drible, fintas e passes, além de saltar e se situar muito bem nos rebotes, e arremessar com razoável precisão. Sem alarde, estamos vendo nascer uma nova plêiade de armadores com boa estatura e diversificação nos fundamentos, dotando-os de habilidades insuspeitadas até bem pouco tempo. Outro ponto a favor de Franca.
Finalmente, estamos testemunhando uma nova classe de prancheta, a taquigráfica. Impressionante a velocidade com que determinados técnicos deslizam em sua superfície amorfa como se estivessem num núcleo computacional, onde milhares de bits se comunicam a velocidades inimagináveis a um cérebro comum, como comuns são os cérebros de seus jogadores. E ainda mais quando todos sabemos que a grande lerdeza do sistema ocular em sua comunicação seletiva aos centros nervosos, torna o entendimento taquigráfico das novas e palpitantes pranchetas, absolutamente ininteligível.
E mais engraçado, é que o técnico de Franca, ao praticamente aposentar a taboinha pseudo-mágica, devolveu a relação olho no olho entre técnico e jogadores, que é o único canal possível de entendimento técnico, tático e comportamental dentro da real estrutura humana, onde o poder da linguagem, enérgica ou coloquial, ainda determina e qualifica as relações entre seres iguais. Mais um ponto, o decisivo, para Franca.
Seja qual for o resultado do próximo jogo, creio que os caminhos abertos por Franca, e seguidos por Minas, apesar do tropeço na Liga das Américas, motivado por uma quebra de planejamento ao incluir um estrangeiro destreinado dentro de uma equipe homogeneizada , fragmentando-a na reta final do torneio, já nos dão algum alento de dias, se não melhores, esperançosos e arejados. Torço de coração para que continuem o bom trabalho.
Amém.