UM BOM CAMINHO…

 

A equipe ainda está incompleta, treinou em segredo, falou muito pouco, e mesmo assim através uns poucos jogadores mais midiáticos, e veio para um jogo contra um adversário muito fraco e previsível.

Reapresentou sua disposição defensiva vista em Mar del Plata, mais robustecida com uma táboa mais consistente e forte pela presença do Nenê, que em conjunto com o Varejão e o Spliter, sem dúvida alguma formarão um dos núcleos defensivos mais fortes da competição olímpica.

Ofensivamente, pelo que foi apresentado, algumas pequenas tendências puderam ser apontadas e observadas, sem, no entanto apresentarem algo de realmente inovador. Nas fotos 1 e 2, temos algumas pistas pela observação do posicionamento defensivo dos maoris à vontade e majoritários na primeira foto, e sob pressão de três brasileiros no âmago do perímetro na segunda, quando toda uma gama de possibilidades se descortinam pela intensa movimentação interior de nossos jogadores, e o posicionamento da armação exterior, pronta  para dar seguimento às possíveis e várias opções de jogadas, mas com um fator restritivo, quando o segundo armador na ocasião, o Alex, ocupa uma posição que deveria estar sendo exercida pelo Guilherme, não só por sua maior estatura, mas pela habilidade que demonstra quando em ação dentro do garrafão, principalmente nos arremessos curtos e com reversão, assim como seria mantido um forte equilíbrio defensivo pela presença do Alex junto ao Nezinho.

Na foto 3, mais uma vez vemos um ala pivô de grande estatura e velocidade, o Marcos, se situando muito fora do perímetro, claramente se posicionando para o tiro longo, quando poderia estar colocando toda a sua habilidade pontuadora a serviço de arremessos mais precisos e eficientes se dentro do perímetro.

No entanto, algo de muito positivo pudemos observar no transcurso da partida, como a intensa movimentação de todos os jogadores, e não duplas ou aventuras solitárias, como podemos atestar na foto 4, onde bloqueios simultâneos dentro e fora do perímetro mantêm a defesa adversária colada nos atacantes, originando daí bons espaços para ações ofensivas mais perto da cesta, otimizando os ataques, para de dois em dois avançarem no placar.

Na foto 5 temos uma situação perto da ideal, com praticamente todos os homens mais altos da equipe dentro da zona de rebotes, permitindo dessa forma que segundas situações de ataque aconteçam com mais frequência. Rebotes ofensivos é uma garantia bastante segura de sucesso, ao acrescentar ataques extras em jogos mais difíceis e decisivos.

O que não pode ocorrer é permitir que uma superioridade posicional defensiva supere as possibilidades acima mencionadas, com podemos observar na última foto, que é uma constante em nossos campeonatos regionais e nacionais, fator que poderíamos releva desde a base, pela ação coletiva constante de todos os jogadores, principalmente junto à cesta.

Enfim, pontos positivos estão sendo implementados, e razoavelmente utilizados pelos jogadores, ainda muito presos a vícios de longa data, inclusive os mais jovens da seleção. Acredito que a continuidade desse trabalho proposto pelo Magnano, sirva de parâmetro aos demais técnicos, no intuito de tentarmos mudar nossa endêmica forma de jogar, aspecto este somente possível pela reformulação didático pedagógica no ensinar o grande jogo entre nós, através a criação de metodologias de longo prazo, informatizadas e divulgadas ao longo de um bem elaborado projeto de alcance nacional, bem ao contrário das reuniões de fim de semana até agora patrocinadas por uma ENTB equivocada e errática.

Acredito que possamos melhorar bastante no decorrer da preparação, e que, se optarmos por uma dupla armação e um jogo interior intenso por parte de nossos potentes alas pivôs, muito de oportunidades poderemos auferir nas grandes competições que participaremos até 2016.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

FÁBIO, UM LUTADOR…

Olá Professor Paulo,

Escrevo lhe para contar que neste final de semana encerramos nossa participação nas finais do INTERCEUS 2012 sub-17 masculino de basquete conquistando a medalha de prata da competição!

Estamos muito felizes porque essa medalha veio como resultado e recompensa a muita dedicação, união e trabalho duro,  e quero que o senhor saiba que muito se deve a filosofia de jogo que tenho adotado ( a qual o senhor é uma das grandes referências).

Se chegamos tão longe, muito deve-se à superação de limites individuais e coletivos, esta foi minha primeira experiência com o sistema de dupla armação, tenho certeza que só deixamos equipes tecnicamente superiores para trás (inclusive o campeão do ano passado) por conta de nossa forma de jogar diferenciada. Na final perdemos para uma equipe com muitos meninos de clubes, inclusive atletas federados, então a disparidade técnica e física era brutal, ainda assim dificultamos o máximo que pudemos.

No fim nos coube à medalha de prata, o que num primeiro momento deixou os meninos chateados, pela sensação de “perda do ouro”. Conversamos bastante e logo enxergaram de outra forma, valorizando a nossa conquista. Sei que o senhor já passou por situações dessas, gostaria de pedir uma palavra sua sobre essa questão de medalhas de ouro, prata e bronze para que eu repasse aos meninos.

Um grande abraço, obrigado pela resposta no blog também, logo comentarei mais, tenho acompanhado tudo,

Fábio

obs: segue anexa uma foto nossa com o troféu de prata e as medalhas.

Recebi esse email de um jovem técnico de São Paulo, reafirmando minha convicção de que podemos vencer etapas tidas como incontornáveis no atual panorama do basquete no país. Recentemente o Fábio foi ao meu encontro em Mogi das Cruzes, quando lá estive para acompanhar a final do NBB4,  e onde  tive o enorme prazer em conversar com ele por mais de 6 horas, que passaram rapidamente, ofuscadas pelo seu ardor e empenho em discutir sua grande paixão, o grande jogo.

E que mais poderia acrescentar àquela conversa tão rica e produtiva que tivemos, senão pedir que continue o belo trabalho que promove junto a juventude que lidera, lembrando a todos seus jogadores que dêem o máximo de valor à sacrificada conquista, lembrando sempre que um outro fator se sobrepõe às medalhas e troféus na fase da vida em que se encontram, o de adquirirem o máximo de técnicas individuais e coletivas possiveis, pela incessante prática dos fundamentos, que é a ferramenta mestra do jogo, e que deverá ser praticado em todas as etapas de suas vidas,  enquanto jogadores.

Parabenizo a todos, e ao Fábio em particular, por sua seriedade e profunda honestidade como professor e técnico, sempre pronto a aprender, assim como a ensinar e transmitir incondicionalmente o grande jogo.

Amém.

Foto – Equipe sub 17 do C.E.U. Jaçanã, vice campeã do INTERCEUS 2012 – São Paulo. Clique na mesma para ampliá-la.

O TIRO NO PÉ…

Meus amigos, do que adianta defender uma tese provada no campo de jogo por anos e anos, de que de dois em dois pontos podemos vencer jogos, atingir contagens elevadas, defender com mais precisão, agilizar tanto o jogo interior, como o exterior, dotar os jogadores do poder decisório em quadra, item tão temido por tantos técnicos, por aprenderem e apreenderem a arte da leitura de jogo, por sedimentarem no dia a dia dos treinos os fundamentos do jogo, ferramenta visceral para a execução dos sistemas ofensivos e defensivos, pela aprendizagem ao diálogo sobre o que treinam e jogam, entre si, e com seus técnicos, numa mútua relação de confiança, respeito e consideração, professando uma autêntica dupla armação, e uma corajosa e diferenciada ação interior através uma tripla utilização de alas pivôs, rápidos, ágeis, flexíveis, e acima de tudo plenamente participantes do jogo, e não coadjuvantes de uma interminável hemorragia de arremessos de três pontos, que tanto empobrece nossa autofágica maneira de jogar o grande jogo.

Foi o que ocorreu, pela milionésima vez no jogo com a Venezuela, quando de dois em dois pontos endurecemos um jogo perfeitamente ao nosso alcance, para numa falha sucessão de bolinhas de três, propiciarmos contra ataques venezuelanos que esticaram o placar além dos 20 pontos.

E o que dizer do jogo da Sub 18 contra os americanos, que jogaram dentro de nós, enquanto treinávamos a pontaria de fora, sem falar na brutal diferença na postura fundamental de seus jogadores, frutos de uma escola que nos negamos a praticar, trocando um tempo precioso de formação por formatações e padronizações de sistemas de jogo, numa opção equivocada e absurda.

Senhores, utilizar uma dupla armação adaptada ao sistema único é praticamente um tiro no pé, pois retira do foco da ação exterior um dos armadores, que ridiculamente vai executar bloqueios dentro do garrafão, e de encontro aos grandes pivôs, enquanto seu companheiro de armação se vira sozinho e sem balanço defensivo presente, além de somente poder contar para uma jogada incisiva com um dos alas, claramente inferiores nos fundamentos básicos de drible e passes, pela ausência do outro armador. O resultado se reporta aos passes de contorno, num crescendo inócuo e destituído de penetração aos pivôs, que por conta de uma movimentação sagital se postam de costas para a cesta, quando deveriam atacá-la de frente e em veloz movimentação, situando-se dessa forma um tempo adiante dos defensores, que é a arma mais letal para superá-los.

O que poderia dizer ou acrescentar a mais, frente a resultados tão medíocres por repetitivos, e tão solidificados por padronizações e formatações?

Nada, se frente a uma realidade imutável, solida e corporativista.

Tudo, se uma fresta, por tênue que fosse, de repente, se abrisse para algo de novo, iluminando caminhos abertos pelo diálogo, pelo trabalho conjunto daqueles que realmente conhecem e amam o grande jogo, e que comungassem princípios e conhecimentos entre jovens e veteranos técnicos e professores, no reencontro de um destino rompido e violentado pela mesmice endêmica que tem ferido de morte nossa maior riqueza, a criatividade inata de nossos jovens, enclausurada que se encontra nos limites de uma lamentável prancheta.

Mantenho uma contida esperança, de que nossa seleção olímpica possa vir a romper alguns desses grilhões, apresentando um jogo voltado ao perímetro interno, através um pleno domínio no externo, equilibrando ações voltadas ao coletivismo defensivo e ofensivo, onde arremessos de media e curta distância, mais precisos e eficientes, se sobreponham definitivamente às aventureiras bolinhas, lastreado por um sistema defensivo ousado e corajoso, base verdadeira de uma equipe de alta competição. Que assim seja, torço e espero.

Amém.

Foto-Divulgação CBB. Clique na mesma para ampliá-la.

EM TEMPO- Agora,  oficialmente na America do Sul, estamos em quarto…

DUPLA O QUE?…

Toca o telefone, e o amigo Pedro do lado de lá da linha me alerta –Paulo, até que estão inovando, pois estão jogando com dois armadores… Pera lá Pedro, substituir um ala por um armador dentro do imutável, rígido, ciclópico sistema único pode ser tudo, menos jogar em dupla armação. E para conseguí-lo, uma mudança estrutural tem de ser desencadeada na forma de se situar e ler o jogo, pois atuar em dupla exige dos armadores um completo domínio das possibilidades oferecidas por um perímetro externo amplo e desafiador, onde a visão periférica se expande no mais amplo sentido criativo, alimentando pluridirecionalmente um perímetro interno sutil, ou escancaradamente habitado por alas pivôs velozes, ágeis e em permanente movimento, ferindo a defesa em seu âmago, e não contornando-a através óbvios e inócuos passes destituídos de objetividade e precisão, culminando em arremessos apressados e desequilibrados.

Mas o pior de tudo é a constatação de que nomes, por si só, não definem uma boa seleção, a começar por uma opção técnico tática compromissada com um sistema de jogo em tudo e por tudo absolutamente equivocado. Sim, tínhamos dois armadores em quadra, um Nezinho dito de ofício, e um Benite gravitando entre equipes na busca incessante e imatura de uma posição permanentemente confrontada com sua tendência anotadora, a mesma de seu companheiro “armador”, que por conta disso desandaram nas bolinhas, no individualismo crônico, negligenciando o jogo com seus pivôs, relegando-os ao notório papel de “apanhador de sobras”.

Bem, isso tudo no plano ofensivo, porque no defensivo meu amigo, algo de muito, muito sério está grassando em nosso basquete, o mais absoluto desprezo pela ação no perímetro externo, por onde os paraguaios (meus deuses, aonde chegamos…) fizeram uma festa do arromba nas bolinhas, jamais contestadas, sequer tentadas através um simples e singelo movimento defensivo, como num trato inter pares, já sedimentado em nosso dia a dia, o de quem acertar a última, ganha.

Pedro, garanto a você, e bem sei que pensa o mesmo, de que temos melhores e mais comprometidos jogadores que lá não estão na maioria das posições, porém, inominados que são, ao gravitarem por equipes menos midiáticas, se perdem no injusto e perverso anonimato de um basquete anacrônico e desleal.

Numa coisa tenha a mais absoluta certeza, não se adquire conhecimento e sabedoria no grande jogo por osmose, como alguns pensam ao gravitarem em torno de um campeão olímpico. Tempo, estudo e experiência ainda ditam as regras do comando, da liderança, da ousadia, do livre pensar, da real e comprovada competência, enfim.

Quem sabe um dia acordaremos para a realidade do grande jogo, um dia…

Amém.

Foto – Divulgação CBB. Clique na mesma para ampliá-la.

“NOMES”…

Depois de postar uma notinha de rodapé com a final do NBB, o jornalão publica hoje uma meia página de equivoco completo, pois, seguindo a tendência colonizada e subserviente de grande parte de nossa mídia esportiva (?), teima e força a opinião de que basquete seja um jogo individual, demonstrando sua mais absoluta ignorância sobre o grande jogo, pequeno para ela.

Mas lá para dentro da matéria, o Durant coloca as coisas nos devidos lugares, quando afirma: – “Todos estão falando sobre meu duelo com LeBron, mas é Thunder contra Heart(…) Não é um jogo de um contra o outro para vencer a série. Os times é que vão decidir tudo, e vai ser divertido”.

Como vemos, o jovem jogador tem um bom senso mais evoluído do que a turminha torcedora…e ignorante da realidade do grande jogo…

Sem dúvida alguma assistiremos logo mais o inicio da mais divulgada, incensada e cultuada série de peladas monumentais, protagonizadas por excelentes jogadores, as mesmas que em hipótese alguma serão emuladas pela equipe olímpica americana sob o comando do Coach K, isto porque, se assim  jogasse em Londres, não pegaria o caneco, pois jogar uma competição FIBA, com suas regras diferenciadas da NBA quanto aos embates e violações, complicaria sua participação frente a equipes mais afeitas às mesmas, além de se comportarem como equipes, e não como palco de solistas geniais.

Sei muito bem que esse enfoque levantará imensos e contrariados comentários, e mesmo aversões, mas mantenho esse ponto de vista, bem aproximado do grande professor, comentarista e brilhante jogador Wlamir Marques, quanto a essa inegável constatação, a de que há muito, a NBA desenvolve um jogo basicamente focado no individualismo exacerbado, como ponto de sustentação de apelo popular pela busca do estrelismo, da paixão pelos ídolos e materialização iconográfica.

Por conta dessa triste realidade, aqui pela terra tupiniquim, dirigentes e, às vezes, técnicos, que se reestruturam para o NBB5, correm aberta ou veladamente na busca dos “nomes”, dos melhores e mais ranqueados “1 a 5”, para comporem suas equipes, comparando-os posicionalmente, pareando-os, como personagens de futuros embates 1 x 1, sabedores que são de que a contratação de um bom numero deles por sobre as demais equipes, provavelmente os tornarão “imbatíveis”, pelo menos em suas concepções megalomaníacas, condições estas que fazem a festa de agentes inteligentes e oportunistas, principalmente num mercado que tende a crescer junto à relativa estabilidade econômica do país.

Claro, que num país em que um sistema único de jogo prevalece de forma incontestável e esmagadora, o enfoque descrito acima se encaixa com precisão cirúrgica, já que dificilmente contestado por qualquer outro modo de se ver e jogar o grande jogo, e concretizado pelo estabelecimento da mesmice endêmica técnico tática, que se faz presente desde sempre entre nós.

Kevin Durant, singelamente põe os pingos nos is, lá, na terra do basquete, dos contratos milionários, da Xanadú que grande parte de nossa mídia e torcedores sonha em pertencer, o de como deve ser visto, sentido e jogado o basquetebol, e não aquele que professamos subservientes e colonizados da forma mais fantasiosa e irreal possível.

Enquanto isso, muitos, muitos mesmos, jogadores jovens e veteranos são esquecidos por não terem “nomes” midiáticos, mas prontos e aptos para alçarem novos sistemas de jogo que os redimam e projetem do limbo em que se encontram, pela ignorância e submissão a um sistema único, mantido por uma confraria, um corporativismo técnico tático que nos oprime, humilha e fere de morte. Aliás, ontem mesmo nossos hermanos, por mais uma vez, nos lembraram disso.

Que nossa seleção fuja um pouco, ou o suficiente, desses grilhões absurdos e ignorantes, arejando nosso jogo, nossa defesa, nosso espírito empreendedor e corajoso, como se comportou a geração do grande Wlamir, com seu coletivismo e pluralidade. Torço por isso.

Amém.

Foto – Reprodução do O Globo de 12/6/2012. Clique na mesma duas vezes para ampliá-la.

OS (UTÓPICOS) CAMINHOS DO NOVO…

O blog Território LNB publicou no passado dia 29 uma matéria bastante interessante….e enigmática, Uma seleção na final do NBB, pois em suas entrelinhas deixa em suspenso o seu ponto fulcral, ou seja, o como fazer.

Sem dúvida alguma a escolha dos jogadores que comporiam a formação em dupla armação e trinca de alas pivôs, determinaria uma fortíssima equipe base, assim como os demais componentes da mesma, cuja rotatividade a dotaria de imensas variações táticas, não fosse um único fator restritivo, o como formá-la.

Fazer e formar, ou fazer acontecer e a forma de exequibilizar um projeto tão ao largo do que existe e está implantado na realidade do nosso basquete, eis a questão.

Num cenário tão enraizado como o técnico tático do nosso basquete, com o seu imutável e monocórdio sistema único de jogo, qualquer mudança em seu âmago implicaria uma verdadeira revolução de costumes, de formas, de pensamento, de ação conjunta, e mais ainda, individual, com implicações e conseqüências verdadeiramente imprevisíveis quanto a comportamentos, jamais como fator evolutivo frente aos mesmos. Mudar custa muito, pois exige renúncia espontânea, entrega consciente, absoluta confiança nos novos valores, insistência e perseverança para alcançá-los e conquistá-los.

São exigências na busca do novo, do instigante, do ousado, do corajoso, mas acima de tudo, do incerto, porém desejado futuro.

E para tanto são exigidos novos conceitos pedagógicos, novos enfoques didáticos, nova estratégia comportamental e tática.

Claro que, a busca de novos e abrangentes caminhos, exigem lideranças, conceitualmente novas, e não adaptadas ao pré existente, ao status vigente. Por isso é que não bastam seleções de jogadores que comporão o novo posicionamento, a nova forma de atuar e jogar, sem o acompanhamento de quem os guiarão pelos novos caminhos, aqueles em que acreditam, conhecem, estudam, pesquisam e ensinam com a mais absoluta certeza do que fazem, e para onde querem ir, alcançar, conquistar, estabelecendo novos valores, novas percepções, novos e arejados tempos.

Então, podemos, enfim, definir e concluir  que não basta exercitarmos um novo conceito tático em torno de uma seleção de jogadores, se não o referendarmos com uma direção comprometida  e compromissada com o mesmo,  inserida em seus princípios reformuladores, em tudo e por tudo na contra mão do que está profundamente estabelecido no basquetebol do nosso país.

Fica então em suspenso uma última indagação:  Quais técnicos e professores poderiam estabelecer tais mudanças ao se defrontarem ante novas didáticas de ensino, pertencentes a uma específica pedagogia voltada à dupla armação e triplo jogo interno? Acredito que muito, muito poucos, excluindo-se desta ínfima comunidade o bom técnico apontado no artigo para orientar a hipotética seleção, por não professar, aplicar ou ensinar em tempo algum o sistema proposto, provavelmente por não acreditar no mesmo, direito inalienável seu.

Amém.

Foto – Divulgação LNB. Clique na mesma para ampliá-la.

QUANDO AS PERNAS FALHAM (OU NUNCA FUNCIONARAM)…

– “É jogo para pouca tática e muita disposição”, afirma o jogador Helio do Flamengo antes do jogo.

– “O jogo se ganha com o coração, na vontade, e às vezes a estratégia fica de lado”, declara o jogador Fúlvio no intervalo do jogo.

Com um cenário desse, o que esperar taticamente de um jogo tão importante?

E não deu outra, que como num cartão de visitas, deu-se uma bolinha de três por parte do Fisher, seguida de outra do Marcelo, inaugurando um jogo fundamentado nas afirmações dos jogadores acima, e continuado até o quarto final, quando a equipe carioca, em vez de voltar ao jogo interior, para de 2 em 2 pontos retomar a partida, preferiu as “bolinhas de 5 pontos”, como se a hipotética e sonhadora existência delas fosse real. Somemos a esse panorama uma constatação avassaladora, não mais a incapacidade técnica e fundamental de defesa, individual e coletiva, mal de que padecem muitos e muitos jogadores e equipes brasileiras,  aumentada pelos muitos anos percorridos de estrada por alguns deles. Querer, e em alguns casos saber defender, difere frontalmente do poder, física e tecnicamente, defender. A capacidade de se postar fisicamente no ato de defender, onde a mobilidade dos membros inferiores têm de ser levada a extremos, somada a uma aguçada percepção de tempo e espaço, não são qualidades que dispensem condicionamentos físicos e mentais ordenados,  extremamente treinados e afiados.

Pagamos demais para ver o que acontece, principalmente quanto aos arremessos de fora do perímetro, como numa aposta inter pares de quem acerta mais e erra menos, como num desafio permissivo em ambos os contendores, atitude esta somente factível quando jogam de forma igual ou semelhante, onde as oportunidades se dividem igualmente, e que seria diferente na forma e nos resultados se algo inovador, insólito, corajoso e realmente diferente, fosse colocado neste carrossel girando sempre na mesma direção, com as mesmas luzes, a mesma e monocórdia melodia, o mesmo e medíocre destino, o girar indefinidamente sobre si mesmo.

Tímida e receosamente, algumas de nossas equipes tentam a dupla armação, que seria uma valida tentativa de incrementar o jogo interior com mais e precisas técnicas, num acréscimo de qualidade fundamental e de inteligentes ações táticas, e por que não estratégicas, já que profundas mudanças seriam incrementadas, fugindo celeremente da mesmice técnico tática que tem nos escravizado a longo e longo tempo.

A equipe de São José, errou muito menos, marcou melhor, principalmente no perímetro interno, onde contou com rebotes de qualidade com o Murilo e o Chico, e contra ataque superior, onde o Fúlvio e Laws brilharam intensamente, e com uma ressalva de peso, pois arremessaram 27/42 de dois pontos, e admissíveis 10/16 de três, contra 26/49 e 7/23 respectivamente por parte dos cariocas.

No próximo sábado poderemos atestar algumas evoluções importantes para o basquete brasileiro, quando duas das equipes que se notabilizaram por suas artilharias de fora do perímetro, se enfrentarão numa final. Caso São José volte a optar pelo seu poderoso e eficiente jogo interno e nos contra ataques, frente a uma equipe que marca inconsistentemente, mas ataca com sofreguidão a partir do perímetro externo, e que penetra com assiduidade e precisão, reforçando e posicionando sua defesa, terá boas chances de vitória, mas que para tanto precisará proteger das faltas seu farol de referência, o Murilo, pois será por aí que Brasília, com seu mais do que experiente plantel, apostará suas fichas, num jogo com táticas previsíveis e tradicionais. Vence aquele que quebrar tal evidência. Quem viver verá.

Amém.

Foto – Divulgação LNB. Clique na mesma para ampliá-la.

O REINADO DAS “BOLINHAS” V…

Não me contive e resolvi assistir o jogo ao vivo no Tijuca, mas podendo também assistir o jogo de Brasília pela TV. Combinei ir para o apartamento da minha filha, que fica praticamente ao lado do ginásio tijucano, e seguir para o segundo jogo, mesmo sabendo que a entrada seria difícil por ser um ginásio pequeno para uma imensa torcida. Temendo não conseguir entrar, não assisti as prorrogações em Brasília, tirando de mim a possibilidade de fazer um comentário isento e o mais preciso possível.

No entanto, algo me chamou a atenção no jogo do planalto central, talvez motivado pela ausência do Shamell, mas que mudou completamente a forma de jogar do Pinheiros, uma dupla, participativa e altamente eficiente armação, sabendo jogar com seus pivôs, principalmente o Fiorotto, forma impossível de ser desenvolvida com a presença centralizadora e pontuadora do lesionado e ausente jogador. Figueroa e o Paulo encheram os olhos de quem os viu jogar, numa inter ajuda permanente e instigante, demonstrando sim, que dois armadores de ofício podem, e deveriam sempre jogar juntos, ampliando as opções do jogo interno, ajudando-se mutuamente ante defesas pressionadas, e acima de tudo, garantindo qualidade nos passes, nos dribles, nas fintas, na defesa e pontuando complementarmente, e não prioritariamente, como sempre agiu o ausente Shamell, um pseudo ala com qualidades que o poderiam firmar  como um armador de superior qualidade na liga.

Por conta desse posicionamento, e enfrentando uma equipe muito forte em sua volúpia pontuadora, mas falhando na defesa interna, os paulistas levaram o jogo em perfeito equilíbrio até, acredito, ao final eletrizante e atípico para seus padrões até agora, ao qual não pude testemunhar, pois tive de me deslocar rapidamente para não perder o jogo que definiria a outra vaga na final do NBB4.

Por sorte consegui um lugar atrás de uma das cestas, para ao lado do meu filho assistir uma batalha e tanto. E de saída uma surpreendente similitude com o modo de atuar do Pinheiros em Brasília, uma autêntica dupla armação liderada pelo Helio e um mais surpreendente ainda Marcelo, numa função onde não possui muita qualificação, mas onde atuou com bastante enfoque no jogo interior, servindo os pivôs com passes precisos e de qualidade, e pontuando de media distância com eficiência.

Mas aos poucos, o pivô Caio começou a pagar caro por sua lesão no tornozelo, assim como se ressentia de uma forma física adequada a uma competição tão exigente, e praticamente parou em campo. Foi o suficiente para a equipe paulista encostar no placar, desgastando sobremaneira o excelente Kammerichs, brigando sozinho na taboa carioca.

Mas foram nos quartos finais que algo a muito esperado concorreu para a superioridade dos rubros negros, a eficiente participação do ágil e veloz pivô Hayes, que em dupla com o Kammerichs e mais adiante com o Teichmann dominaram os rebotes, concluíram com sucesso, e com precisos passes de dentro para fora permitiram arremessos de seus companheiros mais equilibrados e precisos. A equipe do Pinheiros somente pode contar com um sobrecarregado Murilo na briga dos rebotes, já que o outro bom jogador nesse fundamento, o Chico, abria muito para arremessos de três pontos, esquecendo que de dois em dois pontos poderiam, ele e sua equipe, se aproximarem e até virarem o placar a seu favor. Mas a volúpia e sangria dos três pontos estando enraizadas profundamente na realidade do nosso basquete anulam uma evolução técnico tática que se faz tardia para o grande jogo tupiniquim.

Foram dois jogos com alguns números assustadores, que nem as desculpas de que se tratavam de partidas nervosas e decisivas, retiram das mesmas uma brutal carga de preocupações, principalmente no quanto destas influências irão desaguar na seleção olímpica, com sua proposta de um basquete mais solidário, eficiente e preciso.

Foram 53 erros de fundamentos (24 no Rio e 29 em Brasília), e espantosos 95 arremessos de três (41 e 54 respectivamente), num desperdício absurdo de esforço por parte de jogadores que ainda não compreenderam (ou mesmo não saibam) o quanto comprometem a qualidade do jogo, em tentativas despidas de um mínimo de controle técnico e objetividade tática.

Precisamos reaprender a jogar em dupla armação, para que dominemos o perímetro externo em toda a sua extensão, assim como voltarmos a valorizar o jogo interno, através jogadores altos, velozes e flexíveis, abandonando de vez os pesados e lentos cincões  de um oficio que, mesmo as grandes seleções mundiais estão aposentando, pois com velocidade, flexibilidade e apuro nos fundamentos, quem sabe, nos tornemos também eficientes defensores, contestadores de dentro e fora do perímetro, decretando a urgente diminuição desta maldita hemorragia que nos desgasta e expõe frente ao trágico reinado das bolinhas.

Hoje teremos definidos os finalistas, e estou torcendo, timidamente, que as duplas armações retornem em grande, e que nossos bons pivôs sejam municiados permanentemente, tornando o jogo mais técnico e menos comprometido com erros inconcebíveis. Vamos a eles.

Amém.

Foto – PM. Clique na mesma para ampliá-la.

O REINADO DAS “BOLINHAS” IV…

24seg  para o término do jogo, Brasília vencendo por 3 pontos, bola de posse do Pinheiros, que parte para o ataque com seu armador Figueroa, que até aquele momento havia arremessado 1/4 bolinhas de três, e que executa uma outra com 4seg de ataque, errando frente a uma forte contestação, quando poderia, como armador que é, ter trabalhado a bola um pouco mais, a fim de liberar um seu companheiro melhor colocado, e que por essa precipitação, deu a vitoria aos candangos.

No entanto, como conceituar uma partida decisiva de playoff com 55 arremessos de três pontos, sendo que a equipe paulista cometeu um inacreditável 11/32 de três, e um 13/28 de dois, optando por um jogo externo com a mais absoluta incompetência convergente? Simplesmente inaceitável.

A equipe candanga, que desta vez resolveu jogar, apertou a defesa interna, e um pouco também a externa, suficiente para elevar o nível de imprecisão das bolinhas paulistas, e levou para Brasília a condição impar de poder fechar a série na próxima sexta feira.

Mas o espetáculo não poderia estar completo sem mais uma feérica participação da arbitragem antenada, que, fugindo de uma atribuição administrativa que deveria ter sido tomada muito antes do inicio da partida, retardou-a para que os nomes das equipes constassem do placar, pois os tradicionais “Local” e “Visitante” não poderiam lá estar. Depois, durante todo o transcurso do jogo travou diálogos didáticos com o jogadores, como se tratassem de infantos ou juvenis, e não experientes e calejados participantes, inclusive de seleções nacionais, tendo inclusive, marcado uma reversão de posse de bola pela inobservância do limite de 8seg  para a transposição da defesa para o ataque pela equipe de Brasília, e num momento chave do jogo, mas em momento algum interferiu nos 9seg em média de todos os lances livres executados pelo Alex. Infelizmente nossa arbitragem está se transformando num espetáculo de lastimável mau gosto, retirando em muito a seriedade de uma função de pouco papo e ação pura na aplicação das regras do jogo. Não bastassem as exibições espalhafatosas de muitos técnicos, temos agora a presença verborragicamente didáticas nas arbitragens.

Mas, legal mesmo foi a entrevista inicial do técnico de Brasília ao ser perguntado do porque o pivô Alírio sairia no quinteto titular. “Como a defesa do Pinheiros poderia repetir com sucesso o fechamento do garrafão aos seus pivôs, o Alírio, que também é bom de três pontos, tentaria com seus arremessos “abrir” a defesa dos paulistas”. Sim, sua equipe perpetrou um 8/23 arremessos de três, mas frente aos 11/32 de seus oponentes venceu o jogo por dois pontos, que poderiam ter sido muito mais se seus pivôs jogassem como devem jogar os pivôs, lá dentro, e não aqui fora fazendo o que não sabem, ou melhor, pensando que sabem.

Enfim, de hemorragia em hemorragia de três, lá vai a barca de resultados singrando um basquete equivocado e absolutamente pobre. O Magnano que lá estava deve, por mais uma vez, colocar sua barba rala de molho, pois as feras das bolinhas já já estarão em suas mãos, que não são de um mago ou mágico, mas de um técnico com a função ingrata de domá-las e educá-las para executarem um basquete, pelo menos aceitável , solidário, e acima de tudo responsável. Torçamos para que consiga.

Amém.

Foto – Divulgação LNB. Clique na mesma para ampliá-la.

OBVIEDADES…

Vai prosseguindo o NBB4 e seus playoffs, onde pudemos ver pela TV três jogos, dois do Flamengo com São José, e um do Pinheiros com Brasília, e pela primeira vez aqui no blog me recuso a comentá-los como sempre fiz, pois o que testemunhamos não merece maiores análises técnico táticas, e muito menos estatísticas.

Mas Paulo, pelo menos o segundo jogo do Flamengo foi empolgante, com um São José arrancando uma vitória na prorrogação, e isso não conta? Claro que conta, e o efeito de tal vitória se estendeu ao terceiro jogo de forma contundente.

Então o que faltou acontecer para que um comentário mais abrangente pudesse ser feito? Vejamos:

– No segundo jogo da serie, o Flamengo que iniciou com uma excelente opção de jogo interior, comandou a partida, que teria tudo para ser facilitada, dada a inconsistência defensiva do Pinheiros ante um jogo próximo à sua cesta eficiente e objetivo, além de se defrontar com uma defesa disposta às contestações fora do perímetro, ponto fortíssimo dos paulistas. De repente, numa prevista recaída a partir do terceiro quarto, os cariocas voltaram ao seu jogo tradicional, e deu no que deu.

– No terceiro jogo, inicio carioca com o jogo interior, mas com um Caio visivelmente lesionado, sendo repetidamente substituído por um oscilante Vagner, e tendo um Kammerichs se desgastando progressivamente, sem que os outros dois bons pivôs da equipe, o Teichmann e o Átila fossem acionados na rotação. Resultado? Voltaram ao jogo tradicional centrado no Marcelo, dando a grande brecha por onde os paulistas penetraram com competência, virando a série em 2 x 1. Até agora não consegui entender o não acionamento de todos os pivôs da equipe carioca, ainda mais num momento decisivo do campeonato, assim como a quebra de um sistema que provava ser  eficiente, pela teimosia de alguns jogadores voltados às suas performances, e não as da equipe  num todo. Os resultados ai estão.

– No segundo jogo entre Pinheiros e Brasília, a equipe candanga, por ter perdido o vôo, não apareceu para jogar. Espero que no terceiro apareça, afinal, trata-se de um playoff, e a mesma tem um título a defender.

Espero poder contar um pouco mais na próxima rodada, por que estas duas somente refletiram a mesmice endêmica que teimosa e persistentemente nos assola desde sempre. Fortes emoções, prorrogações, ginásios transbordantes, velam sutilmente a dura verdade do nosso momento técnico tático, no umbral de uma decisiva competição olímpica. Temos de evoluir.

Amém.

Foto – Divulgação GloboEsporte