SISTEMAS III- Treinando fundamentos II

Nesse terceiro artigo da série Sistemas, abordaremos a parte dois do Treinando Fundamentos. São princípios básicos e fundamentais no ensino do basquetebol, e que devem sempre ser praticados por todos os jogadores, independentemente de categorias e faixas etárias, como num ritual no qual as repetições embasarão a todos no domínio dos princípios do grande jogo. Treinar sistematicamente os fundamentos é a chave dos grandes jogadores.

TOCOS DE ARO…LAMENTÁVEL.

É difícil explicar, e muito mais difícil tentar entender como uma equipe consegue levar a um ginásio 24000 pessoas já estando classificada com folgas, e numa semifinal se apresenta para uma platéia de menos de mil, e na mesma cidade, a capital do país. Falta de publicidade? Fenômeno passageiro, ou simplesmente um fato inexplicável? Não arrisco palpites, mas que é estranho, isto é.

Mas vamos ao jogo, o primeiro de uma melhor de cinco contra a equipe de Minas Gerais. Foi o encontro de uma nova concepção iniciada pela equipe de Franca, com seus dois armadores, e muitas vezes três na quadra, se antepondo a uma equipe, que dentro da lógica de seu técnico, um dos integrantes da comissão técnica da seleção nacional, se utilizava de um único armador, dois alas naturais, e dois pivôs com pouca mobilidade junto à cesta, se comportando coerentemente com os critérios adotados na seleção. E foi um passeio dado pela equipe brasiliense, timidamente contestado no quarto final, quando, rendendo-se à cristalina evidência da impossibilidade de anular jogadores mais hábeis e velozes que seus alas, o técnico mineiro escalou mais um armador na tentativa, tardia aliás, de contrabalançar tanta desvantagem. Mantendo a lealdade, e até acredito, a convicção de que o sistema utilizado é o que existe de melhor para o nosso basquetebol, viu ruir ante seu pétreo olhar, o grupo que dirige. A equipe de Brasília, acompanhando a tendência inaugurada por Franca, em nenhum momento alterou seu sistema de ataque, mas agilizou-o na utilização de dois, e até três armadores, dois deles com boa estatura, substituindo alas de menor capacitação técnica no domínio dos fundamentos do jogo. Essa tendência, muito bem vinda, qualificou seu jogo, dando ao mesmo condições que não puderam ser anuladas por seu adversário.

Mas nem tudo foram flores, a partir do momento que um dos armadores, um dos dois que foram convocados para o Pan, resolveu incrementar o espetáculo com duas cravadas deslumbrantes, só que ambas foram bloqueadas, por quem? Isso mesmo, pelo aro da cesta, numa situação comprometedora para quem foi escalado para liderar nossa seleção nacional, e sem contar com as inúmeras tentativas de arremessos de três pontos como finalizações de contra-ataques, atitudes imperdoáveis a um armador responsável pela equipe que lidera. Mas isso é outra conversa.

Devemos, no entanto, ponderar que o simples fato da utilização de dois armadores não nos dará, por muito tempo, condições técnicas que nos aproximem das equipes internacionais, se não qualificarmos com certa urgência nossos alas, incentivando-os no árduo treinamento dos fundamentos, principalmente os de drible, fintas e passes, desde as categorias de formação, e mesmo aqueles já formados, e por que não, os de seleção nacional, por mais veteranos que sejam. Nossos técnicos devem baixar de seus púlpitos pranchetados, e se situarem ante a maior de todas as evidências, a que nossos jogadores necessitam muito e muito mais de fundamentos, do que esquemas coreográficos, por não terem estrutura e conhecimentos para desenvolvê-los. O grande problema é sabermos se os técnicos dominam a arte de ensinar fundamentos e as didáticas para exeqüibilizá-los. A maioria ainda tenta se convencer que sistemas ganham jogos, quando na verdade, são as técnicas individuais as responsáveis pelas vitórias. Sistemas são apenas complementos, e até suplementos dentro da realidade do grande jogo, pois sem o conhecimento profundo dos fundamentos todos eles pouco representam para uma equipe bem treinada.

Esperemos os outros jogos da série, na esperança sempre renovada de que boas novas ainda poderão retirar o nosso basquete do limbo em que se encontra. Espero que sim. Amém.

IN VINO VERITAS

Para entrar no clima, fui até a cozinha e coloquei no microondas um desses saquinhos de milho para pipocas. E ele cresceu e entornou de uma tigela gigante, acompanhada de uma lata de coca-cola, isso mesmo,a seiva sagrada de todo americano que se preza. Atenuei a luz da sala e me coloquei em frente da telona para assistir, endeusar e degustar, junto às pipocas é claro, o maior espetáculo da terra, aquele que desencadeia na maioria de nossos sites um caudal de delirantes comentários, detalhadas pesquisas e discussões apaixonadas, culminadas com opiniões e sugestões aos técnicos… de lá, pois os daqui, pobres coitados, não têm o cacife promocional e financeiro necessário para pertencer a tão seleto e sagrado clube. Laudas e laudas são gastas nesse oráculo colonial a que somos submetidos por uma jovem geração de bons, porém descompromissados colunistas, antenados e escravizados pela cornuópica e devastadora NBA.

E vamos ao jogo, mas que jogo? Tento entender os porquês de tantas e acrobáticas penetrações, principalmente por parte do Parker, do Ginóbili e do “menino” Lebron. Com os olhos aguçados e treinados por mais de 40 anos de quadra, observo quão falaciosas são as coberturas a que são submetidos aqueles cracaços em suas fulminantes arrancadas. Nunca em tempo algum um jogo coletivo ofereceu tantas atenuantes defensivas no intuito de facilitar e promover o espetáculo. Chegam às raias do ridículo as tímidas tentativas de quadris para tentarem as mudanças de direção do atacante que penetra, onde as leis que regem as flutuações somente os

beneficiam , existindo, inclusive uma área dentro do garrafão em que os defensores não podem permanecer por mais de 3 segundos. Mas na hora dos tocos, aí sim, o pau canta, para delírio da turba ensandecida. Engraçado, nos torneios internacionais esses mesmos jogadores jamais repetiram tais jogadas, e porque ? Porque o principio do puro 1 x 1, o que propicia o espetáculo circense bate de frente com a também pura realidade da defesa coletiva, assim como o bloqueio físico próximo à cesta encontra nas regras da FIBA um conceito de contato muito diferente do adotado pela NBA. Mesmo assim, uma equipe, como os Spurs, se sobrepõe à do Cavs por um simples e decisivo diferencial, tem mais artistas, mais experientes, mais rodados, e por isso mesmo mais de acordo com o modelo de basquete que praticam. Sim, outro basquete, com outras regras, outros princípios, outros interesses, basicamente o maior e mais esmagador de todos, o financeiro.

É estarrecedor constatarmos ali, nas imagens que invadem a sala, a quantidade de pífios jogadores que, num entendimento com um mínimo de coerência, não fazem jus aos montes de dólares que ganham. E o pior, arrastando para sua órbita o que de melhor o mundo tem produzido para o basquetebol, obrigando-os à pratica de um jogo que não sabem desenvolver, após aprenderem e se notabilizarem em um outro bem diferente. Mas o peso dos muitos dólares mudam, não só as cabeças, como as silhuetas atléticas e bem equilibradas, substituindo-as por uma massa disforme e criminosamente inchada, cujas constatações correm o mundo em milhares de fotos e vídeos reveladores. Muitas seleções nacionais têm sido desfalcadas pela ameaça dos anti-dopings nos campeonatos internacionais, pratica tolerada, e por isso praticada amiúde nas equipes profissionais dos irmãos do norte. Não é atoa que as comissões que combatem tais praticas no senado americano rapidamente se aproximam da NBA, como já o fizeram na NFL e nas ligas de beisebol.

E o jogo, quilométrico se arrasta madrugada à dentro, previsível e de gosto mais do que duvidoso. Vence o mais rodado, o mais acostumado às oscilações de uma liga que se insinua pelo mundo como a deificação do grande jogo, como se o mesmo encontrasse nela seu principio, seu meio, seu fim.

Mas o que acabou mesmo foi a pipoca, companheira dos teimosos cochilos que me assaltaram, como uma providencial fuga de um engodo que me nego energicamente a aceitar, pois professo outro tipo de competição, com regras definidas e aceitas em todo mundo, exceto, lá. Mas algo de bom ocorreu, no esquecimento da lata de coca-cola, substituída alegremente por uma pequenininha taça de vinho tinto, do vale do São Francisco, que degustei com comedido prazer, salvando uma noite que parecia irremediavelmente perdida. Amém.

PRECISAMOS TANTO…

Foi um duelo sem muitos atrativos, por ser desigual. De um lado a equipe do Flamengo atuando no mais puro e indestrutível sistema de um armador, dois alas lançadores e dois pivôs de pouca mobilidade e sempre situados do lado da bola. No outro, a equipe de Franca, com um desenho tático semelhante ao da equipe rubro-negra, mas atuando com três armadores nas posições fora do perímetro e dois pivôs em permanente movimentação dentro do mesmo, exceto em alguns momentos do pivô Estevan, que numa noite pouco produtiva teimava nos embates 1 x 1, deixando o restante da equipe em compasso de espera, quebrando sua principal característica, a movimentação frenética nos passes, nas fintas e nas penetrações. Nesses momentos, a equipe da casa conseguia se aproximar no placar, mas não o suficiente para uma virada decisiva. Como em todas as suas partidas após a ciranda sul-americana e do campeonato paulista, deslanchou no quarto final, quando manteve em quadra sua formação básica, aquela descrita no inicio desse artigo. Em determinado momento desse quarto decisivo, o comentarista do SPORTV mencionou o fato do técnico do Flamengo não ter colocado em quadra mais um armador para ajudar o excelente Fred, tanto na armação como na defesa, contrabalançando os dois armadores de Franca. Acontece que ele teria de lançar dois, já que Franca contava com três em quadra. Nossos comentaristas ainda teimam em considerar uma temeridade jogar com dois armadores, presos que estão ao modelo estratificado entre nós e que se tem mantido, inclusive, sob os auspícios e aprovações dos mesmos. O técnico de Franca não inovou esse enraizado sistema de jogo, basta se constatar sua armação em quadra, mas sim, dinamizou-o com a utilização de jogadores mais aptos nos fundamentos, seus habilidosos armadores, mantendo somente um ala, o veterano Rogério que muito melhorou suas prestações nos fundamentos, mas que ainda muito poderia melhorá-los. As demais equipes, ainda se apegam aos alas tradicionais, bons arremessadores, mas incapazes de se rivalizarem nos passes, dribles e fintas com a ótima safra de armadores que se desenvolvem entre nós. No momento que forem preparados convenientemente nos fundamentos, teremos boas probabilidades de nos soerguermos no plano internacional.

Quanto aos pivôs, na medida em que mudemos nossa forma de jogar, privilegiando a velocidade nos deslocamentos junto à cesta, num rodízio que desloque permanentemente os defensores, propiciando recepções de passes em movimento, ações estas que só poderiam ser exercidas por jogadores ágeis e atléticos, antíteses das massas lentas e disformes que alguns ainda teimam em utilizar, poderemos afirmar que estaremos no limiar de uma nova e vencedora fase do nosso basquetebol. Até lá, teremos de nos contentar com a mediocridade reinante, mas torcendo que nossos técnicos se rebelem do ferrolho a que estão presos, e comecem, como o técnico de Franca a ensaiarem novas concepções de jogo, mesmo que sejam, inicialmente, adaptações do que vêm professando nos últimos vinte anos. Inteligentemente ele declara que para cada jogo estuda e desenvolve uma estratégia condizente ao adversário que irá enfrentar, mas na hora do vamos ver, geralmente no quarto final, são seus três armadores que definem as partidas, fator que por si só já estabelece uma auspiciosa e evolutiva posição ante o marasmo, a mesmice e a chatice que nos tem esmagado em todos os planos.

Precisamos estudar, trabalhar duro, pesquisar, para fazer evoluir o grande jogo entre nós, afinal de contas temos de nos preparar para Londres 2012. Oxalá consigamos. Amém.

MELHOR?

DATA-FRASE:

“Você tem que se cercar de gente melhor que você, porque assim você será melhor que eles”.

Ary Vidal

Assim se inicia a última postagem do excelente site Databasket, com uma frase profundamente controvertida de um técnico que marcou época no nosso basquetebol, sendo inclusive um dos mais laureados. Sua colocação nos leva de imediato a três possíveis indagações: Cercando-se politicamente, tecnicamente ou intelectualmente?

Politicamente é o que vemos hoje em dia, não só no esporte, mas nas atividades em geral. Vivemos a era do QI, do quem indica, na qual os valores por mérito atingiram os mais baixos índices de que se tem notícia em nossa sociedade. Estudar, pesquisar, trabalhar duro de sol a sol, tem muito menor importância do que se cercar de influências e próceres políticos, muito mais interessados em auferirem lucros, de preferência de fundos públicos, do que se dedicarem a causas de somenos importância, como por exemplo, educação. Ao nos cercar de pessoas com melhores influências e conhecimentos políticos, ultrapassaremos os mesmos nos seus nichos profundamente enraizados?

Tecnicamente, como num processo osmótico têm-se a impressão de que o simples fato de cercar-nos aos nossos pares, nos seriam transferidos conhecimentos, experiências, vivências, estudos e pesquisas, tão dolorosas quanto o largo, inescrutável e distante horizonte que nos separam de seus nem sempre ansiados resultados. Seria como se adquiríssemos tais e tantos conhecimentos pelo simples fato de nos cercarmos de quem sabe e os dominam mais do que nós. Mas a que ponto tal ação nos dotaria de tanto saber? Por imitação, ou pela aplicação pura e simples de tais conhecimentos sem maiores e cansativas elucubrações?

Intelectualmente, ao nos cercarmos de pessoas mais preparadas, não necessariamente melhores do que nós, e nos ombrearmos com as mesmas pelos valores culturais, educacionais, filosóficos, existenciais e até científicos, teremos como meta os ultrapassar, ou somarmos aos seus esforços para a melhoria e o engrandecimento da sociedade em que todos nós vivenciamos nossa falibilidade humana? Qual a importância de se mostrar melhor do que todos, o que é uma quimera, quando seus esforços somados aos demais poderiam atingir patamares realmente importantes?

Creio, honestamente que o importante técnico poderia mudar algumas palavras, conotando-as à uma premente necessidade que os nossos jovens precisam adquirir em suas caminhadas para um futuro pouco promissor, porém repleto de esperanças e desejos. A necessidade de se cercarem de pessoas mais cultas do que eles, para juntos, num processo evolutivo, atingirem a excelência, fator básico no progresso de qualquer nação que se considere séria.

Sugiro então uma frase: “Você deve se cercar de pessoas mais cultas, a fim de que juntos todos possam evoluir”.

Amém.

POR QUE NÃO?

As equipes americanas resolveram prestigiar os Jogos Pan-americanos, enviando formações universitárias, que na maioria das vezes não se dão bem quando em confronto com equipes filiadas à FIBA. Mas num confronto com seleções centro e sul-americanas e mais o Canadá , poderão vivenciar um brilhareco oportuno, pois as mais representativas se apresentarão com suas equipes secundárias. Com tais e mais do que previstas participações, o grande e majestoso ginásio não será palco de um verdadeiro e representativo campeonato, e sim um “quebra-galho” de alguns milhões de dólares, que não representam nada para um país rico e poderoso como o nosso, repleto de excelentes escolas e com um povo, que de tão alfabetizado, se permite comandar por um governo que prestigia e desenvolve a cultura, a educação, os esportes, e mantem professores e técnicos num patamar social invejável, à altura de suas importâncias estratégicas. Logo, nada demais em aplaudir as empreiteiras, os especialistas estrangeiros, os profissionais do esporte tupiniquim, os políticos e agregados, todos dentro do espírito voluntário de bem servir o país, não importando os lucros advindos de tanto sacrifício em nome da pátria. Detalhes sem maiores importâncias, como a implantação de transportes de massa, canalização e saneamento das lagoas circundantes do centro nevrálgico dos Jogos, segurança nas grandes vias de acesso ao mesmo, vendas de ingressos democratizadas, representam valores ínfimos ante a desejada e aguardada publicidade internacional de nossa capacidade organizativa, que temo não ser tão competente como apregoam. Vamos ver se o nosso famoso “jeitinho” se coaduna com o gigantismo da empreitada.

E os americanos selecionaram seus jogadores, e a equipe feminina, seguindo uma tradição de representar o nicho onde se encontra a melhor escola de fundamentos do jogo, fato recentemente reconhecido pelo mais destacado técnico universitário de todos os tempos, John Wooden, apresentou uma relação de convocadas, que por si só é uma lição de evolução e comprometimento para o futuro, num momento em que seu basquetebol luta em busca de um soerguimento internacional, haja visto os sucessivos fracassos nas competições mundiais. É uma relação composta de seis armadoras, uma ala-armadora, quatro alas, uma ala-pivô e uma só pivô. A seleção masculina deverá apresentar uma convocação semelhante, pois os princípios evolutivos são os mesmos, velocidade, mobilidade de todos os jogadores e composição física que não entrave tais atributos, bem próximo da maioria das equipes européias.

Mas por aqui, a terra da mesmice implantada e defendida por um grupelho que implantou uma “filosofia de trabalho” baseada no que de pior a NBA nos legou, no máximo dois armadores são convocados, ao lado de uma enchurrada de pivôs de força e alas com domínio pífio dos fundamentos, mas todos compromissados com as coreografias pranchetadas e empurradas goela abaixo de jogadores criminosamente afastados da criatividade e livre iniciativa, fatores que estão muito além da compreensão das doutas comissões e suas arrogantes “filosofias”.

Por tudo isso, seria de bom alvitre começarmos a pensar e a agir tendo como meta Londres 2012, senão 2016 ainda será inalcançável.

Por onde começar? Do zero, numa semibreve de alto tom, nas mãos de quem realmente entenda o grande jogo, de quem realmente enxergue o futuro. Como fazê-lo? Bem sabem, como sabemos, todos aqueles que vivenciaram e vivenciam o basquete brasileiro, mas que num torpor generalizado se omitem ante a realidade de que algo precisa ser feito, com urgência, com destemor e com amor. Muitos que hoje ocupam grandes postos na vida pública brasileira, tiveram no basquetebol uma grande e poderosa escola de seu desenvolvimento, mas que num esquecimento injustificável viram as costas ao mesmo, lançando-o num limbo inescrutável e inexplicável, fruto da ingratidão de muitos, que em suas posições poderiam ajudá-lo a se soerguer. As associações de veteranos espalhadas pelo país estão repletas de homens e mulheres gabaritados e bem sucedidos em suas vidas, repletos de experiências técnicas e administrativas, quiçá políticas, num quadro de importância vital a qualquer processo de revitalização para o basquete que tanto amam. Que tal se moverem nessa cruzada, liderando os mais jovens, mostrando aos mesmos o caminho das pedras que tanto e com maestria souberam trilhar? Por que não? O que esperam? Por que não? Amém.

PS-Um homem que muito amou o jogo e que tentou ajudá-lo se candidatando à Federação do Rio de Janeiro, tendo sido um excelente praticante, nos deixou sete dias atrás. Marvio Ludolf vai fazer falta, muita falta, e daqui dessa humilde trincheira peço aos deuses que o recebam com toda a pompa de que se fez merecedor em toda sua vida. Saudades.

SISTEMAS II – TREINANDO OS FUNDAMENTOS.

Dando prosseguimento à série Sistemas, apresento o segundo capítulo da mesma. Espero que o estudem, comentem e que o desenvolvam na medida do possível, pois é uma preciosa ferramenta de trabalho, e que conta com a simpatia e aceitação da maioria dos jogadores, dos infantís aos mais graduados, já que a imensa possibilidade de evoluirem na prática dos fundamentos não têm limite. Para os técnicos e professores, a oportunidade de exercerem uma constante correção dos fundamentos, torna esse sistema de enorme valia no dia a dia de suas profissões. Espero que gostem.
PS- Existe a possibilidade de aumentar as imagens com a utilização do mouse sobre as mesmas.

APLAUSOS AO BIS.

“É um grupo que não foi formado agora, vem sendo convocado a algumas temporadas, formando uma base bem sólida dentro da filosofia de trabalho da Comissão Técnica. Temos grandes jogadores que vestem com orgulho a camisa do Brasil e estão dispostos a representar muito bem o nosso país nos Jogos Pan-Americanos do Rio de janeiro e no Pré-Olímpico”.

“O Pan será muito importante para o Marcelinho. Ele é o único que pode ser tricampeão e ainda vai estar jogando em casa”.

“O Pan-Americano vai servir como preparação para o Pré-Olímpico, mas é claro que é uma preparação que tem uma importância muito grande”.

“O João Paulo está sendo observado há algum tempo e é um jogador muito forte, que pode ser um pivô de força, algo que todo time precisa”.

“O Paulão, por exemplo, é um jogador juvenil, mas que já treinou com o grupo. O Rafael jogou uma Copa América e o Caio foi até o Mundial”.

São declarações do técnico da seleção brasileira junto à imprensa logo após apresentar a lista de convocação para as duas competições. Na mesma, somente dois jogadores são armadores puros, sendo que os demais poderão ser adaptados como alas-armadores, assim como a maioria dos pivôs relacionados são da categoria “pivôs de força”, e não pivôs velozes e ágeis.

Conclusões- Teremos de volta a “filosofia” de uma comissão técnica derrotada e pior, prontinha para repetir os erros incomensuráveis de um passado bem recente. À começar pela manutenção dos cardeais, aqueles jogadores donos de posições indisputadas e porta-vozes de uma ética peculiar denominada “grupo fechado”, a tal base sólida mencionada pelo técnico chefe.

Em conformidade com a “filosofia” implantada e marmorizada, atuaremos com um só armador, treinado na arte dos sinais, emanados das coreografias mais do que manjadas do repertório técnico-tático repetitivo e de amplo conhecimento da mais simplória equipe que enfrentaremos, todas magistralmente desenhadas numa folclórica prancheta de triste e permanente presença. E no caso desesperado de atuarmos com dois armadores, testemunharemos adaptações sempre prontas a tropeçarem e atropelarem a bola no afã de exercerem sobre a mesma uma técnica que simplesmente desconhecem.

Entrementes, sequer foram relacionados, ao menos para um treinamento preliminar, um grupo de armadores que vêm apresentando excelentes performances em suas equipes, tais como o Fulvio, o Matheus, o Fred e até mesmo o veterano Helio, que na companhia de outro veterano, o ala Rogério, se encontram numa forma técnica apreciável. Mas claro, todos afinados com uma forma diferenciada de atuar contrastante com a retrograda “filosofia” da douta comissão.

Fica patenteada a continuidade da utilização de pivôs de força, situação antagônica às nossas tradições de velocidade e destreza, para as quais nossa biotipologia é tão bem direcionada, mas que não encontra eco no seio dos donos da verdade basquetebolística, sendo que alguns dos que integrarão a delegação final sequer entrarão em quadra, a exemplo do ocorrido no mundial passado. A atração exercida pela presença de massas físicas nos bate-bolas de apresentação, representam, como fetiches, uma atração incontrolada nessa comissão, que por conta disso deixam de fora jogadores que realmente representassem nossa real e indiscutível força.

Força esta que somente se faria presente se liderada por um técnico que representasse lidimamente uma forma de jogar que beneficiasse nossos valores e tradições, que se encaixam perfeitamente com o movimento inovador que vêm se antepondo ao modelo NBA no mundo, principalmente do lado europeu, e que é ferrenhamente defendido e empregado em nossas últimas seleções nacionais, com resultados deploráveis.

Enfim, testemunharemos mais uma etapa de desmando técnico, tático e ético protagonizado, não por uma comissão conivente com cardeais e aspirantes a títulos romarizantes, onde milésimos gols e tricampeonatos pessoais se antepõem aos verdadeiros objetivos concernentes a uma seleção nacional, mas sim a uma pseudo-liderança representada por uma entidade falida no âmbito técnico, e principalmente no administrativo, já que eminente e nefastamente política. Gol mil para o grego melhor que um presente, e sua comitiva de áulicos e incompetentes. Isso é Brasil.

O ANESTÉSICO DAS CONSCIÊNCIAS.

Imperdível a matéria publicada no O Globo de hoje, domingo, com a entrevista do Presidente da Agência Mundial Antidoping, Richard Pound concedida ao repórter Fábio Juppa, que em determinado trecho da mesma perguntou: “A NBA não dá um mau exemplo para o resto do mundo ao permitir que jogadores usem substâncias ilegais para a comunidade esportiva?” Assim respondeu Richard Pound: “Algumas ligas profissionais incrementaram seus programas antidoping nos últimos anos. Foram pequenos passos na direção certa, graças às pressões da mídia e do Congresso americano. Mas ainda devem muito ao que é esperado delas, e não há duvidas que essas ligas, incluindo a NBA, precisam fazer muito mais na luta contra o doping. Eles devem parar e se perguntar se querem o esporte livre das drogas ou não. E têm de mostrar aos jogadores que substâncias que melhoram o desempenho carregam riscos significantes, assim como a pena que podem pegar. É necessário desencorajar os jogadores a usá-las, além de aumentar as sanções”.

De longa data é sabido, e convenientemente escamoteado, o uso indiscriminado de substâncias estimulantes por muitos jogadores da NBA, principalmente nas pré-temporadas, onde as exigências contratuais baseadas em observações e performances nos campos de treinamento, forçam muitos deles a procurarem o suporte dopante a fim de se apresentarem dentro das exigências físicas e emocionais que os garantam nas equipes, com bons contratos de preferência. Dentro de um universo de interesses e de extrema competitividade, o uso de estimulantes e anabolizantes se tornou corriqueiro, a ponto de chamar a atenção dos órgãos governamentais ligados ao combate às drogas e do Senado, com suas CPI’s no campo desportivo. Dois dias atrás, a Comissão do Senado implicou dois dos mais renomados jogadores de beisebol pelo uso de anabolizantes, e que juntamente com jogadores da NFL, a liga do futebol americano, foram as primeiras modalidades a serem investigadas com rigor. A NBA, sem dúvida, será a próxima a ser investigada, o que alterará substancialmente o cenário competitivo da mesma.

Muitas deserções de jogadores estelares em competições da FIBA, encontrarão explicações plausíveis, muito ao contrário das desculpas de que não iriam às ultimas Olimpíadas em Atenas por falta de segurança, assim como em Mundiais. Poderemos compreender as mudanças radicais no físico de muitos jogadores, que num curto espaço de tempo se transformam em massas disformes e enormemente pesadas, pondo em real risco articulações, sistemas cardiovasculares e renais. Mas o peso dos muitos milhões de dólares tende a justificar tais mergulhos no escuro, em um mundo irreal e perdulário, onde interesses de empresários, agentes e grandes firmas lastreiam e comandam a vontade dos jogadores.

Desde que iniciei este blog venho alertando a todos os verdadeiros esportistas sobre o perigoso avanço do doping no meio esportivo, em particular no basquetebol. E jamais me arrependi de abordar este tema tão controvertido e teimosamente varrido para baixo dos tapetes daqui e os lá de fora. Trata-se de uma hipocrisia institucionalizada a serviço de grupos muito fortes e de princípios mafiosos, que movimentam milhões de dólares, em evidente contraste com os milhões de jovens que ainda vêem o esporte com pureza e ideais olímpicos.

A entrevista é esclarecedora e de importância vital para o desporto mundial, nessa luta desigual pela lisura nos campos desportivos. Vale a pena lê-la e guardá-la, para conferi-la daqui a alguns anos. Quem sabe poderemos manter os princípios das competições justas e democráticas. Quem sabe…

O PUJANTE BASQUETEBOL.

“O basquete brasileiro mostra que está pujante, mais vivo do que nunca, apesar de alguns derrotistas dizerem o contrário( nesse momento fixa desafiadoramente as lentes da câmera). A entrevista do Varejão no O Globo mostra um atleta determinado a defender a verde e amarela, não importando a NBA aceitar ou não. O publico recorde de Brasília ai esta para comprovar o grande momento de nosso basquete”. Com estas palavras o técnico de Joinville iniciou seu discurso ufanista ao inicio do jogo contra Franca. E disse mais:”Podemos formar 20 equipes, com alguns estrangeiros de reforço, para voltarmos ao cenário internacional”. E finalizou: “Mas também precisamos mudar alguns conceitos de jogo, a exemplo do que a equipe de Franca vem aplicando”.

Vem o jogo, e com a equipe francana nitidamente rodando seus jogadores, no intuito de preservá-los para a maratona de jogos que terá de enfrentar daqui para diante, e o que se viu foi um enfrentamento dos atuais conceitos mencionados da equipe de Franca, ante os conservadores conceitos da equipe de Joinville, e que graças a excelente participação de seu pivô conseguiu equilibrar os quartos iniciais da partida. No derradeiro quarto, a equipe francana fez voltar seu quinteto básico, com o aproveitamento de seus três armadores e dois homens altos e liquidou a partida. Em nenhum momento se viu na equipe do sul um vislumbre, por menor que fosse, de mudança conceitual, e sim a mesmice que grassou e ainda grassa na grande maioria das equipes brasileiras. Logo, o discurso, apesar das indiretas àqueles que discordam veementemente da absurda situação por que passamos desde muito tempo, caiu no vazio, demonstrado na pratica, pela sua equipe. Seria de boa cepa, que evitasse tais manifestações que lhes são ofertadas por microfones globais, substituindo-as por um trabalho que visasse as tão propaladas mudanças conceituais.

Agora, afirmar que podemos formar 20 equipes de categoria, que juntamente com o reforço de estrangeiros nos levaria de volta ao cenário internacional, soa falso, muito falso. Seria mais ou menos como a equipe do Sunshales, que venceu Franca no Sul-americano, onde dois americanos praticamente derrotaram os brasileiros, aspecto muito bem descrito pelo comentarista da ESPN Brasil, ressaltando, que sem os mesmos a equipe argentina dificilmente derrotaria os brasileiros. Propugna-se então a volta do tempo em que as equipes só eram levadas à serio se possuíssem americanos em suas hostes, para gáudio e status de seus técnicos, que em muitos casos mal podiam dialogar com os mesmos em sua língua pátria.

E onde encontraríamos tantos técnicos “preparados” para liderarem tantas equipes de nível internacional, se mal nos agüentamos em pé atrelados aos conceitos que o televisivo técnico sempre foi ferrenho defensor, e ainda atual utilizador? Porque levantar bandeiras que nunca levantou, pelo simples fato de estar sempre plugado aos microfones globais? Porque o rancor com a critica, ainda mais quando emanadas por quem conhece as quadras, o jogo, as longas lutas por condições de trabalho, divulgando o grande jogo, democraticamente por todo o país, e que tem ajudado na formação de muitos professores e técnicos ao longo dos anos? A critica fundamentada é necessária quando está em jogo o futuro do nosso basquetebol, e que mesmo longe das benesses dos “open mics” se manifesta naqueles nichos tão bem descritos pelo Melk, as gloriosas trincheiras na internet, que vivas e atuantes não se deixam cooptar e influir por discursos ilusórios, interesseiros e, por que não, pujantes.

Concordo, porém, que devemos mudar conceitos, de jogo, de táticas, de planejamento, e de ética, e que os mesmos bem que poderiam renascer na bela cidade de Joinville, para a alforria do basquete brasileiro, mas com muito e dedicado trabalho, e menos discursos. Amém.