OS DIFERENCIADOS…
‘Aqui não queremos mais um, mas o diferenciado’, diz técnico da sub-19
Em Minas, jogadores passam por rotina puxada com Neto e Magnano para saber se estão aptos a jogar e suportar a pressão de defender o time principal
Por Danielle Rocha Direto de São Sebastião do Paraíso, MG
Há menos de uma semana, as famílias foram deixadas para trás, e a rotina mudou. O endereço passou a ser um hotel em São Sebastião do Paraíso, de onde 16 meninos partem duas vezes por dia em busca do sonho de vestir a camisa da seleção brasileira adulta. A caminhada até a Arena Olímpica dura cinco minutos e é feita rigorosamente sem atrasos. Lá, José Neto, Rubén Magnano e uma comissão técnica completa aguardam pelos jogadores, entre 15 e 18 anos, para ajudá-los a desenvolver suas potencialidades. Além de todos os testes e treinamento puxado, é preciso também seguir uma cartilha nos próximos seis meses. No vestibular do basquete, só passa quem tiver maior capacidade de suportar a pressão.
– Aqui não queremos mais um jogador, queremos o diferenciado. Esses meninos foram observados por mim e pelo Rubén, e foi muito importante ter o aval, o feeling dele durante o processo de escolha porque ajudou a formar uma geração vitoriosa na Argentina. O objetivo é desenvolvê-los, adaptá-los às posições que se enquadram melhor, para que possam chegar à seleção principal mais para frente. Todos têm potencial para estourar e já entenderam o que queremos deles. O basquete internacional exige cada vez mais versatilidade. O mundo procura isso para tornar o jogo imprevisível – disse Neto, técnico da seleção permanente sub-19.
É preciso também mostrar atitude e responsabilidade, apesar da pouca idade. Como Magnano gosta de dizer, não se trata um quartel e nem de um mosteiro, mas algumas regras precisam ser seguidas. Uma delas é comunicar sempre as saídas.
– Eles não vão ser vigiados e não vamos privá-los de fazer coisas. Mas é preciso seguir horários e só podem sair na folga para alguma cidade vizinha se tiverem a autorização dos pais. Também iremos cobrar e acompanhar os estudos porque estamos formando pessoas. Aqui seremos técnicos, pais e irmãos. Eles vão aprender a dividir as coisas, e o grupo vai crescer com as diferenças de histórias de cada um. Há gente aqui que veio de família com vida muito difícil e está pegando esse desafio com fome, como uma oportunidade de mudar.
Para que não haja excesso no empenho, os jogadores estão sendo acompanhados pelo fisiologista Rafael Fachina, que montou um programa inspirado no que é feito nos laboratórios olímpicos da Austrália e da Inglaterra. Todos serão foram mapeados e serão reavaliados a cada dois meses com testes que indicam o índice de fadiga, a potência, capacidade de reação a estímulos, velocidade e agilidade.
– Costumo dizer que sou para eles como a telemetria na Fórmula 1 e a bússola para o marinheiro. Os testes dão o caminho para o preparador físico e o treinador. Nós podemos saber o que está limitando a evolução deles, que modelos táticos podem ser aplicados para aquele momento e fazer treinamentos individualizados. Os aparelhos de musculação que estão para chegar foram escolhidos especialmente para o tamanho deles e todos estão sendo filmados diariamente para que os movimentos sejam mais bem avaliados e corrigidos. Há meninos com faixas etárias diferentes e será um desafio muito grande.
A partir da próxima segunda-feira uma nutricionista e um psicológo se juntarão ao grupo. Os treinos ficarão mais fortes e sobrará pouco tempo para pensar em outra coisa que não seja basquete. Se alguém reclama? A resposta vem em forma de sorriso e um “tem que ser assim mesmo!”
Todo professor bem formado e informado sabe muitíssimo bem que pré e pós adolescentes, dificilmente podem ser classificados esportivamente como diferenciados nas modalidades coletivas, e quando muito se encaixariam na definição de talentosos, onde muito poucos darão seguimento às suas potencialidades, e em muitos casos, nenhum.
Durante os sombrios anos da guerra fria, os países do leste europeu e a China continental saíram em busca dos jovens desportistas diferenciados, e em nome dessas pesquisas muitas barbaridades foram cometidas pelos cientistas da performance e da medalha a qualquer custo. Muitos ainda sofrem os efeitos colaterais advindos daquela política que tinha como objetivo a propaganda do regime vigente.
Muitos destes países, após a derrocada comunista se voltaram para a educação de alta qualidade de seus jovens, e já começam a garimpar resultados em todas as áreas, das ciências exatas às humanas, nas artes e no desporto.
Em terras tupiniquins, ainda se propaga o lema – “Aqui não queremos mais um, mas o diferenciado”, numa tosco review do fracasso totalitário, quando deveríamos nos lançar de encontro às soluções educacionais que sucederam aquela malograda experiência da guerra fria, e com uma vantagem incomensurável, a de não ter sofrido as agruras por que passaram aqueles povos e seus jovens.
Mas não, a sede de resultados e possíveis medalhas em 2016, empurram jovens nos braços de uma aventura cientifica falida no passado, centrando em 16 jovens objetivos que deveriam ser formulados à massificação da modalidade, nas escolas, nos clubes, nos parques, e não numa cidadezinha mineira à sombra de uma elitização desproporcional e absurda.
-“O objetivo é desenvolvê-los, adaptá-los às posições que se enquadram melhor, para que possam chegar à seleção principal mais para frente. Todos têm potencial para estourar e já entenderam o que queremos deles. O basquete internacional exige cada vez mais versatilidade. O mundo procura isso para tornar o jogo imprevisível”.
Leram bem essas afirmações, vislumbraram o foco da questão, o objetivo básico dessa aventura que está sendo perpetrada junto a jovens de 15 a 19 anos?
Primeiro, desenvolver e adaptar a turminha de diferenciados nas posições de 1 a 5 como determina e exige o basquete internacional que busca (equivoco deslavado…) a versatilidade e a imprevisibilidade do jogo?
Mas como ser isso possível num universo técnico tático em que todos jogam e atuam iguais dentro de suas mini capitanias hereditárias de 1 a 5?
Exatamente por esse fator igualitário é que se insurge matreiramente o diferencial físico,com suas valências “cientificamente” impostas através testes que visam acentuar e referendar tal diferencial.
Logo, o raciocínio mais simplista confere ao estado atlético a supremacia nas posições especializadas de 1 a 5, numa apologia definitiva dos embates 1 x 1 que encontram na NBA seu ícone incontestável.
Jogar e atuar diferentemente da matriz internacional sequer passa nas extraordinárias e inteligentes mentes que dirigem e formam nossos jovens nas seleções, pois para que isso fosse factível muita coisa teria de ser mudada, estudada e pesquisada de verdade, trabalhos estes incompatíveis com a mesmice endêmica que professam. Por que mudar o que corporativistamente é aceito por todos? Para que complicar o que tem e vem garantindo polpudos empregos a uma elite que domina nosso basquete nos últimos 20 anos? ( E como um profissional altamente qualificado como o Rubén Magnano se submete a ceder seu aval, “seu feeling” a escolhas pessoais do técnico da equipe?)
-“Também iremos cobrar e acompanhar os estudos porque estamos formando pessoas”.
Mas como ser isto possível se –“A partir da próxima segunda feira uma nutricionista e um psicólogo se juntarão ao grupo. Os treinos ficarão mais fortes e sobrará pouco tempo para pensar em outra coisa que não seja basquete. Se alguém reclama? A resposta vem em forma de sorriso e um “tem que ser assim mesmo!”.
Se eu fosse um dos pais desses jovens reclamaria veementemente, aliás, sequer permitiria que um filho meu servisse de cobaia a experimentos inspirados em laboratórios olímpicos da Austrália e da Inglaterra, ainda mais aos 15-19 anos.
E pensar que já dominamos a arte de formar excepcionais jogadores de basquete, contando com o conhecimento e o domínio do grande jogo por parte de grandes mestres, vendo-o praticado em todo território nacional, e agora entregue a cientistas e…
Definam vocês…
Amém.





