SURGINDO…

Foi uma vitoria fundamentada na inteligência, do grande conhecimento de uma forma de jogar, que mesmo sendo plenamente conhecida, e altamente previsível, encontrou respostas objetivas e espantosamente óbvias.

Obviedade esta que foi negligenciada pela equipe do Pinheiros, que partindo do principio de que sua constituição estelar, de alta capacitação técnica em todas as posições, seria por si só suficiente para estabelecer supremacia territorial, se viu surpreendida por um outro e decisivo fator, o emocional.

Emoção aquela que define comportamentos físicos e técnicos, onde duas enterradas pinherenses sofrem o “toco de aro”, e uma outra sutilmente não concretizada determina o fim do jogo através uma singela bandeja do Bambu, após primoroso passe de um Eric que arrastou dois marcadores para fora do garrafão temerosos  de que penetrasse, como fez durante todo o jogo. Terminar uma partida tensa e emotiva como aquela com uma singela bandeja, e não uma enterrada midiática, nos conduz a uma reflexão do quanto se perdeu, e se perde de eficiência num jogo, num campeonato, com tresloucados arremessos de três, e tentativas individualistas de enterradas, cujas motivações passam pelo apoio de narradores, comentaristas, cinegrafistas e diretores de vídeo, todos defensores do que creditam como as “grandes atrações do jogo”.

E quando menciono ter sido a conquista de Limeira fruto do pleno conhecimento de uma forma de jogar, que teve em seu técnico um dos maiores representantes dentro de  quadra do sistema único, onde liderou equipes e seleções em suas armações de jogo, referendo sua agora incontestável qualidade de repetir suas atuações fora da mesma, para o qual,”chifres”, “punhos”, “cabeças”, “Hi-lo’s” etc, não apresentam segredos e restrições, principalmente se seus adversários atuarem, como atuam, de forma idêntica, exceto pelo fato de não “alcançarem” seu conhecimento teórico prático do sistema, infelizmente, único, que nos tolhe e esmaga quando posto à prova nas grandes competições internacionais.

Somemos ainda o fator antecipativo, ou seja, a capacidade de uma equipe, profunda conhecedora do sistema único, do técnico aos jogadores, de seus caminhos e atalhos percorridos por longos anos de intensa pratica e memorização, de antever situações analogamente empregadas pelos adversários, antecipando suas ações através atitudes defensivas enérgicas e velozes, para entendermos como Limeira, com uma equipe de jogadores menos badalados pelas mídias profissionais e amadoras, conseguiu com brilho superar equipes tidas como superiores.

Pena, muita pena, que um talento que surge no cenário técnico, não cumpra um bom estágio na formação, a verdadeira escola e laboratório para sistemas, de treinamento e de jogo, esquecendo que sua bela performance se escuda numa situação de mesmice técnico tática em que nos situamos nos últimos 20 anos, nos quais reinou como um de seus artífices, e que nem sua declaração de pretender se aperfeiçoar junto ao Magnano quando de sua participação na Sub-17 nacional, poderá substituir uma experiência a ser obrigatoriamente vivida para quem, um dia, pretenda e deseje liderar uma seleção sênior.

A experiência válida é a experiência vivida, principio imutável na formação, desenvolvimento e concretização de um objetivo profissional de vida, seja em que campo for. Saltar etapas não se coaduna com o conhecimento de uma função, de uma profissão, pois viola os principios e fundamentos da credibilidade, vindos da sociedade e, principalmente, de si mesmo.

Mas uma sutil brecha poderia viabilizar tal transposição de etapas didáticas, pedagógicas e técnicas, a introdução de novos conceitos, de novos e ousados sistemas, de novas concepções técnico táticas, que nos tirassem definitivamente deste marasmo, deste incompreensível limbo em que patinamos a longos anos, mostrando ao mundo algo antagônico ao sistema NBA, ao sistema único, repetindo o extraordinário salto do vôlei ao inaugurar o sistema hibrido entre a força européia e a velocidade asiática, que os levou e guindou ao olimpo internacional, onde também já estivemos, fruto da audácia e da ousadia em inovar, jamais copiar impunemente.

Prezado Demétrius, parabéns pela conquista, merecida e brilhante, de sua comissão técnica, diretores, e de seus abnegados jogadores, e me perdoe pela mensagem aqui contida, sincera e acima de tudo, honesta.

Amém.

O GRANDE E VERDADEIRO IMPASSE…

Estamos em plena temporada, com as ligas masculina e feminina a todo vapor, assim como as divisões de base em suas federações, e mais do que nunca uma discussão tem estado presente em todas as mídias especializadas, o  futuro técnico da modalidade, a sobrevivência do grande jogo entre nós.

Aos poucos, os campeonatos vão encontrando suas formulações dentro da nossa realidade e de nossas limitações econômicas, com a predominância daqueles estados mais tradicionais no basquetebol, mas também em outros que se apegam na tradição e no amor de alguns abnegados, que não deixam morrer o jogo de suas vidas. Tenho recebido muitos relatos e notícias vindas das mais longínquas fronteiras de nosso imenso país, todas voltadas ao soerguimento e a manutenção do outrora segundo esporte no coração e na mente do povo brasileiro, e isso, por si só, nos enche de esperanças em dias melhores.

No entanto, vejo como entrave gigantesco a essa perspectiva renovadora, o maior de todos os nossos problemas, a mesmice coloidal que nos escravizou e colonizou técnico taticamente a um sistema único de jogo, calcado numa forma também única de jogar, com regras especificas e contrarias às estabelecidas pelo restante das nações sob a égide da FIBA, o sistema NBA.

Essa é a grande encruzilhada em que nos encontramos depois de décadas de subserviência técnico tática, quando a grande maioria de nossos técnicos abraçou o modelo prét a pôrter de consumo imediato e sem maiores elucubrações mentais, padronizando e formatando um sistema único de jogar, sem maiores implicações técnicas, mas esquecendo o básico, o primordial, o fato de que tal maneira de jogar e que privilegia as ações individuais, o 1 x 1 sistemático e contínuo, tem como suporte estratégico, toda uma estrutura de base, das escolas às universidades americanas, no fornecimento contínuo de matéria prima para o consumo, e a ser consumida, fator inexistente à nossa realidade desportiva.

Recentemente o técnico Magnano declarou que urge deixarmos de jogar pela formula NBA, tendo sido levado um pouco mais a sério do que se tal citação partisse de um técnico tupiniquim, mas que mesmo assim soa como um alerta na busca de outras perspectivas técnico táticas, de outras soluções mais caseiras.

E uma boa reflexão poderá ser estabelecida numa simples troca de comentários aqui no blog, quando do artigo Outras Notas,  entre mim e o leitor Ricardo, onde tão importante colocação pode ser avaliada:

  • Ricardo 13.10.2010 ·

Caro Prof. Paulo Murilo,

Tenho muito apreço por sua forma de pensar o basquete, servindo como contraponto ao que é amplamente difundido. Contudo, apesar de eu não ser um letrado nas minúcias do esporte, dou-me o direito de discordar do senhor em alguns aspectos no que tange a atual situação do basquete nacional.
Apesar da prevalência do modelo usual de jogo entra as equipes, vejo alterações sensíveis na forma de jogar de várias delas no cenário nacional, as quais tentarei expor sob meu ponto de vista:
– equipe de Brasília: atual campeã nacional, conquistou o título principalmente pela polivalência de alguns atletas, como Giovanoni e Alex, capazes de atuar em várias “posições”, conseguem quebrar os esquemas defensivos de seus oponentes;
– equipe do Flamengo: nos últimos anos tem apostado em 4 atletas altos e leves alternando posições, com o quinteto sendo completado por um homem forte na posição 5.
– equipe de São José: atual campeã paulista, tem na versatilidade dos jogadores uma grande arma, jogando com 2 armadores o jogo todo, e contando com alas altos jogando tanto dentro quanto fora do garrafão, completando um quinteto com um pivô leve.

Apesar de ainda ser evidente em vários casos a limitação técnica dos quintetos, vejo neles uma forma de jogar mais parecida ao que o senhor prega do que com o esquema usual de jogo.
Todas essas formações se baseiam, e neste ponto concordo com seu ponto de vista, no bom domínio dos fundamentos do jogo por praticamente todo o time, ou ao menos vários dos seus integrantes, chegando ao ponto de em várias situações a armação estar a cargo de um jogador de 2,0 m de altura.

Obviamente, este é meu ponto de vista. Aguardo ansiosamente sua resposta, contribuindo para o debate.

  • Basquete Brasil 13.10.2010 ·

Prezado Ricardo, se você tem acompanhado artigos anteriores em que discuto e critico o sistema único de jogo, não pode deixar de considerar que:
– Desde muito tempo venho defendendo a utilização de dois armadores em nossas equipes de elite, e claro, nas de base também.
– Que de dois anos para cá algumas equipes tem se utilizado dos dois armadores, mas em nenhum momento modificaram suas formas táticas de atuar, continuando no sistema único, acrescido de maior qualidade técnica pela presença de jogadores com melhores fundamentos, no caso, os armadores, só que um deles adaptado à função de um 2 ou 3(na nomenclatura vigente e genérica), mas dentro do formato e das jogadas do sistema, vide os “punhos”, “polegar”, “hi-lo”,”pick and roll”, etc, utilizados por todas as equipes.
– Sempre afirmei que numa mesmice granítica desse porte, onde todos atuam taticamente iguais, venceriam as equipes que possuíssem em cada posição de 1 a 5, os melhores jogadores, os mais caros, os mais habilidosos, e por conseguinte,formando as melhores equipes, dando uma falsa idéia de conjunto afinado e uníssono, quando na realidade se tratam de uma constelação de solistas, um em cada posição.
– E a grande maldade desse sistema, todo ele produzido para os solos estelares das competições da NBA, é a quase absoluta ausência, no nosso caso em particular, do jogo no perímetro interno, já que as “estrelas” dos três pontos não permitem que as bolas que avidamente disputam, cheguem naquela zona de jogo, daí nossa crescente fraqueza de homens altos de qualidade.
– Quando propus algo diferente na direção do Saldanha, consegui provar, ganhando inclusive de grandes equipes, que poderíamos jogar de uma outra forma além do sistema único, sem jogadas marcadas e previsíveis, sem concentração no jogo externo, e sim dividindo-o igualmente em ambos os setores, propiciando maiores oportunidades a todos os jogadores, altos e baixos, de fora e de dentro dos perímetros, e principalmente, interessados em suas performances através o treinamento e a pratica indistinta dos fundamentos do grande jogo.
Enfim Ricardo, creio ter podido provar num breve espaço de tempo que podemos alçar vôos maiores do que o estratificado e altamente previsível sistema único de jogo.
Um abraço, Paulo Murilo.

Quando reitero continuamente da necessidade de mudarmos nossa forma de jogar, indo, inclusive às quadras, para exemplificá-la, tento lançar um repto, um desafio aos nossos bons técnicos, para que abandonem o modelo que nos lançou ladeira abaixo no cenário internacional, e mais propriamente aos da base, da formação, que ousem criar, que ousem tentar algo além do que nos é imposto a mais de vinte anos, que invistam maciçamente nos fundamentos, e que, ao inicio de mais um curso de 4 dias presenciais e demais virtuais, promovido pela ENTB, e voltado aos jovens técnicos, onde serão orientados à continuidade de uma padronização e formatação do modelo atual, certamente o único que o corpo docente aceita, haja vista os cursos de atualização da CBB, onde coerentemente vêm estabelecendo a continuidade deste coercitivo  modelo, pelo país em seu todo, exijam maior diversidade, acesso democrático às diferentes formas de treinar, dos fundamentos às formulações técnico táticas, e não se deixem seduzir a aceitar padrões e formatações voltadas aos interesses do que ai está determinado,  plenamente estabelecido, lembrando desde sempre, que dependeremos destas mudanças para alcançarmos padrões aceitaveis na formação de uma geração apta à participação olímpica em 2016, e tendo como apreciavel reforço a plena discordância do bom argentino frente ao atual modelo. Espero que o ouçam.

Amém.

2011…PARA ONDE CAMINHAMOS?

Foi um fim de ano com muito trabalho, e como todo professor que se preza, uma tonelada de papéis, relatórios, recortes de jornais e revistas, emails impressos, tiveram o destino anual do descarte, necessário pela enorme quantidade, mesmo tendo a maioria deles guardados em memórias e HD’s. Terminei a faxina ontem a tarde, no momento em que liguei a TV para o jogo do Pinheiros contra Limeira pela final paulista, e antes não o tivesse feito, pois assisti à cores e em som estéreo  a uma das cenas mais degradantes que testemunhei nesses longos anos em que milito e vivencio o grande jogo.

Lá pelo segundo quarto de um jogo horripilante, onde a artilharia dos três pontos tirou do sério até o pacato comentarista da ESPN, o técnico da casa pede um tempo, e ao se preparar para as instruções é violentamente interrompido pelo jogador americano, que toda a imprensa sonha ver atuar pela seleção brasileira, que aos berros em seu claudicante português espinafra a todos, exigindo raça, atitude, até o momento em que o técnico se intromete e leva pela testa um “deixa eu falar” tonitruante e constrangedor, que o deixa desarmado, até que, também aos berros e não menos inúmeros e reprováveis palavrões televisivos, faz o insurgente jogador se calar até o final do quarto, quando ao ser entrevistado tece comentários de cunho e responsabilidade exclusiva do técnico, e não sua.

Recomeça o jogo com o malcriado jogador no banco ( fosse comigo já teria trocado de roupa à muito…) e a equipe indo mal na quadra, mesmo continuando a apostar na chuvarada de arremessos de três, assim como seu adversário, totalizando 63 tentativas contra 67 de dois pontos de ambas, numa tendência que vem se instalando em nosso basquete de quase se igualarem em números os arremessos de três e os de dois, numa prova inconteste de que o individualismo exacerbado  ameaça de morte o coletivismo, que ainda define a estrutura técnico tática de uma equipe, sem contarmos com o altíssimo número de bolas perdidas por falhas nos fundamentos, que nesse jogo chegou a 25. E para sermos mais claros, das 29 bolas de três arremessadas pelo Pinheiros, somente 5 foram convertidas, contra 14 das 36 arremessadas por Limeira, ou seja um tremendo “chega e chuta”, definição do próprio comentarista da ESPN.

Um pouco mais adiante, um novo tempo pedido pelo técnico da casa, que num tom suplicante pede mais luta, união, ajuda, e de pronto faz voltar o americano, que por três sucessivas vezes arremessa de longe, sem sucesso, e numa dessas tentativas nem o aro alcançou. Daí par o insucesso final foi só uma questão de tempo.

Lamentável episódio, um tanto mais comprometido com a defesa do americano feita pelo pacato comentarista, tentando justificar uma tremenda falha disciplinar como tendo sido uma “balançada na equipe” e nada mais. Fico pensando se sob o comando de um Togo Renan, o grande jogador que foi teria feito o mesmo em plena quadra de jogo. Creio que não, e o próprio Kanela jamais o permitiria.

Numa análise derradeira, que sistemas de jogo podem ser desenvolvidos quando duas equipes finalistas do propalado e incensado campeonato paulista  arremessam 63 bolas de três pontos, ou sejam, 189 possíveis? E como falar em defesas perante tanta permisividade?

Desliguei a TV e dei uma passada pelos blogs, e o que vejo?  Técnico de seleção ser indicação de um diretor de marketing, vindo do vôlei, e que se  acha capacitado na área técnica de uma modalidade que não a sua?  Inacreditável!

Curso de capacitação de técnicos no nível I com a duração presencial de 4 dias promovido por uma ENTB coordenada por um preparador físico? Um absurdo!

Um excelente técnico argentino “descobrindo” para nós que a formação de base é o cerne do grande jogo, e que temos de deixar o estilo NBA de jogar para trás?  E o que temos feito e alertado nos últimos 20 anos de descalabro e 6 de Basquete Brasil?

Que por mais uma vez a LNB distribui uma planilha para a formação das seleções que se enfrentarão no Jogo das Estrelas, seguindo as posições de 1 a 5, que é exatamente o modelo criticado pelo Magnano em suas entrevistas, comprovando a padronização e formatação do nosso basquete àquele modelo? Me divirto imaginando a dificuldade de colocação dos jogadores com as minhas indicações baseadas na formação de 2 armadores e 3 alas pivôs, numa solitária posição de negação à mesmice endêmica que nos domina e constrange.

Finalmente me deparo com escolhas dos melhores de 2010, em todas as áreas e funções do basquetebol, e não vejo uma linha sequer, mesmo que ínfima, sobre a pequena revolução técnico tática estabelecida pela equipe do Saldanha da Gama no NBB2, se antepondo à mesmice acima mencionada, fator fundamental a uma reviravolta em nossa maneira de jogar e atuar, comprovando ser isso possível e exeqüível, bastando para tanto uma boa dose de coragem e ousadia, além é claro, de conhecimento e experiência, elementos que seriam impossíveis de adquirir em cursos de formação e habilitação de 4 dias.

Terminei o dia, neste limiar de um novo ano, mais uma vez descrente de que tenhamos a força necessária  para alavancar o soerguimento do grande jogo entre nós, se contarmos somente com os quadros cebebianos, continuísta e corrompido politicamente, onde a função técnica sempre dará passagem ao apadrinhamento e à troca de favores, a não ser aquela tênue réstia de esperança que poderá ser deflagrada pela classe que conhece e domina o jogo, e por isso mesma afastada das grandes decisões, os técnicos brasileiros, que ainda teimam em se esconder no anonimato de suas manifestações pela mídia virtual, alimentando e perpetuando com esse comportamento as felpudas e profissionais raposas que infestam a modalidade que tanto amamos.

Peço aos deuses que nos protejam nesse 2011, fervorosamente.

Amém.

O HEAD COACH…

– O Head Coach estuda muito, sempre estudou, e continuará estudando até o fim.

– Ele jamais assumiu, assume ou assumirá um cargo aonde irá para aprender com assistentes e dirigentes, e sim para ensiná-los como se lidera e dirige uma equipe, seja iniciante, seja de alto nível.

– Em hipótese alguma admitiu, admite ou admitirá ser tutelado por prazos, por interesses incidentes em suas funções, por acordos tampões, ou por qualquer necessidade de cunho pessoal que possa ser explorado por outrem.

– Sua graduação, experiência, conhecimento profundo do jogo, sua audácia e destemor ao novo fundamentado no antigo e nas tradições, e seu sentido de transmissão de conhecimentos, o tornam consistentemente preparado para ações de ponta, e jamais dependente de interesses que não os cunhados e forjados pelos princípios do mérito e da ética.

– Seu reconhecimento natural e insofismável cala a maioria das críticas, debela oposições injustificáveis, aplaina e suaviza seu caminho a muito trilhado com sacrifícios, muito e doloroso trabalho, mas com coragem e sabedoria.

– O Head Coach não se vende, não se leiloa, não se permite minimizar, pois é produto de uma classe de professores muito especiais, a dos Mestres, aqueles que até os detratores respeitam, por reconhecerem  sua essência, e seu modo de ver, conotar e, acima de tudo, valorizar a vida.

– O Head Coach erra pouco, mas errou muito em seu caminho, e errará cada vez menos com o avançar dos anos, não importam quantos, se vividos com lucidez, honra, dignidade, saúde, ética profissional e ética para consigo mesmo.

– O Head Coach tem obrigatoriamente de ser mobilizado pelo país a que pertença, pois o representará com o que possui de melhor, num longo e custoso investimento, não só econômico, mas fundamentado e lastreado em seus recursos humanos, advindos das carências mais primarias de seu povo.

– São Mestres maduros, prontos a servir, a por seus conhecimentos a serviço dos mais jovens, jogadores, assistentes, dirigentes, torcedores, jornalistas, e não dependerem destes para aprender o que tem a obrigação de dominar, ampla, mas não totalmente, o universo de sua modalidade.

– O Head Coach não pode ser motivo daquele tipo de debate que antepõe mérito com interesse político, pois se situa eticamente acima do mesmo, já que  qualificado e reconhecido com majoritária unanimidade.

Conheci alguns destes grandes Mestres, aqui e lá fora, e sempre admirei a mais considerável de suas qualidades, sua independência cultural, técnica e político econômica, tornando-os únicos e verdadeiros, ao professarem a ética pelo trabalho e pelo incontido respeito ao grande jogo, a grande meta de suas vidas.

Jamais torci e desejei tanto para que tais princípios se instalem definitivamente em nosso país, justificando o primado da justiça e do reconhecimento a quem de direito, e peço aos deuses todos os dias por isso.

Amém.

PS- Paremos para refletir o quanto de falta nos faz uma associação de técnicos, forte, independente, numa hora como esta…

FELIZ NATAL…

Desejo a todos que me honraram com seus comentários, críticas, idéias, sugestões, e até mesmo desacordos, um Feliz Natal, junto aos entes queridos, aos amigos, e que em 2011 possa de novo contar com tão seleta e educada audiência, a fim de que possamos, todos juntos, lutarmos pelo soerguimento do grande jogo em nosso país.

Que os deuses nos assistam e protejam na longa caminhada.

Paulo Murilo.

DE DOMINGO A DOMINGO…

De domingo a domingo consumindo o produto basquetebol, do Flamengo x Pinheiros ao vivo, numa temperatura sufocante pelo imposto horário das 15:30 hs no Tijuca TC, a um Limeira x Vitoria televisivo ao meio dia de hoje, entremeados por jogos do campeonato paulista, onde Pinheiros se destacou, Franca sucumbiu, e Limeira e Araraquara se degladiaram pelas semi finais.

A destacar algumas considerações:

– A equipe do Pinheiros, que ao vencer convincentemente o Flamengo e Franca, foi imediatamente alçada pela mídia ao status de grande, e quase perfeita equipe, a nível latino-americano, que “com duas sólidas contratações”  se transformaria em potencia, mas que hoje mesmo, perdeu para a renovada e jovem equipe do Minas, fazendo a bola dos especialistas baixar um pouco, mas que deveria nem ter sido alçada precocemente.

– O festival avassalador dos arremessos de três desencadeado por todas as equipes, como que querendo provar suas capacitações, mesmo após o acréscimo de 50cm na distância de arremesso, chegando às culminâncias no jogo(?) de hoje entra Limeira e Vitoria, quando a equipe capixaba arremessou 33 bolas de três, somente 6 a menos que suas tentativas de 2 pontos.

– A frenética exibição televisiva das pranchetas e seus rabiscos ininteligíveis. Meu filho André, que jogou basquete e é um competente designer gráfico, me pedia silêncio para tentar entender os grafismos nas pranchetas, confessando sua incapacidade em decifrá-los. Fico sempre imaginando o desespero dos jogadores nas mesmas circunstâncias, e ainda ter de jogar contra defensores que nunca são mencionados, nem por um borrãozinho da hidrocor nas estelares pranchetas, que para meu espanto, teve uma delas hoje destruída, acredito eu, por não ter sido capaz de passar aos jogadores, com a devida clareza, a tática genial de seu mentor, e logo ela, coitadinha, a super star televisiva…

– A comprovação definitiva, mesmo com a inclusão de novos técnicos, na idade e na experiência, de que o sistema único tão cedo cederá seu monopólio a qualquer manifestação técnico tática que se insurgir no cenário tupiniquim, custe o preço que custar, mesmo que o novo técnico da seleção argentina, Sergio Hernandez, venha a público afirmar numa reportagem do Site UOL com o Ruben Magnano, “que os jogadores que vão para a NBA sem passar pelo basquete europeu não têm muita consistência tática”, no que concorda o Magnano –“É uma realidade. Na NBA se joga por função. Concordo totalmente com o que disse o Sergio(…)”. (…) “Isto é muito importante. O fato de ter jogadores da NBA não te garante nada. Eles estão há 10 meses fazendo apenas uma função. Você os incorpora à seleção e pega este garoto, que você viu fazendo mais coisas em outra oportunidade, para incrementar o volume de jogo do time(…)” Imaginem agora, como se sente um técnico campeão olímpico no comando de uma equipe cujo campeonato nacional é totalmente dominado pelo sistema técnico tático da NBA, e seus jogadores são especializados nas posições de 1 a 5? E que as seleções de base municipais, estaduais e nacionais garantem a continuidade dessa perversa realidade?

De domingo a domingo presenciei, assisti e testemunhei o terrível estágio em que nos encontramos, ainda e teimosamente convivendo com as enterradas, os tocos e os arremessos de três como a sublimação do jogo, segundo a mídia dita especializada, a realeza das pranchetas e suas mensagens caóticas e cifradas, e a cada vez, e proposital separação do que venham a ser técnicos formadores e técnicos ( ou treinadores) estrategistas ( e aqui cabe uma leitura de um artigo do Prof. Ronaldo Pacheco sobre o assunto, publicado no blog rodrigo.galego desta semana), aqueles com anos e anos de trabalho e estudo junto aos jovens, e também aos adultos, e estes, promovidos após cessarem suas atividades atléticas, provisionados, e prontamente elevados à condição de técnicos de elite e de seleções, numa inversão de valores que assombra e põe em dúvida a seriedade do grande jogo entre nós.

Agora, basquete NBB somente em janeiro, um bem vindo descanso visual ante tanta poluição de três pontos, colossal despreparo e desconhecimento dos fundamentos básicos do jogo, e das estelares e “indispensáveis” pranchetas televisivas.

Amém.

PS- Fico imaginando se a um singelo pedido meu, o velho Noel fizesse, como régio presente de natal ao nosso pobre basquete, com que sumissem as pranchetas estelares… Pelos Deuses, esquece, esquece, não quero testemunhar e me sentir culpado pelo suicídio coletivo que …

MALHEMOS NOSSAS CRIANÇAS…

Recebo no Skype a seguinte comunicação do meu filho André Luis:

[10:58:42] André Raw:

http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2010/12/13/especialistas-liberam-pratica-de-musculacao-para-criancas-adolescentes-923256551.asp

[10:59:04] Paulo Murilo Alves Iracema: vou ver

[11:00:25] André Raw: agora estão querendo que se acostumem cedo ao ambiente de academia, parece matéria paga

[11:01:12] Paulo Murilo Alves Iracema: Culto ao corpo, o grande negocio do século. Só aqui no Brasil movimenta 12 bilhões anuais.  Máfia de criminosos

[11:03:17] Paulo Murilo Alves Iracema: Vindo da Alemanha, a Meca dos grandes laboratórios farmacêuticos deste mundo miserável. Só poderia vir deles mesmo, pois associado aos pesos virão os suplementos, os complementos, os equipamentos e vestuário específico, as cirurgias reparadoras inevitáveis,  e o mais inevitável ainda, o doping. Lamentável. Vou publicar algo a respeito. A crise do euro e da economia vai levar a descompassos como esse. Business meu caro, nada pessoal, somente, business…

E ai está uma matéria que deverá deixar o grande comercio do culto ao corpo tupiniquim alvoroçado, afinal de contas, a perspectiva de lucros, com a entrada de crianças nesse mercado gerará muitos bilhões a mais do que os 12 atuais. Notórios empresários do setor já deverão estar esfregando as mãos ante perspectivas financeiras jamais imaginadas. Já pararam para pensar, num mundo infantil dentro de academias?

E as escolas? Ora, que se danem as escolas com suas mensagens de cidadania, integração e preparo para a vida. Nada disso gera lucros imediatos, nada disso os tornam mais ricos e poderosos.

E o exercito de provisionados amparados e formados pelo sistema Confef/Cref, abiscoitará este segmento com a fome dos ingênuos estagiários, sub pagos e dependentes patriarcalmente das gigantes holdings do culto ao corpo, estas sim, as grandes beneficiárias de pesquisas deste teor.

E o novo governo, que já anunciou que a educação já está bem encaminhada, com certeza, e à sombra da cornucópia financeira de 2014 e 2016, fará vistas grossas a tais progressos científicos, adiando, talvez definitivamente, a autêntica e verdadeira revolução que nos tiraria em duas gerações da subserviência educacional, cultural e esportiva, que nos envergonha e humilha no cenário mundial.

A verdadeira revolução que mencionei é a da escola, onde, por direito constitucional todo jovem desse colossal pais teria o direito de se educar, mental, física, artística e profissionalmente, num ambiente em que pesos e alteres jamais substituiriam os campos, as pistas, as piscinas e as quadras a que tem pleno e irrecusável direito, sob qual ótica e argumentação forem expostos, já que cidadãos de direito, de pleno direito.

Por se tratar de uma brutal realidade, e não de um sonho, é que me dou ao direito da indignação, última e derradeira opção de um velho e teimoso professor.

Amém.

ENGANAR E ADORAR SER ENGANADO…

9/12/2010
CURSOS DA ENTB COMEÇAM EM JANEIRO
Rio de Janeiro — A cidade do Rio de Janeiro vai receber o primeiro curso de 2011 da Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol (ENTB). O curso de formação de treinadores de basquetebol nível I será realizado de 12 a 15 de janeiro, no Clube Botafogo de Futebol e Regatas (Av. Venceslau Brás, nº72 – Botafogo). As inscrições poderão ser feitas no site da Confederação Brasileira de Basketball (www.cbb.com.br) a partir de segunda-feira (dia 13).
O curso de formação Nível I é destinado a todos os profissionais de educação física e que trabalham com basquete, e foi dividido em dois módulos: presencial (32 horas/aula) e à distância (28 horas/aula). Os inscritos serão submetidos a três avaliações. Uma após o módulo presencial, outra durante o módulo à distância e uma avaliação prática seis meses após o módulo presencial. Nos meses de janeiro e fevereiro, a ENTB promoverá mais dois cursos Nível I, nas cidades de São Paulo e Recife.
Os treinadores que estiverem de acordo com o sistema CONFEF/CREF e que forem aprovados no curso de Formação Nível I com média sete ou superior (somatória das três avaliações) receberão o certificado e a carteira definitiva “Nível I”. Os demais receberão o “Certificado de Participação”.
CORPO DOCENTE NÍVEL I
Aluísio Elias Xavier Ferreira (Lula)
André Germano
Dante De Rose Jr.
Diego Jeleilate
Flávio Davis Furtado
Hermes Ferreira Balbino
José Alves dos Santos Neto
Maria do Carmo Mardegan Ferreira (Macau)
Paulo Roberto Bassul
Roberto Rodrigues Paes
Sérgio Maroneze
Tácito Pinto Filho
CADASTRO NACIONAL DE TREINADORES DE BASQUETEBOL
O cadastro Nacional de Treinadores de Basquetebol continua recebendo inscrições. Os objetivos são mapear e quantificar os profissionais do basquetebol no Brasil, além de ser uma importante ferramenta de informação e comunicação entre os profissionais da modalidade. Os técnicos devem se cadastrar no link: CADASTRO.
Em 1963, logo após minha licenciatura em Educação Física pela ENEFD/UFRJ, fiz o Curso de Técnica Desportiva, em Basquetebol, na mesma instituição, com a duração de 360 horas, em dois semestres de atividades teóricas e práticas, paralelamente a atividades em escolas e clubes, na mesma modalidade, numa somatória de estudos e praticidade que marcaram minha formação.

Em 1983 fui o responsável por curso correlato no IEF/UERJ, naquele que foi o último curso de formação de técnicos no Rio de Janeiro dentro de uma instituição formadora de professores em Educação Física.

Foram cursos completos, com disciplinas voltadas a formação de um técnico de basquetebol, onde a Psicologia Desportiva, a Cinesiologia, a Fisiologia e a Organização e Administração complementavam os aspectos teóricos e práticos do grande jogo.

Daí para frente, com a pulverização dos cursos de educação Física na área do humanismo, e conseqüente ida dos mesmos para a área biomédica, toda uma estrutura de formação de técnicos foi transformada em apoio paramédico aos novos comandantes das atividades físicas no país, os médicos, com sua cultura voltada ao corpo e a saúde, hoje um dos grandes negócios do país, movimentando acima de 12 bilhões de reais anualmente, segundo o Atlas da Educação Física e Desportos, do Comte. Lamartine Costa, e tendo o apoio logístico e político do Sistema Confef/Cref,  avalista e garantidor do grande negócio em que transformaram o desporto e as atividades físicas no país, claro, fora das escolas, garantindo uma clientela utente de seus serviços quando na idade adulta, o que seria seriamente prejudicado se tais princípios educativos, esportivos e salutares fossem adquiridos através os currículos escolares, que é um direito cidadão amparado e previsto pela constituição do país, mas sócio politicamente vetado aos jovens brasileiros.

Agora, assistiremos o segundo capítulo de uma ENTB voltado ao Nível 1, meses após ter sido dada a partida da mesma através um curso formativo de Nível 3, onde num prazo de 4 dias dizem e afirmam solenemente terem preparado técnicos para a elite do basquete nacional, e ao módico custo de 800 reais, onde atividades de quadra foram inexpressivas, e até palestras sobre direito esportivo foram feitas, num currículo confuso e equivocado.

E o mais sério, se percorrermos o corpo docente para esse nível (pressupondo existirem outros para os demais níveis…), e o colocarmos frente ao numero de horas aulas previstas para o curso, 32 presenciais nos 4 dias iniciais, e 28 à distância, com uma avaliação prática seis meses após o modulo presencial, podemos concluir que se dividirmos essas horas por 12 professores, teremos 5 horas para cada um ( não sei se suportaria tal carga de trabalho…), se todos derem suas aulas. Mas se os dividirmos pelos demais dois cursos que serão realizados em São Paulo e Recife, teremos 15 horas para cada um, numero esse rigorosamente insuficiente para percorrerem, por exemplo, três fundamentos básicos, como passes, dribles e arremessos, para começar.

Mas como tudo pode ser possível nesse país de vivaldinos (?), veremos e comprovaremos brevemente que- “Os treinadores que estiverem de acordo com o sistema CONFEF/CREF e que forem aprovados no curso de Nível I com a média sete ou superior (somatória das três avaliações) receberão o certificado e a carteira  definitiva “Nível I”. Os demais receberão  o “Certificado de Participação”. ( Diretriz constante do regulamento da ENTB), fato este que oficializará a festa dos provisionados, a grande massa critica do famigerado sistema.

Podemos então agora perceber com clareza, os porquês de muitos dos grandes professores e formadores de jogadores estarem fora da ENTB, pois jamais admitiriam que tal escola funcionasse de forma tão primitiva e rudimentar, ainda mais quando a mesma foi, é, e continuará a ser coordenada em sua formatação e padronização (?)  por um preparador físico, e não um professor e técnico de basquetebol, numa inversão de valores comprometedora e constrangedora àqueles que aceitaram e aceitam tal liderança, e mais, sendo todos seus integrantes ligados desde sempre à CBB, numa flagrante marginalização dos demais e competentes professores e técnicos espalhados e trabalhando em todo o país.

E se observarmos bem o logotipo da ENTB, concluiremos ser o mesmo o retrato autêntico e fiel de sua missão baseada na padronização de um sistema falido e mal intencionado, a começar pela prancheta lá eternizada, com seus garranchos ininteligíveis, ali bem demonstrados em vermelho, onde setas apontam para lugar nenhum, numa alegoria de seu equivocado direcionamento.

Mas fico profundamente curioso para testemunhar mais uma conquista brasileira para o mundo, a de, por mais uma vez, formar técnicos do grande jogo em 4 dias presenciais, façanha esta que bem demonstra nossa capacitação única de enganar, e adorar ser enganado, na medida que um certificado aconteça.

Peço aos já cansados e desiludidos deuses que nos ajudem, uma vezinha mais…

Amém.

A SIMPLE WORD (NOT THOUSAND…)

DEFENSE!  DEFENSE!  DEFENSE!

WHERE IS IT?

Foto Morry Gash – AP

OUSAR PARA VIVER…

Foram 271 arremessos de três nessa rodada, e uma equipe, a de Joinville conseguiu a façanha de arremessar mais de três do que de dois (14/38, 18/34) em seu jogo contra o Pinheiros, num total de 62 tentativas de longa, e agora ampliada, distância.

Em tempo algum o sistema único de jogo, com seus especialistas nas posições de 1 a 5, atingiu tal culminância da alcançada nesse NBB3, onde, inclusive, pivôs  retornam gloriosamente aos arremessos de três, situando-se num perímetro onde a captação de rebotes é nula, função básica de um reboteiro de ofício.

E com a maior abrangência de espaços, decorrentes do aumento na distância da linha de três, os embates de 1 x 1 se tornaram mais freqüentes, nos quais a pouca habilidade nos dribles e fintas, somada à inabilidade defensiva da maioria dos jogadores, culminam numa sucessão de erros de fundamentos altamente preocupante numa divisão de elite, agravada quando defesas zonais são empregadas, desencadeando uma hemorragia de arremessos de três, solução que dispensa(?) maiores envolvimentos com chatíssimos dribles e fintas.

E por sobre tal cenário, nosso técnico nacional percorre o país desenvolvendo um projeto de seleção permanente para jovens de 15 a 18 anos, cujo referencial básico é fazê-los jogar de forma parecida com a divisão adulta e seu sistema único de jogo, codificado, marcado e coreografado, cujo grau de previsibilidade é de conhecimento até de técnicos chechenos e esquimós.

Combater essa previsibilidade técnico tática teria de ser a prioridade das prioridades, onde um ensino qualificado dos fundamentos, em todas as suas minúcias e variações, se constituiria no projeto a ser atingido numa preparação séria e responsável, além de uma segunda etapa, a busca de sistemas diferenciados de jogo, que explorassem todas as potencialidades naturais de nossos jovens, e que se constituíssem numa fonte inesgotável de criatividade e leitura permanente de jogo, habilidades estas hoje obliteradas pelo monitoramento das ações, de fora para dentro da quadra de jogo.

Acredito firmemente que somente um grande esforço voltado ao eficiente e responsável ensino dos fundamentos individuais e coletivos em nossas divisões de base, nos tiraria dessa repetição do óbvio, dessa mesmice técnico tática, desse limbo em que nos encontramos.

Mas para tanto, torna-se urgente e necessário uma reformulação de clinicas e atualizações, nas quais se perdem recursos e precioso tempo em discussões inócuas, proferidas por pessoal não qualificado na função de ensinar a ensinar a base do grande jogo, seus fundamentos, mais preocupados com preparação física, testes inconseqüentes, padronizações e formatações de caráter coercitivo e altamente limitadoras.

Essa deveria ser a função precípua da ENTB, e que por si só já renderia estudos e pesquisas, se bem planejadas na pratica. Formar um pequeno exército de professores habilitados no ensino correto dos fundamentos, precederia toda e qualquer tentativa de se implantar sistemas de jogo antes de alcançadas as metas projetadas para os mesmos, sem os quais sistemas inexistem em precisão e confiabilidade.

Mas como abandonar as pranchetas, o sistema único, a confraria que os utilizam, e por isso mesmo se tornam fonte de emprego e aparente fonte de segurança e continuísmo, em prol de uma atividade que exige muito estudo, pesquisa e trabalho, muito trabalho, e acima de tudo quase sempre mal pago?

Isso me lembra um técnico que justificava seu posicionamento de não estudar, com uma pérola de raciocínio – Porque perder meu precioso tempo estudando, se existem malucos como você que estudam e pesquisam? Vejo o que dá certo com você e simplesmente o aplico, sem sacrifícios e inúteis renúncias.

Creio que é chegada a hora de decidirmos o que queremos para o soerguimento do nosso basquete, e um primeiro passo foi tentado por mim no Saldanha da Gama, onde baseei todo o trabalho nos fundamentos e num sistema diferenciado de jogo, provando ser factível que adultos se exercitem nos fundamentos, com melhoras e aprimoramento técnico visível. Por que não nossos jovens? Mas Paulo, você ficou fora do NBB3 por conta dessa tentativa, não?  Sim, numa prova cabal de resistência de um status quo solidificado, mas que pode, e deve ser rompido, se quisermos sair dessa mesmice, desse deserto de idéias e ausência de criatividade.

Ousar é sinônimo de vida, de progresso. Ousemos então.

Amém.