A REVOLUÇÃO RUBRO NEGRA (FROM ROME)…

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Depois de um dia cansativo visitando o Museu do Vaticano, com sua monumental Capela Sistina, voltei ao hotel praticamente me arrastando, pois foram, segundo o pedômetro digital do meu filho, 11 km de incessante caminhada entre salões de beleza absoluta, e riqueza material e iconográfica de tirar o fôlego, valendo cada passo dado, mesmo ressentido pelo extremo cansaço…

Tomo um revigorante banho, faço um pequeno lanche, e acesso os blogs que costumo percorrer, mesmo em viagem, e num deles, o Bala na Cesta, ouço o podcast com o técnico campeão do NBB, Gustavo de Conti, de onde pinçei alguns depoimentos, que em tudo e por tudo, consubstanciou todos as críticas que fiz ao seu trabalho no campo profissional, jamais no pessoal, pois como sabemos se trata, assim como eu, de um professor de educação física e técnico com qualificação superior, onde princípios éticos tem de ser respeitados, mesmo perante fortes divergências que possam ocorrer, as quais mantenho, mesmo na presença inconteste de seu título nacional, que é o fator definidor e definitivo do sucesso em nosso inculto país, principalmente por parte da mídia, que se alimenta basicamente do mesmo, não importando muito sua significação cultural ou educacional, pois a fundamentação mercadológica tem maior peso por tudo que esteja envolvido pelo desporto como profissão, do sucesso, e acima de tudo, dos títulos…

Ao vencedor os louros e a glória, aos perdedores…as batatas. Foi com esse raciocínio frio e objetivo, que transcorreu a entrevista, na qual dois pontos foram abordados, e que definiram o autor e a obra – O primeiro foi a óbvia revelação de que perante um basquetebol em que as defesas são muito fracas, o estilo de jogo do “chutar e chutar estando livre” foi incentivado e treinado fortemente, onde, pela velocidade imprimida não facultava pensar muito, e sim reagir velozmente perante a ausência defensiva. – Segundo, com exceção do pivô DuSommers, todos os demais tinham plena liberdade de chutar sempre que pudessem e se sentissem desobstruídos defensivamente, que era o lugar comum encontrado. Logo, a grande revolução que foi desencadeada à sombra dos exemplos do Warriors e do Huston, e que segundo ele, também de algumas equipes europeias, foi o fator decisório ao implantar esse estilo de jogo, aplaudido pelos midiáticos como de extrema coragem e sabedoria absurdamente vitoriosa…

Esqueceram porém que, agora mesmo na matriz, a chutação de fora já está sendo contestada com maior vigor, e que somente aqueles poucos que realmente são especialistas nos longos arremessos, ainda conseguem pontuar com precisão, e onde a quantidade de bolinhas falhadas crescem a olhos vistos, e as estatísticas aí estão atestando a cada jogo da grande liga. Claro que não se trata do caso tupiniquim, onde por um longo tempo adiante, conviveremos com defesas frouxas e até inexistentes, pelo simples fato de que nossa formação de base começa pecando exatamente no aspecto defensivo, entre outras e lamentáveis falhas nos fundamentos básicos do jogo…

O desafio rubro negro, que apesar dos grandes investimentos não vence a duas temporadas, contará com essa possibilidade importada dos jardins paulistas, totalmente calcada na falência defensiva da maioria das equipes da LNB, acrescida agora de nomes de maior peso na sua formação de quadra, e nada mais óbvio do que contratar o corajoso e destemido introdutor do “formidável e revolucionário chega e chuta”, que dispensa videos de preparação, muita conversa, diálogos, centrando o treinamento no binômio velocidade e tiro livre aos pombos, e logo agora que o decano dessa “filosofia”acaba de se aposentar (mesmo?…)

Fim da entrevista e aplausos dos entrevistadores, com exclamações de “genial”…

Paro e penso (ações que a nova revolução dispensa nos jogadores), o que nos aguarda se ‘isso” aportar oficialmente (já que oficiosamente lá está) em nossas seleções, inclusive as de base, pois segundo o genial desbravador, uma das suas funções preferidas, mesmo quando não solicitado pelo empregador, é a de prestigiar e orientar a formação de base (ou administrar “peneiras”com jovens advindos dos verdadeiros e sempre esquecidos formadores locais, ou mesmo de fora), e é nesse ponto que me arrepio só de imaginar oficializada, não mais a mesmice endêmica técnico tática que nos esmaga e humilha, mas sim a chutação desenfreada (agora promovida a sistema de jogo) e absurdamente oportunista, produto direto e natural da mais endêmica ainda, ausência defensiva em nosso indigitado basquetebol, que é o que não ocorre, com a mais absoluta certeza, com países que enfrentaremos mais adiante nas competições internacionais, e aí quero ver e testemunhar  como vai se comportar a tal de “revolução”……

Paro e penso um pouco mais na absoluta covardia que se perpetua no âmago do grande jogo em nosso imenso e desigual país, órfão do mérito e escravo do colonialismo cultural daqueles de dentro e fora das quadras, que pensam e afirmam a existência do grande jogo concomitante ao início de suas vidas, revigorando em mim, num crescendo inamovível, a vontade de continuar nesta humilde trincheira batalhando uma luta ainda não perdida, a boa luta, aquela que me faz pensar o quanto ainda posso mostrar a esse corporativismo que se apossou do basquetebol nacional, como vencê-lo nas quadras, defendendo e atacando, treinando e preparando jogadores pensantes e proprietários de sistemas de verdade, nossos, dentro da nossa realidade, exatamente como fiz no NBB 2, inclusive contra o agora revolucionário campeão nacional, e o campeão daquele NBB, vencendo-os…

Mas Paulo, segundo ele e seus contemporâneos, hoje o grande jogo mudou, pensa-se menos e corre-se mais, corando de vergonha e nojo aqueles que corriam menos e pensavam suas ações inteligentes sobre a cultura inalienável do grande, grandíssimo jogo, desde sempre, deixando uma questão no ar – Caminhamos celeremente de encontro ao jogo instintivo, onde o livre pensar é dispensável, levitando no vácuo da ignorância absurdamente consentida? Pensem e escolham, pois sempre será esta a minha pensada e coerente resposta…

Amém.

Fotos – Arquivo pessoal. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.



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