VERGONHAS, A e B…

A– O Petrovic em recente testemunho ao programa Hello LA do Sportv, discorreu longamente sobre sua volta à direção da seleção brasileira, depois de dirigí-la de graça (?) no Pré-Olímpico para Paris, quando classificou-a na difícil competição…

Falou, discursou muito, no seu confuso portunhol, colocando-se como o arauto da nossa retomada do grande jogo ao cenário internacional, prometendo lançar cada vez mais jovens promessas no ciclo olímpico que se inicia, conclamando os técnicos tupiniquins que façam o mesmo em suas equipes, numa caminhada onde seu exemplo renovador deveria ser aceito e seguido por todos aqueles empenhados no ensino e aperfeiçoamento técnico tático a imagem e semelhança de seu esforço junto aos jovens talentos desse imenso, desigual e injusto país…

Guardou, surpreendentemente, a cereja do bolo ao final de sua retórica, brava retórica, a de passar o comando da seleção, se classificada a Los Angeles, a um técnico nacional, numa pungente renuncia, que no entanto gera uma outra real e objetiva pergunta – E se não classificar? Bem, os salários, altos e dolarizados salários de todo um ciclo já estariam devidamente embolsados, restando somente uma classificação no bojo de um formidável e inovador (?) projeto, que seria vivenciado por um brasileiro, que qualquer um nada, pouco ou muito conhecedor dos meandros do basquetebol pátrio já conhecem de cor, Spliter, um gênio que apesar de nunca ter militado até bem pouco tempo na direção de equipes, se situa acima de qualquer julgamento inter pares, por seu absolutamente incomparável conhecimento do grande jogo, em sua complexa sistemática, e profunda preparação de jogadores, técnica, tática e mentalmente orientados…

Meus deuses basqueteiros (ou não), onde se encontram nossos mais profundos, dinâmicos e competentes ases das pranchetas, “aquelas que falam”, aqueles que deitam prolixamente vastos conhecimentos fora e dentro das quadras, esbravejam contra arbitragens, gesticulam teatralmente quando se veem focados pelas lentes televisivas, emitem prognósticos e opiniões que nem mesmo eles acreditam, que se dizem conhecedores dos atalhos que levam às vitórias, mesmo estando todos sob a égide de uma sistemática formatada e padronizada, geradoras de uma mesmice endêmica que nos tem ferido de morte por algumas décadas, e da qual somente emergiremos com muito e penoso trabalho a médio e longo prazos, mas que encontra agora uma válvula de escape pelas mãos de um milagroso croata, e no razoável prazo de um ciclo, destinando magnanimamente seu ápice a um treinador nacional…

Grande Petrovic, puxa vida, agradecemos penhorada e emocionadamente tão grandioso e fantástico presente. Quanto a mim, já técnico experiente, o vi jogar ao lado de seu estreante irmão, Drazen, pela seleção da Iugoslávia contra a brasileira no ginásio corintiano nos anos 70, e que agora comanda nossa seleção em dois ciclos olímpicos, ostentando um salvador, renovador e hermético discurso, o qual gostaria imenso de, particularmente, não concordar e aceitar, por um único e singelo motivo, aprendido e apreendido com meus pais, mestres, alunos, jogadores, amigos e irmãos, o de ter vergonha na cara, simplesmente isso, vergonha na cara.

Primeira ação da partida, uma bola de três para o Flamengo…
Segunda ação na partida, outra bola de três para o Pato. Dai em diante uma incontrolavel e generalizada tempestade de bolinhas…

B– Imaginem um caótico jogo, com mais de 80 arremessos na partida, muito acima dos de dois pontos, mesmo que com uma prorrogação, imaginaram o absurdo tiroteio? Pois é. esse jogo aconteceu esta semana, Flamengo e Pato cometeram esta insanidade, e acredito que estão prontos para continuá-la, numa competição “como você nunca viu”, segundo os propagandistas da Liga, com pouca técnica, até concordam, mas com emoções extremas, pena que na presença de ginásios semi desertos, repletos de narradores e comentaristas ensandecidos com a profusão de tocos, enterradas e, claro, bolinhas em profusão. Eis os números:

               Flamengo   110  x  103     Pato

                           21/38      2      20/39

                           13/43      3      16/39

                           29/32     LL     15/18

                                57      R      34

                                12      E        9

Pelas continhas – Arremessos de 2   – 41/77

                             Arremessos de 3   – 29/82

                             Lances livres         – 44/50

                             Erros de fund.       –  21

Ficam perguntas no ar –  Quem marcou, defendeu nesta partida?

                                        Que maravilhosos sistemas propiciaram tantas tentativas livres de cesta?

Ouso responder- Ausência quase total de princípios de equipe, numa aventura colossal de individualidades, advindas de inexistência defensiva, e de liderança e comando responsável. Abreviando, uma descomunal pelada, onde a turma estrangeira se locupleta triunfante, e claro, no mais puro inglês, e por que não, castelhano também. Sobra-nos as pranchetas, “aquelas que falam”, e como…

O novo e prometido osmótico Delfin…

E no rufar triunfante dos tambores, emergirão nossas seleções, atuando como jogamos internamente, solidificadas pela sanha orgiastica das bolinhas de três, arremessadas por todos em quadra, de todos os quadrantes e formas, não fossemos nós (numa absurda crença geral) os maiores especialistas mundiais nas mesmas, contando, inclusive, com a progressiva aderência e anuência do Petrovic, que aqui aportou com um discurso oposto a essa forma arrivista de jogar, e hoje, cada vez mais, fã do estilo, garantidor de seu excelente e muito bem pago emprego, o qual se desfará ao passar o comando a um já definido (mas sutilmente não exposto) brasileiro, para a competição olímpica. Neste momento voltemos uns paragrafos atrás, onde uma pergunta se faz ecoar – E se não classificar? Pano rápido…noves fora as já equacionadas responsabilizações, num magistral projeto de ciclo olímpico…

O reinado das bolinhas…

Quem viver verá.

Amém.