O sucesso técnico tático de uma equipe será diretamente proporcional ao maior ou menor domínio que seus componentes tenham sobre os fundamentos básicos do jogo.
Uma simples equação frente à realidade de fatos não tão simples assim, já que no entrechoque de duas realidades realmente antagônicas, somente aquela que mais se aproximasse de sua lógica, seria contemplada com a vitória.
A Argentina domina os fundamentos básicos do jogo, o Brasil, na maioria de seus integrantes, não. Por conta disso, o sistema de jogo argentino flui com naturalidade, o brasileiro oscila, trava, se esvai em tentativas limitadas pela ausência dos conhecimentos básicos do jogo, nos dribles, fintas, passes, rebotes, posicionamento defensivo, corta luzes, bloqueios, e principalmente, arremessos. E quando menciono integrantes relaciono não somente os jogadores, mas os técnicos também, alguns deles, os estrategistas…
Exemplifiquemos:


– Observemos essas duas fotos do 1º quarto: Na primeira, a equipe brasileira opta pelo jogo interior, com seus pivôs em constantes deslocamentos, com o ala os apoiando, e a armação razoavelmente solta para acioná-los, o que foi feito nesse quarto de forma eficiente (agora vem o Lamas “esclarecer” que a soltura do Huertas foi proposital, no que duvido um pouco…).
Na segunda, os erros de fundamentos começavam a aparecer e influenciar no resultado, principalmente nas trocas frente aos corta luzes argentinos, bem feitos e bem concatenados. Mesmo assim foi um quarto bom para os brasileiros.

Nesse quarto, a eficiência dos arremessadores argentinos se faz presente, ante a falta de contestação defensiva brasileira (erros defensivos de fundamentos), originando uma contagem positiva para os mesmos, assim como o apoio aos pivôs decresceu substancialmente no ataque brasileiro.


Mas foi no 3º quarto que a tendência argentina de congestionar seu garrafão numa flutuação lateralizada se fez presente, tornando os ataques internos brasileiros em uma luta solitária de um pivô sem ajuda de outro e mesmo de um dos alas, todos estáticos na espera, ou de uma ação anotadora do armador, ou da improvável pontuação do pivô, dando inicio ao tradicional reinado das bolinhas, com a grande maioria de suas tentativas, 7/23, perpetradas nesses dois quartos finais, no mais notório de nossos erros de fundamentos, os arremessos desequilibrados, afobados, mal selecionados, e por tudo isso, ineficientes e até irresponsáveis, fora o drama dos lances livres, inconcebível numa seleção nacional pretendente a uma medalha olímpica. Some-se a isso o “freio” na movimentação ofensiva dos pivôs, onde o Varejão era o mais atuante, e que foi preterido no quarto final por um Spliter inseguro, ou um Nenê a meia boca, estáticos e inoperantes, sem sequer a ajuda do Guilherme e do Marcelo, ambos se posicionando no perímetro externo para as…bolinhas salvadoras (?)


Enquanto isso, um Scola mais solto decidia no âmago da defesa, ora concluindo, ora voltando a bola para os eficientes arremessos externos, sem contestações, sem coberturas, assim como o Alex perde um contra ataque forçando faltosamente sobre o Ginobili, quando poderia passar a bola a um companheiro melhor colocado, seguido por uma perda de bola do Leandro ao tentar uma finta com bola sobre o mesmo Ginobili, demonstrando sua carência nesse fundamento, que é uma das armas mais eficientes de seu oponente.

Entretanto, a artilharia ineficaz e desesperada continuaria, quando uma ação voltada aos dois pontos de cada vez deveria ter sido a opção mais inteligente, frente a uma seleção que demonstrava estafa, e por conseguinte grandes dificuldades para frear possíveis incursões interiores por parte de uma seleção com muito pouca leitura estratégica de jogo (fundamentos coletivos), e por isso talhada à derrota.
Finalmente, duas das mais impactantes evidências, expostas nas duas fotos a seguir, quando na primeira, um exemplo perfeito de domínio dos fundamentos individuais e coletivos nesse corta luz argentino por sobre um ineficaz, por falho, domínio dos mesmos no aspecto defensivo por parte dos brasileiros. Essa realidade insofismável traça, como vem sendo traçada a grande e determinante diferença que separa os dois países no trabalho de base, onde são forjados os grandes jogadores, frutos do perfeito domínio dos fundamentos do jogo.
Na outra, para aqueles que realmente conhecem os fundamentos da arte dos arremessos, e principalmente, como ensiná-los (e aqui propugno e afianço não ser a idade e o status de qualquer jogador para que o mesmo seja devidamente corrigido, aprimorado, ou mesmo ensinado por quem realmente sabe fazê-lo), uma visão de como não arremessar um lance livre (observem o movimento final da mão impulsionadora, a responsável pelo direcionamento da bola) por parte do Spliter.


Concluo com uma observação prática, quando no comando da equipe do Saldanha da Gama no NBB2, deparei-me com o drama real de uma equipe, que dentre varias deficiências nos fundamentos, a endêmica perda dos lances livres era a responsável por muitas das derrotas da equipe (publiquei uma serie de 49 artigos reportando o dia a dia dos treinamentos e jogos, e o primeiro deles está aqui). Corrigi a deficiência, treinei profundamente os fundamentos, e passamos a vencer jogos contra grandes equipes, principalmente nos…lances livres.
Exatamente por isso fico surpreso quando vejo comissões técnicas de nossas seleções, recheadas dos maiores luminares da profissão (depreendo que sejam, pois lá estão……), com vastíssima experiência no ensino dos fundamentos, senhores das melhores didáticas inerentes ao mesmo, advindos da brilhante e pródiga formação de base que possuimos, unidos em torno de uma forte e progressista associação de técnicos, todos comprometidos com os designios de uma verdadeira politica de desenvolvimento do desporto no país, ungidos pela ética e pelo trabalho orientado pelo mérito e pelos principios democraticos, sobraçando prosaicas e midiáticas pranchetas, e apresentando o resultado de todo esse magnifico empenho nas competições dos últimos anos, como essa recem finda em Londres, quando, para a surpresa dos mesmos (ah, os detalhes…) perdemos exatamente por não dominarmos os rudimentos básicos do grande jogo, seus desprezados fundamentos, sem os quais Magnano nenhum no mundo conseguirá prosperar seus sistemas de jogo.
A equação de primeiríssimo grau tem de ser resolvida para 2016, senão…
Amém.
Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.
Amém.