EVOLUINDO…

Foi uma noite surpreendente, com um bom e animado público, uma quadra renovada, e muita gente importante para o basquete, prestigiando-o e valorizando uma modalidade que luta com denodo por seu soerguimento.

`                      Mais surpreendentes ainda alguns aspectos técnicos que foram apresentados, como a já estabelecida dupla armação, desenvolvida pelas quatro equipes presentes na rodada inaugural, com uma delas, o Flamengo, jogando praticamente a partida inteira não com dois, mas com três armadores e dois pivôs de grande mobilidade ( o Caio parece estar mais leve), ação esta que quando estiver bem estruturada e treinada dará um enorme trabalho às defesas que o enfrentarem.

No primeiro jogo, Tijuca e Pinheiros fizeram um primeiro tempo bastante equilibrado ofensivamente, mas pecando em demasia nos sistemas defensivos com a adoção, por ambas, das dobras dentro do perímetro, a fim de tentarem conter o forte jogo interior adotado pelas duas, permitindo que voltas de bola encontrassem os arremessadores sempre desmarcados. Essa tendência foi mais evidente no terceiro quarto, com a equipe carioca acelerando o ritmo da partida, quando deveria ter feito exatamente o contrario, cadenciar ao máximo ante uma equipe ofensivamente superior, permitindo um maior controle e valorização de posse de bola, diminuindo a incidência de erros, e obrigando o adversário, pelo significativo aumento da velocidade a cometê-los. Não o fazendo, e tentando acompanhar o ritmo vertiginoso imposto pelo Pinheiros, se perdeu nos erros e praticamente nada produziu daí em diante, perdendo uma partida por não conseguir administrar sua volúpia ofensiva em detrimento de uma postura defensiva mais rígida e atenta, pontos que terá de aperfeiçoar se quiser evoluir positivamente no campeonato.

No segundo, a equipe do Paulistano jogou os três quartos iniciais com muita força defensiva e uma excelente postura nos rebotes, mas trocava demasiados passes lateralizados em suas ações ofensivas, o que tornava suas conclusões precipitadas pelo limite dos 24seg. Um trabalho mais incisivo na direção de seus muito bons pivôs, e a tarefa da equipe rubro negra teria sido bem mais exaustiva.

No quarto final, a trinca de armadores composta pelo Helio, o Leandro e o americano Jackson, inspiradíssimo nos arremessos de três pontos a ele liberados pelas incisivas incursões de seus hábeis pivôs, forçando uma compressão defensiva dentro do perímetro interno dos paulistas (vide foto), e deliberadas voltas de bola para fora do mesmo, proporcionou uma folga razoável no placar para os cariocas, mantido até o final do jogo.

Concluindo, podemos atestar que o principio da dupla armação já está se estabelecendo na maioria das equipes participantes da Liga, e que por decorrência desta evidência o jogo interior começa a ser desenvolvido por pivôs mais velozes, jogando de frente para a cesta e efetivamente participando de todas as ações ofensivas de suas equipes, e não somente lá estando para apanharem rebotes e concluírem nas sobras embaixo das cestas, numa evolução realmente instigante e positiva para o futuro do nosso basquete, do grande jogo.

Como vemos, podemos, mesmo que homeopaticamente evoluir na direção oposta à mesmice endêmica representada por um sistema único que nos engessou por mais de duas décadas, e que agora ensaia uma  retomada técnico tática que nos pode catapultar de volta a elite mundial, mas não antes que sedimentemos tão salutar tendência na formação de base, principalmente nos fundamentos do jogo.

Amém.

Foto-Disposição ofensiva do Flamengo. Clique na foto para ampliá-la.

A ONIPRESENTE CHIFRE…

É chifre para cima, chifre para baixo, para o lado, invertido, falso, forte, dissimulado, chifre para tudo e para toda situação de jogo. Sem dúvida o chifre está valorizado, e como.

Tempo pedido, discute-se, às vezes xinga-se, outras silenciam, mas ao final o lembrete: -“vamos de chifre, ah, pra baixo”…

E lá vão os jogadores chifrar o oponente, mas com uma importante ressalva, o fazem sem mudar, acrescentar absolutamente nada ao que vinham, vem e virão a fazer enquanto jogarem, pois simplesmente… chifram.

Observo atento, não, concentrado, concentradíssimo na jogada chifre em questão, e nada, absolutamente nada vejo de diferente, inovador, criador, ou mesmo contestador, nada.

-“Os caras não podem continuar a ganhar os rebotes no ataque, não podem arremessar livre de fora, bandeja então, nem pensar. Marquem forte, e usem a chifre (alto, baixo, pro lado, ora, o que importa desde que seja a chifre…)”.

Mas como todo jogador criativo, exemplo, o Shamell, atuando dentro de uma chifre genérica, sai de sua zona preferida para os chutes estratosféricos de três (às vezes depreendo ser essa a verdadeira função das chifres, colocar jogadores para arremessos de três, será?), e mata o jogo com seis pontos seguidos de DPJ, um deles acrescido de reversão, todos de dois pontos, próximos, seguros, eficientes, fechando a série para a sua equipe.

Do outro lado, uma equipe ensandecida nos arremessos de três e um furor de inócuos dribles por parte de armadores que simplesmente resolveram riscar o jogo interior de suas preferências, e claro, atuando numa chifre polivalente.

Nos três jogos finais as duas equipes finalistas do paulista, perpetraram um 58/145 nos arremessos de três, contra 111/205 de dois pontos, e cometeram juntas 78 erros em perdas de bola, e tudo sob a égide de jogadas nunca obedecidas e defesas permissivas, mas ambas, perfeitamente alinhadas pela mais emblemática das jogadas exigidas, quem sabe até um sistema, a onipresente chifre.

O que me preocupa de verdade, é que o argentino também tem uma queda por ela, o que justifica a sempre presente hemorragia dos três, que nos tem causado tantos contratempos.

E foi sob esse cenário que um talentoso Shamell resolveu e definiu um jogo de 2 em 2, simples e nada glamoroso, sem enterradas e tocos cinematográficos, apesar de ter levado um decisivo na terceira partida da série.

Mas com ou sem chifre, parabenizo a equipe do Pinheiros por sua conquista, e ao Shamell em particular, por sua inteligente opção.

Amém.

OBS-Antes que me questionem – DPJ- Drible, parada e jump, classica jogada dos que sabem jogar o grande jogo.

SEM IMPORTÂNCIA?…

Sem importância? Como sem importância em se tratando de uma seleção brasileira num torneio internacional?

Lá estava a maioria de nossos veteranos, a base da equipe campeã nacional, o pivô líder na posição no NBB, e que só não foi ao Pré Olímpico face a uma cirurgia no ombro. E mais, o Benite , um dos armadores na conquista da vaga olímpica, e uma gama de jovens talentos para serem analisados dentro de uma competição com seleções de respeito, como Porto Rico e Republica Dominicana, além das sempre bem representadas Argentina e Estados Unidos. E tudo isso não tem importância? Ou queremos, ou teimamos em projetar uma futura performance em Londres contando somente com a base veterana representada em Guadalajara?

Quando a câmera da TV passeou pelo banco da seleção nos minutos finais do jogo contra os dominicanos, pudemos testemunhar o quanto de sofrimento e decepção estampava os rostos de toda a delegação, e a foto acima bem representa o estado de espírito da mesma, incrédula pelo pífio resultado.

E o quanto esse “pífio resultado” representa para Londres, já pensaram nisso? E o que terá de ser analisado, estudado, pesado e modificado pelo Magnano depois do que constatou na pratica quando uma equipe de escaldados veteranos e um armador jovem foram batidos por defesas pressionadas, em meia quadra pelos americanos, e quadra inteira pelos dominicanos, deixando serem descontados 17 e 20 pontos de vantagem naqueles jogos, e o pior, em apenas um quarto de cada jogo?

E que tal recordarmos que mesmo jogadores saudados como sumidades, como o Huertas e o Luz se viram em maus lençóis em Mar Del Plata quando fustigados por pressões pontuais, em nada comparadas com as pressões utilizadas no México?

Então, nos vemos com um problema de difícil solução em dupla armação (utilizada em ambos os jogos como medida para se safar das pressões, geralmente reunindo Nezinho e Benite), imagine então com somente um único armador, como a maioria absoluta de analistas, críticos, técnicos e torcedores reivindicam, afim de “garantir” a estatura da equipe? No entanto esquecem que ambos, Huertas e Benite se situam na faixa dos 1,90m, que para armadores de oficio auferem um bom padrão. O que não pode é querermos escalar Marcos, Marcelo e Alex como armadores sem as qualificações técnicas para a posição.

Mesmo os armadores, e esse Pan centrou bem a questão, viciados por anos e anos de solitária incumbência de liderar suas equipes, e que raramente sofreram em sua progressão pelas varias categorias, de marcações pressionadas de qualidade, deixaram de incluir em seus arsenais de habilidades técnicas aquelas manobras em sintonia fina, que os diferenciam de armadores forjados e formados em países onde a arte de defender é realmente levada a serio. É o que temos visto, comentado e alertado ano após ano em nosso país, e que se revelaram em toda a sua dimensão trágica neste Pan, e mesmo em muitas situações no Mundial e Pré Olímpico. Ou seja, uma referencia baseada única e exclusivamente na precariedade de nossa formação de base, onde os fundamentos do jogo foram, são, e continuarão sendo negligenciados, se não tomarmos e implementarmos profundas mudanças na forma de ensiná-los, principalmente os de defesa, que se constituem no pólo irradiador na melhoria dos fundamentos de ataque, numa troca progressiva de conhecimentos técnicos individuais e coletivos, adquiridos exponencialmente.

Sem importância, minha gente? Creio que agora o bom técnico argentino já tenha coletado da forma mais objetiva possível, os dados necessários para a formação de uma seleção consistente para Londres, constatando na mais dura das práticas o quanto de precária se encontra a nossa armação, e o quanto de trabalho que terá de despender para solucionar, ou amenizar tal vácuo, e onde a busca de outras soluções, e mesmo armadores, se fazem estrategicamente urgentes, pois acredito que temos jogadores nacionais talentosos para a posição no país, necessitando somente de um treinamento mais concentrado e competente, além, e isso ficou bem claro, de um sistema de jogo que privilegie o domínio absoluto e duplicado da bola, para daí em diante municiar o jogo interior, onde, pela primeira vez em muitos anos, temos jogadores altos, rápidos e atléticos em boa quantidade, formando uma equipe dinâmica, aonde todos venham a se movimentar incessantemente, tanto dentro como fora do perímetro, e não estabelecidos em suas capitanias hereditárias, pontuais e estáticas, na busca do triplo, da bolinha salvadora.

Por tudo isso, o Pan foi de uma utilidade transcendental, como base de analises e coleta de dados, que se não foram suficientes para vencer, o foram para projetar uma realidade que não podemos e nem devemos omitir, para que não se repita em Londres, onde os realmente melhores, mais técnicos e capazes deverão estar, e somente eles.

Amém.

DEFÊSA-UMA ARTE…

Enfim um jogo, não completo, mas a partir do final do segundo quarto a emissora do bispo, por alguma deferência, transmite o jogo com os Estados Unidos até o seu final.

O que vemos então? Uma equipe americana alinhavada, desconexa, demonstrando ter sido reunida no aeroporto, e claramente jogando nos moldes da NBA, onde o coletivismo passa a léguas de distância, salvo algumas poucas exceções, como o Dallas campeão.

A equipe brasileira, encontrando uma incomum frouxidão defensiva americana, jogando com seus pivôs, deslancha num marcador confortável, ainda mais quando defrontada com uma ofensiva pífia do outro lado.

Tudo ia muito bem, apesar das nossas tradicionais e visíveis limitações nos fundamentos do jogo, até o momento em que a distância de 17 pontos fez acender a luz vermelha no banco americano. E o que fez o técnico daquele momento em diante? Isso mesmo, acertaram, impeliu a equipe a defender como sempre souberam fazer, fustigando nossa armação no plano horizontal (desculpem, um esclarecimento- defender no plano horizontal quer dizer que todo jogador de posse da bola na armação de jogadas deve ser pressionado ao máximo, não para se apossar da bola, e sim o induzindo à penetração horizontal no limite do equilíbrio instável), levando-a de encontro ao âmago da defesa, onde o plano vertical (característico das altas coberturas por parte dos pivôs ali postados) abortavam as tentativas de cestas, principalmente se intentadas pelos armadores, originando retomadas de bola, e conseqüentes contra ataques velozes. E mais, reconhecendo a sua fragilidade técnico tática, abriu os jogadores ao enfrentamento com a defesa num 1 x 1 classico, de onde se originou a reversão do placar num 13 x 0 previsível e acachapante. Só isso, forte defesa baseada em sólidos conhecimentos dos fundamentos da mesma, e ataque incidindo sobre uma equipe sem aqueles mesmos conhecimentos na arte de defender.

Mas o mais emblemático na transmissão foi ouvir comentários desse quilate: “Se eles estão batendo na defesa, temos de bater também, e se tentarem a cesta fácil que vá para os lances livres com o braço marcado de vermelho”. E a pérola definitiva – “Temos de jogar no limite que separa a falta da regra do jogo”. Se bem compreendi, sugeria a utilização da “porrada”, como método de defesa. Me desculpe o laureado comentarista, que nunca foi um bom defensor, mas ainda prefiro que nossos jovens aprendam a defender desde cedo, o que ainda é um fator que teimamos em desprezar, trocando-o por um processo orgiástico e autofágico de arremessos de três, prodigo em seu crescimento, exatamente pela ausência defensiva. E ai estão os resultados.

O Magnano conseguiu no Pré uma façanha digna de ser mencionada, a implantação de uma defesa solidária, mas não o implemento de princípios de defesa pessoal, que é decorrente de longos anos de prática e treinos exaustivos, atingindo pela ocupação massiva o centro da defesa, mas sendo ainda vencida nos confrontos puros de1x1, e nas anteposições aos longos arremessos.

Essa é a meta que temos de atingir a longo prazo, o ensino correto da arte de defender, onde a proibição das defesas zonais e a extensão do tempo de posse de bola nas divisões de base referendariam e fixariam os princípios clássicos da defesa individual, a mesma que uma capenga seleção americana nos impôs ontem, pelo simples fato de terem aprendido como executá-la, desde sua formação de base.

Quando isto for razoavelmente atingido, nossas habilidades ofensivas serão realçadas, pois todo avanço defensivo gera um ofensivo, e vice-versa, numa evolução técnica, e por que não, tática, levando a frente e a grandes conquistas o grande jogo entre nós.

Amém.

Foto-Divulgação FIBA.

COMENTAR O QUE?…

Na semana que passou quis escrever sobre jogos de basquete, como os playoffs em São Paulo, como os jogos da LDO em Minas Gerais, mas como fazê-lo perante alguns obstáculos simplesmente intransponíveis, como por exemplo, a inestancável hemorragia dos três pontos e o absurdo número de erros nos fundamentos do jogo em ambas as competições, além da mais absoluta inexistência de qualquer imagem sobre a importantíssima competição sub 21?

Como aceitar e comentar uma sucessão progressiva de 56, 58 e 59 tentativas de arremessos de três pontos nas três partidas finais entre Paulistano e Limeira, somadas às 90 perdas de bola, numa assustadora média de 30 por jogo?

Como entender a ocorrência de 14/38 tentativas de dois pontos, contra 12/40 de três num jogo Sub 21, no caso Uberlândia em seu jogo contra Vitoria? Foram 120 possíveis pontos para somente 36 conseguidos, num inaceitável comportamento técnico numa divisão formativa, em contraponto a uma ausência de qualquer anteposição defensiva de seu adversário?

Como entender diferenças de mais de 50 pontos em jogos dessa fundamental divisão, assim como o espantoso numero de erros e perdas de bola de algumas das equipes participantes? Por onde anda a tão decantada formação de base que incentivou a LNB a promover uma competição de tão estratégica importância? Se as estatísticas em toda sua fria objetividade impressionam, fico imaginando o que testemunharíamos se imagens fossem veiculadas?

Mas também temos um Pan Americano sendo realizado no México, que para minha tristeza, mesmo depois de fartamente anunciada sua transmissão pela TV Record do jogo contra o Uruguai, nos brindou a todos com aquele tipo de competição farta em distribuição de medalhas, a empolgante ginástica, assim como o indefectível futebol, transmitindo somente os 5 minutos finais daquela partida, comentada de forma passional por um Oscar nitidamente empolgado por um Marcelo definidor como ele sempre se auto caracterizou, e mais empolgado ainda quando um certeiro arremesso de três do nosso mais experiente jogador colocou a equipe cinco pontos à frente. Mas, numa terrível sequência de três erros, iniciada por um tiro de meta do Nezinho à cesta, e dois passes errados do Marcelo em sua função de armador, calou o comentarista até o final de um jogo, que se analisado por aqueles 5 minutos finais deve ter sido constrangedor, mas que deveria ter sido transmitido em conformidade com as chamadas veiculadas pela estação.

Logo mais está anunciada a transmissão do jogo contra os Estados Unidos, se não for substituída por uma outra competição prodiga em medalhas, como está parecendo ser a política da emissora para este Pan, afinal de contas, gosto e interesses não se discutem, e o basquete, ora, o basquete…

Amém.

Foto-Globo.com

NORMAL?…

“Foi um jogo normal, elas souberam explorar nossos erros e venceram”. (Declaração do técnico da seleção feminina depois do jogo com a equipe de Porto Rico pela TV Record).

Desculpe discordar, mas não foi um jogo normal, mas sim um jogo muito mal jogado por uma equipe teimando no sistema único, contra outra jogando em dupla, e às vezes em tripla armação, com somente um arremedo de pivô, driblando, fintando e penetrando em velocidade sem qualquer anteposição por parte de uma defesa ironicamente inferiorizada pela estatura desproporcional, ou seja, jogadoras baixas e rápidas superando em seu ataque jogadoras mais altas defendendo com lentidão, sem ajuda, e pressionado fortemente na defesa induzindo-as ao erro pelas enormes falhas nos fundamentos básicos do jogo, principalmente os defensivos, marca registrada entre nós. Defender o que defendemos contra equipes inferiores gerou uma falsa idéia de superioridade, contestada quando a realidade de boas praticantes dos fundamentos se fez presente nesse jogo.

As porto-riquenhas se impuseram por um ataque extremamente veloz, e uma defesa mais veloz ainda, jogando na anteposição e na pressão sobre a armação brasileira, sobre uma pivô desgastada e enfraquecida por uma gripe, e contando com o péssimo aproveitamento dos arremessos de fora do perímetro, num quadro que não foi e nem pode ser revertido por um único detalhe, não estavam preparadas para aquele tipo de atitude técnico tática, configurando-se daí para diante um jogo que nada teve de normal, pelas características antagônicas de nossas jogadoras, impossibilitadas de uma dupla armação sequer tentada e muito menos treinada, que equilibraria as ações, e de um jogo interior mais rápido e menos concentrado numa Erika visivelmente combalida, e uma Damiris que ainda tem muito o que aprender, a começar pelo seu arremesso de media distância, inconsistente e imaturo.

A equipe brasileira terá de se reformular bastante para enfrentar uma Olimpíada com nível bem acima da nossa realidade, principalmente na armação, num jogo mais dinâmico tanto fora, como dentro do perímetro, e um sentido defensivo consistente, começando numa reformulação voltada à pratica massiva dos fundamentos, sem os quais sistemas de jogo simplesmente não funcionam. Teremos tempo para isso? Creio que sim, basta coragem e ousadia para, ao menos, ser tentado.

Amém.

Foto- Divulgação CBB.

INTELIGENTE E SAGAZ…

Inteligente e muito sagaz esse técnico do Flamengo, ao iniciar o jogo em Brasília com o quarteto estelar recém contratado, mais o referencial do time, Marcelo. Leandro, Caio, Kammerichs e Jackson viram a bola ir ao alto e permanecer por lá para sua equipe, batida sem dó por um adversário tradicional que atua junto a muito tempo, e mesmo que se utilizando de um sistema padronizado tinha os jogadores certos para cada posição ocupada na quadra de jogo.

E por que inteligente e sagaz? Pelo simples fato de cumprir um acordo movido por interesses econômicos e promocionais numa abertura de temporada,  expondo um produto de alta qualidade individual, que dificilmente poderá se abster de jogadores não tão medalhados, em nome de um conjunto harmônico e equilibrado, uma equipe enfim.

Aí estão os caras, torcida fanática e analistas de plantão (quando para ambos os “nomes” é que importam…), ai estão, mas… funcionam em grupo?

Para qualquer técnico iniciante, torcedor lúcido ou analista com um mínimo de conhecimento do grande jogo, claro que não funcionaria jamais, ou o Leandro, vindo de uma Liga onde as flutuações defensivas são proibidas, e os armadores atuam em duplas, encontraria facilidades em suas feéricas penetrações em passadas e não através dribles contínuos? Nunca, daí sua declaração ao final da partida se dizendo surpreendido com o jogo físico mais intenso aqui do que na Liga em que atua a nove anos, como se não soubesse disso. Além do mais, um pivô de alta mobilidade, como o Kammerichs dificilmente reduziria e coordenaria sua velocidade com um pivosão como o Caio, assim como um Jackson se afinaria com o Leandro de características semelhantes. Sobrava o Marcelo, que perdido nessa galáctica indefinição tática nada pode fazer para minorar o estrago inicial, a não ser assumindo a armação, abrindo mão de sua arma contumaz, os longos arremessos.

Pronto hinchada, satisfeitas as apresentações, vamos ao que interessa, tentar ganhar o jogo, mesmo estando bem atrás no marcador. Coloquemos um armador de oficio, um pivô tão rápido como o argentino, para movimentar o perímetro interno dos candangos, recoloquemos o Marcelo onde sabe jogar e atuar, e vamos ver no que dá!

Claro, empatou e tomou uma boa dianteira, que se mantida a nova formação poderia vencer sem margens a dúvidas.

Mas, e o investimento, o marketing, os altos interesses em jogo, como ficariam? Volta todo mundo, e seja o que os deuses quiserem… e não quiseram pela obviedade da ação, e  ponto.

Entrementes, a equipe do planalto central, experiente, batalhadora e unida em torno de uma base sólida e testada, mantendo sua proverbial produtividade, liderada por um Alex inspirado, sem sofrer rupturas e desvios táticos, soube administrar as oscilações rubro negras, para vencer com justiça um jogo que de amistoso teve muito pouco, e perante um excelente público numa manhã de domingo.

O técnico argentino vai ter sérios problemas para o NBB4, principalmente na administração estelar que ajudou a formar, mas que deveria jogar sem prioridades de escalação, já que existem posições conflitantes dentro do sistema que se propôs a introduzir na equipe, fator este que impossibilita adaptações frente a características de alguns jogadores, antagônicas que se tornam para o mesmo.

Mas, quem sabe, o término do locaute na NBA não venha minorar bastante as sérias dúvidas que assaltarão, com certeza, os conceitos de jogo e equipe do nosso hermano?

Que é inteligente e sagaz ao administrar egos e interesses de fora e dentro da quadra, sem dúvida, mas será suficiente para vencer o NBB4?  E se o locaute persistir? Tenho lá minhas dúvidas.

Amém.

O CAMINHO POR VIR…

Vencer uma final de pré olímpico por mais de 40 pontos (74×33), demonstra em toda a sua extensão o enorme fosso que separou a seleção brasileira das demais, apesar de em algumas partidas mostrarmos sérias deficiências nos fundamentos, principalmente nas alas.

Mas num fundamento mostramos uma clara evolução, a defesa, que foi o fator determinante no resultado final. O exemplo de coletivismo defensivo da seleção masculina, numa competição onde os adversários foram mais qualificados do que na competição feminina, parece que inspirou positivamente a equipe e sua comissão técnica, mesmo com algumas falhas pontuais no posicionamento defensivo de algumas jogadoras, e pelo fato de não adotarmos a defesa frontal das pivôs adversárias, que nas Olimpíadas serão muito superiores às desse pré olímpico.

No entanto, algo de muito positivo aconteceu nesse jogo final, quando nos dois últimos quartos ensaiamos jogar com duas armadoras e duas pivôs, numa ação de jogo interior que praticamente liquidou toda e qualquer possibilidade reativa da equipe argentina, incapaz de frear o poder ofensivo interior e a esmagadora superioridade nos rebotes.

A seleção está bem servida de boas e talentosas pivôs, podendo desenvolver sistemas de jogo que as priorizem, como poucas equipes poderão fazê-lo em Londres, numa perspectiva que deveríamos investir com vigor e inteligência, fugindo de vez do estereótipo técnico tático que nos empobreceu nas últimas duas décadas, apresentando algo de inovador frente ao sistema único adotado pelas demais seleções classificadas, inclusive a nossa. Erika, Clarissa, Damiris, Francilene, Nadia, formam uma boa base para um jogo interior forte e ousado.

Mas tal evolução necessitaria de uma dupla e permanente armação para alimentá-la com precisão (como a ensaiada nesse jogo final), além do apoio mútuo ante defesas pressionadas, assim como um apreciável reforço defensivo pela velocidade de deslocamento e combate efetivo à armação adversária. Agindo dessa forma, nossa deficiência nas alas seria bastante atenuada, pois de dois em dois também se vencem jogos, por mais duros que se apresentem, além do fator inovador, em nenhum momento previsto por um basquete formatado e padronizado internacionalmente. Se jogarmos dentro dos padrões vigentes, teremos poucas chances de enfrentamento, ante seleções fundamentalmente mais bem preparadas do que a nossa.

Enfim, é certo que as classificações olímpicas nos beneficiará na retomada do prestigio do basquete tupiniquim, o que não é pouco, mas não suficiente se não mudarmos nossa forma de jogar, e preparar as novas gerações estruturadas numa formação sólida da base, onde os fundamentos terão de ser desenvolvidos e ensinados através técnicas didática e pedagogicamente bem planejadas, sendo essa a mais importante missão de uma ENTB convenientemente reestruturada e redimensionada para a execução de um projeto de tal envergadura.

Parabéns às jogadoras e comissão técnica que conseguiram tão importante feito, mas agora é que começa, de verdade, o caminho olímpico.

Amém.

Foto Divulgação FIBA. Clique na mesma para ampliá-la.

DAMIRES E OS FUNDAMENTOS…

Terminado o primeiro quarto do jogo, simplesmente não consegui retornar para o segundo, o terceiro, mas o fiz no quarto, ainda incrédulo com o baixo nível nos fundamentos do jogo, por ambas as equipes. Se brasileiras e canadenses formam as duas melhores equipes deste pré olímpico, independendo de qual se classifique, muito pouco alcançarão em Londres, pois conseguem cometer erros básicos numa sucessão assustadora, senão constrangedora.

Claro, acontecem exceções, muito poucas, mas acontecem, e a Damires é uma delas, e muito mais por conta de sua espontânea vitalidade, força e coordenação motora, do que o real conhecimento e domínio dos fundamentos básicos, que aos 18 anos já deveriam estar bem aprendidos e sedimentados, para que ao nível de uma seleção nacional, se impusesse consistentemente, e não em oscilantes lampejos.

Assim como ela, a Clarissa e a Babi, possuem um grande talento, que será definitivamente perdido se uma forte indução aos fundamentos não for priorizada, muito além , muito mesmo, antes de introduzi-las em coreografias impostas e pranchetadas, sem que as mesmas possuam o competente domínio técnico individual para exequibilizá-las.

Em um artigo aqui publicado em 1/8/2011, UM TALENTO MVP, apontei um erro de empunhadura da Damires, que tornava seus arremessos inseguros e não direcionados com firmeza, comparando sua técnica com a da jogadora americana Hartley, no momento decisivo da soltura da bola. No jogo de ontem, vislumbrei uma boa evolução nessa técnica (vide fotos), na qual a palma da mão cedeu o contato na bola às pontas dos dedos, tornando factível o alinhamento do polegar e mínimo ao nível horizontal do aro da cesta, dando aos três dedos centrais a correta função de acelerar e impulsionar a bola à mesma. Seu bom aproveitamento nos curtos arremessos, e mesmo nos longos durante o jogo, atestou essa bem vinda evolução, contrastando com algumas sérias falhas a ser corrigidas o mais rápido que for possível.

Damires pegou 11 rebotes, mas em todos eles chegou ao solo com o rosto direcionado da mesma forma de quando os captou no ar, que quando defensivos, com a vista voltada para a linha final. Se no momento do domínio da bola girasse seu corpo em 180 graus, teria o mais amplo domínio visual da quadra possível, podendo rapidamente localizar companheiras livres, desencadeando contra ataques mais velozes, ou mesmo saindo driblando para o ataque. Nos ofensivos, tal rotação a dotaria do posicionamento de tripla ameaça, podendo driblar, passar ou arremessar com mais precisão, já que evitaria o bloqueio verticalizado das defensoras.

Mas é no ato de driblar, origem dos cortes, mudanças de direção, e decorrentes passes em velocidade, que comete o mais elementar dos erros, o olhar para a bola (vide foto do jogo com o Paraguai), quando perde o contato visual de suas companheiras e o posicionamento defensivo das adversárias, tornando a ação eminentemente pessoal, que é o erro mais freqüente da maioria das alas e pivôs da seleção, sem contar a ausência da ambidestralidade.

Em hipótese alguma um(a) jogador(a) deverá olhar para a bola, em nenhuma situação de jogo, e sim percebê-la se utilizando da visão periférica, e a angular quando exerce o drible. São visões que se complementam na dinâmica do jogo, que juntamente ao domínio do equilíbrio corporal, compõem as bases estruturais do mesmo, do grande jogo.

Como vemos, talento, estatura, força física, inteligência e criatividade temos em boa conta, nos faltando fundamentação técnica, sem a qual nenhum sistema de jogo funcionará a contento, se é que funcionará, a não ser nas ilusórias e fantasiosas mentes de muitos de nossos técnicos e suas gloriosas pranchetas, só que elas não driblam, passam, fintam, defendem, saltam, reboteiam e arremessam com um boa dose de qualidade e competência. Ficam lá, no colo ou no chão, emitindo traços e rabiscos desconexos, como a exigir movimentos e ações através uma sofisticada coreografia, cuja concepção ignora propositalmente que a maioria daqueles atentos circundantes não possui fundamentação técnica para atendê-la. Essa é a triste realidade. Tem correção?

Sim, mas não nas mãos de estrategistas.

Amém.

Fotos O Globo e Divulgação FIBA. Clique nas mesmas para ampliá-las.

UMA COERENTE CONVOCAÇÃO…

Todo bom professor, assim como os técnicos desportivos sabem muito bem o que venha a ser uma progressão pedagógica, que é uma somatória de elementos didáticos cuja resultante é a sólida aprendizagem de um, ou mais módulos de ensino.

Quando essa progressão é descontinuada, acontecem fraturas na aprendizagem dos módulos propostos, criando vácuos, que se não preenchidos, põe a perder grande parte dos esforços despendidos até aquele momento.

O técnico Magnano, não somente sabe, como demonstra conhecer esse mecanismo com o seu metódico trabalho, buscando um novo posicionamento de comportamento técnico tático da seleção, cuja conquista da classificação olímpica demonstrou o acerto inicial de seu trabalho. No entanto, a meta a ser atingida em Londres, ainda carece de um maior preparo, no intuito de serem sanadas ou atenuadas carências ainda existentes na equipe, que se não for mantida a continuidade do árduo trabalho, as fraturas acima mencionadas se imporão irremediavelmente, principalmente na armação e no jogo interior ofensivo, e na sedimentação do rígido conceito defensivo que implantou.

De frente a tão complexos aspectos para a formulação de uma competente estratégia visando os sérios, rudes e tão próximos embates olímpicos, é que o sagaz argentino efetuou essa convocação, que está coalhando a grande rede de comentários que vão do esquecimento de determinados jogadores, ao prejuízo que estará causando aos clubes a que pertencem os selecionados, numa discussão onde as causalidades deveriam ceder espaço às verdadeiras intenções do mesmo.

Vejamos por partes:

– Os jogadores do Brasília, Alex, Guilherme e Nezinho, dos mais experientes e veteranos da seleção, sofreram uma grande mudança técnico comportamental sob o comando do Magnano, principalmente no posicionamento defensivo e na contextualização do coletivismo proposto e  exigido por ele, mas ainda carecendo de importantes ajustes, a fim de que tais comportamentos fossem mantidos durante todo o transcurso dos jogos, sem sofrerem oscilações das que ocorreram amiúde em Mar del Plata. A participação desse trio em mais uma intensa rodada de treinamento, aproveitando o fato da equipe candanga não disputar grandes torneios até o Pan, seria a grande oportunidade para que o Magnano influenciasse esse importante núcleo no que acredita ser o caminho a ser tomado pela seleção.

– O mesmo poder-se-ia afirmar sobre a dupla flamenguista, também liberta de sérios torneios até o Pan, e assim como o pessoal de Brasília, necessitada de um reforço de aprendizagem no conceito Magnano de ser e jogar.

– Como o Spliter, apesar da greve na NBA, não se dispôs a jogar campeonatos fora dos Estados Unidos, arriscou o Magnano sua convocação, talvez a mais acertada, visto a baixa produtividade do excelente pivô, mais retrabalhado do que treinado nos Spurs, numa mudança de fundamentação técnica que, saltando aos olhos, o fez, infelizmente, regredir em seu excelente condicionamento europeu. Essa nova rodada de treinamento, principalmente fundamental, seria de ótima valia para ele.

– Benite, Murilo e também o Nezinho, com a ausência dos europeus e do Marcos, único dos básicos envolto numa competição de alto nível, onde seu clube investiu prodigamente, teriam uma nova oportunidade de se inserirem nas conceituações do Magnano, agindo quase como um personal training para uma competição, que se não tão importante no plano internacional, mas perfeitamente apta a um melhor preparo visando Londres.

– Quanto aos novos, o armador Davi, o ala armador José Roberto, o ala Bruno, e o pivô Cristiano, constitui-se numa convocação justa, pois visando a necessária renovação, já a situa dentro dos conceitos do argentino, mantendo sua coerência de trabalho.

Enfim, como continuidade de um trabalho, aparando arestas diagnosticadas e sentidas no pré olímpico, nesse momento antecedente ao Pan, e com vistas a Londres, creio que o Magnano agiu com precisão e inteligência, guardando suas observações finais quando do acompanhamento do NBB4, e de certos óbices que todos, de dirigentes e agora jogadores outrora críticos, colocaram em suas mãos, sobre a dupla da NBA, participar ou não (será que teremos ressuscitado Pilatos?…), numa situação que o porá a prova perante si mesmo, ainda mais se tratando de um hermano, colocada por outros não tão irmãos assim.

Creio que tomadas de posição acionadas de livre arbítrio por adultos responsáveis, sabedores da significância de uma camisa de seleção nacional, não deveriam ser discutidas, nem proteladas, já que tomadas voluntaria e espontaneamente, cabendo tão somente a todos nós desejarmos que prossigam suas carreiras felizes e realizados, e somente isso.

Amém.

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