ESTRÉIAS.
Tivemos hoje três estréias neste inusitado mundial, as equipes da Austrália, Lituânia e Brasil. As duas primeiras, com equipes fortíssimas e muitíssimo bem treinadas, não tomaram conhecimento das adversárias africanas, e demonstraram que vieram para o pódio. A do Brasil, depois da pífia avánt premiére de ontem, estreou seu poderio individual, e tão somente ele, para vencer com sobras as pequenas coreanas. Mas, continuou a apresentar uma defesa passiva e pouco técnica, haja visto os mais de 80 pontos que levou, entremeados de um sem número de arremessos de 3 pontos, o que gerará um desconforto enorme quando mais adiante se defrontar com as equipes mais fortes nesse fundamento, principalmente a americana, australiana e lituana. No aspecto tático somente a equipe lituana apresentou algo que difere da mesmice geral,com a utilização inteligente de duas armadoras evoluindo fora do perímetro, e três altas jogadoras se revezando dentro do mesmo, num estonteante carrocél de altíssima eficiência. Todas as outras equipes, utilizando o sistema americano do passing game, numa ladainha monocórdica, somente quebrada por um punhado de excelentes artistas e suas teimosas e personalíssimas improvisações, para desespêro de alguns técnicos, incluindo o nosso. Até nos gráficos de apresentação dos quintetos iniciais, mostrados pelas TV’s, vê-se um desenho posicional formado por uma armadora central, duas alas e duas pivôs ladeando o garrafão, numa imposição da famigerada e infundada conotação de jogadoras nas posições 1,2,3,4 e 5, onde fica faltando somente a 6 para se equiparar às posições do voleibol, como se o basquetebol fosse um jogo de ações posicionais como aquele. Mas sempre aparece alguém do contra, mesmo que não vença a competição, incutindo na cabeça de alguns, sei que poucos, uma sadia dúvida que contrapõe ao prét-a -porter em que transformaram esse belo jogo, o grande jogo. E a Lituânia, lá dos confins bálticos da extinta União Soviética, vem refrescar pétreos conceitos da turma que não se dá conta do quanto vale um conceito renovador, mesmo pagando o alto prêço de não vencer. São
formidáveis atacando e defendendo na “Linha da bola” mesmo, com flutuações lateralizadas, e não longitudinais à cesta, permitindo que suas altas, porém ésguias pivõs marquem pela frente, economizando faltas pessoais preciosas. Atacando, o fazem com precisão cirúrgica, em que todas se deslocam permanentemente utilizando com maestria e paciência seus 24 segundos de posse de bola. Podem até não vencer, mais deixam um recado arejado de que se pode(e deve-se)
sempre buscar o novo, mesmo que utópico para a medíocre maioria, americanos inclusive. Muita
competição ainda está por vir, e espero que nos confrontos de quartas e semi-finais possamos
testemunhar algo de muito novo, dentro do panorama pachorrento que nos impuseram com o sistema alcunhado de “basquete internacional”, ou “basquete moderno”, que de moderno mesmo
só desenvolve a idéia absolutista de um sistema único na forma de jogar e evoluir dentro de uma quadra de jogo, fator facilitador no intercâmbio de jogadores, que em suas padronizadas posições propiciam os duelos de 1 x 1, que é a variável de maior sucesso para o público americano, mas que não se coaduna com o basquete FIBA, mesmo que a maioria de seus técnicos sigam os conceitos técnico-táticos emanados da NBA e WNBA. Por isso, exemplos como os da Lituânia são bem-vindos para a evolução do basquete mundial, provando a existência qualitativa de sistemas de jogo fora do eldorado norte-americano.