DEFÊSA-UMA ARTE…

Enfim um jogo, não completo, mas a partir do final do segundo quarto a emissora do bispo, por alguma deferência, transmite o jogo com os Estados Unidos até o seu final.

O que vemos então? Uma equipe americana alinhavada, desconexa, demonstrando ter sido reunida no aeroporto, e claramente jogando nos moldes da NBA, onde o coletivismo passa a léguas de distância, salvo algumas poucas exceções, como o Dallas campeão.

A equipe brasileira, encontrando uma incomum frouxidão defensiva americana, jogando com seus pivôs, deslancha num marcador confortável, ainda mais quando defrontada com uma ofensiva pífia do outro lado.

Tudo ia muito bem, apesar das nossas tradicionais e visíveis limitações nos fundamentos do jogo, até o momento em que a distância de 17 pontos fez acender a luz vermelha no banco americano. E o que fez o técnico daquele momento em diante? Isso mesmo, acertaram, impeliu a equipe a defender como sempre souberam fazer, fustigando nossa armação no plano horizontal (desculpem, um esclarecimento- defender no plano horizontal quer dizer que todo jogador de posse da bola na armação de jogadas deve ser pressionado ao máximo, não para se apossar da bola, e sim o induzindo à penetração horizontal no limite do equilíbrio instável), levando-a de encontro ao âmago da defesa, onde o plano vertical (característico das altas coberturas por parte dos pivôs ali postados) abortavam as tentativas de cestas, principalmente se intentadas pelos armadores, originando retomadas de bola, e conseqüentes contra ataques velozes. E mais, reconhecendo a sua fragilidade técnico tática, abriu os jogadores ao enfrentamento com a defesa num 1 x 1 classico, de onde se originou a reversão do placar num 13 x 0 previsível e acachapante. Só isso, forte defesa baseada em sólidos conhecimentos dos fundamentos da mesma, e ataque incidindo sobre uma equipe sem aqueles mesmos conhecimentos na arte de defender.

Mas o mais emblemático na transmissão foi ouvir comentários desse quilate: “Se eles estão batendo na defesa, temos de bater também, e se tentarem a cesta fácil que vá para os lances livres com o braço marcado de vermelho”. E a pérola definitiva – “Temos de jogar no limite que separa a falta da regra do jogo”. Se bem compreendi, sugeria a utilização da “porrada”, como método de defesa. Me desculpe o laureado comentarista, que nunca foi um bom defensor, mas ainda prefiro que nossos jovens aprendam a defender desde cedo, o que ainda é um fator que teimamos em desprezar, trocando-o por um processo orgiástico e autofágico de arremessos de três, prodigo em seu crescimento, exatamente pela ausência defensiva. E ai estão os resultados.

O Magnano conseguiu no Pré uma façanha digna de ser mencionada, a implantação de uma defesa solidária, mas não o implemento de princípios de defesa pessoal, que é decorrente de longos anos de prática e treinos exaustivos, atingindo pela ocupação massiva o centro da defesa, mas sendo ainda vencida nos confrontos puros de1x1, e nas anteposições aos longos arremessos.

Essa é a meta que temos de atingir a longo prazo, o ensino correto da arte de defender, onde a proibição das defesas zonais e a extensão do tempo de posse de bola nas divisões de base referendariam e fixariam os princípios clássicos da defesa individual, a mesma que uma capenga seleção americana nos impôs ontem, pelo simples fato de terem aprendido como executá-la, desde sua formação de base.

Quando isto for razoavelmente atingido, nossas habilidades ofensivas serão realçadas, pois todo avanço defensivo gera um ofensivo, e vice-versa, numa evolução técnica, e por que não, tática, levando a frente e a grandes conquistas o grande jogo entre nós.

Amém.

Foto-Divulgação FIBA.

COMENTAR O QUE?…

Na semana que passou quis escrever sobre jogos de basquete, como os playoffs em São Paulo, como os jogos da LDO em Minas Gerais, mas como fazê-lo perante alguns obstáculos simplesmente intransponíveis, como por exemplo, a inestancável hemorragia dos três pontos e o absurdo número de erros nos fundamentos do jogo em ambas as competições, além da mais absoluta inexistência de qualquer imagem sobre a importantíssima competição sub 21?

Como aceitar e comentar uma sucessão progressiva de 56, 58 e 59 tentativas de arremessos de três pontos nas três partidas finais entre Paulistano e Limeira, somadas às 90 perdas de bola, numa assustadora média de 30 por jogo?

Como entender a ocorrência de 14/38 tentativas de dois pontos, contra 12/40 de três num jogo Sub 21, no caso Uberlândia em seu jogo contra Vitoria? Foram 120 possíveis pontos para somente 36 conseguidos, num inaceitável comportamento técnico numa divisão formativa, em contraponto a uma ausência de qualquer anteposição defensiva de seu adversário?

Como entender diferenças de mais de 50 pontos em jogos dessa fundamental divisão, assim como o espantoso numero de erros e perdas de bola de algumas das equipes participantes? Por onde anda a tão decantada formação de base que incentivou a LNB a promover uma competição de tão estratégica importância? Se as estatísticas em toda sua fria objetividade impressionam, fico imaginando o que testemunharíamos se imagens fossem veiculadas?

Mas também temos um Pan Americano sendo realizado no México, que para minha tristeza, mesmo depois de fartamente anunciada sua transmissão pela TV Record do jogo contra o Uruguai, nos brindou a todos com aquele tipo de competição farta em distribuição de medalhas, a empolgante ginástica, assim como o indefectível futebol, transmitindo somente os 5 minutos finais daquela partida, comentada de forma passional por um Oscar nitidamente empolgado por um Marcelo definidor como ele sempre se auto caracterizou, e mais empolgado ainda quando um certeiro arremesso de três do nosso mais experiente jogador colocou a equipe cinco pontos à frente. Mas, numa terrível sequência de três erros, iniciada por um tiro de meta do Nezinho à cesta, e dois passes errados do Marcelo em sua função de armador, calou o comentarista até o final de um jogo, que se analisado por aqueles 5 minutos finais deve ter sido constrangedor, mas que deveria ter sido transmitido em conformidade com as chamadas veiculadas pela estação.

Logo mais está anunciada a transmissão do jogo contra os Estados Unidos, se não for substituída por uma outra competição prodiga em medalhas, como está parecendo ser a política da emissora para este Pan, afinal de contas, gosto e interesses não se discutem, e o basquete, ora, o basquete…

Amém.

Foto-Globo.com

NORMAL?…

“Foi um jogo normal, elas souberam explorar nossos erros e venceram”. (Declaração do técnico da seleção feminina depois do jogo com a equipe de Porto Rico pela TV Record).

Desculpe discordar, mas não foi um jogo normal, mas sim um jogo muito mal jogado por uma equipe teimando no sistema único, contra outra jogando em dupla, e às vezes em tripla armação, com somente um arremedo de pivô, driblando, fintando e penetrando em velocidade sem qualquer anteposição por parte de uma defesa ironicamente inferiorizada pela estatura desproporcional, ou seja, jogadoras baixas e rápidas superando em seu ataque jogadoras mais altas defendendo com lentidão, sem ajuda, e pressionado fortemente na defesa induzindo-as ao erro pelas enormes falhas nos fundamentos básicos do jogo, principalmente os defensivos, marca registrada entre nós. Defender o que defendemos contra equipes inferiores gerou uma falsa idéia de superioridade, contestada quando a realidade de boas praticantes dos fundamentos se fez presente nesse jogo.

As porto-riquenhas se impuseram por um ataque extremamente veloz, e uma defesa mais veloz ainda, jogando na anteposição e na pressão sobre a armação brasileira, sobre uma pivô desgastada e enfraquecida por uma gripe, e contando com o péssimo aproveitamento dos arremessos de fora do perímetro, num quadro que não foi e nem pode ser revertido por um único detalhe, não estavam preparadas para aquele tipo de atitude técnico tática, configurando-se daí para diante um jogo que nada teve de normal, pelas características antagônicas de nossas jogadoras, impossibilitadas de uma dupla armação sequer tentada e muito menos treinada, que equilibraria as ações, e de um jogo interior mais rápido e menos concentrado numa Erika visivelmente combalida, e uma Damiris que ainda tem muito o que aprender, a começar pelo seu arremesso de media distância, inconsistente e imaturo.

A equipe brasileira terá de se reformular bastante para enfrentar uma Olimpíada com nível bem acima da nossa realidade, principalmente na armação, num jogo mais dinâmico tanto fora, como dentro do perímetro, e um sentido defensivo consistente, começando numa reformulação voltada à pratica massiva dos fundamentos, sem os quais sistemas de jogo simplesmente não funcionam. Teremos tempo para isso? Creio que sim, basta coragem e ousadia para, ao menos, ser tentado.

Amém.

Foto- Divulgação CBB.

GALERIA DO HORROR II- MINISTÉRIO PREPARA “PLANO DE 10 ANOS”…

“2016 não é o objetivo final. É apenas o primeiro passo. O objetivo é transformar o esporte brasileiro”.

São palavras do secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento do Ministério do Esporte Ricardo Leyser, numa matéria do jornal O Globo de 30/9/11 (anexa).

Engraçado, para os demais setores da economia 2016 se afigura como o objetivo já em pleno processo de conquista, onde lucros vultosos começam a ser auferidos, desde as obras faraônicas, até os inúmeros segmentos comerciais, industriais e de serviços gerais, sem mencionar os políticos…

O esporte, que é a verdadeira finalidade de uma olimpíada fica para depois de 2016, se ficar, já que não prioritário para esse e os passados governos deste indescritivel país.

“Dentre todos os países democráticos, o Brasil é o único em que nem a direita e nem a esquerda desejam o seu povo educado. A direita o manteve ignorante desde sempre para se manter no poder, e a esquerda o quer mais ignorante ainda para usá-lo como massa de manobra para se manter no poder conquistado, pois um povo educado jamais se permitiria ser manipulado por nenhuma delas”. (Paulo Murilo em aulas de formação de professores na FE/UFRJ).

Porque investir em educação pública de boa qualidade, escolas, professores, esportes, artes, se bolsas de diversos matizes mantêm o povo controlado e submisso? Por que?

E pensar que bastariam 20% desta olímpica cornucópia financeira lançada num imenso buraco negro pela insânia e ambição de maus brasileiros, para alavancar o fator estratégico da educação de uma juventude simplesmente abandonada.

Ministério do Esporte? Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento? ONG’s dilapidando preciosos e sacrificados recursos de um povo mais sacrificado ainda? Verbas fantásticas alimentando partidos políticos? COB?

Bastaria investir parte destas inacreditaveis verbas na escola (projetam-se 23 bilhões!!), integrando o ensino curricular com o esporte, as artes, com equipamentos simples e funcionais, professores bem formados, treinados e decentemente pagos, para atingirmos a auto-suficiência de mão de obra qualificada, suporte fundamental do desenvolvimento de um país que se deseja poderoso e independente, além de nos alçarmos a uma verdadeira e autêntica condição de país olímpico. Fora disso, o criminoso absurdo que testemunhamos.

Assim como a herança do Pan Americano, 2016 retratará sem retoques o que as duas reportagens acima sugerem de forma contundente e trágica, e onde o esporte estará dando somente o seu primeiro passo, na palavra abalizada e técnica do secretario desportista (?).

Simplesmente lamentável.

Amém.

Reproduções- Clique duas vezes nas mesmas para ampliá-las.

Leitura complementar – Galeria do Horror (6/11/2010)

O PROFESSOR…

PAULO MURILO

Cumprimentando a todos os/as professores/as no seu dia, aproveito para reafirmar a importância desta profissão no seio da sociedade, reproduzindo carta de um pai ao professor de seu filho.

PEDRO RODRIGUES

 

 

UM PAI AO PROFESSOR DE SEU FILHO

“Caro professor, ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, para cada vilão há um herói, que para cada egoísta, há também um líder dedicado, ensine-lhe por favor que para cada inimigo haverá também um amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada, ensine-o a perder, mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros no céu, as flores no campo, os montes e os vales.

Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos.

Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.

Ensine-o a ouvir todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho, ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram.

Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.

Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.

Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.

Eu sei que estou pedindo muito, mas veja o que pode fazer, caro professor.”

Abraham Lincoln, 1830

Recebi esse email do Prof. Pedro Rodrigues de Souza, dileto amigo de muitos anos, e que repasso com prazer aos leitores do blog, muitos dos quais professores como nós, torcendo para que os dirigentes desse continental país venham um dia a reconhecer o valor estratégico desses abnegados profissionais.

Amém.

FOTO-Professores Paulo Murilo, Helio Demoner e Pedro Rodrigues (Vitoria,ES 2010)

A EQUIVOCADA BASE…

  1. Clayton 11.10.2011

Caro Professor Paulo Murilo,

Dias atrás levei as alunas de minha escola para uma competição escolar, são meninas com faixa etária de 12 anos.
Não pude participar do congresso técnico, um professor representante da escola foi, no entanto, não foi acatada a sugestão de a competição ser no formato de Basquete 3, conforme a sua sugestão tempos atrás.
Porém, ficou decidido que não poderia ter marcação pressão na saída de bola, dessa forma, somente marcação depois do meio da quadra.
No jogo, o professor da equipe adversária, meu amigo por sinal, ficou revoltado porque meu time não estava fazendo marcação por zona, e acabou inclusive sendo expulso do jogo pelas insistentes reclamações.
Ao termino do jogo, conversamos, e disse a ele que a única orientação que eu tinha recebido era sobre a não marcação sob pressão, e minhas alunas nem saberiam jogar em zona.
Não me recordo se li aqui no blog, mas me parece que nas categorias de base é melhor aprender a marcação individual, pois quando nas categorias maiores, o atleta terá dificuldades de realizar com eficiência a marcação, o Professor compartilha dessa opinião?
As meninas jogaram sem posições pré-definidas, jogaram livres pela quadra, apenas enfatizei a importância de todas voltarem para realizar a marcação. Para minha surpresa, no segundo ano que participamos ganhamos de uma escola com tradição no basquete, tudo a base de pequenos jogos, basquete 3, sem focar na realização de exercícios sem muita conexão com a realidade do jogo. Me parece que está dando resultados…
Abraços!

Recebi esse comentário ao artigo O Futuro… de 8/10/11, e que bem demonstra o estágio em que se encontra a formação de base em nosso país, e vindo de uma cidade de tradição no basquete como Sorocaba.

O Prof. Clayton, que participa bastante com as discussões aqui no blog, nos coloca de frente a um dos maiores fatores de nossa fragilidade nos fundamentos, a mais completa ausência de uma orientação fortemente baseada em conceitos de ensino e aprendizagem voltados ao crescimento físico, nervoso e mental gradual dos jovens que se iniciam na pratica desportiva, agraciados com regras adaptadas às suas condições de maturidade que seguem ritmos pessoais diferenciados, mesmo dentro de suas faixas etárias, no que se constitui na verdadeira missão de uma ENTB compromissada com essa tão critica necessidade ainda bem ausente.

Por muitas vezes aqui publiquei artigos que defendiam adaptações às regras do jogo, a fim de compatibilizá-las com as limitações inerentes a cada faixa etária dos jovens alunos, respeitando-as e desenvolvendo-as dentro das naturais exigências de cada uma delas, numa progressão coerente e acima de tudo, responsável.

Dentre as necessárias adaptações destaco:

– Adequar a altura das cestas e tamanho e peso da bola para os mirins e infantis, no sentido de tornar o ato técnico de arremesso e controle de bola dissociado do fator força sobrepujando a técnica de execução.

– A proibição das defesas zonais até a categoria infanto juvenil, se bem pretendermos desenvolver as técnicas defensivas como um fundamento prioritário ao desenvolvimento do jogo no país.

– A extensão do tempo de posse de bola para 40seg para mirins e infantis, e 35seg para infantos, no intuito de reforçarmos os fundamentos defensivos, inclusive sob o aspecto físico mental, base para as demais formas e conceitos defensivos mais sofisticados, além do evidente reforço nas concepções ofensivas pela maior permanência da posse de bola, quando a leitura progressiva de jogo encontrará um sólido campo de experimentações e natural evolução.

– Nas divisões iniciais, a obrigatoriedade de participação no jogo de pelo menos um dos quartos, e nunca mais de dois quartos sucessivamente, magistral regra do minibasquete, que promove e reforça o principio de equipe desde o inicio do processo de ensino e aprendizagem do grande jogo.

Enfim, muito ainda poderia ser dito e discutido em torno de um tema tão básico e apaixonante como esse, no que seria o combustível inesgotável de uma verdadeira associação de técnicos voltada para o desenvolvimento efetivo do grande jogo, onde a participação de todos contribuiria para tal fim, tendo como começo a vontade férrea de atingi-lo. Enquanto afastados e dissociados dessa magna função, nossos técnicos podem ser considerados, também, responsáveis pelo atual e fragmentado estágio na formação de base, sem a qual não iremos a lugar nenhum no conceito interno, sequer no internacional.

Eis o grande desafio que se apresenta, e que julgo absolutamente inadiável.

Amém.

FOTOS-Enviadas pelo Prof. Washington Jovem de Vitória,ES, num bom trabalho de formação de base.

INTELIGENTE E SAGAZ…

Inteligente e muito sagaz esse técnico do Flamengo, ao iniciar o jogo em Brasília com o quarteto estelar recém contratado, mais o referencial do time, Marcelo. Leandro, Caio, Kammerichs e Jackson viram a bola ir ao alto e permanecer por lá para sua equipe, batida sem dó por um adversário tradicional que atua junto a muito tempo, e mesmo que se utilizando de um sistema padronizado tinha os jogadores certos para cada posição ocupada na quadra de jogo.

E por que inteligente e sagaz? Pelo simples fato de cumprir um acordo movido por interesses econômicos e promocionais numa abertura de temporada,  expondo um produto de alta qualidade individual, que dificilmente poderá se abster de jogadores não tão medalhados, em nome de um conjunto harmônico e equilibrado, uma equipe enfim.

Aí estão os caras, torcida fanática e analistas de plantão (quando para ambos os “nomes” é que importam…), ai estão, mas… funcionam em grupo?

Para qualquer técnico iniciante, torcedor lúcido ou analista com um mínimo de conhecimento do grande jogo, claro que não funcionaria jamais, ou o Leandro, vindo de uma Liga onde as flutuações defensivas são proibidas, e os armadores atuam em duplas, encontraria facilidades em suas feéricas penetrações em passadas e não através dribles contínuos? Nunca, daí sua declaração ao final da partida se dizendo surpreendido com o jogo físico mais intenso aqui do que na Liga em que atua a nove anos, como se não soubesse disso. Além do mais, um pivô de alta mobilidade, como o Kammerichs dificilmente reduziria e coordenaria sua velocidade com um pivosão como o Caio, assim como um Jackson se afinaria com o Leandro de características semelhantes. Sobrava o Marcelo, que perdido nessa galáctica indefinição tática nada pode fazer para minorar o estrago inicial, a não ser assumindo a armação, abrindo mão de sua arma contumaz, os longos arremessos.

Pronto hinchada, satisfeitas as apresentações, vamos ao que interessa, tentar ganhar o jogo, mesmo estando bem atrás no marcador. Coloquemos um armador de oficio, um pivô tão rápido como o argentino, para movimentar o perímetro interno dos candangos, recoloquemos o Marcelo onde sabe jogar e atuar, e vamos ver no que dá!

Claro, empatou e tomou uma boa dianteira, que se mantida a nova formação poderia vencer sem margens a dúvidas.

Mas, e o investimento, o marketing, os altos interesses em jogo, como ficariam? Volta todo mundo, e seja o que os deuses quiserem… e não quiseram pela obviedade da ação, e  ponto.

Entrementes, a equipe do planalto central, experiente, batalhadora e unida em torno de uma base sólida e testada, mantendo sua proverbial produtividade, liderada por um Alex inspirado, sem sofrer rupturas e desvios táticos, soube administrar as oscilações rubro negras, para vencer com justiça um jogo que de amistoso teve muito pouco, e perante um excelente público numa manhã de domingo.

O técnico argentino vai ter sérios problemas para o NBB4, principalmente na administração estelar que ajudou a formar, mas que deveria jogar sem prioridades de escalação, já que existem posições conflitantes dentro do sistema que se propôs a introduzir na equipe, fator este que impossibilita adaptações frente a características de alguns jogadores, antagônicas que se tornam para o mesmo.

Mas, quem sabe, o término do locaute na NBA não venha minorar bastante as sérias dúvidas que assaltarão, com certeza, os conceitos de jogo e equipe do nosso hermano?

Que é inteligente e sagaz ao administrar egos e interesses de fora e dentro da quadra, sem dúvida, mas será suficiente para vencer o NBB4?  E se o locaute persistir? Tenho lá minhas dúvidas.

Amém.

O FUTURO…

Daqui a um pouco se iniciará em São Sebastião do Paraíso a LDO, Liga do Desenvolvimento Olímpico, competição sub 21 patrocinada pela LNB.

Trata-se de uma excelente iniciativa, mas como toda primeira vez, repleta de expectativas e dúvidas, mas ansiada, desejada e… desafiadora.

Sem dúvida alguma, uma competição voltada aos jovens que transitam entre o fim da formação e o inicio do ciclo profissional torna-se importante, não só como um fator de renovação, mas acima de tudo, como um processo de evolução técnico tática, no qual fatores evolutivos se somam à juventude aberta a tais vôos, fundamentais ao soerguimento do grande jogo.

Infelizmente, a divulgação visual do mesmo é praticamente vetada àqueles que seriam os maiores beneficiários, os jovens técnicos e praticantes do país, ciosos de exemplos a seguir, de liderança, de inspiração.

A veiculação de pelo menos um vídeo por rodada na grande rede, em muito atenderia essa necessidade de informação visual, básica no processo de aprendizagem e fixação dos fundamentos do jogo,  suas correlatas aplicações técnicas no contexto de equipe, que encontraria nos vídeos seu veículo ideal na divulgação e entendimento do mesmo, e que se comentados por professores e técnicos da modalidade, maior seria seu alcance educativo e produtivo, pois seriam vistos, comentadas e analisados, não como somente um produto de lazer desportivo, mas como uma etapa fundamental do processo ensino-aprendizagem do grande jogo.

Vídeos com etapas e comentários de treinamento das equipes também poderiam fazer parte desse pacote, complementando um projeto pleno e verdadeiramente evolutivo.

Finalmente, um torneio de tiro curto como esse, terá de se encaminhar para uma solução próxima ao do formato NBB, pois o fator  temporada, onde treinos e jogos se complementam, significa e fundamenta o processo de amadurecimento dos jovens aspirantes à divisão superior, através as rotinas de treinamento e jogos, além , e isso deveria ficar bem claro, a continuidade de seus estudos, não conflitantes com a preparação de suas equipes. Com certeza, esta seria a grande conquista, a grande meta a ser alcançada pela LNB.

Torço para que essa nova etapa beneficie e desenvolva o grande jogo no país, tendo como meta inicial nossa participação olímpica em 2016.

Amém.

O CAMINHO POR VIR…

Vencer uma final de pré olímpico por mais de 40 pontos (74×33), demonstra em toda a sua extensão o enorme fosso que separou a seleção brasileira das demais, apesar de em algumas partidas mostrarmos sérias deficiências nos fundamentos, principalmente nas alas.

Mas num fundamento mostramos uma clara evolução, a defesa, que foi o fator determinante no resultado final. O exemplo de coletivismo defensivo da seleção masculina, numa competição onde os adversários foram mais qualificados do que na competição feminina, parece que inspirou positivamente a equipe e sua comissão técnica, mesmo com algumas falhas pontuais no posicionamento defensivo de algumas jogadoras, e pelo fato de não adotarmos a defesa frontal das pivôs adversárias, que nas Olimpíadas serão muito superiores às desse pré olímpico.

No entanto, algo de muito positivo aconteceu nesse jogo final, quando nos dois últimos quartos ensaiamos jogar com duas armadoras e duas pivôs, numa ação de jogo interior que praticamente liquidou toda e qualquer possibilidade reativa da equipe argentina, incapaz de frear o poder ofensivo interior e a esmagadora superioridade nos rebotes.

A seleção está bem servida de boas e talentosas pivôs, podendo desenvolver sistemas de jogo que as priorizem, como poucas equipes poderão fazê-lo em Londres, numa perspectiva que deveríamos investir com vigor e inteligência, fugindo de vez do estereótipo técnico tático que nos empobreceu nas últimas duas décadas, apresentando algo de inovador frente ao sistema único adotado pelas demais seleções classificadas, inclusive a nossa. Erika, Clarissa, Damiris, Francilene, Nadia, formam uma boa base para um jogo interior forte e ousado.

Mas tal evolução necessitaria de uma dupla e permanente armação para alimentá-la com precisão (como a ensaiada nesse jogo final), além do apoio mútuo ante defesas pressionadas, assim como um apreciável reforço defensivo pela velocidade de deslocamento e combate efetivo à armação adversária. Agindo dessa forma, nossa deficiência nas alas seria bastante atenuada, pois de dois em dois também se vencem jogos, por mais duros que se apresentem, além do fator inovador, em nenhum momento previsto por um basquete formatado e padronizado internacionalmente. Se jogarmos dentro dos padrões vigentes, teremos poucas chances de enfrentamento, ante seleções fundamentalmente mais bem preparadas do que a nossa.

Enfim, é certo que as classificações olímpicas nos beneficiará na retomada do prestigio do basquete tupiniquim, o que não é pouco, mas não suficiente se não mudarmos nossa forma de jogar, e preparar as novas gerações estruturadas numa formação sólida da base, onde os fundamentos terão de ser desenvolvidos e ensinados através técnicas didática e pedagogicamente bem planejadas, sendo essa a mais importante missão de uma ENTB convenientemente reestruturada e redimensionada para a execução de um projeto de tal envergadura.

Parabéns às jogadoras e comissão técnica que conseguiram tão importante feito, mas agora é que começa, de verdade, o caminho olímpico.

Amém.

Foto Divulgação FIBA. Clique na mesma para ampliá-la.

DAMIRES E OS FUNDAMENTOS…

Terminado o primeiro quarto do jogo, simplesmente não consegui retornar para o segundo, o terceiro, mas o fiz no quarto, ainda incrédulo com o baixo nível nos fundamentos do jogo, por ambas as equipes. Se brasileiras e canadenses formam as duas melhores equipes deste pré olímpico, independendo de qual se classifique, muito pouco alcançarão em Londres, pois conseguem cometer erros básicos numa sucessão assustadora, senão constrangedora.

Claro, acontecem exceções, muito poucas, mas acontecem, e a Damires é uma delas, e muito mais por conta de sua espontânea vitalidade, força e coordenação motora, do que o real conhecimento e domínio dos fundamentos básicos, que aos 18 anos já deveriam estar bem aprendidos e sedimentados, para que ao nível de uma seleção nacional, se impusesse consistentemente, e não em oscilantes lampejos.

Assim como ela, a Clarissa e a Babi, possuem um grande talento, que será definitivamente perdido se uma forte indução aos fundamentos não for priorizada, muito além , muito mesmo, antes de introduzi-las em coreografias impostas e pranchetadas, sem que as mesmas possuam o competente domínio técnico individual para exequibilizá-las.

Em um artigo aqui publicado em 1/8/2011, UM TALENTO MVP, apontei um erro de empunhadura da Damires, que tornava seus arremessos inseguros e não direcionados com firmeza, comparando sua técnica com a da jogadora americana Hartley, no momento decisivo da soltura da bola. No jogo de ontem, vislumbrei uma boa evolução nessa técnica (vide fotos), na qual a palma da mão cedeu o contato na bola às pontas dos dedos, tornando factível o alinhamento do polegar e mínimo ao nível horizontal do aro da cesta, dando aos três dedos centrais a correta função de acelerar e impulsionar a bola à mesma. Seu bom aproveitamento nos curtos arremessos, e mesmo nos longos durante o jogo, atestou essa bem vinda evolução, contrastando com algumas sérias falhas a ser corrigidas o mais rápido que for possível.

Damires pegou 11 rebotes, mas em todos eles chegou ao solo com o rosto direcionado da mesma forma de quando os captou no ar, que quando defensivos, com a vista voltada para a linha final. Se no momento do domínio da bola girasse seu corpo em 180 graus, teria o mais amplo domínio visual da quadra possível, podendo rapidamente localizar companheiras livres, desencadeando contra ataques mais velozes, ou mesmo saindo driblando para o ataque. Nos ofensivos, tal rotação a dotaria do posicionamento de tripla ameaça, podendo driblar, passar ou arremessar com mais precisão, já que evitaria o bloqueio verticalizado das defensoras.

Mas é no ato de driblar, origem dos cortes, mudanças de direção, e decorrentes passes em velocidade, que comete o mais elementar dos erros, o olhar para a bola (vide foto do jogo com o Paraguai), quando perde o contato visual de suas companheiras e o posicionamento defensivo das adversárias, tornando a ação eminentemente pessoal, que é o erro mais freqüente da maioria das alas e pivôs da seleção, sem contar a ausência da ambidestralidade.

Em hipótese alguma um(a) jogador(a) deverá olhar para a bola, em nenhuma situação de jogo, e sim percebê-la se utilizando da visão periférica, e a angular quando exerce o drible. São visões que se complementam na dinâmica do jogo, que juntamente ao domínio do equilíbrio corporal, compõem as bases estruturais do mesmo, do grande jogo.

Como vemos, talento, estatura, força física, inteligência e criatividade temos em boa conta, nos faltando fundamentação técnica, sem a qual nenhum sistema de jogo funcionará a contento, se é que funcionará, a não ser nas ilusórias e fantasiosas mentes de muitos de nossos técnicos e suas gloriosas pranchetas, só que elas não driblam, passam, fintam, defendem, saltam, reboteiam e arremessam com um boa dose de qualidade e competência. Ficam lá, no colo ou no chão, emitindo traços e rabiscos desconexos, como a exigir movimentos e ações através uma sofisticada coreografia, cuja concepção ignora propositalmente que a maioria daqueles atentos circundantes não possui fundamentação técnica para atendê-la. Essa é a triste realidade. Tem correção?

Sim, mas não nas mãos de estrategistas.

Amém.

Fotos O Globo e Divulgação FIBA. Clique nas mesmas para ampliá-las.