NILZA…

Foi um jogo dificílimo, a final do brasileiro feminino de 1966 em Recife, entre cariocas e paulistas, ou seja, com praticamente toda a seleção brasileira em quadra, conotando o alto nível daquela memorável final.

Dirigindo a seleção carioca, enfrentei, aos 26 anos, um dos mais instigantes desafios de minha vida como técnico, ainda mais em uma partida que só foi decidida na prorrogação por 69 x 66, dando-nos o tri-campeonato da categoria.

Mas algo de muito especial ocorreu nesse inesquecível jogo, o único que teve a participação da grande Marlene Bento, contundida seriamente no tornozelo direito, e somente semi apta momentos antes da decisão, na qual contabilizou incríveis 38 pontos, mesmo marcada sequencialmente pela jovem Odila, pela veterana Odete, ainda tendo que duelar nos rebotes com a formidável Nilza, que marcava nossa segunda pivô, ora a Delcy, ora a Marly.

No inicio do segundo tempo, ousei algo inusitado, na tentativa de afastar por algumas jogadas a Nilza do rebote defensivo direto, trazendo a Delcy para uma das alas, e levando a Angelina para exercer a função de segunda pivô, mesmo sendo uma armadora de baixa estatura. Esta ação afastou a Nilza do rebote em três ataques nossos, colocando a Marlene  numa ótima situação de domínio, pois a Odila, por ser muito jovem, não conseguia enfrentá-la sem a ajuda direta da Nilza, propiciando seis preciosos pontos a nosso favor, fundamentais para igualarmos o marcador.

O técnico Campineiro atento ao estratagema, optou pela zona, trazendo a Nilza para dentro do garrafão, mas àquela altura, com o placar igualado, conseguimos acessar a prorrogação e vencermos o jogo.

Esse relato demonstra com fidedignidade a grande importância da Nilza como um bastião poderoso nos rebotes das equipes das quais participou, além de também ter sido uma excelente pontuadora nos arremessos de media e curta distâncias, vide sua decisiva atuação no Mundial de 1971, onde conseguimos o terceiro lugar.

Após o jogo, somente duas jogadoras paulistas vieram me cumprimentar, a Nair e a Nilza, que além de grande jogadora era uma desportista brilhante e elegante.

A grande Nilza se foi nesse domingo, fazendo-me retroceder no tempo, a uma época de extraordinárias e inesquecíveis jogadoras, das quais me tornei eterno devedor pelo muito que me ensinaram de técnica, luta e dignidade.

Muito obrigado Nilza, você foi sensacional.

Amém.



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