O PONTO DE ENCONTRO…

Acompanho basquete a longos anos, estudando, pesquisando, trabalhando e ensinando-o da melhor forma que me foi possível, da formação às divisões adultas, no masculino e no feminino também, quando tive o privilégio de ver, e por que não, dirigir e liderar grandes equipes, excelentes jogadores (as), conviver com bons e maus dirigentes, e dialogar com professores e técnicos de qualidade, aqui e lá fora, visando sempre o progresso e o desenvolvimento do grande jogo.

Mas nem sempre me deparei com o “tudo de bom”, encontrando muitas vezes o lado ruim da coisa…

Ontem foi um desses encontros, quando me deparei com uma das equipes mais primárias que tive o desprazer de assistir jogando algo muito distante do que venha a ser um jogo de basquetebol. Duas coisas eram feitas, e somente duas pela equipe equatoriana do  Mavort, arremessos de um armador americano muito além da linha de três pontos, e uma ou outra investida de costas do pivô dominicano que compõem com fraquíssimos jogadores uma equipe simplesmente anacrônica.

E foi contra tal disparate em forma de time, que a equipe do Pinheiros suou a não mais poder para vencer um jogo simplesmente ridículo. E mais, repetindo a mesma estratégia do adversário, arremessando de três a metro (8/24), e aplicando vez ou outra o jogo interior que deveria ter sido usado à exaustão, e que por conta de sua exclusão provocou um festival de tentativas de três de seus dois pivôs, o Mineiro e o paraguaio.

Quando vejo uma equipe como a equatoriana, me vem a imagem de seus integrantes serem apresentados às vésperas de um torneio, e que mantêm um ponto de encontro em torno de uma prancheta repleta de obviedades e lugares comuns, manuseada por um técnico, mais para agente, ou sindico, do que alguém que despendeu algum tempo no preparo da mesma, por menor que fosse. E tal exemplo vai se tornando algo comum em nosso basquetebol, com pontos de encontro universalizados em torno do ícone maior, as pranchetas.

Acredito firmemente que um pouco de criatividade não faria mal nenhum ao nosso combalido (ex?) grande jogo, mas duvido que encarem o desafio…

Amém.

 

Foto – O ponto de encontro equatoriano.

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“VIVA A VIDA!!!”…

Hoje me empolguei pelo que assisti desde o Equador pelo sul americano de clubes, quando tive a certeza de que daqui para diante o nosso basquete irá trilhar outros caminhos técnico táticos, enterrando o sistema único definitivamente.

Incrível, mas a equipe líder do maior campeonato estadual do país perdeu para o Obras da Argentina arremessando somente 5/28 bolinhas de três, realmente um tremendo progresso, afinal de contas ter o atual melhor pivô do paulista não é lá essas coisas quando a artilharia está em forma…

Do outro lado, uma equipe argentina bem tradicional, jogando “erroneamente” dentro do garrafão, provocando um inexpressivo 36/37 nos lances livres e um 6/18 nos três, um absurdo frente a seu adversário professando o conceito moderno de basquete, que nem a derrota pode deslustrar…

Mas o melhor ficou para o fim, quando uma técnica do banco paulista custou 5 pontos no placar, para um pouco mais adiante uma jogada rabiscada na prancheta pelo assistente técnico esboçava exatamente um ataque que reduzisse a diferença final para os mesmos 5 pontos provocados pelo coach, atenuando uma pontuação que poderia influir mais adiante num caso de tríplice empate na chave, e que obviamente não funcionou…

Foi um jogo com insignificantes 28 erros, ou seja, de uma ruindade colossal, mas de um primor tático que me levou à empolgação inicial, pois jogadas novíssimas como as chifres, cabeça, camisa, 23, emplacaram um novo tempo de basquete, aquele dos conceitos modernos…

Depois de assistir um terrível Flamengo e Brasília na semana que passou, testemunhar esse Pinheiros e Obras,trouxe a mim a certeza de que teremos um NBB5 repleto de inovações táticas, que determinarão o futuro do grande jogo, encaminhando-o a algo brand new, como assistimos em primeira mão hoje, no Equador.

E digitando as últimas palavras desse artigo sou lançado ao Éden, quando no programa do Jô um brado do técnico-comentarista (ou comentarista –técnico…) fez trepidar a caneca de café junto ao PC, -VIVA A VIDA!!!

Bem sei que merecemos, bem sei…

Amém.

 

Fotos – Arremesso de três + Falta técnica + Arremesso de três, a perfeita alquimia…

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OS “CONCEITOS MODERNOS DE BASQUETE”…

Hoje, enfim, consegui sair para resolver pendências bancárias, odontológicas, e mesmo familiares, caminhando muito e muito, e sem sentir dores ciáticas, que tanto me fizeram sofrer nos últimos seis meses. Foram horas e horas de exercícios reparadores, numa fisioterapia que me lembraram como nunca, ser um professor de educação física, dos bons, e não um profissional crefiano, dos ruins…

Claro que a auto estima foi nas nuvens, me fez recobrar uma condição física sempre tratada com carinho, me fez feliz e bem humorado, mas não o suficiente para escrever algo sobre basquete depois de uma semana dedicada à leitura do que pude acessar sobre o grande jogo, aqui, e somente aqui em terrae brasilis.

E o que constatei, mais uma vez, pela enésima vez, como num carrossel girando num mesmo lugar, a começar pela já constrangedora e trágica omissão do COB nas explicações sobre a vergonhosa ação de subtração de informações sigilosas pertencentes ao comitê olímpico inglês, por parte de funcionários brasileiros para lá enviados como observadores e estagiários, numa repetição ao ocorrido no Pan do Rio, de triste memória.

Também, o enorme avanço da NBA por sobre a imensa maioria dos blogs nacionais, numa comprovação de que muitos dólares estão sendo gastos para a fixação da marca em nosso país, em detrimento de um basquete cada vez mais depreciado e esquecido pelas mídias tradicionais e a grande rede. Hoje, muito poucos mantêm suas preferências às nossas necessidades, se rendendo a uma cobertura absolutamente absurda sobre uma atividade em um país que sempre nos manteve a distância de suas fronteiras, em todos os sentidos.

Como resultante desse imoral avanço, hordas de jogadores americanos de quarta categoria deságuam em nossas equipes, para o júbilo de estrategistas que sequer balbuciam um remendo de sua língua nativa, o que, convenhamos, pouco importa, já que dentro do sistema único eles se ajeitam sem muitos esforços e treinamento, afinal, são americanos, uai…

Do velho continente, assim como do eldorado lá de cima do equador, lemos diariamente que nossos desbravadores poucas chances estão tendo como pilares de suas equipes, sejam as mesmas de primeira ou quarta divisões, provando de uma vez por todas que se aqui estivessem, pelo menos, jogariam, e consequentemente treinariam mais, fugindo de bancos obscuros e desestimulantes a maiores vôos. Os dólares jogados inconsequentemente fora em jogadores medíocres e empurrados por vivíssimos agentes, bem poderiam pagar muitos de nossos compatriotas relegados a coristas nas ligas européias e americanas, mas claro, aqui treinados e preparados com competência por técnicos de verdade (sim, ainda os temos…), e não estrategistas com cursos de quatro dias, devidamente provisionados e  pranchetados.

E rebatendo, somos obrigados a testemunhar jogos de primeira divisão no país onde uma diferença de placar chega a 100 pontos de uma equipe do NBB sobre um campeão estadual, numa definitiva prova de que ainda estamos anos luz distantes do que entendemos sobre o grande jogo e sua estratégica formação de base, sem a qual distorções desse teor tende a se repetir indefinidamente.

Finalmente, somos obrigados a acompanhar campeonatos estaduais antecedentes ao NBB, onde o grande número de erros de fundamentos e arremessos desenfreados de três ainda ocupam a preferência das equipes intervenientes, dando curso à mesmice endêmica que nos assombra e humilha, acompanhados de promessas repetidas à exaustão de que estamos vivenciando um tempo onde “conceitos modernos de basquete” estão sendo agregados ao nosso cotidiano, o que ainda não vimos, ou pouco compreendemos o que querem subtender como conceitos modernos…

Aliás, logo mais no Tijuca os tais conceitos se anunciam como algo a ser visto e comemorado. Flamengo e Brasilia se defrontam num jogo de preparação ao NBB, e quem sabe, para lá caminharei (sem as dores, enfim…) na esperança (?) de me defrontar com os tais benditos conceitos, inclusive através de dois de seus maiores defensores e propagandistas…

Quem sabe me surpreendo? Aqui para nós, duvido…

Amém.

Foto – A musa dos conceitos modernos de basquete…

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LÍDERES NOS ÊRROS…

Caramba, era um jogo com o líder do campeonato paulista, o mais poderoso do país, o mais prestigiado, a nata da elite, e transmitido ao vivo e à cores.

Primeiro quarto preenchido por um duelo ensandecido de arremessos de três, de lado a lado é o que se fez em quadra, sistemática e mediocremente, num espetáculo da mais absoluta falta de imaginação, de criação, de técnica, de tática.

De repente é desencadeada uma defesa pressão insistente, permanente, pela equipe da casa, e o mais incrível, seguidamente retomando a bola da equipe líder, sem contestações, sem reações, infringindo um dos mais primários fundamentos coletivos do grande jogo, o de sair de uma pressão pelo meio da quadra, tendo o apoio de um pivô exatamente nesse ponto, o meio da quadra, desértica, ignorada, abandonada…

Dá-se o distanciamento no marcador, como um sinal  para o inicio de uma sucessão de erros de fundamentos espantosa pelo número, 28 (13/15), cifra inadmissível em equipes da suposta e propalada elite do mais prestigioso campeonato do país.

Ao final, estampa-se na tela da TV um quadrinho estatístico aterrador, como para nos lembrar que para serem lideres de verdade, algo deve ser mudado nos futuros quadrinhos, como por exemplo, treinarem mais fundamentos, pois afinal de contas, um campeonato super valorizado como esse deveria ser visto como exemplo para as novas gerações, função maior daqueles que se arvoram como tal, mesmo com as  desculpas de inicio de temporada, quando erros táticos ainda seriam admissíveis, técnicos e individuais, jamais…

Amém.

Fotos – 1 – Arremesso de três de um lado…

2 – E do outro…

3- Saida equivocada e falha da pressão…

4 – O quadrinho…

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O (IMPERDOÁVEL) DESPERDÍCIO…

Eventualmente tenho noticias dos jogadores que dirigi no Saldanha da Gama no NBB2, uns diretamente pelo MSN, outros pelo acompanhamento de suas atuações nas diversas competições de que fazem parte pelo país afora, como num preito de amizade que foi estabelecida naqueles dois meses e meio que convivemos intensamente nos duros treinamentos e nos jogos disputados sob a égide do compromisso e do comprometimento em torno de algo inovador, corajosa e ousadamente tentado no campo de luta, onde as verdades foram duramente ditas e comprovadas.

Amiel, Roberto, Rafael, Muñoz, André, João Gabriel, De Jesus, Casé, Matheus, formavam o núcleo daquela equipe, hoje fragmentada e espalhada em diversas equipes do país, sem que tivéssemos a oportunidade de dar seguimento àquele trabalho, que certamente teria ajudado o grande jogo a sair da mesmice endêmica que o vem sufocando à décadas.

Ontem, assisti pela TV ao jogo Pinheiros e Metodista, muito mais pela presença do Muñoz e do André do que o previsível jogo em si, totalmente jogado no sistema único por ambas as equipes, num enfadonho replay do dia a dia do nosso basquete. Me fez mal ver aqueles dois bons jogadores entregues a uma mediocridade tática de dar medo, mais do que preocupante, terminal.

Mesmo assim gostei de revê-los, jogando muito aquém de suas reais possibilidades, muito ao contrario do que jogaram naqueles inesquecíveis meses de 2010, mas sobrevivendo através seus honestos trabalhos e suas atitudes de bons desportistas que são.

Mas algo me chocou profundamente lá pelo meio da segunda etapa do jogo, quando num dos tempos pedidos pelo técnico da Metodista, este aos gritos dirigidos ao Muñoz acusava-o de ser o culpado de uma falha defensiva, das muitas que ocorriam naquela equipe equivocada defensivamente, desencadeando uma inesperada reação do excelente armador panamenho, que tomando a prancheta de suas mãos fez ver ao vociferante técnico que, se erro ocorreu não foi por sua culpa, e sim pela disposição defensiva da equipe frente aos corta luzes do adversário, provocando um recuo do mesmo, num lamentável espetáculo de desencontro entre comandante e comandados em torno de exigências pontuais  não previstas no plano tático.

A cena em si, profundamente comprometedora, me fez lembrar o quanto de entendimento tínhamos dentro da realidade daquela equipe de Vitoria, coesa em sua simplicidade, cúmplice que era de sistemas proprietários somente praticados por ela em toda a liga, e quanto os mesmos representavam para a coesão de todos em torno da mais simples das realidades, o crédito e a confiança que emanava e irmanava a todos, comandante e comandados, sem indisciplinas, cobranças, ameaças e coerções, onde todos remavam numa mesma direção, e onde os erros eram reconhecidos não por um, e sim por todos, assim como os acertos, as derrotas e as vitorias, fatores que a solidificavam como uma verdadeira equipe, e não um bando, dos muitos que vemos hoje em dia.

O Muñoz é muito mais do que vem apresentando nessa equipe paulista, já que armador brilhante, e pontuador dos mais competentes que conheci (vejam aqui uma de suas brilhantes apresentações), além de ser um tático criativo e altamente competitivo, muito além do que um passador de bola e corredor de maratona em que transformaram nossos armadores desde que implantaram o trágico sistema único entre nós.

E no frigir dos ovos, fico imaginando o que teria acontecido se aquele núcleo de jogadores tivesse permanecido junto, unido aos sistemas que desenvolveram, ou mesmo, se alguém de bom senso nesse país, que no comando administrativo de uma equipe da liga tornasse a reuní-los, dando continuidade àquele trabalho iniciado e interrompido no Saldanha, o quanto de impulso provocaria no seio da liga pela continuidade do mesmo, assim como outra concepção proposta pelo Marcel, a dos triângulos que ele tanto defende e entende, provocando os contraditórios, que são os fatores mais importantes e estratégicos para o pleno desenvolvimento de um segmento, seja de vida, político, cultural, educacional, desportivo. Mas para tanto, algo teria de ser plenamente contornado, o forte e até agora inexpugnável corporativismo técnico que cerceia e esmaga o progresso do grande jogo em nosso imenso e desigual país.

Assim vejo o nosso basquete de elite, urgentemente necessitado de novas concepções de jogo, que inspirem novos sistemas, novos adeptos, novas gerações, e que sejam lastreados pela pratica indistinta e maciça dos  fundamentos do jogo, como devem ser desenvolvidos e praticados desde a formação de base.

Acredito que possamos evoluir com segurança à partir do momento em que ousemos novas formas de jogar, que adotemos outras concepções no processo evolutivo do grande jogo, além do único que percorremos nos últimos 25 anos de dolorosa e espinhosa caminhada.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

Foto 1 – O batalhador pivô André.

Foto 2 – Muñoz em sua solitaria armação no sistema único.

Foto 3 – Muñoz é ademoestado por suposto erro defensivo…

Foto 4 – … e demonstra na prancheta o erro da injusta admoestação.

CONJECTURANDO…

Toca o Skype e quem fala do lado lá é o Alcir, iniciando um papo sobre, adivinhem…isso, basquete, e mais, olímpico. Assunto em pauta, o jogo contra a Argentina logo mais em Londres pelas quartas de final, que por si só provoca situações para além de inusitadas, apaixonadas, e radicalmente unilaterais, não fossemos hermanos inseparáveis…

Digo a ele que estava em plena elaboração do artigo de hoje, exatamente sobre um assunto que me nego normalmente a escrever, previsões sobre jogos, principalmente aqueles em que não me encontro participante. Mas após ler um batalhão de comentários em artigos blogueiros sobre “como jogar” esse decisivo jogo, me permito abordar alguns detalhes estratégicos, táticos por assim dizer, sobre algo que entendo um pouco, e que fatalmente divergirão das opiniões maciçamente publicadas, que em sua maioria advêm de leigos, entusiastas, torcedores, curiosos, palpiteiros, e um ou outro editorialista mais objetivo e esclarecido.

Vejamos então:

– Quatro são os pontos perigosos nesta excelente equipe argentina, seus dois armadores, seu pivô extra classe, o seu coração, Ginobili, e um sentido inigualável de conjunto e comprometimento grupal.

– Enfrentar uma equipe deste quilate exige um planejamento acurado e preciso, fatores que o Magnano domina muito bem, não fosse o mesmo um ex condutor da mesma em campanhas gloriosas.

– No entanto, poderiamos projetar umas poucas situações de fato, que se bem equacionadas propiciariam boas chances de vitória, já que concretas.

– Primeiro, brecar na medida do possível a armação argentina, normalmente veloz, muito técnica, que é exercida por um armador de oficio (Prigioni ou Campazzo), mas sempre na companhia de outro armador honorário com técnica similar (Delfino ou Ginobili), numa dupla armação efetiva e vencedora. Colar no armador de oficio, fustigando-o permanentemente, em muito comprometeria o sentido coletivista dos argentinos, pois teriam contestada sua unidade na origem. E nada melhor do que o Alex para confrontá-lo, em vez de duelar de forma desigual com um Ginobili muitos furos tecnicamente acima dele.

– Dificultando e retardando os passes iniciais dentro do sistema argentino de jogar, a defesa poderia se antecipar aos pivôs, colocando-se nas linhas de passes aos mesmos, provocando a abertura do Scola, num posicionamento onde é menos efetivo do que no interior do perímetro, obrigando a armação a um exercício inseguro e impreciso em seu ponto mais forte, o principio coletivista, pois fragmentando-o seriam invertidas  suas prioridades ofensivas, obrigando-os ao improviso, ao individualismo, no qual o Ginobili é mestre, mas não se sozinho for mantido pelo maior espaço de tempo possível, pois anulá-lo é impensável, mas tentar reduzir sua eficiência e números em pelo menos 25% em muito aumentariam as chances de um bom resultado, e para tanto somente um jogador muito veloz para antecipar suas jogadas, como o Leandro ou o Huertas, próximos em estatura ao grande jogador.

– Esse estratagema, se bem executado, equilibraria as chances, que somadas às melhores condições físicas da equipe brasileira auferiria reais oportunidades de vitoria e continuidade na competição.

Mas são conjecturas, puro exercício de um técnico veterano e com alguma experiência no grande jogo, o grandíssimo jogo.

Amém.

Foto – Colin Foster/CBB. Clique na mesma para ampliá-la.

O ANACRONISMO EM QUADRA…

Deveria ter sido uma excelente oportunidade para afiarmos nosso jogo interior, na comunicação e entrosamento dos pivôs (todos eles em rodízio), no jogo de passes curtos e precisos, nos DPJ’s, nas bolas de tempo, e principalmente, na sedimentação de uma opção que fatalmente nos fará muita falta daqui para frente, o jogar lá dentro, na cozinha do inimigo….

Mas Paulo, foi um treino de luxo, assim afirmam os comentaristas, e inclusive uma boa oportunidade de descansar os titulares…

Descansar aqueles que ainda não atingiram sequer 60% de suas possibilidades técnicas, e num torneio de tiro curtíssimo como este?  E desde quando jogadores desse quilate, experiência e grande valorização no meio profissional em que convivem precisam descansar numa Olimpíada?

E se foi um treino de luxo, quais os beneficiários do mesmo, os especialistas nas bolinhas? Visando o que? Superar defesas passivas fora do perímetro como a chinesa? Acham que daqui para frente encontrarão tanta moleza como a de hoje? E olha que mesmo assim perpetraram um 12/25, para o gáudio e urros daqueles que pouco percebem onde estão, onde se encontram de verdade, no âmbito da maior competição do planeta, ou não? Ah, esqueci a NBA, excuse me…

Começamos bem, num primeiro quarto que sugeria a ótima oportunidade de entrosar os grandões, movimentando-os, agilizando-os, tornando-os efetivamente senhores do perímetro interno, aquele em que os jogos serão decididos na reta final desses Jogos.

Mas não, a artilharia teria de ser azeitada, engatilhada para jogos futuros. Mas quais? Espanha, Argentina, Estados Unidos, ou pensam que reencontrarão a China mais adiante? Desculpem, pode ocorrer se disputarmos de 5º para trás…

Perdemos uma ótima chance de praticarmos o jogo que interessaria, trocando-o por um monótono tiro aos pombos, ao nível do sono (vide foto), recreativo, solto, alegre e saltitante, mas absolutamente anacrônico, dada às nossas reais e mais urgentes necessidades.

Praticamente registrei todas as bolinhas executadas, mas me reporto somente ao pequeno exemplo (fotos) de um jogador que se realiza plenamente quando arremessa de longe (hoje atingiu um 2/6…), mas retribui as facilidades “defendendo” de mentirinha, sendo batido pela direita, pela esquerda (vide fotos), repetidamente (e não só ele…), deixando uma séria dúvida em se tratando de custo e benefício para uma seleção nacional.

Mais sábios foram os dois assistentes dormindo (foto), descansando para os restantes e bem mais interessantes jogos.

Vamos ver se na segunda o treino de luxo de hoje auferirá os benefícios que esperam atingir nas bolinhas, em vez da real pratica do jogo que definirá a partida, o interno, naquela região critica que nos recusamos hoje a treinar e conhecer melhor.

Mesmo assim, continuarei a torcer pela seleção, mas sempre à luz da razão e do bom senso.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

 

TEIMOSIA DÁ NISSO…

Ora, ora, ora, passamos o jogo inteiro efetuando trocas na marcação, ocasionando inúmeros desequilíbrios defensivos, tanto pelas estaturas, como nas habilidades, e justo no momento decisivo uma fundamental troca não foi feita entre o Leandro e o Nenê, o que obrigaria o ala russo a colocar a bola dentro do perímetro, onde somente um arremesso de dois poderia ser contabilizado a seu favor, ou mesmo brecado pela defesa, com ou sem falta pessoal, garantindo no mínimo uma prorrogação.

O grande jogo não costuma perdoar falhas desse tipo, assim como outras cometidas de fora da quadra, com ou sem prancheta, principalmente na substituição de um jogador que custou muito a se personalizar, muito mesmo, gerando grandes desconfianças sobre a validade de sua convocação após uma naturalização recorde dentro dos critérios de nossa chancelaria, vide o caso do Shamell, que vive no país a cinco anos, casado com uma brasileira, e com filhos aqui nascidos, e que não conseguiu sua naturalização.

Pois bem, vinha o Larry muito bem na partida, incrementando o jogo interior no quarto final, penetrando tão a fundo que carregou todo o time russo para dentro de seu garrafão, levando o Leandro e o Nenê junto, provocando a virada no marcador, e o mais importante, defendendo com tanto ardor que contagiou a todos de uma forma contundente, e que teve como premio no minuto final e decisivo…o banco, pois afinal, o dono da armação tinha de fechar o expediente, o que aliás o fez muito bem até o momento da troca não realizada por aquele jogador que deveria ter saído para a sua entrada, nunca o Larry.

Se observarmos bem as fotos, veremos que no primeiro quarto jogamos lá dentro, fungando no cangote dos russos, vencendo-os por 20 x 15, e com um 3/3 nos três pontos que provocou um frisson na turma das bolinhas no quarto seguinte, onde contabilizaram um 1/6 (vide fotos) constrangedor, presenteando os russos com oportunidades de cestas que os levaram a um 25 x 12 oportuno e abençoado…para eles.

Mesmo assim, claudicantes e inseguros, conseguiram manter algum controle no terceiro quarto, mas não o suficiente para  evitar os 12 pontos em que ficaram atrás no mesmo, graças a inabilidade defensiva de alguns dos nossos, bem conhecidos aliás.

Foi a partir desse ponto que o Larry começou a se impor ao visar o interior da defesa russa, comprimindo-a, num momento em que a companhia do Huertas decretaria de vez sua falência, pois imporia um jogo de pivôs circundando todo o perímetro interno, e não somente do lado onde se encontrava o Nenê, pois nem o Guilherme, nem o Marcos iam lá dentro para a ajudá-lo (vide fotos), sendo substituídos por um improvável Larry, mas que deu certo pela ousadia e coragem, apesar de sua estatura, secundado em alguns momentos pelo Leandro.  Era o momento de um segundo pivô, com duas, três, quatro faltas, não importavam, pois jogador bom no banco não pontua, não marca e nem pega rebote, somente lá dentro, e nesse ponto, ao olharmos para o banco e vermos um Caio e um Raul que não jogam jogos desse nível, temos de parar para questionar ser uma seleção olímpica lugar para experiências ou quebra galhos, deixando na terra jogadores que poderiam ser realmente úteis e produtivos para a equipe? Claro que não, confirmando critérios por “nomes” que ainda se impõe por aqui.

Oscilação ainda é norma nessa seleção, graças a determinados jogadores muito falhos nos fundamentos do jogo, principalmente nos passes, nas fintas e no posicionamento defensivo, e que quando se encontram aos pares no campo de jogo provocam situações em tudo e por tudo favoráveis ao adversário, motivados por suas inquestionáveis fragilidades técnicas.

Mas aos poucos vamos dando valor ao jogo de 2 em 2, seguros e eficientes, abandonando o jogo prioritário dos 3 pontos, colocando-o, como deve ser colocado, como um recurso, um complemento do jogo, como temos visto nesta olimpíada, exceto pelos americanos, possuidores de especialistas nos longos arremessos, não fosse a linha dos três pontos de sua liga bem mais distante que a da FIBA, o que os obrigam a um apuro e precisão bem mais desenvolvidos.

Finalmente, como teria sido o placar se convertessem a metade dos lances livres (10/18) que erraram? Ah, mas os russos (13/24) erraram mais…Pois é.

Amém.

 

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Em Tempo – Nos arremessos de três notar o tempo restante de ataque,

uma constante na equipe.

O REINADO DAS “BOLINHAS” VII (OLÍMPICAS)…

Creio que as imagens falam por si mesmas, pois um simples passar de olhos sobre as mesmas diluem quaisquer dúvidas que pudessem pairar sobre a insana, teimosa e burra hemorragia ainda presente sobre certas cabecinhas laureadas com uma convocação olímpica, esclarecendo os porquês de 4 pontos num quarto inicial na mais importante competição mundial, e o pior, contra uma seleção que sem muitas opções técnicas “resolve pagar para ver” o quanto de precisão ostentamos inverídica e pretensiosamente nas mãos de mais pretensiosos ainda “especialistas” na difícil arte dos longos arremessos.

Inacreditável que uma seleção com tantos potentes e habilidosos alas pivôs (que pela velocidade e agilidade não podem ser classificados de pivosões, cincões ou algo lamentavelmente correlato…), sejam boicotados por jogadores que se pretendem “decisivos” numa competição desse porte.

Observem bem as fotos (as três primeiras de uma mesma sequência), os posicionamentos, os espaços, as possíveis opções, com um “olho” no cronômetro gigantesco acima da tabela, some os tempos, dividam por 10 (número das tentativas que aqui reporto) e espantosamente obterão uma média de 8.4” de sobras de tempo para um ataque articulado, analisado, lido e inteligentemente concluído. Mas não, “confiamos no nosso taco”, afinal de contas somos os gun shooters desse torneiozinho menor, ou não?

NÃO, não são e nunca serão, pois se em 22 tentativas “livres de marcação” só concluem duas, onde se encontra a tal “especialização, ONDE? (Ah, hoje não caíram, mas amanhã cairão…)

Infelizmente não pude registrar as 12 tentativas restantes, mas que não seriam diferentes dessas que ai estão, límpidas, verdadeiras e lamentavelmente esclarecedoras sobre a realidade do quanto nos momentos sem volta o excelente técnico argentino se vê pendurado na broxa e exerce sua incredulidade declarando no pós quase desastre – “Creio nunca ter visto uma equipe fazer 4 pontos num quarto em competições desse nível…”

Pois foi o que ocorreu, e se repetir, adeus…

Logo, urge uma intervenção mais enérgica, impositiva mesmo, pois o tempo corre inexorável, e a equipe necessita utilizar seu ponto ofensivo mais forte centrado num poderoso jogo interior, melhorando sua defesa nos corta luzes, contestando o perímetro externo, otimizando o posicionamento nos rebotes, e basicamente, optando pelos arremessos mais seguros e precisos, os de media e curta distância, reservando os de longa àqueles momentos em que possam ser concretizados opcionalmente, e não como prioritários, retirando as grandes oportunidades de nosso poderoso jogo interior.

Mais um detalhe e fundamental aspecto presente nas fotos, o vazio de possibilidades de rebotes ofensivos nas tentativas de três assinaladas, demonstrando de forma incontestável a pobreza de leitura de jogo que nos assalta desde sempre, desde que implantamos o principio de “quem matar a última vence o jogo”.

Mas Paulo, e o restante do jogo, afinal, não venceram?

Bem, com um começo como aquele, qualquer equipe por menor que seja sua qualidade, se agiganta, pois presentes de natal antes do tempo não podem ser desprezados, mesmo que uma vitoria alivie tal possibilidade, mas que materializará uma derrota ante um adversário mais estruturado, e que esteja vacinado contra hemorragias infecciosas que ostentamos ainda sem cura aparente, aquela que pensamos debelada, mas que reaparece em toda sua gloriosa morbidez quando menos esperamos, mas que no fundo, alimentamos.

Corrigindo (?) essa crônica deficiência, creio que daríamos um belo e positivo passo de encontro a resultados realmente convincentes, e o mesmo deveria ser o da obediência irrestrita e comprometida ao principio básico que rege e solidifica uma equipe de verdade, a união de todos em torno de um ideal, um sistema, um comandante, de forma humilde e ética.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

 

Em Tempo – Recordando, se trocássemos metade das bolas perdidas de três, aproveitando 70% das mesmas em dois pontos, teríamos vencido de 20!!

 

REFLEXOS DO TREINO…

 

Diego Felipe  

Professor, o que dizer do feminino? Fico com uma sensação de déjà vu: pouca defesa exterior, nada de rebotes, ‘gatilhaços’ pouco efetivos de 3, nenhuma movimentação de bola, somente uma jogadora (Chuca) tentando trazer o jogo para o interior, uma Érika efetiva, porém tolhida pelo resto do time… seria a repetição da seleção masculina de até 3 anos atrás?(…)

Recebi esse comentário hoje junto ao artigo de ontem Os Inseparáveis Dilemas, justo quando terminei de assistir o jogo com a Rússia, quando mais robusteceu em mim a vontade de não comentar mais nada sobre esse pastiche em que transformaram o grande basquete feminino do país, basquete esse em que me tornei campeão nacional como técnico no brasileiro de 1966.

Assisti os últimos jogos da seleção, da preparação às rodadas iniciais dessa olimpíada, e o que testemunhei gerou em mim um tal estado de angústia que decidi nada mais escrever ou externar para não me magoar mais do que já me magoei. Então, prezado Diego, foi esse sentimento de tristeza e decepção o responsável pelo mutismo, pela ausência de maiores comentários sobre o assunto.

Mas, não posso negar algumas considerações ao seu questionamento, pois nunca nesses anos todos de Basquete Brasil deixei qualquer pergunta sem resposta, inteligentes ou despropositadas, negando somente as desaforadas e ofensivas, e claro, as anônimas.

O que dizer objetiva e francamente? Talvez algumas poucas verdades, não as de caráter pessoal, mas sim as de foro profissional e técnico, fatores ausentes nesta seleção tão mal administrada e pior dirigida e orientada. Aliás, não compreendo como algum técnico sério e responsável poderia aceitar um cargo tão obliterado por uma coordenação, por uma supervisão tão equivocada, tão primária, tão amadora e medíocre.

Que mais dizer sobre uma seleção que se preparou por um longo tempo e não consegue apresentar sequer um resquício de sistema de jogo, de apresentar alguns dos fundamentos básicos do grande jogo, de sequer saber aproveitar sua melhor qualidade, a honesta e sensível disposição de suas componentes em fazer o melhor possível dentro de suas limitadas possibilidades técnicas, não menciono sequer as táticas, estando receptivas a um preparo realmente técnico, e não interessado em currículos, tão mais falsos quanto as premissas de ensino e aprendizagem negadas às mesmas da forma mais pusilânime possível, pois uma seleção nacional não tem o direito de se apresentar dessa forma tão carente, tão ignorante, tão equivocada.

Se nesses três meses de pseudo trabalho, viagens desnecessárias, jogos mais desnecessários ainda fossem substituídos por um programa realmente competente de preparo fundamental, não veríamos talentos como uma Damiris se perder na mediocridade de seu jogo jamais dirigido e orientado, ensinado enfim, assim como uma pivô da qualidade de uma Erika, de uma promissora Clarissa, abandonadas em suas solitárias lutas nas tabelas, onde arremessos são perdidos por não saberem como direcionar corretamente a bola na cesta, assim como alas e armadoras que mal sabem driblar, fintar, passar, sequer arremessar com um mínimo de qualidade. O que vemos são técnicos defendendo seus sistemas de jogo (que no fundo é um só, o que sabem e pensam dominar, como um molde a ser implantado nas equipes que dirigem, ou pensam dirigir…), suas pranchetas coreográficas, exigindo de jogadoras mal e pouco fundamentadas comportamentos de alta técnica e conhecimento de jogo, que são os fatores necessários para que vinguem, ou seja, os fundamentos do jogo. Se nesses meses todos tivessem treinado somente os fundamentos individuais e coletivos, somente os fundamentos, garanto que se apresentariam num nível bem superior ao que vem apresentando de forma tão melancólica, ou acham que as americanas desenvolveriam seus sistemas sem a rigorosa fundamentação que possuem?

É o que tenho a dizer, prezado Diego, e nada mais falarei a respeito, e se o faço agora, repito, é em respeito ao seu questionamento, já que me cansei de tanta… Deixa pra lá.

Amém.

Foto – A grande diva do basquete nacional…