OS INSEPARÁVEIS DILEMAS…
Outro dia o Giancarlo Gianpetro do blog VinteUm mencionou o fato de que deveria ser prioritário que um blogueiro não devesse acessar outros blogs antes de emitir sua opinião, para não se influenciar. Bem, normalmente não sigo esse critério, pois num ponto me diferencio um pouco dos demais analistas, o fato de também ser um técnico do grande jogo.
E um técnico tem como prioridade se manter informado, no geral, nos detalhes, nas entrelinhas, nos comportamentos, nas reações, e principalmente, se dissociando das emoções puras e simples, que de uma maneira bem ampla tende a mascarar as verdades, as reais conjunturas que envolvem a competição, naquele ponto mais nevrálgico, a precisão comportamental, técnica e tática.
Nesse ponto, dois foram os dilemas que possivelmente assaltaram o Magnano nesse inicio de competição, como primeiramente deveria se comportar ante o previsto desgaste do Huertas sob a enorme pressão de uma caminhada de curta e cruel exigência física e mental, concomitante a uma genérica possibilidade prevista em todos o jogos futuros, ante a presença de um forte jogo interior através nossos excelentes pivôs, que fatalmente em determinados e estratégicos momentos sucederia um jogo exterior mais desimpedido pela enorme concentração defensiva sobre os mesmos.
Frente a estas duas fundamentais e previsíveis situações, e ante a fragilidade técnica de um inexperiente Raul, uma tendência oscilatória do Larry, previsivelmente coubesse ao Leandro ou Alex as funções de um segundo armador, atuando junto ou separadamente do Huertas quando da necessária rotação, assim como, na segunda evidência, a importante presença de um arrematador de media e longa distância naqueles momentos de alta concentração defensiva dentro do perímetro, e neste caso a escolha, também estratégica entre um encanecido especialista como o Marcelo, ou um insinuante Marcos, ambos, porém, possuidores de uma grave limitação, a defensiva.
E o que ocorreu neste fundamental jogo contra uma perigosa e tradicional oponente desde sempre? Acertaram?
Nosso jogo interior se estabelecia pujante, dominador e efetivo, assim como nossa defesa também interior, falhando, mais uma vez, na contestação exterior, quando sofreu um 4/22 nos três pontos, felizmente imprecisos, mas que não os serão contra equipes mais qualificadas nesse pormenor, e que por conta da mencionada superioridade ofensiva interior abriu possibilidades nossas de arremessos exteriores mais desimpedidos e possivelmente mais precisos e equilibrados. Optou então o argentino pelo Marcelo, que falhou num 1/8 devastador, quando deveria, face à sua larga experiência retornar, como num bumerangue, o jogo interior brevemente desimpedido pelo afrouxamento defensivo sobre os grandes pivôs, face a sua presença presumivelmente pontuadora.
No caso do Leandro, algo semelhante ocorreria se sua atuação fosse mais dirigida à armação e não às finalizações pós penetrações nem sempre bem sucedidas, pois seus 16 pontos quase foram sufocados por erros de avaliação, leitura de jogo, e mesmo erros de fundamentos, que propiciasse a descompressão defensiva sobre nossos atuantes pivôs. Errou tanto que o Magnano o admoestou publica e enfaticamente, sem muito sucesso, alias.
Vimos então dois dos grandes dilemas que o bom argentino enfrentará dentro da realidade de uma competição que já venceu, enfrentando, sem dúvida alguma, outros tão ou mais complicados como os deste jogo.
Mas venceu, o que foi importante, não acreditando, porém, que volte a ter mais dúvidas quanto a futuras decisões de tão transcendente importância, voltando ao Marcos suas atenções e ansiada confiança, assim como poderá vir a optar por uma real dupla armação, levando para o lado do Huertas um Larry também habilidoso, apesar de oscilante ofensivamente, mas eficiente na defesa, e que poderá, em quadra, aliviar as enormes pressões porque passará o excelente armador brasileiro daqui para frente, com o Alex e o Leandro exercendo uma rotação mais comedida no ataque, ou mais combativa na defesa, dependendo do qual for escalado.
Fato é que num ponto e nevrálgico detalhe estamos muito bem no ataque, o declínio acentuado nas famigeradas bolinhas, não ultrapassando as 15 tentativas nos últimos dois jogos, fator que viabilizaria nosso pujante jogo interior, que poderia ser implementado de forma ascendente no restante transcurso da competição, o que deveria ser conveniente e decisivamente compreendido e aceito por nossa armação, como a forma mais inteligente e verdadeiramente estratégica de avançar com firmeza e determinação rumo a uma participação honrosa na maior das competições, a Olimpíada.
Dilemas são companheiros permanentes de um técnico de alto nível, e acredito que o Magnano saberá enfrentá-los com a maestria que o tornou no campeão que é. Boa sorte a ele e a equipe brasileira.
Amém.
Fotos – Nas duas sequências reproduzidas da TV, podemos acompanhar e analisar os equívocos ofensivos do Leandro, projetando-se sobre um forte esquema defensivo, e na segunda, o jogo de pivôs não totalmente bem aproveitado por nossa armação. Notar o quanto de possibilidades não aproveitadas por uma armação que deveria acelerar ao máximo nosso poderoso jogo interior.
Nota – Clique nas fotos para ampliá-las.