A VENCEDORA INCOERÊNCIA…
Uma final de liga nacional, muito mais do que provocar êxtase e felicidade às suas torcidas, representa o que de melhor possuímos, técnica e taticamente, para a formação de nossa seleção que disputará um pré olímpico de importância transcedental, ainda mais quando periga a participação de nossos jogadores que disputam a NBA, por motivos, novos ou conhecidos de antanho, somados a mais alguns poucos que militam em clubes europeus.
A verdade crua é que a base dessa seleção mediu forças ontem em Brasília, pelo título do NBB3, e que por certo tenha deixado o Ruben Magnano com as barbas ensopadas num molho um tanto amargo para o seu gosto.
Era para ter sido um jogo lapidar dentro do perímetro, como já haviam as duas equipes ensaiado nos dois últimos confrontos, com uma vitória para cada, e onde os arremessos seguros e mais precisos de 2 pontos sobrepujaram em muito os ingratos e aventureiros de 3 pontos, propiciando uma volta salutar do jogo efetivo e pontuador de pivôs e alas, e não dando continuidade ao seu destino de reboteadores das bolas perdidas pelos chutadores de plantão.
Mas houve um inexplicável e incoerente retrocesso, com a equipe de Brasília convergindo seus números, com 16/28 arremessos de 2, e 7/29 de três, com 24/32 de lances livres, e mesmo assim vencendo a equipe de Franca, que com seus 24/50 arremessos de 2, 3/15 de 3, e 11/14 de lances livres, não conseguiu superar a bem postada defesa candanga, que abusando de uma zona tradicional, pressionando seus armadores, os deixaram perdidos numa infinita troca de passes bem longe do perímetro interno, obrigando-os a penetrações sob forte pressão( uma característica da zona atenta), e arremessos curtos desequilibrados e imprecisos. E olha que foram 50 tentativas, contra 28 da equipe de Brasília, cujo poder superior de penetrações, com o Alex, o Guilherme, e um surpreendente Lucas, não deveria ter se perdido em 29 arremessos de 3, com somente 7 acertos. E a prova maior foram suas 32 tentativas de lances livres, com acerto de 24, contra os 11/14 de Franca, estabelecendo uma grande diferença de pontos, que seriam enormemente acrescidos se não se deixassem levar pela orgia desenfreada dos 3 pontos, e das enterradas “ monumentais”, tão ao gosto dos nossos tonitruantes narradores, ficando ainda mais engraçado ouvir um dissonante comentário do Leandro no Sportv, dizendo que sempre opta pelos seguros 2 pontos, em vez das enterradas, logo após um toco de aro levado pelo jogador Lewis de Franca, demonstrando exemplar seriedade profissional.
Afastando estes frios e contundentes comentários, feitos por quem prioriza o jogo objetivo e calculista, realizado e praticado por jogadores criativos e fundamentalmente preparados na leitura e na consecução de arremessos mais seguros, cabe ainda mais um, não, uma curiosa indagação, do quanto separa o planejamento, treinamento e orientação de um técnico, da vontade aventureira de jogadores que se situam acima do mesmo, ao tomarem decisões que conflitam o combinado?
A resposta talvez esclareça a consciente opção pelos arremessos de 3 em momentos inoportunos, falhos em sua absoluta maioria, em vez do comportamento tático acertado por todos, técnico e jogadores, principalmente num jogo decisivo. Vinte e dois arremessos de 3 perdidos por Brasília, num jogo em que dominava o jogo interior, preocupa e deixa em alerta o técnico argentino, pois põe em risco seu sistema coletivo de ajuda e apoio permanente nos ataques, característica básica das grandes equipes argentinas e suas seleções.
No mais, foi um jogo para a torcida, nitidamente egressa do futebol em suas manifestações raivosas ou exultantes, mas plena de alegria e alguma promessa de que essa importante conquista faça decolar o basquete brasiliense, principalmente no seio de sua juventude, o que seria alentador.
Parabenizo toda a equipe de Brasília e seus dirigentes técnicos, assim como seu competente adversário, Franca, de tantas tradições e história, e fico torcendo para que algumas das soluções técnico táticas que emergiram desse playoff, tenham segmento e aceitação pelas demais equipes e seus técnicos, a fim de fugirmos definitivamente da mesmice endêmica que nos tortura e constrange de duas décadas aos dias de hoje. Merecemos um basquete melhor, e estamos começando a trilhar um caminho mais promissor.
Amém.
Foto-LNB