O QUADRAGÉSIMO OITAVO DIA – A VITÓRIA DE UM SISTEMA…
Já são 6 horas que estamos aguardando embarque para Londrina aqui do aeroporto de Curitiba, saindo de Joinville de ônibus às 8 da manhã. São 16 horas, e estamos extremamente cansados de um jogo inesquecível, não pela vitória em si, mas por todo o panorama desenrolado em torno do mesmo.
E que panorama, a começar pelo fato inconteste do favoritismo absoluto do time da casa, manifestado pela imprensa local, pelos torcedores que encheram seu grande ginásio, e pela expectativa de sua própria equipe numa vitória protocolar. As declarações de seu técnico após o jogo não deixam margem a dúvidas quanto ao clima de favoritismo reinante na bela cidade de Joinville – “Não estava esperando por isso, foi uma das piores derrotas que já tive (…) Ou a gente encara com medo ou parte para a recuperação . Vamos trabalhar o psicológico da equipe este final de semana para esfriar a cabeça e partir bem para o jogo”. (Jornal A Noticia de Joinville 3/4/2010).
E nem seus jogadores estavam esperando, e o ala André definiu assim o adversário que o venceu – “Eles estão fazendo um jogo diferente”.
Diferente? Como assim, se todas as equipes já estavam acordadas desde sempre a jogarem de forma igual? Bem, o Saldanha resolveu jogar de outra forma que não o prèt-a-porter implantado no país, resolveu jogar um basquete participativo, democrático, aberto, tendo como base estrutural o máximo possível domínio dos fundamentos, somente isso. E muito mais treinamento nos fundamentos terá de ser desenvolvido, para que possamos chegar a um razoável patamar de excelência, tanto ofensiva, como, e principalmente, defensiva.
Mas Paulo, o jogo, como foi o jogo, já que nada ainda pode ser visto na TV, ou mesmo em vídeo?
Imaginem um imponente ginásio cheio de entusiasmados torcedores, totalmente voltados à sua equipe, que é muito forte e com muito bons jogadores, e que tem nos arremessos de três pontos um de seus pontos altos, e é a quinta colocada na liga, para reconhecermos que enfrentá-la exigiria muita energia, força, inteligência técnico tática, e acima de tudo, algo acrescido na forma de jogar, o algo descrito pelo André – “Eles estão fazendo um jogo diferente”.
Sim, jogamos com dois armadores puros e três pivôs móveis, e defendemos na “linha da bola”, não a de flutuação longitudinal, e sim na de flutuação lateralizada, que são sistemas diferenciados da totalidade das equipes da liga. Querer ou aparentar ser “diferente” das demais, ou se caracterizar como proprietária de sistemas diferenciados e comprovadamente eficientes?
Creio que nossa opção tem se caracterizado pela eficiência, e alguns números são irrefutáveis, como nesse jogo, onde os arremessos de dois pontos atingiram a marca de 17/49 (34,6%), os de três 6/17 (35,2%) e o os lances livres 17/20 (85%), onde 34 pontos de 2, e 17 de 1, perfazendo um total de 51 pontos, se contrapõem aos 18 de 3 pontos, numa pontuação largamente vantajosa para os arremessos de média e curta distâncias, mais precisos e eficientes que os de longa distância, daí a liberação altamente seletiva dos arremessos de 3, bem ao contrario da equipe de Joinville com suas 31 tentativas de 3, para 8 acertos.
Outro fator preponderante foi o domínio dos rebotes em 44 contra 32, e o numero de erros de 5 contra 9.
Mas o grande divisor de água foi a defesa, rígida e antecipada, principalmente contra os pivôs, marcados à frente permanentemente, e com contestação em todas as tentativas de 3 pontos, baixando significativamente o grau de acertos nestes lançamentos., principalmente nos dois quartos iniciais.
No terceiro quarto combinamos jogar dentro da totalidade dos 24 segundos, a fim de economizarmos energia para o quarto final. Por isso, uma diferença de 16 pontos foi baixada para 7 no inicio do quarto final, numa ação planejada de administração de um placar favorável, mas que deveria ser ampliado ou mantido se agíssemos com frieza e controle absoluto do ritmo cadenciado que aplicávamos com mais frieza ainda. Deu certo, pois a aceleração do ritmo de jogo do Joinville nos concedeu maiores espaços em sua forte defesa, que aproveitamos com maestria e determinação. E mais um fato determinante, somente pedi um único tempo no terceiro quarto, preferindo atestar o alto grau de maturidade de uma equipe que treinou muito para saber administrar situações de risco sem a minha interferência direta, provando, por mais uma vez, a excelência dos sistemas de jogo que concordamos, todos, estudar, discutir, treinar e aplicar.
Vencemos um jogo chave para o nosso soerguimento técnico e psicológico, solidificando uma postura técnico tática que nos qualifica ao jogo deste domingo, quando tentaremos abandonar a lanterna do campeonato, que tanto nos tem marcado e traumatizado.
Neste domingo, enfim, poderemos atingir uma maioridade técnica perseguida com esforço e grande sacrifício, posto que nossa meta desde o início deste trabalho. Sei e tenho a mais absoluta certeza de que já fazemos por merecer um futuro melhor e mais justo.
Amém.
Foto – Blog REBOTE









