A PÂNDEGA…

Dentro de quatro dias a seleção brasileira embarcará para disputar um torneio em Porto Rico, como apronto para o Pré-Olimpico que se inicia no próximo dia 22. Muito bem, e a equipe? Dos nove pivôs convocados somente três treinam regularmente, Spliter, Murilo e JP Batista, dois que jogam na Europa e um por aqui mesmo. Dois se machucaram, um pediu dispensa e os três gigantes da NBA estão em vias de não atenderem a convocação, por motivos profissionais. Doze estão firmes segurando a brocha, mas para cada estrela que resolver assumir, um armador dos quatro que permanecem, ficará pendurada na mesma. Mas se nada se modificar até lá, vai ser uma pândega, pois a comissão “uníssona e unida” se verá às voltas com quatro armadores na equipe, sem sequer desconfiar o que e como fazê-los jogar, dentro de um padrão “sugerido” pelo delfin, que esboça uma atitude escapista, nada inovadora.

Entrementes, um dos cardeais já manifesta publicamente um posicionamento técnico-tático pretensamente revolucionário, se não fosse puramente oportunista, e somente possível num ambiente destituído de comando e disciplina, danças do siri à parte.

Numa entrevista ao jornalista do UOL, Giancarlo Gianpietro, o ala, agora ala-pivô esclarece à galera ignara-“Já renovei por mais três anos para jogar de ala-pivô. Agora defini minha posição lá. Se eu for escalado como ala-pivô, é uma opção tática que o Lula pode usar, porque a gente ganha chute de fora nessa posição, em uma arma que vem sendo usada internacionalmente cada vez mais.”

E o técnico responde:”O Guilherme é uma alternativa tática, mas seria uma coisa rápida, sem muito tempo. Colocá-lo definitivamente nessa posição a gente não vai fazer, mas ele pode transitar nas duas funções sem problema.”

É incrível que um debate desse teor venha a publico, onde um jogador, que vê sua posição de ala seriamente ameaçada por três jogadores mais ao gosto da comissão, o Alex, o Marcos e o Marcelo, se propõe a uma função para a qual existem alguns bons pivôs que sequer foram lembrados na convocação, um deles, inclusive, líder por duas temporadas seguidas nos rebotes, tanto defensivos, como ofensivos, o Probst. Sem falar em Estevan, Alirio, Marcio e outros que poderiam ter uma chance, pelo menos de treinar, chance esta dada a garotos sub-19, imaturos perante tal e enorme responsabilidade.

Mas o comando ainda se mantém fiel a seu planejamento com vistas à classificação olímpica, mantendo um grupo aberto às maquinações contratuais das estrelas mais interessadas em seus ganhos milionários, do que a defesa terceiro-mundista de uma seleção nacional, que será atendida magnanimamente na medida em que seus interesses não sejam afetados, apesar do check list exigido antecipadamente. Business is business, que assim entenda a comissão, e estamos conversados.

“ A única coisa certa é que não posso cortar um pivô. Para o resto, é uma questão de decisão. Se tivermos um reforço, será bem vindo. Se não, vamos com os doze que aqui estão.”

E se forem esses doze, vai ser, como disse no inicio, uma pândega testemunhar como um sistema mantido, desenvolvido e estratificado, em torno de um armador, se comportará através uma equipe que contará com quatro armadores, que tal?

Bem sei como utilizá-los, assim como uma plêiade de excelentes técnicos localizados em alguns dos países que vêm liderando o basquetebol nos últimos oito anos. Mas a douta comissão saberá utilizá-los com efetiva eficiência? Duvido, é areia demais para o caminhãozinho deles. Por isso rezam novenas para que um dos nenezianos compareçam à liça, inclusive o próprio, com ou sem check list. E não precisam nem treinar, como não o fizeram até a data de hoje.

Tremo nas bases só em pensar no que ocorrerá com a não classificação olímpica, já que cabeças rolarão, mas não, e com certeza, as certas. Raposas quando muito perdem alguns e chamuscados pelos, a cabeça, never.

Amém.

RÉQUIEM DE UM FRACASSO.


A despedida tem de ser lapidar, irretocável, suntuosa, com medalha de ouro no peito, hino nacional cantado à capela por 15000 deslumbrados e fervorosos patriotas, e eu, o técnico revolucionário, absoluto no comando e na preservação de uma “filosofia” única e personalista, me retirarei glorioso das quadras, mas continuarei na administração do legado implantado por vinte anos. Convoquei uma só armadora porque não existem outras à altura dos meus sistemas de jogo, e mesmo porque estamos carentes dessa posição. Outras jogadoras mais experientes não virão por motivos pessoais, e a Janeth cumprirá seu derradeiro papel de líder inconteste dessa equipe, dividindo comigo os louros da vitória. O novo técnico, dará continuidade à base que montei, para disputar o Pré-0limpico em setembro, quando classificaremos para as Olimpíadas.

Mas em seus devaneios cometeu um erro administrativo e organizacional ao não levar em conta (ou levou?…) que uma divisão de comando no espaço de um mês entre duas competições importantes, fragilizaria o processo inteiro, a não ser que houvesse continuidade técnica e a manutenção unificada de comando.

Não é o que se vê no atual momento da seleção brasileira sob nova direção. Armadoras surgem do nada antevisto pela liderança anterior, mesmo com a ausência da armadora do Pan, três outras são relacionadas, assim como, algumas boas veteranas podem retornar à equipe, deixando no ar uma leve desconfiança na existência de desavenças inter pares, ou mesmo incompatibilidades não só técnicas, como comportamentais. E mesmo sob sua supervisão , o novo técnico reconstrói a equipe com novas convocações e reconvocações que caíram no esquecimento proposital e nada elucidativo.

Então deu-se o inusitado, o imprevisível, uma equipe de universitárias americanas deu um banho gelado nas pretensões gloriosas do técnico que guardou para si a gloria nas terras cariocas sob os olhares magnetizados dos brasileiros em geral, quando o correto, a absolutamente correta atitude técnica seria que o novo técnico assumisse a equipe desde o Pan, para prepará-la com tempo hábil para a grande empreitada do Pré-Olimpico, e quem sabe, com as armadoras e as veteranas que se absteram do comando retirante. E a grande Janeth se despediu com a prata que poderia ter sido ouro, que merecia como ninguém, afastada de uma equipe como a que se desenha agora sob uma direção insurgente e vigorosa em sua primeira incursão na equipe principal. Perderam-se dois meses de preparação pelo afã vaidoso e egoísta de quem não estava satisfeito com as conquistas de vinte anos. O preço a ser pago poderá ser muito alto, irrecuperável, a perda da vaga olímpica, claro, nas mãos de um calouro sem a “vivência” , e eu diria, sem a malicia de raposa felpuda, das muitas que sobrevivem sob o manto do grego melhor que um presente.

Foi um réquiem digno das dimensões da arena de Jacarepaguá, onde o presidente da Confederação Brasileira de Basketball sequer foi agraciado para entregar medalhas às equipes vencedoras, se contentando na entrega de salvas prateadas à grande Janeth e ao técnico que se despedia, num final melancólico e constrangedor, à margem do protocolo olímpico.

As imagens dimensionam bem o réquiem de um fracasso.

SIRIZANDO…

Lembro-me como se fosse hoje. Era uma sexta-feira à tardinha, e estávamos prestes a iniciar um treino de equipe muito importante, pois representava o fecho de uma semana trabalhosa e exaustiva. A equipe era a seleção carioca feminina que se preparava para o Campeonato Brasileiro onde certamente duelaria com a seleção paulista numa final que definiria o quem é quem no basquetebol feminino da época. O ano era 1966. Um minuto antes de iniciarmos o coletivo eis que chega ao ginásio uma equipe completa de cinegrafistas de TV, repórteres e jornalistas. Baseados nas noticias em jornais que a equipe havia escolhido em votação interna a musica que a acompanharia nos intervalos dos jogos, um grande sucesso de Roberto Carlos, “Que tudo mais vá para o inferno”, queriam os jornalistas que a equipe dançasse rock para as câmeras, matéria que seria veinculada à noite no jornal televisivo. Imediatamente proibi a filmagem, pois eles ali não estavam para entrevistas, e sim para exibir as jogadoras de uma forma distorcida em suas reais funções de atletas e cidadãs. No jornal daquela noite, o cronista Sergio Porto fez uma contundente critica à não permissão dada por mim para tal e desnecessária exposição anti-desportiva, no que foi contestado através o direito de resposta garantido por lei.

Hoje me deparo com uma foto publicada no site do Rebote, onde vemos a seleção brasileira masculina durante seu treino para o Pré-Olimpico que transcorrerá em poucos dias, sendo liderada por dois infantilóides vesgos- televisivos em uma dança do siri, para depois arremessarem cocos e melancias às cestas, num espetáculo deprimente e que foi veiculado na Rede TV como “publicidade positiva” para o nosso infeliz basquetebol. Segundo o jornalista Rodrigo Alves, o técnico numero um parece não ter gostado da brincadeira, mas não a obstou, o que é profundamente lamentável.

Quarenta e um anos separam nossas experiências em situações correlatas, mas com desfechos antagônicos. Digo correlatas, não no aspecto e na dimensão da importância das equipes que nos foram dadas a liderar, e sim pelo aspecto puramente profissional, e por que não, professoral. Se naquela remota época, já existiam indícios do que poderia vir a representar a proposital e interesseira ligação esporte e jornalismo sensacionalista, imaginemos nos dias atuais, onde a mídia desconhece toda e qualquer barreira que a possa afastar da notoriedade, do estrelismo, da exposição geradora de celebridades fugazes, da incomensurável busca da fama, sem limites éticos.

Num primeiro e emblemático treino para a competição mais importante para o nosso basquetebol nos últimos anos, aquele que definirá nosso futuro internacional, vemos veiculada em rede de televisão que sua primeira ação técnica foi a exibição da dança do siri. Aguardo com incontida curiosidade se a mesma se repetirá em Las Vegas, sob a égide passiva e comprometedora de uma comissão técnica que marcha exatamente como os siris e seus primos caranguejos, de lado.

Meus deuses, realmente estamos muito mal. Nos protejam por favor. Amém.

SISTEMA V – CORRENDO EM CÍRCULOS.

Publico hoje mais um artigo da serie Sistemas, abordando jogadas do sistema ofensivo empregadas pela seleção brasileira nos Jogos Pan-Americanos. Apesar de vencer o torneio, muito me preocupa o sistema utilizado pela seleção quando enfrentar equipes mais fortes defensivamente no próximo Pré-Olímpico de Las Vegas, ainda mais pela indefinição de como se comportará a armação da equipe, atuando com um ou dois armadores, que será um fator preponderante na performance da mesma como um todo. Este é um tema controverso e gerador de discussões que alcançam dois pólos. Um dos que defendem a equipe atuando dentro dos padrões táticos oriundos da NBA, como vem sendo feito nos últimos vinte anos, outro, o de uma minoria de técnicos que advogam uma mudança radical nessa maneira monopolizada de jogar, tentando resgatar um pouco dos princípios técnico-táticos que empregávamos num recente passado, e que nos guindaram aos postos mais elevados no concerto internacional. Por tudo isso proponha tal discussão, e inicio-a no âmago deste artigo.

PS- A utilização do mouse movimenta e aumenta as imagens apresentadas.

ESTRELAS NA TV.

A coluna do Renato Mauricio Prado no O Globo de hoje menciona uma declaração do técnico da seleção brasileira de que “não será vergonha alguma” se o Brasil não se classificar, mais uma vez, para as Olimpíadas. O cronista esportivo discorda veementemente do técnico, e conclui sua nota afirmando; “O que não temos é organização e comando. E isso é uma tremenda vergonha”.

Aos poucas, bem devagar, a crônica esportiva especializada vai desnudando alguns conceitos pródigos em enunciados rebuscados, tais como “filosofias de trabalho”, “desenvolvimento de categorias de base”, “implantação de técnicas cientificas”, e outros menos votados, todos calcados no continuísmo de comissões técnicas fracassadas, mas com avais de dirigentes mais fracassados ainda. Comissões que inovam na inversão de valores, onde a grande estrela da companhia de repente, e mais do que repente, estabelece normas e exigências prontamente aceitas por quem jamais poderia aceitá-las, e que ferem o principio uno e inatacável do comando, comando este que agora já manifesta que não será vergonha alguma a não classificação olímpica.

Concordo com o cronista em sua afirmação final, e mais, discordo profundamente de todos aqueles que, em nome de uma possível classificação, omitem o capachismo interesseiro, oportunista e constrangedor a que se submete uma comissão “unida e uníssona” ante a influência de um delfin em sua função básica, a de comando.

Hoje mesmo à tarde, numa transmissão do Sportv, ao ser perguntado como atuaria na seleção o jogador Leandro, o técnico numero um esclareceu que com a vinda do Valter, seria quase certo que ambos liderariam a seleção como armadores, numa mudança bastante sintomática de que algo de “novo” vem transparecendo no âmago da seleção, e isso foi dito na presença de um dos técnicos da comissão, que chegava da Europa onde dirigiu a seleção Sub-19 no mundial da categoria, no qual, se utilizou permanentemente de dois, e até três armadores em toda a competição, rompendo unilateralmente “a filosofia de trabalho” imposta em todas as seleções nacionais, na qual alcançou uma boa quarta colocação, e do delfin, que com sua exigências técnicas e até administrativas foi o responsável pela convocação do excelente Valter. Rasgações de seda e rapapés não evitaram um que de constrangimento pairando sobre tantas cabeças pseudamente coroadas, num anticlímax do que poderá vir a ocorrer se a tão sonhada classificação não se concretizar.

Quando foi mencionada a decepcionante despedida do técnico da seleção feminina, em contraste com a satisfação pelo dever cumprido de uma outra despedida, a da formidável Janeth, o técnico numero um correu para esclarecer o “muito importante” fato de que o técnico aposentado continuaria na coordenação das seleções de base, função exercida também por ele, numa demonstração cabal de que a tão famigerada “filosofia de trabalho” estará mantida enquanto ambos lá permanecerem, fato este lastimável e desencorajador para o nosso combalido basquetebol.

E perante tão obscuro quadro, no qual lideranças e egos se entrechocarão sem duvida alguma, uns pouquíssimos pontos, aqueles que de alguma forma poderiam vir em socorro, se bem equacionados, de nossa maltratada seleção, talvez encontrassem eco nas mentalidades engessadas da comissão, tais como: Com o Valter e o Leandro na armação da equipe, quem os substituiriam normal e tecnicamente no fragor das partidas? Marcelo? Marcos? Alex? Ou os armadores puros Huertas e Matheus, desculpem, Helio, desculpem de novo, Fulvio, caramba, é engano demais, Nezinho, isso, ele é o convocado, mas, quem desses comporão o elenco definitivo se “realmente” atuarem com dois armadores? Olha que o delfin assim o exige, e por isso como substituí-los? Que bananosa hein, senhora comissão?

E os alas? Quantos irão, já que com a adoção da dupla armação suas disposições táticas dentro do sistema até hoje adotado sofrerão radicais mudanças? Hah, esqueci que todos eles, exceto o Guilherme, são considerados alas-armadores, com o “ insignificante” pormenor de que driblam mal e defendem pior ainda, ressalvado o Alex nesse aspecto. Como ficarão?

E os pivôs? Meus deuses, como tem massa e volume acumulada nessa convocação, agilidade e velocidade, noves fora, zero!. Talvez um pouco do Murilo e do João Paulo se diferenciem neste aspecto com relação aos demais. Aliás, nesse encontro televisivo, o delfin fez a mais absoluta questão de mencionar uma sua qualificação adquirida na NBA, a velocidade em suas ações ofensivas. Mas não esclareceu que a mesma somente foi alcançada com uma perda substancial de massa física, perda essa muito mais benéfica aos seus comprometidos joelhos, do que numa mudança de comportamento técnico.

Enfim, ao final desse encontro televisivo pairou no ar, não pelas questões propostas e respondidas no transcorrer do mesmo, uma sensação daquele tipo de vazio que transparece sem limites quando as dúvidas superam em muito todo e qualquer sentimento fundamentado nas certezas fundamentais, aquelas transpostas e incorporadas pela sinceridade e pela transparência de propósitos. Sinto profundamente não apor minhas esperanças perante tão e enevoada situação por que passa o grande jogo em nossa terra, e por isso reitero minha convicção de que mudanças urgentes e inadiáveis devam acontecer, para que possamos nos candidatar seria e competentemente para Londres-2012.

Mas como nessa terra de Santa Cruz milagres teimam em acontecer, quem sabe mais unzinho venha nos beneficiar? Que todos os deuses, olímpicos ou não nos ajudem. Amém.

SISTEMAS VI – ERROS DEFENSIVOS

Dando prosseguimento à série Sistemas, abordaremos hoje o tema Erros Defensivos, que complementa o primeiro artigo da mesma, quando discutimos a Defesa Linha da Bola. Espero que aproveitem bem o tema, façam uma boa reflexão sobre o mesmo, e participem das discussões que possampropiciar um maior entendimento em favor de melhores sistemas defensivos, a serem empregues e desenvolvidos por todas as nossas equipes, de todas as categorias.

RECADO DADO.

Recado mais claro do que foi dado hoje, impossível. Num Pan-Americano que contou com segundas e terceiras forças representando os paises, num torneio esvaziado e comprometido pela completa ausência de importância classificatória para as grandes competições, a equipe brasileira, desfalcada dos grandes nomes por várias desculpas, se apresentou de forma irregular na maioria das partidas, mas venceu o torneio, para a alegria de uma arena repleta de jovens e famílias inteiras, resgatando em parte o brilho que existia no Maracanãnzinho de saudosas decisões.

A comissão técnica da seleção, aproveitou o ensejo, grandioso, eloqüente, com conotação de grande apelo patriótico, para vender um modelo sistêmico de jogo, que vem alcançando resultados catastróficos nas últimas participações internacionais, em todas as categorias, pois se trata de um modelo padrão, numa competição de resultado mais do que previsto, e que por isso mesmo sacramenta o modelo em questão. A sugerida convocação do Valter, que é um excelente armador, o melhor que temos, protagonizou um milagre ortopédico, pois de uma iminente intervenção cirúrgica no pé, que o afastava das convocações, evoluiu para uma performance digna de nota no campeonato, deixando no ar a dúvida entre um milagre divino de cura, ou a garantia nenesiana de que nenhum óbice ocorreria num embate frontal com a douta comissão técnica.

Mas sua determinante atuação no comando tático da seleção, que já contava com os únicos armadores convocados, Nezinho e Huertas, que se revezariam na armação de um homem só, como é regra no sistema adotado, concorreu para que de uma forma um tanto forçada fosse tentada em alguns momentos das partidas a tão ansiada utilização de dois armadores puros, como vem sendo adotado pelas melhores seleções do mundo, o que contraria seriamente o comando de nossa seleção. Além do mais, três jogadores estarão na disputa de vagas como alas-armadores, o Marcelo, o Marcos e o Alex, além do mais do que confirmado Leandro, que por vontade também nenesiana deverá atuar como finalizador de jogadas, função muito mais de um ala do que armador. Esse papo furado de jogador 1 ou 2 (existem também o 3, o 4 e o 5…Ufa!), somente tempera com fortes sabores uma classificação absurda e destituída de significado técnico, a não ser pelas denominações pedantes em “ingrês”.

Não foi atoa que o Valter permaneceu na quadra por mais tempo do que seus colegas, levando-o em alguns momentos a um estado de exaustão, mais psíquica do que física, pois não deve ter sido fácil tapar os rombos de técnica individual de seus alas-armadores, principalmente defensivos, além de municiar seus pivôs com passes magistrais, sobrando ainda tempo e talento para concluir pontos perdidos pelos demais. E permanecendo por longo tempo na quadra, exeqüibilizava o sistema em questão, conotando-o como a panacéia milagrosa defendida por uma comissão engessada pelo mesmo. Em algumas e parcas ocasiões, um outro armador, preferencialmente o Huertas, era lançado ao lado do Valter, aliviando bastante a carga brutal de responsabilidade que pousavam nos seus ombros ( lembro mais uma vez quão deve ser penoso cobrir falhas ofensivas e defensivas de dois alas-armadores guindados à posições de finos executantes dos fundamentos, o que se demonstrou falso e comprometedor), mas que rapidamente era sacado de sua companhia, não dando chances de uma afirmação indesejada, vide o segundo quarto do jogo de véspera. Sua performance de alta técnica, mesmo solitário na armação cristalizou o sistema que será adotado no Pré-Olímpico, e não será surpresa para ninguém se somente ele, o grande Valter seguir como o único armador da equipe, já que Leandro, Marcelo, Marcos e talvez Alex se firmaram com suas performances de “especialistas nos fundamentos do jogo”.O Huertas, que teria um lugar garantido por suas qualidades de armador só por um milagre sensibilizará a uma comissão que sempre prestigia os cardeais, e é vidrada em corpulência física, não só pessoal como de alguns jogadores, vide a situação de que em nenhum momento nesse torneio, sequer foi esboçada uma tentativa de marcação pela frente dos pivôs adversários, fator deixado de lado e de importância, dadas as proporções avantajadas de jogadores que”enriqueceram a presença física nos garrafões”.

Somem-se aos seis jogadores da NBA, provavelmente o Alex , o Leandro, o Valter, Marcelo e Marcos, e mais um grandão para compor o bate-bola impactante, e teremos nossa seleção para o Pré, dentro dos conformes implantados à exaustão pela comissão “unida e uníssona” , para mais uma tentativa de um sistema de jogo anacrônico e previsível, principalmente pelos adversários que iremos enfrentar, para a glória do caipirismo nacional, lapitopi incluído.

Na esperança ínfima de que as demais seleções não se apresentem no limiar de suas possibilidades, e que alguma tentativa de defesa zonal atrapalhe e miniminize a pujança norte-americana, entro no rol desesperançado daqueles que por força do oficio e dos muitos anos de vivência técnico-desportiva ainda torce para que galguemos um degrau que nos tem faltado nos últimos vinte anos, uma chance olímpica nos Jogos de Londres 2012. Teremos tempo suficiente para conseguí-lo, é claro, se mudarmos para melhor. Amém.

O GRANDE VALTER E O RECADO.

O recado está dado, entenda e aceite quem quiser, pois quem manda aqui é o Super N, e estamos conversados. Não precisava nem exagerar na escalação inicial, e que se manteve por todo o primeiro quarto, com o excelente Valter, não só na armação, mas colocando os estilingues de plantão em posições livres de qualquer marcação, e que quando falhavam, e foram muitas vezes, ele mesmo arremessava de três da forma mais precisa possível. E tem mais, passou o quarto inteiro quebrando os galhos e rombos defensivos deixados pelos outros dois “inhos”, que de defesa não conhecem nem a posição básica. Mas são detalhes insignificantes para quem tem as costas quentes. E algo mais, multiplicou-se em vários para armar o que desarmavam, para penetrar com categoria e domínio pleno da bola quando os demais “alas-armadores” refugavam pela mediocridade de suas ações. E concluindo o recital, tudo no quarto inicial, serviu como a muito não se via, os pivôs, a todos eles, com clarividência e profunda sabedoria. O Valter, que não merece um “inho” qualquer em seu nome, preencheu com sobras o vazio técnico-tático nesta tarde chuvosa do Pan, para gáudio de quem o assistiu.

No segundo quarto, para não dar muito na pinta, a sábia comissão fez entrar um outro armador, que imediatamente dividiu com o Valter as funções que o estavam desgastando sem necessidade. Mas foi por pouco tempo, pois o recado tinha de ser dado na íntegra, ainda mais que o futuro armador-finalizador estava na platéia, já antevendo suas funções como já havia designado a eminência parda em seu check list.

O Uruguai, com sua fraca seleção, mas com dois jogadores de grande categoria, o Batista e o Mazzarino, exigiu o máximo da seleção brasileira, e não fosse a ausência prolongada do pivô pelas três faltas cometidas ainda no primeiro tempo, a situação poderia ter se complicado. Mas nada que não pudesse ter sido resolvido pela pujante exibição do Valter, que foi desgastado ao longo de toda a partida, sem que lhe fosse dada qualquer ajuda na função de armação da equipe.

Ficou bem claro o recado a toda e qualquer tentativa que venha a se manifestar quanto a forma que jogará a seleção no Pré-Olímpico. Valter como único armador, Leandro em função de ala, dois pivôs NBA (à escolher conforme se apresentem…), e um ala cardinalício. Dois pivôs que ora se apresentam, Murilo e J.Batista, um dos integrantes da NBA, mais dois ou três alas já conhecidos, um armador e uma ou duas promessas para o futuro.

Atuar com dois armadores puros, nem pensar, pois desnudaria a imposição gritante e escandalosa de um sistema de jogo anacrônico a tal ponto, que está sendo rejeitado aos poucos e decisivamente pelos próprios inventores do mesmo, os americanos, até mesmo por umas poucas equipes do endeusado world championship da NBA. Mas para uso interno, ainda é suficientemente valioso na manutenção de empregos e castas ditas profissionais.

No quarto final, num esforço notável, o Valter, aquele dos três quartos iniciais, respirou fundo e arrancou uma penca de jogadas lapidares levando a equipe à vitória. Mal sabe ele, que com sua deslumbrante atuação enterrou, para satisfação imensa da comissão “unida e uníssona”, a necessidade fulcral de jogarmos com dois armadores. Essa é uma realidade da qual ainda poderemos nos arrepender amargamente.

Para a alegria da nata que icensa e reverencia tudo aquilo que se faz de certo e errado na NBA, seu sistema estará a salvo, pelo menos no que se refere à outrora magnífica e vitoriosa Seleção Brasileira. Colônia é assim mesmo, não nega sua origem, aquela que lhe garante o pão nosso de cada dia. Amém

OS CARDEAIS.

Foi um segundo quarto revelador, e responsável pela imposição de um raciocínio técnico-tático tão óbvio, tão cristalino, que a douta comissão terá de rever certos “conceitos” impostos às nossas seleções nas duas últimas décadas, nas quais as nossas mais determinantes qualidades de grandes praticantes do grande jogo foram irresponsavelmente descaracterizadas. Neste quarto, três armadores puros se revezaram na quadra, em duplas, reforçando substancialmente o setor defensivo, e alimentando com boa técnica e grande velocidade os homens altos atuando dentro do perímetro ofensivo, assim como, tiveram fôlego e presença nas permanentes coberturas às falhas defensivas perpetradas pelos dois alas mais qualificados da equipe, o Marcelo e o Marcos, que não possuem,nem de longe, qualquer postura defensiva para atuar naquele nível, assim como ajudaram na marcação dos pivôs adversários que ainda são teimosa e pouco inteligentemente marcados por trás, anulando as características de boa mobilidade dos pivôs Murilo e Batista, perfeitamente aptos a exercerem a marcação à frente , fator que, dada às qualidades defensivas dos armadores, colocaria a equipe num patamar de efetiva e determinante qualidade. A diferença de 15 pontos ao final desse quarto o marcou como um caminho digno de ser seguido.

Mas, sempre o indefectível mas, apesar da boa dianteira no placar conseguida com muita luta e boa disposição técnica do grupo, eis que urge aplicar a estratégia de beneficiar todo e qualquer jogador pertencente aos quadros da NBA, mesmo que de menor categoria, sinalizando aos demais integrantes daquela família que os lugares dos mesmos estarão sempre à disposição a qualquer época, e para tanto, suas posições táticas dentro da equipe se amoldarão às suas performances ajustadas ao basquetebol que lá jogam. Aliás, o check list nenesiano já estabeleceu os parâmetros a serem seguidos, fazendo inclusive com que o notório arremessador de três pontos Marcelo desse a seguinte declaração ao jornalista Giancarlo Giampetro do site UOL :”Conversei com os técnicos, e agora minha função é outra. Os jogadores que estão fora vão chegar e terão volume de jogo maior, então já estou me adaptando a um outro formato, já pensando no Pré-Olímpico”. Mais claro que isso, impossível, pois já está se qualificando, e por que não, escalando para o Pré. E para não deixar margens a qualquer dúvida, somou 25 pontos no jogo de ontem, como se dissesse “humildemente”, que muda a forma de jogar, mas se der…

Aliás, esta sua característica camaleônica, e profundamente inteligente no trato com as indissiocrasias do meio em que atua e convive, já o tinha levado a trocar a equipe em que atuava na NLB, a mesma do presidente daquela liga e patrocinada por uma empresa telefônica e pelos cofres da Prefeitura do Rio, por uma outra pertencente ao campeonato da CBB, exatamente para preservar seu cargo cardinalício na seleção brasileira, cargo este que o torna “intocável” no elenco, como o elo aplainador da vontade do grupo que ensaia a volta para o Pré. As ausências por motivos clínicos dos outros dois cardeais, que se antepuseram à decisão nenesiana de não disputar as últimas competições internacionais, em parte contribuiu para o redimensionamento estratégico do Marcelo, colocando-o, por decisão própria, como o eixo de equilíbrio da seleção. O grande problema, e creio ser esse insolúvel, é a sua total inabilidade em defender, fator este que deixará a comissão pendurada na broxa se não se cuidar, pois um dos itens do check list nenesiano sugere a contratação de dois técnicos estrangeiros, mas que cá para nós, poderiam até ser nacionais, desde que afinados aos demais itens da lista. E não faltam candidatos, alguns de microfones nas mãos.

Vai a seleção aos tropeços pela indecisão técnico-tática se aproximando da medalha de ouro, mas profundamente dividida pelo que fazer e realizar na competição maior, aquela que definirá o nosso futuro internacional, apesar de que para mim, o futuro teria necessariamente de passar por uma remodelação de princípios técnicos e de comportamento profissional, visando a uma massificação dentro, por que não, do desporto colegial, para que pudéssemos vislumbrar um futuro menos doloroso que o presente que vivemos. Amém.

PS- O check list foi publicado no artigo “Missão Pré-Olimpico”-

24 Junho 2007

MISSÃO PRÉ-OLÍMPICO

DOIS ARMADORES.

Assistindo pela TV algumas competições de menor apelo popular no Pan-Americano, tive a oportunidade, em uma das provas de GRD, mais propriamente um solo com fita, de reforçar um conceito que mantenho vivo em minhas atividades por mais de 50 anos, aquele que não dispensa jamais uma peça de reposição, uma reserva, em qualquer atividade técnica e de precisão. Uma atleta, por não reservar ao lado da pista uma fita reserva, ao ter o seu aparelho destruído não pode pontuar em sua atuação. E assim o é em qualquer atividade técnica desportiva. No basquetebol, a função de armar e liderar uma equipe, através ações de extrema complexidade individual e coletiva, jamais se imporá com um só armador, pois sua anulação ou mesmo limitação através forte anteposição defensiva, porá todo o esforço de sua equipe a perder. A utilização inteligente de dois armadores de alta técnica, por si só conotará um aumento substancial de ações de qualidade que um jogador de outra posição jamais conseguiria. E esta opção foi sempre a preferida pelas nossas equipes de antanho, que as levou a conquistas inesquecíveis e históricas. Aos pouquinhos nossos técnicos começam a se desvencilhar dos cabrestos que os têm prendido ao modelo do basquetebol profissional americano, tomado como exemplo absoluto, e que vem sendo seguido e adotado nas últimas duas décadas, sem variações nem adequações às nossas reais e autênticas necessidades. As recentes e contundentes derrotas americanas em campeonatos internacionais, cujas equipes representativas advinham da NBA, colocou em cheque os conceitos técnico-táticos vigentes naquela organização, fazendo renascer um outro conceito, largamente utilizado e desenvolvido no desporto colegial e universitário, muito mais próximo ao modelo internacional, ao modelo FIBA. A Europa tem desenvolvido tal conceito à perfeição, assim como os argentinos, vencedores das maiores competições realizadas recentemente. No entanto, nosso basquete ainda se recente de novas e renovadas atitudes, se mantendo fiel ao modelo anacrônico importado do rico basquete americano.

Fala-se abertamente hoje que o jogo de duplas, o dá e segue, é um conceito moderno de basquetebol, mas esquecem que duplas como Bob Cousi-Bill Russel, Oscar Robertson-Jerry Lucas, Amauri- Wlamir, Dalipagic-Cosic, já a desenvolviam décadas atrás, sempre modernas e atuais. E secundando tais duplas um outro armador garantia a reserva técnica de suas equipes dentro do campo de jogo. A qualificação de uma equipe sempre passará pelas mãos de dois armadores, verdade esta que aos poucos vai sendo redescoberta por alguns técnicos brasileiros.

E nossa equipe maior, a seleção nacional, estará na vanguarda desse simples, objetivo e correto conceito? Pelo que temos visto nos últimos tempos, não só nas equipes principais, masculina e feminina, como nas equipes de base, absolutamente não. Mas, algumas tímidas experiências têm sido realizadas, como no recente Campeonato Mundial Sub-19 masculino, e em alguns momentos em jogos do Pan-Americano que ora se realiza no Rio. Haverá continuidade? Bem, se depender da opinião de alguns setores bem representativos da mídia especializada, sim. Mas, e as comissões técnicas que atuam e comandam as seleções? Temo que não, pois a teimosia em comprovar autoridade e comando ainda está arraigada em suas concepções, o que dificilmente mudarão. A declaração do técnico da seleção feminina sub-19, que estreou com uma derrota estrepitosa ante as australianas, em muito esclarece tais posições: “O que fez a diferença no jogo foi o excelente aproveitamento nos três pontos das australianas. Elas acertaram 13 bolas em 19 tentativas(…)”. Foi uma derrota de 33 pontos, ante uma equipe que joga com duas excelentes armadoras, e mantêm mais duas na reserva, o que qualifica sua equipe ofensiva e defensivamente falando. Uma equipe que se permite levar 13 bolas de 3 pontos não tem velocidade para se antepor a tais arremessos, ações estas possíveis com a utilização também de duas armadoras permanente, e não esporadicamente dentro da quadra. E poucos e velados comentários foram feitos à cerca da outra catastrófica participação de uma seleção nacional em um Campeonato Mundial, a equipe feminina sub-21, que saiu do campeonato com uma única vitória, e que levou somente duas armadoras. A equipe campeã, a norte-americana, levou quatro.

Muitos outros exemplos poderiam ser descritos, mas cairiam sempre num lugar comum, o de que a tal “filosofia” do basquete moderno ainda nos custará grandes e perenes dissabores, pela teimosia encruada de seus mentores.

Torço para que eu não siga solitário nessa luta por mudanças em nossa forma de jogar e atuar, não só no campo dos torneios internacionais, como, e principalmente nos de âmbito interno, para que possamos nos soerguer do fundo poço em que nos encontramos. Amém.

PS- Quero aqui retificar uma nota de falecimento que publiquei no artigo “Porque não?”, do grande atleta Marvio Ludolf, que me foi confirmado por pessoas ligadas ao meio desportivo, quando na realidade o passamento foi de seu tio que tem o mesmo nome. Penitencio-me pela falha jornalística, que deveria ter sido mais profundamente pesquisada. Peço ao querido Marvio que me perdoe, de coração. Paulo Murilo.