O ESPELHO QUE ENGANA

Boris, um enorme doberman entra pela área de serviço onde tentavamos organizar o espólio da academia de minha irmã,e ao se deparar com um grande espelho trava com a sua própria imagem uma luta descomunal e muito agressiva.Foi muito difícil retirá-lo do recinto pela insistência na continuidade da luta com um inexistente adversário. Logo a seguir,o bichano que habita nossa varanda também dá o ar de sua graça perante o enorme espelho, e a sua primeira reação é a de procurar o gato intruso por trás da moldura.Foram duas reações que bem demonstram os graus de interêsse e rivalidade pelos da mesma espécie.À tarde assisto mais um jogo da liga nacional,e a experiência da manhã logo me vem na lembrança, pois o que pela enésima vez assisto é mais uma confrontação de duas equipes jogando rigorosamente iguais, como todas o fazem nesse torneio, em frente de um espelho da largura de nosso território nacional. Mas como o Boris o fez,travam uma luta feroz dentro da obviedade mais escandalosa de que temos notícia em nossa história, e nem de longe esboçam um breve,ínfimo,disfarçado olhar por trás da moldura,como o bichano arguto e sagaz o fez pela manhã.Poupariam um tempo enorme se o fizessem,pois ante imagens semelhantes, somente um longo olhar por trás da moldura,propiciaria ações que anulariam a movimentação ofensiva tão óbvia para os dois. Mas de repente,lá pelo terceiro quarto o espírito inquisidor do bichano baixa em uma das equipes, que num passe de oportunismo aperta a marcação sobre o homem de posse da bola, ao mesmo tempo que os demais defensores se antecipam na linha da bola,e o pivô passa a receber marcação pela frente, todos dando aquela olhadinha inteligente por trás da moldura, e o que acontece? Pula dez pontos à frente e vence o jogo. Meu Deus,por que todos não fazem a mesma coisa? Se o fizessem,em duas gerações de formação de base sairiamos da mesmice que vem nos levando para o fundo do poço, cada vez mais profundo.Digo duas gerações por ser um otimista empedernido, mas que pode se tornar realidade com o esforço daqueles que realmente entedem do jogo,e não os muitos que adoram exibir seus falsos dotes perante um espelho,com reações bem próximas das do Boris.Quem sabe ainda teremos resgatadas as verdadeiras funções dos armadores, jogando de frente para a cesta,sem utilizar a interrupção fraudulenta da trajetória da bola durante o drible,beneficiando falsas e ilegais fintas,sem se ausentarem, como o fazem hoje,do fóco das jogadas,agindo mais como maratonistas do que jogadores,e que realmente participem da organização inteligente de suas equipes, que passarão a ter características próprias,e não serem cópias canhestras uma das outras.Que voltemos a admirar as ações decisivas,velozes e inteligentes dos alas,com seus arremêssos precisos e luta permanente nos rebotes.Que voltem a exercer os corta-luzes como devem ser feitos,e não como pensam que sabem realizar atualmente.E que os pivôs,ah! os pivôs, que voltem a ser os elásticos e velozes reis dos garrafões,voltando a jogar em constante movimentação,deixando de ser,o que nunca deveriam ter sido, as massas disformes e bombadas que vimos testemunhando nos últimos
20 anos,cópias ridículas dos gladiadores americanos em suas lutas beirando ao mais deslavado racismo,para gáudio de uma platéia movida a hamburguers e muito,muito dinheiro para gastar.Olhemos por trás do espelho, pelo menos como uma humilde maneira de nos reencontrarmos com nossa realidade, com nossa maneira de ser e de jogar o jogo,fundamentado como sempre foi pela diversidade de escolhas técnicas, e não pela suicida adoção de um ridículo e absurdo”basquete internacional”. Enfim,que usemos o espelho em suas funções básicas,onde a quietude de uma bela lagoa propicia o mesmo resultado. Inovem, estudem e fujam do espelho que engana. É isso ai…

DEFENDER NÃO É PARA QUEM QUER, É PARA QUEM SABE.

Prezados telespectadores, afirmo que 70% de uma defêsa é fundamentada na “vontade de defender” por parte dos jogadores.”Querer defender” é a chave do sucesso! Fico curioso em saber o que representam os 30% restantes, mas as explicações não são dadas no restante dos comentários. E ai fico imaginando como ser possível se ter a posse e o dominio de 70% de um conhecimento qualquer.Não seriam 20, ou 25, quem sabe 30%? E olhe que conhecer 30% de um assunto com alguma importância social,política ou técnica,pode ser considerado um excelente feito,imaginem 70%!! Só um iluminado conseguiria tal marca,e em se tratando de uma habilidade psico-motora nem se fala, beira à genialidade pura. Todo jogador almeja defender bem, e procura honestamente se esforçar para conseguí-lo,mas nem sempre querer é poder,pois precisa ser ensinado, treinado,aferido, e novamente treinado, ano após ano, em sua formação básica, orientando sua querencia ao conhecimento das macro habilidades necessárias na movimentação defensiva. Mas aponte-nos quem, em um país que preza tão somente os cestinhas,os enterradores de bolas, e de jogos,e os bloqueadores de arremessos,quem são aqueles que teimam em ensinar a verdadeira arte de defender?Muito poucos, talvez os conte nos dedos de uma das mãos,se tanto!Macro habilidades? O que significam? Comecemos explicando o que vem a ser micro habilidades, também definidas
como “sintonia fina”, que são aquelas imperceptíveis ações musculares que direcionam,
controlam e equilibram a bola durante os ajustes necessarios a um bom arremêsso. Tomemos um manche de video game em um jogo de pilotagem como um razoável exemplo de ação da micro musculatura. Ao movê-lo, como em um jato supersônico real, pouco ou quase nenhuma movimentação do mesmo é notada. No entanto, todo um contrôle direcional
de grande complexidade, dada a elevada velocidade,é exercido pela ação da micro musculatura de braços,mãos e dedos,com um elevado desgaste fisico-mental proporcional ao tempo em que a atividade é exercida. Pilotos de jatos supersônicos sofrem intensamente esse desgaste provocado pela alta concentração mental e ação continua da micro musculatura,que são elementos que agem conjuntamente. Treinar arremêssos após atividades estafantes são incentivadas por técnicos como uma forma de aumentar a resistência dessa musculatura, o que é contestado por muitos técnicos. A macro musculatura é responsável por pequenos,porém bem visíveis movimentos que antecedem a ação das grandes massas musculares,principalmente em movimentos de grande intensidade,de grande explosão.A macro musculatura dita,controla e desencadeia a movimentação que será exercida pelas grandes massas musculares, e por isso deve ser treinada com afinco, atenção e muita repetição.A ação defensiva efetiva deve ter como treinamento básico o pleno conhecimento,e consequente controle, sobre as ações e limites da macro musculatura.Como o defensor sempre reage a uma ação do atacante, quanto menor for a distância entre estas duas ações,mais eficaz será a atitude defensiva. Os muito bem treinados conseguem,em algumas situações,a antecipação à ação
ofensiva, constituindo-se no ideal a ser alcançado.Nenhum treinamento defensivo se compara ao”shadow”,ou movimentação em sombra,quando o pugilista se defronta com sua sombra projetada em uma parede, ou perante um espelho,ou da forma mais sofisticada,que é,de olhos cerrados travar um combate fictício com um adversário somente visivel por ele mesmo, em situações às mais eficazes que sua mente possa produzir.O defensor de basquetebol tem que agir em treinamento como um pugilista atento,sagaz e eventualmente antecipativo às ações do atacante.Sua macro musculatura se manifestará em ações negaciadas,unidirecionais, e até antecipativas, antes que as massas musculares desencadêem as ações de efetivo bloqueio e deslocamentos pelo terreno de jogo. Para ser considerado um bom defensor,o atleta necessitará de um longo e trabalhoso conhecimento sobre suas ações corporais conjugadas com seu poder de concentração mental,e somente treinamentos específicos o farão adquirir tais habilidades, e fundamentais conhecimentos.Por isso afirmo com grande conhecimento de causa, por ter preparado muitos talentosos jogadores,necessários a bons e eficientes sistemas defensivos, que defender não é para quem quer,é para quem sabe,conhecimento este que deveria se constituir ao longo da carreira de um jogador em um percentual o mais próximo que lhe for possível dos 70% da ação,reservando-se os restantes 30% à vontade de defender.Creio que o comentarista se enganou e trocou os valores,mas isso acontece…

MESTRES DO OLHAR E DO MOVIMENTO.

Este foi o título de uma reportagem sobre a exposição que explora as afinidades entre o escultor Alberto Giacometti e o fotógrafo Henri Cartier-Bresson publicada no O Globo no dia 17 deste mês. O texto menciona, entre várias coincidências, a vontade de ambos de congelar um momento em movimento. Disse Giacometti- “Toda a ação dos artistas modernos está nessa vontade de captar, de possuir alguma coisa que foge constantemente”. Já Bresson assim se manifestou- “Jogamos com coisas que desaparecem…e, quando elas desaparecem, é impossível fazer com que elas revivam”. Eis duas afirmativas que caem como um diáfano véu sobre as cabeças da maioria de nossos técnicos. Sonham de olhos abertos com a perpetuação dos movimentos que extrapolam de suas pranchetas mágicas, como se fosse possível a perenização das jogadas estabelecidas pelo sistema de jogo que empregam. Sempre que estabelecem contato com os jogadores repetem, e repetem, até a exaustão os mesmos movimentos, as mesmas soluções, clamam pela obediência à jogada, à rotatividade da bola, com uma intransigência que beira ao fanatismo. É como se fosse uma grande coreografia, onde a repetição das jogadas mortais é o supremo objetivo a ser alcançado. Mas, como mencionaram Giacometti e Bresson, os movimentos acontecem na mesma proporção em que desaparecem, e nunca são iguais, por isso viviam em busca de sua captação, a qual Bresson definiu como o “decisive moment”, o momento decisivo, único, fugaz e precioso se captado. Essa foi sua grandeza, pois foi o fotógrafo que mais o registrou no século XX. Nossos técnicos precisam, com urgência, entender que se uma jogada se repetir, com alto grau de frequência, pode-se afirmar que o sistema defensivo do adversário inexiste pela extrema fraqueza de seus integrantes. Um sistema ofensivo é de alta qualidade, não se der certo seguidamente, e sim se estabelecer situações que desequilibrem, pela imprevisibilidade de suas ações, o esquema defensivo do adversário. A repetição sistemática de jogadas produzem situações com alto grau de previsibilidade, e retiram dos jogadores a espontaneidade de suas ações, colocando-os numa situação de meros repetidores de movimentos pré-estabelecidos por seus técnicos, e se os defensores forem de boa qualidade, rapidamente se anteporão aos movimentos ofensivos, anulando sua eficiência. São nesses momentos que se estabelecem as diferenças entre uma equipe bem treinada de outra não tão bem preparada. Quantos são os técnicos que nos coletivos de preparação para os jogos, os interrompem para orientar sua defesa em função de seu próprio ataque pré-estabelecido? Que sempre orienta seus atletas na busca do inusitado, e não do conhecido? Que mesmo tendo um sistema fechado de jogo, propugna por rompê-lo sempre que possível, pois essa sempre será a ação desencadeada pelo adversário? Enfim, que reconhece ser a busca, não de um, mas de vários “momentos decisivos”, o fator a ser alcançado com afinco e dissociado do círculo vicioso coreografia/prancheta. Por praticar fotografia por longos anos, e de ter tido em Henri Cartier-Bresson um exemplo a ser seguido é que desde muito cedo procurei entender e praticar o “decisive moment” com algum sucesso, mas que pela compreensão de seu significado, pude levar a meus atletas um vasto leque de opções que visassem o encontro dos mesmos. “Jogamos com coisas que desaparecem…e, quando elas desaparecem, é impossível fazer com que elas revivam”. Cada jogada constitui um princípio e um fim em si mesma, e são irrepetíveis. Precisamos entender esse mecanismo para nos libertar das jogadas mágicas e das pranchetas milagrosas. Meus queridos colegas, precisamos encontrar novos caminhos, pois esse que aí está sendo trilhado por vocês não levará a lugar nenhum, perdão, sabemos onde ele vai dar…

Amém.

 

Henri Cartier Bresson
Alberto Giacometti

DIA 22…

Em julho de 1972 ao dirigir a seleção carioca juvenil masculina no Campeonato Brasileiro em Belo Horizonte, me antecipei ao embarque da delegação, para juntamente com o médico organizar as acomodações nas dependências do Mineirão. Nesse mesmo dia procurei a organização do Campeonato para efetuar as inscrições dos atletas que era de responsabilidade do delegado da CBB o Sr.Alberto Cury.Coincidentemente, o responsável pela delegação do Maranhão entregava as certidões de sua equipe, que para minha surprêsa faziam parte de um único bloco, ainda coladas pela margem superior,e que foram expedidas por um único cartório e com a mesma data,variando somente os horarios dos nascimentos.De imediato inquirí o Sr Cury sobre a falsidade dos documentos e recebi como resposta,de uma forma solícita pelos anos de mútuo conhecimento, que se a documentação não fosse aceita dificilmente equipes daquela região participariam de campeonatos.Para piorar a situação,coube àquela equipe ser nossa primeira adversária na abertura da competição após as solenidades de praxe,fazendo com que a partida se iniciasse depois da meia noite.A equipe era constituida de homens maduros,e não juvenis,sendo que a espôsa e os dois filhos de um deles torciam aos berros pelo pai nas arquibancadas.Foi um jogo extremamente dificil pela grande discrepância física,e que vencemos por 2 pontos após uma batalha que varou a madrugada.Mais tarde,constatei ser o voto do Maranhão de grande importância na eleição da CBB,cujos dirigentes desejavam a reeleição, o que conseguiram,sem antes
propiciarem aos delegados votantes um sem numero de mordomias e facilidades para suas federações.Todos os envolvidaos com o basquetebol brasileiro sabem de que maneira os votos,que são quantitativos,valem para a definição das eleições na CBB.Se a votação fosse pela representividade qualitativa,onde as participações nos diversos torneios e campeonatos contassem pontos,assim como contassem os resultados alcançados,muitas das facilidades e influências politicas seriam orientadas a um patamar mais democrático.
Mas não foi, é, e nunca será essa a realidade nas eleições na CBB. Então fica no ar uma teimosa indagação- Se eleições sempre foram ganhas em troca de favorecimentos técnicos e administrativos,e mais recentemente, em vantagens advindas dos patrocinios
govenamentais e da iniciativa privada,como vencer uma eleição que contrarie tantos interêsses arraigados no âmago dos politicos-dirigentes das federações? De que forma candidatos, que não o ocupante do cargo, poderão equilibrar o jogo de interêsses na disputa,ou compra, dos votos necessários para a eleição? Mais mordomias? Promessas de viagens internacionais na chefia de delegações, participação em congressos e sorteios de chaves? Campeonatos ou Torneios com a participação das seleções nacionais
em regiões nada tradicionais na modalidae? Como equilibrar a disputa sob tão poderosa
concentração de poder? A promessa de que voltaremos ao concêrto internacional é de pouca monta se comparada às efetivas e reais conquistas politico-financeiras que alcançaram dentro dos padrões vigentes. Logo, só resta uma opção,unir forças na tentativa de demonstrar o perigo iminente e real de fragmentação e posterior decadência da modalidade em nosso país, muito mais pelo aspecto técnico do que político, pela adoção de um modelo anacrônico que nos tem levado ladeira abaixo, e que terá continuidade com a vitoria dos atuais dirigentes. Poder por poder vencerão por estarem de posse dos mecanismos politicos baseados nas benesses e nas certezas adquiridas. Erro crasso será a tentativa de prometerem mais do que as certezas que já possuem. O que não pode ser contestada é a realidade que vivemos, de total decreptude
que nos levará,como tem levado, ao completo cáos técnico, do qual serão os responsáveis em um futuro não tão distante assim. Uma campanha que os responsabilize “à priori” pela certeza do fracasso será mais eficiente que a cobertura de vantagens já conquistadas. Se candidato fosse,demonstraria com fatos e resultados o quanto estamos fragilizados,e apresentaria soluções técnicas que resgatassem nossas tradições.Não prometeria um único alfinete a quem quer que fosse, e exporia em público aqueles que me exigissem vantagens de qualquer espécie pelo voto,e como possivelmente perderia a eleição, sairia mostrando a todos quais os responsáveis pela debacle, criando desta forma uma base segura para a próxima,e a próxima,e a próxima…Um dia acordaremos,e só torço para que ainda existam quadras em nosso país.Que Deus nos ajude.Amén.
No dia 22 deste mês,no auditório da UNIVERSIDADE os candidatos à presidência da CBB debaterão publicamente suas plataformas político-esportivas. Esse artigo é dirigido àqueles que corajosamente enfrentarão o debate ante o candidato da situação.

MUDANDO CONCEITOS

CONCEITO,s.m.Aquilo que o espírito concebe ou entende;idéia;síntese;opinião,
juízo:formar bom ou mau conceito de uma pessoa;reputação,máxima,sentença;parte da charada,em que se define a palavra ou idéia;todo.(Do lat.conceptu.)
(Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa)

Ontem,por acaso passava em um canal de televisão um filme dirigido e interpretado pelo grande ator Ray Miland,Lisbôa,e vendo um pouco da historia pude observar algo que realmente caracterizava as películas daquela época repressiva e censurada, os atores masculinos representavam,todos,com as mãos nos bolsos e as mulheres sentadas permanentemente com as pernas cruzadas. Fatôres e códigos comportamentais vigentes na época somente eram trangredidos por uma moda implantada como reação,todos fumavam, eles e elas.Quando lecionava Prática de Ensino de Educação Física para alunos da EEFD da UFRJ,já se delineava a tendência de muitos jogadores de futebol procurarem a formação acadêmica nos desportos,e uma característica saltava aos olhos,pois todos eles somente se dirigiam às turmas ou a seus colegas com os braços cruzados.Mostrei a
eles fótos em jornais e revistas nas quais, em preleções antes de treinos ou jogos, todos os presentes,jogadores,técnicos,assistentes e diretores estavam com os braços cruzados ao peito.A fluência verbal acompanhada pela movimentação corporal,atitude tipica de povos latinos, encontrava no mundo do futebol,fechado,preconceituoso, ditatorial e injusto a antítese daquele comportamento,na imagem restritiva presente na manietação do elemento corporal mais expressivo,os braços.Foi difícil,mas consegui
que muitos deles passassem a se exprimir com mais liberdade,principalmente na movimentação das mãos e dos braços, mudando um conceito que restringia não só a liberdade de movimentos ,como a liberdade implícita de atitudes e comportamentos.O que vemos no basquetebol de nossos dias é a aceitação uníssona do “conceito dos braços cruzados”, que é o inimigo a ser eliminado no “bom combate”. Quando manifesto indignação pela mesmice técnica e administrativa que vigora no meio basquetebolístico
pela aceitação passiva de culturas de fora,que ferem e degradam as nossas, que por terem sido vitoriosas estão sendo riscadas pelos que aí estão no comando por interêsses movidos unicamente pelo aspecto financeiro, o faço como cidadão que jamais
cruzou os braços ante as vicissitudes e as injustiças,muito pelo contrário,sempre propugnou por novas idéias,novos e apaixonantes caminhos.Se lutei para que meus queridos alunos futebolistas descruzassem seus braços quando frente aos desafios,não seria o primeiro a cruzá-los.Discute-se e propõe-se mudanças no comando da CBB, mas não se vêem discussões sobre mudanças no panorama técnico,de preparação básica e na formação de novos técnicos.O que vemos são ex-jogadores se transformarem da noite para o dia em técnicos de categorias adultas sem passarem pelo crivo e a experiência fundamental das categorias de base.Claro que são benvindos para a continuidade do modelo que aí está, e que venho discutindo em quase todos os artigos que publiquei nessa página. Torno a repetir que sempre tivemos bons e maus dirigentes,boas e más épocas de transição administrativa, mas sempre tivemos ótimos professores e técnicos na formação básica e bons técnicos nas divisões de elite.Só que de vinte anos para cá
resolveu-se adotar o modelo NBA, com todas as suas idiossincrasias e formulação que sempre visou a imposição mercadológica,que já começa a se infiltrar na maioria dos sites voltados ao basquetebol, numa clara evidência que não jogam para perder,mesmo que percam os campeonatos internacionais que disputam.Por isso tudo acredito que só haverá uma verdadeira mudança com o envolvimento dos técnicos,pois cabe a eles o desenvolvimento e a existência do jogo,como depositários de suas técnicas e princípios.Por conseguinte,o conceito inicial a ser mudado é o da atitude visando a união discussiva dos técnicos e sua verdadeira participação na formulação de politicas técnicas que visem o soerguimento do basquetebol. Temos de descruzar os braços antes que outros interessados na modalidade os amputem de vez.Quem tiver peito e ideais que dê inicio à retomada de nossos verdadeiros caminhos.De minha parte venho
de muito trilhando esse quase solitário caminho, o de contestar sem medo o que vem sendo perpetrado contra o basquetebol.Portanto,mãos a obra,mudem conceitos!

O QUE TODO TÉCNICO DEVERIA SABER

Com esse artigo encerro uma primeira parte que dediquei ao panorama atual do nosso basquetebol,claro, em minha visão de técnico e professor por mais de 40 anos dedicados ao seu desenvolvimento. Formam a base de um livro a ser publicado em breve, dedicado aos futuros professores e técnicos desse magnífico jogo. E termino a série enfocando alguns princípios que todo técnico deveria saber.
O princípio básico que todo técnico deve ter em mente é o permanente e progressivo
desenvolvimento técnico de sua modalidade, e que jamais esteja dissociado das questões éticas, das necessidades individuais e coletivas, e que propugne por conquistas culturais e educacionais. O objetivo tem de se fundamentar no patriotismo e na luta pelas oportunidades democráticas. A função social do jogo é o fator que deverá impulsionar a busca pela melhor performance possível,numa atividade que propiciará ao jovem uma experiência prática dos embates que advirão em sua vida futura. O jogo bem praticado e bem jogado torna-se uma “avant-première” da vida. Por todas estas razões o professor e o técnico têm de estar preparados para funções de liderança, fundamentais no preparo e orientação dos jovens, e na direção coerente e segura dos adultos. A relação com seus pares deve ser fundamentada na mais profunda ética, cuja manifestação básica é para consigo mesmo, e por extensão para com todos aqueles envolvidos no processo. O patriotismo deverá se manifestar sempre que se pretender importar soluções estrangeiras sem as devidas avaliações sobre a aplicabilidade das mesmas,  face às nossas particularidades físicas e sociais. De sempre tomarem o máximo cuidado na importação de modelos inadequados à nossa realidade econômica, que visam estabelecer uma dependência técnica e material de fundo puramente mercadológico. E que sempre procurem resgatar nossas verdadeiras raízes, atestadas por um passado brilhante
e vencedor. Para tanto torna-se necessário o estudo pormenorizado de nosso passado esportivo, daqueles que em situações econômicas quase precárias se comparadas com o tempo atual, sobressaíram no plano internacional, e que o fato de não possuírem registros de imagem e de dados estatísticos os tornaram desconhecidos pela juventude e pelos novos técnicos e professores. O resgate desse passado se justifica como uma tentativa válida de anteposição às influências de fora que se beneficiaram desse desconhecimento, e que nos levaram ao impasse em que se encontra o basquetebol brasileiro, pela perda de sua verdadeira identidade. O “basquetebol internacional” e o “modelo NBA” nos levarão ao cáos total se não resgatarmos nossa maneira de jogar, que se constituiu na quarta força mundial no século XX. Recentemente a CBB reuniu 20 jóvens jogadoras em uma clínica técnica para implantar rotinas técnicas em suas vidas nos clubes de origem, numa verdadeira apropriação indébita de talentos a serem orientados a um modêlo anacrônico e fracassado, onde até orientações visando ganho de massa muscular foram prescritas. Melhor faria a CBB se reunisse os técnicos dessas meninas para em uma troca de experiências procurassem um caminho adequado às nossas reais capacidades. Mas é claro que tentativas como essa feririam os conceitos enraizados de alguns que se propõem guardiões da verdade basquetebolística em nosso país, pois  seguir princípios e normas globalizadas é prova de atraso e de colonização intelectual, é um atitude de lesa-pátria, é um monstruoso crime. Com a proximidade das eleições na CBB, seria de fundamental importância que os técnicos questionassem a sí e entre seus pares da importância ou não de soerguermos o nosso basquete, ou se o modêlo atual padronizado de norte a sul é o que realmente queremos, ou mesmo se devessemos experimentar outros ou alguns daqueles que nos fizeram parte da elite mundial. Acredito que a velha guarda reunida em cada vez mais desenvolvidas associações de veteranos, muitos deles influentes em nossa sociedade e na politica do país, e que muito foram beneficiados pela pratica do basquetebol, pudessem influir decisivamente nesse processo de soerguimento, em vez de se reunirem para usufruirem o que pensam ser o melhor dos dois mundos, o saudosismo e o companheirismo. Creio que outra etapa deveria ser vivenciada, a de prestarem, com suas experiências e conquistas, a maior de suas performances, a justificativa do porque fomos os melhores, ação esclarecedora ora negligenciada em festivas reuniões de velhos amigos. Acredito com a mais absoluta convicção que o verdadeiro papel dessas associações ainda estará por vir, se vier, a influência estratégica e política que seus associados poderiam exercer junto a sociedade civil para um possível, porém dificil soerguimento de nosso basquetebol. Nossos técnicos precisam estudar muito a fundo o que fomos, o que conquistamos e como o fizemos. Copiar fórmulas prontas é facil e descompromissado, assim como adotarmos vicios modernosos nos tornam miseravelmente pobres em técnicas e táticas, quiçá estratégias. Somos os técnicos com “filosofias” de trabalho, sem sequer entendermos o que significa o termo filosofia. Fico imaginando se amanhã em todas as notas oficiais das federações brasileiras saísse uma nota proibindo o uso das pranchetas durante os jogos. Já imaginaram o resultado? Não? Então imaginem, faria um bem danado as conclusões que tirarem…

 

O QUE TODO ALA DEVERIA SABER

Cesar, o grande general romano ficou famoso na antiguidade por ter,entre outras façanhas bélicas e políticas,criado o ataque em pinças,envolvendo os adversários,forçando-os a dispersarem suas fôrças e,divididos serem derrotados.As alas,agindo em forma de pinças,foram as artífices de suas mais extraordinárias vitórias nos campos de batalha.Mais recentemente,na 2ªGuerra Mundial, Patton,grande general dos blindados norte-americanos derrotou as fôrças alemâs após o Dia D utilizando-se das mesmas estratégias de Cesar, fazendo avançar suas alas,envolvendo e dividindo o exercito alemão.”Dividir para destruir”, é por assim dizer,a ação que determina a superioridade numérica, principalmente se a mesma for desencadeada pelos flancos,pelas alas,com velocidade e inteligência.No basquetebol são os alas que,com suas ações incisivas e velozes, provocam o desequilibrio defensivo,determinando a superioridade numérica tão desejada por qualquer equipe que queira vencer. Mas para que isso venha a ocorrer, os alas precisarão compreender e aceitar que são eles aqueles jogadores que mais terão de desenvolver a habilidade de jogar sem a bola, mas quando de posse da mesma, serem aqueles cujos índices de erro sejam os mais baixos de sua equipe.A maioria das conclusões à cêsta, de média e longa distâncias,serão executadas pelos alas,na medida em que sejam dispostos tàticamente a fazê-lo,o que caracteriza uma equipe bem preparada e treinada. Mas,alguns pontos têm de ser enfatizados no que dizem respeito a determinados fundamentos que caracterizam as ações dos alas em uma partida.Duas delas são fundamentais: a primeira é a que determina a obrigatoriedade de sempre fintarem antes da recepção de QUALQUER passe, em qualquer situação, e que estes JAMAIS sejam concebidos e executados paralelos à linha final da quadra,eliminando qualquer possibilidade de interceptação.A segunda,é que após a recepção do passe EM HIPÓTESE ALGUMA deverá elevar a bola acima da cabeça, mantendo-a abaixo da linha da cintura, numa posição que o faça rapidadmente decidir se efetuará um novo passe, uma finta ou um arremêsso.Um ala verdadeiro jamais deixará de,estando na posse da bola, ter a capacidade de optar por uma das três atitudes mencionadas,que se tornarão nulas se elevar a bola acima da cabeça. Uma última e particularíssima ação técnica exigirá dos alas treinamento específico e trabalhoso, o fato de ao progredir paralelamente à linha final driblando a bola, somente terá uma opcão de finta, que é o corte para dentro da quadra,ao contrário das duas possibilidades que teria se estivesse em uma posição oblíqua à linha final. Paradas repentinas, drible negaciado com quebra de rítmo e reversões com troca rápida de maõs são os recursos que deverão ser treinados pelos alas para se sairem bem quando confrontados com uma única opção de finta. Claro que todos os jogadores devem ser treinados e preparados para aquelas mesmas situações mas aos alas deve ser dado um aporte maior na carga desse treinamento específico. Como geralmente são jogadores com alta estatura, o preparo dos mesmos para os rebotes deverá atender a uma particularidade, que é a capacidade de transformar velocidade horizontal em velocidade vertical já que os mesmos se lançam de fora para dentro dos garrafões pela posição que ocupam no campo de jogo. Muitas faltas pessoais poderão ser evitadas no afã das lutas se forem treinados na transformação da velocidade horizontal em vertical com um mínimo de projeção frontal no momento dos saltos. Treinar bloqueios em velocidade linear em redes de voleibol ou de encontro a paredes auxiliarão em muito no momento e na qualidade das transposições.Defensivamente, como via de regra marcam os alas adversários,a utilização consciente da posição dos pés na defesa individual, forçando o corte do adversário para o centro ou a lateral da quadra, deverá se coadunar com as exigências do plano defensivo em toda e qualquer situação de jogo, pois são fundamentais para a derrota ou a vitória da equipe. Muitos técnicos ao pedirem tempo poderiam auxiliar a equipe observando uma colocação dos pés de um defensor que obrigasse o atacante a uma direção errônea, ao invés de se debruçar sobre uma prancheta rabiscando fantasias, finda as quais exige “força na marcação”, quando naquele momento o desejável seria: Force-o para fora(ou para dentro),com um posicionamento correto dos pés. É assim que se ganham os jogos, e é uma das atitudes que todo ala deveria saber. Nos arremêssos a constante e initerrupta movimentação propiciará uma vasta gama de possibilidades em todas as distâncias,mas a ênfase deverá ser dada aos de média e curta distâncias, já que os colocariam sempre perto da cêsta facilitando a obtenção de um sempre possivel rebote ofensivo. Os arremêssos de três pontos seriam do domínio exclusivo daqueles que realmente fossem especialistas nos mesmos, alas ou armadores.Finalmente,os alas deverão ser aqueles com a melhor percentagem nos lance-livres, já que serão sempre os mais visados pelos defensores, dada as características ofensivas que possuem. Finalmente, como a maioria
dos seres humanos abrangem um máximo de 120° em sua visão periférica,e como a meia quadra que defendem atinge os 180° cabe aos alas saberem explorar os 60° que se tornam inalcançaveis para o defensor em seu campo visual,e que quando atacado pelas laterais se torna bem menor, daí a importância estratégica dos alas em um sistema bem planejado de jogo, e isso é o que todo técnico deveria saber, mas é assunto para o próximo artigo.

O QUE TODO PIVÔ DEVERIA SABER I…

Você pivô,é o jogador que atua mais próximo da cêsta, o que não o obriga a fazê-lo de costas para a mesma. Por hábito, ou imitação dos pivôs americanos, pesados e lentos, conceituou-se entre nós que deveriamos atuar de costas para a cêsta, quando o ideal seria exatamente o oposto, jogar de frente para ela. Pode parecer estranho e inusitado, mas um pivô com ações e reações rápidas se tornará mais efetivo na proporção direta em que se situe de frente para a cêsta. Nessa situação, ao se manter sempre do lado oposto em que se encontre a bola, obterá sempre o espaço necessário para a recepção segura de um passe, e melhor, obtendo-o em movimento! É a perfeita situação em que o domínio sobre o defensor se fará pela surprêsa e pela antecipação, além da possibilidade real de, em deslocamento, efetuar o arremêsso, o drible ou o passe em condições de grande segurança. Ao movimentar-se permanentemente dentro do garrafão, mantendo-se sempre em oposição à bola, criam-se os espaços, não só para as recepções e conclusões, como abrem-se oportunidades para as penetrações dos demais jogadores. Muda a dinâmica do jogo, sua velocidade, pois as ações estáticas deixam de existir, dando lugar a uma movimentação envolvente de todos, repito, de TODOS os atacantes. E quando ocorrer o rebote ofensivo, um giro de 180° após o domínio da bola o colocará de frente para a quadra, na única situação em que o ficar de costas para a cêsta se torna a ação ideal, pois nessa situação as possibilidades de um passe, de um drible ou de uma tentativa de arremêsso se torna cabível e natural. Com a movimentação sagital ou transversal em função do garrafão fluirá a dinâmica ideal, ou seja, a de todos os jogadores dentro da zona de ataque. E quando todos se movimentam espaços ocorrem seguidamente, provocados pela antecipação contínua dos atacantes em oposição aos defensores. Massa física, musculatura inchada e pêso anormal quando estático, não oferece oposição inteligente ao atacante que se desloca em velocidade tão perto da cêsta, pois quanto menor for essa distância menos poder de reação terá o defensor para bloqueá-lo. Nossos pivôs, historicamente faziam parte dessa elite que enfatizava a velocidade em detrimento da força física, e com eles alcançamos os píncaros do basquete internacional. Desde que optamos em copiar as montanhas de músculos da NBA só fizemos definhar em nossa posição de liderança, e a cada dia mais e mais fracassamos. Um sistema de jogo que privilegiasse essa movimentação dentro do garrafão, por um pivô, dois e até três, sem dúvida ofereceria uma gama de opções a todos os envolvidos em cada ataque, isso porque tantos seriam os espaços criados que as oportunidades de cêstas ocorreriam com equilíbrio e total contrôle do tempo disponível dentro da regra dos 24 segundos. Essas atitudes, por assim dizer táticas, por parte de um pivô, evitaria que o mesmo fugisse de sua zona de ação para vir para fora da linha dos três pontos efetuar passes lateralizados, ou arremêssos distantes, abandonado com essas atitudes, completamente anacrônicas, suas funções de reboteador. Como defensor, se mantidas suas características de velocidade, a marcação intransigente do pivõ adversário efetuada à frente, o transformará em arma de eficiência decisiva dentro da equipe, e inclusive adiará em muito tempo o limite das 5 faltas pessoais. Uma atitude defensiva desse porte somente será obtida por pivôs rápidos e resistentes, e perfeitamente afinados com o restante da equipe, onde a palavra de ordem seja a da antecipação aos passes, de forma permanente e corajosa.
Com sua velocidade e flexibilidade mantidas, ao pivô se destinará uma carga de treinamento, onde a ênfase sempre será localizada nos fundamentos de drible, fintas, passes e rebotes, na mesma intensidade dos demais jogadores, sem concessões, assim como uma grande carga de arremêssos de média e curta distâncias, com padrões elevados de acêrtos. Um lembrete aos pivôs quando tentarem a cêsta muito próximo dela.
Executem a finalização sempre com a mão do mesmo lado em que estiver em função da mesma, pois terão mais chances de conseguirem os pontos, como a possibilidade de receberem uma falta se torna real. É incrivel como os pivôs brasileiros perdem cêstas por não observarem esta simples regra. E que treinem muito o drible, tanto em progressão como no garrafão, pois diminuirão em muito as limitações impostas por esse desconhecimento. Quanto as enterradas, substituam o tempo dedicado às mesmas por mais
e mais arremêssos de curta e média distâncias, pois são estes que ganham os jogos. Que adianta levantar a torcida e perder o jogo? Finalmente, procurem desenvolver senso rítmico em suas passadas, o maior obstáculo na performance de homens altos, e que se bem desenvolvido propiciará ações rápidas e coordenadas no pequeno espaço que dispôem para jogar. Praticar dança de salão pode operar milagres na melhora rítmica exigida nas ações de ataque. Pode parecer estranho e até constrangedor para alguns, mas realmente funciona. No mais, é treinar e treinar, com afinco e dedicação. Sejam felizes e, eficientes.

BENVINDAS COINCIDÊNCIAS

Coincidências acontecem,e quando acrescentam evolução tanto melhor.Em 8 de janeiro publiquei o artigo”Um possível(re)começo”,onde propunha que os clubes do Rio de Janeiro,principalmente os de futebol,formassem suas equipes principais com aqueles jogadores egressos dos juvenís,e inclusive dei o exemplo do campeonato de 1997 quando dirigia o Barra da Tijuca,onde pude constatar o alto grau de qualidade daqueles jovens nas 12 equipes participantes,dos quais somente 3 estariam atuando no Campeonato Nacional.A maioria deles seguiu seu caminho de estudos e trabalho,estando hoje na faixa dos 24-26 anos, que é a fase do amadurecimento técnico.Muitos seguiram jogando nas universidades e nos fins de semana,pois o amor à modalidade não deixa de existir jamais.De 97 aos dias atuais outros tantos foram relegados para darem lugar aos craques que percorrem as prefeituras do país atrás de seus vultosos contratos como uma “caravana rolidei” de mesmice cristalizada.Mas eis que no O Globo do dia 15
e no de hoje,19,publicou que aqui no Rio a Federação organizará um campeonato municipal entre março e julho sem a presença da equipe patrocinada pela prefeitura, o que permitiria uma formação não profissional das equipes que participassem,ou seja
se abririam portas para uma nova geração de jogadores,e por que não, aqueles que hoje formados e no mercado de trabalho poderiam dedicar 3 horas de suas vidas, 3 vezes por semana ou diariamente para entrarem em forma se bem treinados e orientados.Hoje o Flamengo anunciou que irá disputar o Sul-Americano de clubes com uma equipe de jovens e com o técnico dos juvenis,no que se constitue em um ato de coragem dificil de acontecer nos dias de hoje.Se tudo isso se tornar realidade só teremos a lucrar nos próximos anos, pois ficará provado que para o nível do nosso basquetebol trabalho e estudo não seria entrave a bons campeonatos.Mas paralelamente a essa conquista que fosse afastado de nossas equipes o fantasma do monolítico modelo
NBA,com seu padrão fundamentado no Passing Game,e que foi definido não sei por quem de “basquetebol internacional”,numa tentativa absurda de globalização técnica,e que as enterradas e a religião dos três pontos sejam colocadas em suas devidas proporções
e não como os fócos do jogo, o anacrônico espetáculo.Tudo isso pode e deve ser atingido se houver vontade de fugir de um esquema suicida e estúpido, e que até hoje só beneficiou uns poucos oportunistas que se apossaram dos destinos do basquetebol campeão do mundo e medalhista olímpico,levando-o ao estado de indigência técnica que hoje apresenta.Que estes novos jogadores se exercitem nos fundamentos,se dediquem a uma boa preparação fisica, e que, mesmo sem o marqueting das atuais estrêlas nos dêem
esperanças em dias melhores.Mas que juntamente ao aproveitamento desses jogadores, que os clubes premiem seus dedicados técnicos de categorias de formação,pois eles conhecem bem quem formam, ao contrario de alguns luminares que quando muito administram jogadores sem olhar em seus olhos,já que ficam magnetizados pela figura onírica e irreal de uma simples e inodora prancheta.Esses jovens precisam de tecnicos,de professores e não de coreógrafos.Que o Diretor Técnico da Federação do Rio de Janeiro,que foi um ótimo aluno meu, tome essa atitude corajosa e que tenha argumentação poderosa para convencer os clubes para uma cruzada que pode dar excelentes frutos.Assim desejo, e torço.

PARA AQUELES QUE QUEREM MUDAR.

Com o término do campeonato paulista,que para muitos espelha o que existe de melhor em nosso país,podemos tirar algumas conclusões, que ao contrário do que poderiamos imaginar,somente aumentam nossa preocupação com o futuro do basquetebol.
Para começar, nunca o estrelismo atingiu a classe dos técnicos como na atualidade,
onde até microfones sem fio foram instalados em seus corpos para que todo o país pudesse acompanhar, não só a côres e ao vivo,como também com vozes, soluços e esgáres suas performances estelares,centristas e profundamente autoritárias.Ficou faltando(pecado capital…)as legendas que elucidariam os intrincados hieróglifos rabiscados em suas pranchetas e um microfone em cada jogador participante, para ai sim, termos uma mais autêntica participação no jogo.Um absurdo que técnicos,pela mais pura vaidade,se permitam expor ao ridículo de serem monitorados em seu mistér,em suas ações,em seu mais sagrado direito,a privacidade no colóquio olho no olho com seus atletas,fonte de inspiração e confiança.Eles não têm o direito de nos impôr tal comportamento,gerando o mais profundo constrangimento.Lamentável!Na concepção técnica e tática o que vimos? Jogadas polegar,punho,coc isso, coc aquilo,executadas por ambas as equipes,idênticamente, e é claro que aquela que antecipasse a defêsa e tivesse mais calma venceria as partidas.Diferenças de 10,15 e até 20 pontos eram tiradas com facilidade,isso porque quando duas equipes jogam em esquemas idênticos(o famigerado”basquete internacional”,ou passing game)basta um ajuste defensivo,com antecipações nos mais do que previsiveis passes,para que em três ou quatro retomadas de bola o equilíbrio fosse restabelecido,sem contar com a limitadíssima técnica na condução e proteção de bola de nossos armadores-cestinhas.
A total ausência de marcação frontal ao pivô,não por alguns instantes,mas permanentemente,com a consequente diminuição de espaços sobre o jogador de posse da bola, inviabilizando os passes perpendiculares à cesta, obrigando aos passes laterais
e de recuo são lugar comum em nossas melhores equipes,e que é exatamente o que as equipes estrangeiras que atuam contra nós empregam,sabedoras de nossas já cansativas deficiências.Mas para o consumo interno é o suficiente, numa demonstração de pobreza cultural e técnica.A alguns anos atrás um menino muito alto surgiu no Fluminense, e que pelas suas qualidades atléticas se anunciava como real esperança para o basquetebol.Nos anos subsequentes seu comportamento técnico se situou em uma penosa
indecisão,ser um pivô ou um ala.Com sua altura(2,11m)e boa mobilidade deveria ter sido orientado a jogar o mais próximo da cesta possível, no entanto o mantiveram na mais total indecisão.Hoje seu ponto razoàvelmente positivo é o arremêsso de três pontos, em uma zona em que suas habilidades de drible deixam muito a desejar.Mas como na movimentação inicial do passing game os pivõs saem do garrafão para se situarem na zona dos três pontos,como arrietes para passes laterais, aos poucos foram
tomando consciência de que poderiam arremessar daquela posição,já que dificilmente era acompanhado por seus marcadores.E deu no que deu,se tornaram”especialistas” nos três pontos,quando acertam,e ausentes dos rebotes,quando erram.Nosso menino do Fluminense foi a primeira vítima desse perverso sistema de jogo, amado e endeusado pela maioria dos técnicos,cégos pela plasticidade dos movimentos,que quanto mais previsíveis,mais os deixam extasiados,numa coreografia dirigida e centrada por seus egos diretivos e impositivos.Sistemas que privilegiam o improviso,por Deus,nem pensar
pois como se justificariam através suas indecifráveis pranchetas e pelos agora introduzidos gadgets eletrônicos,os microfones pessoais.O basquetebol não merece,juro que não.E como não resta muita coisa a comentar, aquele simpático comentarista passa toda a transmissão a mandar abraços e beijos a seus fãns, até que os técnicos passem a transmitir também as instruções dadas ao intervalo,DIRETO do vestiário.A antítese de tudo isto é o que todo técnico deve praticar se quisermos realmente mudar o destino de nosso basquetebol, e enquanto isto não se torna realidade lastimo profundamente pelo futuro de alguns excelentes jogadores,obrigados a jogarem como se pertencessem a uma equipe de ginástica rítmica,prêsos a coreografias cada vez mais rígidas, em detrimento de um basquetebol criativo e magistralmente improvisador que é a nossa vocação, liderados por mestres técnica,cultural e sociológicamente preparados, como muitos que nos fizeram respeitados no mundo inteiro.O que vemos hoje em dia, sem dúvida nenhuma, nos levará mais para o fundo do poço em que nos encontramos a 20 anos.Lamentável!