ONDE AS VERDADES ACONTECEM, OU DEVERIAM ACONTECER…

Mais uma oportunidade perdida…

(…) Respeito muito o trabalho do treinador, e seus esforços para dar personalidade a equipe, mas convenhamos, não seria o caso de fazer entrar uma outra pivô para, com duas próximas a cesta forçasse a quinta falta da boa e importante pivô coreana? Ainda mais que vem atuando neste quarto final com quatro faltas? (…). discursava o comentarista…

Fazendo forte coro a este raciocínio, narrador e o outro comentarista, aos brados, lançavam votos canônicos e satânicos, correntes de oração pela quinta falta daquela, que praticamente sozinha, dizimava a equipe brasileira, que, teimosamente, insistia nas bolas de três, como o outro comentarista garantia ser a solução, ainda mais plausível se determinada jogadora que mofava esquecida no banco, adentrasse a quadra, não privando a equipe de sua maestra habilidade. O tempo se escoou, a especialista chutadora entrou, não resolveu, a pivô coreana se manteve em quadra, anotou pontos, deu belos passes, pegou rebotes, e o mais importante, marcou uma, às vezes duas brasileiras com técnica defensiva aprimorada, que se cansaram de perder bandejas, passes e rebotes, para festejar a classificação de sua fraca equipe ao mundial da Austrália, e não cometendo a tão pranteada quinta e redentora falta…

Comentar as outras duas derrotas se faz desnecessário, no momento em que  o jogo decisivo foi perdido bisonhamente, pois, em tempo algum, desde o advento dessa nova direção, com sua “nova filosofia de jogo”, soube a equipe atuar como equipe, unida pela técnica e por um sistema de jogo diferenciado de um sistema praticado por todos, globalizado por uma liga asfixiante, a NBA, e por que não a WNBA também, onde o individualismo exacerbado promove duelos de 1 x 1 em toda a quadra, fazendo com que aquelas equipes dotadas dos melhores e mais fundamentados jogadores vençam jogos, muitos jogos, e seus luminares alcancem recordes e glórias midiáticas, mas nem sempre campeonatos, que é objetivo de um grupo que se predispõe a alcançá-los, numa antítese do individualismo reinante…

Ser alçado a MVP, recordista de pontos de uma liga, mais recordista ainda de doubles e triples, tocos e enterradas, e a coroação máxima, o reinado nas bolas de três, são os verdadeiros entraves aos princípios do coletivismo, pois vai diretamente ao encontro de interesses de agentes, empresários e mesmo “técnicos” ávidos pela projeção midiática, valorizando, em muito, conquistas monetárias e econômicas, para jogadores também…

           (…) Um absurdo ver a única pivô coreana, jogar 38 min da partida, tendo quatro faltas no último período, sem que utilizássemos nossas três gigantes em torno dela, para forçá-la a quinta e salvadora falta (…), discorria indignado o comentarista, que ao final do jogo não divulgou uns simples números:

– Erica               – 21,37min   – 10 pontos

– Stephanie       – 16,33min   –   2 pontos

– Kamilla           –  19,54min   – 11 pontos

                          ___________________

                                         57,24min     23 pontos

– Park                –  38,10min      20 pontos

A Park jogou menos minutos que nossas três pivôs e anotou somente três pontos a menos que todas elas, impactante, não?…

(…) Mas foram raros os momentos em que tivemos duas delas em quadra, e em nenhum momento vi a Stephanie e a Kamilla atuarem juntas (…), mencionou em seu argumento final…

Dois outros números reforçam os porquês de uma derrota lapidar, 10 erros de fundamentos (15 para a Coreia), e 7 erros nos lances livres, (10/17 -58,8%, contra 12/14 – 85,7%), por si só suficientes para vencer o dantesco jogo. Completando o quadro, arremessamos 20/48 – 41,6% nos 2 pontos, contra 20/38 – 52,6%, números que ressaltam a produtividade da pivô Park dentro do perímetro brasileiro, e 8/28 – 28.5% contra 8/30 – 26,6% nas bolas de três, provando definitivamente ter sido a alta eficiência da Park o fator primordial da vitória de sua equipe…

Ora muito bem, concluamos sem maiores delongas, ter sido o fato de atuarmos enclausurados na camisa de força de um sistema que se conclama universal, que remete o grande jogo ao campo provocado e infindável do 1 x 1 (daí o desespero dos estrategistas pelo jogo com os cinco “abertos”), realidade que desencadeia uma infinidade de “retóricas e invenções” rabiscadas em pranchetas, alcunhadas de geniais, criativas e decisivas, quando na verdade crua, não passam de um biombo situado entre técnicos e jogadores, onde de um lado enlevam sonhos inatingíveis, e por outro blindam jogadores que pouco ou nada assimilam ante tantos rabiscos ininteligíveis, num momento em que a existência coercitiva de tal biombo, afasta a real necessidade de um encontro tranquilizador, incentivador e técnico, olho no olho, onde pequenas, porém poderosas verdades táticas devem ser observadas pontualmente, individualmente, coletivamente, que é o verdadeiro papel de um líder, um professor, que os ensinou, treinou e vem orientá-los naqueles momentos em que mais precisam de uma palavra conciliadora, e não os “quero isso”, “quero aquilo”, “exijo dessa forma”, etc, que pululam a granel nos quase sempre desnecessários pedidos de tempo (uma equipe bem treinada sabe muito bem como se comportar em quadra…), noves fora os palavrões de praxe…

Sistema único, cinco abertas, chega e chuta, tem de ser mudado, radicalmente.

“Nova filosofia de jogo” uma ova, já que o sistema único continua a todo vapor, intocável, rígido como o concreto, com jogadores encordoados desde fora da quadra, e enquadrados em quimeras pranchetadas. Se numa determinada rodada de uma liga, qualquer uma, fosse proibido o uso de pranchetas, teríamos muitos estrategistas mudando de profissão, o que seria bom para o grande jogo, mas péssimo para o marketing auto promocional que eles tanto professam…

Temos de mudar o enfoque técnico tático do grande jogo entre nós, desde a formação de base, e já lá se vão mais de mil artigos publicados neste humilde blog, onde conclamo tal objetivo, explicando-o, definindo-o, e mesmo ensinando-o como fazer, como sempre o fiz, priorizando o treino, o desglamourizado treino, onde princípios, sistemas e comportamentos são definidos, após ensinados, treinados e discutidos profunda e detalhadamente dissecados, como deve ser todo aquele trabalho que se considera sério e profundamente responsável. O jogo, a competição em si, pertence exclusivamente aos jogadores, aqueles que se propuseram ao sacrifício diário para praticá-lo com destreza e competência, e não a uma turma enfatiada e vaidosa de que, no frigir dos ovos, julgam ser suas estrelas maiores, o que, absolutamente, não são…

Da base a elite, metodologias de ensino, treinamento e preparo visando os fundamentos e sistemas diferenciados, tem de ser desenvolvidos por quem realmente estuda, pesquisa e desenvolve o grande jogo. Esta é uma função básica da CBB.

Se não mudarmos, drástica e contundentemente nosso modo de ensinar, treinar, preparar nossos jovens em sistemas e princípios diferenciados dos demais países (já o fizemos não tanto tempo atrás) , continuaremos a perder nas competições que realmente importam, aqui dentro ou lá fora, aquelas que para serem vencidas, necessitam de criatividade, coragem em mudar e acima, muito acima de tudo, conhecimento profundo e integral do grande, grandíssimo jogo, não só teórico, como na quadra, onde as verdades verdadeiras acontecem, as quais tanto teimamos em esquecer…

Que os compreensivos e pacientes deuses nos ajudem.

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las. 

LENDO NAS ENTRELINHAS…

Precisão e sintonia fina

Muitos são os artigos lidos aqui nesse humilde blog, principalmente os técnicos, os sobre os fundamentos, com alguns deles se destacando desde o início das publicações 17 anos atrás, como os da série O que todo jogador deveria saber (são 10 artigos), destacando-se de longe O que todo pivô deveria saber I e II, e a série recordista absoluta Anatomia de um arremesso de I a VI

Tenho a plena certeza que, a enorme quantidade de acessos aos mesmos, tenha influenciado bastante nas grandes e oportunas mudanças de nossos jogadores numa maior compreensão sobre aqueles fundamentos, não só em sua formação, assim como na prática constante dos mesmos, dando atenção às suas sutis particularidades, e acima de tudo, à importância para suas equipes como um todo…

Outros fundamentos como o drible, as fintas, os rebotes, os passes, a defesa, os deslocamentos, o equilíbrio, também são extensamente procurados, mas sem rivalizar com os sobre pivôs e arremessos, que foram os fundamentos que mais se modificaram no seio das equipes nos últimos 15 anos, principalmente na evolução dos homens altos, que se tornaram mais ágeis, velozes flexíveis e atuantes dentro e fora do perímetro, assim como nos fundamentos e arremessos, na permanente busca da maior precisão possível, abandonando o fator estético e de mecânica perfeita, pelos princípios físicos e matemáticos que compõem sua execução, onde os finos ajustes nas pegas sobre a bola, definem o maior ou menor sucesso dos mesmos, tanto nas longas, ou curtas e médias tentativas, numa mudança radical no conceito de precisão que envolve esse fundamento definidor do grande jogo…

No entanto, cabe aqui lembrar que muito dos aspectos básicos contidos  nesses mais de 1600 artigos publicados, se encontram nas entrelinhas, onde pequenos, porém decisivos fatores se entrelaçam num todo, nos fundamentos em si, quando pequenos e sutis detalhes, como os do equilíbrio, regem os demais, dando aos mesmos a solidez necessária à sua perfeita compreensão, sem a qual se tornam estanques e até mesmo, estéreis…

Um bom exemplo interpretativo pode ser observado nesse artigo publicado no O Globo de  3/2/22, sobre o jogador Curry da NBA, cuja perda de eficiência notada nessa temporada de seus mortais arremessos de três pontos, vem despertando interesse mundial, pois suas qualificações sobre a arte dos longos arremessos, vem sofrendo uma queda acentuada, preocupando aos fãs, técnicos e dirigentes de sua franquia milionária…

Lendo com mais atenção o referido artigo, um fator nas entrelinhas deveria chamar bastante a atenção, aquele que menciona o ganho de massa muscular que o mesmo apresentou nesta temporada, que por si só seria perfeitamente o responsável pela alteração de sua reconhecida precisão nos arremessos, pois o ganho muscular tem tudo, e por tudo, influência sobre as nuances e sintonia fina nas sutis alavancas de toque na bola, mais do que suficientes para alterar um gesto que não tolera mais do que 1,5 graus de tolerância a desvios de direção em sua origem, que diminui a cada vez que as distâncias aumentam. Curry alcançou altíssimo grau de precisão quando o adequou ao seu todo articular e muscular, treinando sempre com a bola, e que segundo o artigo, foi trocado por exercícios sem bola, fato bem demonstrado nos aquecimentos transmitidos em seus jogos, numa direta intervenção de um preparador técnico (ocasionalmente um brasileiro), com uso inclusive de elásticos de força. Se no aquecimento são usados, imagino nos treinos. Pois bem, uma franquia que se diz séria e avançada, torpedeia seu melhor jogador alterando o que ele tinha de melhor, sua incrível habilidade de arremessar, perfeitamente alinhada ao seu esguio perfil físico, numa sintonia fina dificílima de ser alcançada, e que de repente se vê substituída por um fator que privilegia o fator estético, disfarçado em potência, desarmando, anulando mesmo a simbiose vencedora…

Ao lermos artigos técnicos, temos de dar muita atenção ao que contém as entrelinhas, onde quase sempre se encontra o pulo do gato, assunto prioritário daqueles que não só amam, mas entendem o grande, grandíssimo jogo…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

O PREVISÍVEL CAOS…

E não deu outra, foi a equipe “montada para ganhar todas as competições” enfrentar uma outra bem menos ranqueada, porém disposta a marcar com energia e determinação os armadores e os chutadores de fora do rubro negro, para ruir, desculpem, despencar uma artificial banca de equipe matadora dentro e fora do perímetro ofensivo, sem no entanto saber defender o seu próprio perímetro, de um ataque que primou pela insistência e asfixiante presença de um jogo interno primoroso e, acima de tudo reboteiro, através dois jogadores que já defenderam suas cores, o Nesbitt e o Vargas, que desmontaram um sistema defensivo não muito acostumado a pressões, por conta de seu compensatório poderio ofensivo, que ao encontrar uma defesa antecipativa de peso, não obteve resposta reparadora…

Se de um lado, a limitada equipe argentina se fez exaustiva e repetidamente presente no âmago da defesa rubro negra, por outro, os brasileiros abriram-se em leque( o atual modismo) por força da anteposição bem coordenada dos hermanos nas contestações à artilharia de fora (foram 9/30 de 3 e 12/31 de 2, numa convergência que se tornou sua marca registrada), para forçar as penetrações de seus armadores que, previstamente seriam bloqueados pelos altos e fortes argentinos e dois de seus altos, e também muito fortes estrangeiros, no que foi uma constante em toda a partida, quando por força de tal defensivismo cobraram 17/27 lances livres, com a indesculpável perda de 10 tentativas, pecado mortal em uma partida desse nível. A turma portenha converteu 9/14, poucas tentativas em contraste aos seus 44 pontos dentro do garrafão, enquanto o Flamengo converteu 24…

Do lado portenho (22/50 de 2 e 6/23 de 3), a clara opção pelo jogo interno se fez presente, e vencedor, pois exalava firmeza e convicção no seu poderio defensivo, única atitude estratégica capaz de equilibrar a notória eficiência tupiniquim em sua endeusada e midiática artilharia do chega e chuta. Algumas vezes até que chegaram, mas um incomum fator deu ares presenciais (que se repetirão na justa medida em que enfrentem equipes mais técnicas), os “tocos” em lançamentos de três, e alguns air balls não costumeiros…

A 16.1seg uma de 3?

Enfim, o chega e chuta foi contestado, e as penetrações também foram, assim como “não colaram” as repetidas tentativas de coerção sobre a arbitragem, partidas do técnico da seleção nacional, que deve ficar atento a um comportamento, tido como como “normal” por essas bandas, mas enormemente arriscado fora de nossas fronteiras…

No mais, fica cada vez mais consolidada a nova face do basquetebol brasileiro que ora está sendo implantada, a dos cinco abertos, o chega e chuta e, acreditem, a da prancheta que tudo sabe, que tudo define, ficando, porém no ar uma questão – Como atuaremos a nível de seleção nacional (cuja representatividade emana basicamente do NBB) sem a presença dominante e asfixiante dos gringos (já são quatro por franquia), que compraram euforicamente esse ideário coletivo de nossos “estudiosos” estrategistas? Como?…

Ganha uma das quinze vagas de estagiário na franquia última colocada da NBA, aquele que explique e defenda, coerentemente, tal realidade, o que, sinceramente, duvido, de verdade…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las  

DAQUI A POUCO…

Cinco abertos, chega e chuta, e estamos conversados…

No artigo Reféns aqui publicado recentemente, uma tabela contabilizava os últimos sessenta jogos do NBB, e o que ele representava de negativo para o nosso basquetebol de elite –

Vejamos agora o resultado dos seguintes sessenta jogos do referido NBB:

Arremessos de 2 – 1903/3652  52.1%

Arremessos de 3 – 893/2836    31.4%

Lances livres       – 1203/1684  71.4%

Erros de fund      –  1306           21.7 pj

Concluindo, para os 2 pontos, na média, converteram 31.7 e perderam 60.8 tentativas; Nos 3 pontos, 14.8 e 42.8, nos LL, 20.5 e 28.0, mais os 21.7 erros de fundamentos.

Comparemos agora com a tabela final do torneio Super 8 (7 jogos), finalizado no sábado, com a vitória do Minas TC sobre o São Paulo FC-

Arremessos de 2 – 251/482  51,5%

Arremessos de 3 – 147/432  33,3%

Lances livres       – 161/234  68,8%

Erros de fund     –  142         20,2 pj

As médias finais foram de 35,8 tentativas convertidas e 68,8 perdidas por jogo nos 2 pontos, 21,0 e 61,7 nos 3 pontos, e 23,0 e 33,3 nos Lances livres, números condizentes com os da temporada regular em seus 120 jogos realizados.

Chegamos então a triste conclusão de que, na divisão de elite do basquetebol tupiniquim, os parâmetros de 70, 60 e 90 da elite internacional, está a muitas léguas de distância da nossa realidade, que decresce ainda mais nas divisões de base, principalmente na constrangedora teimosia do chega e chuta solidamente estabelecido…

Se considerarmos serem participantes do torneio, as oito equipes de melhores números na liga, poderemos exercer um pequeno estudo sobre alguns fatores que nos aflige:

– Estamos, como desde muito estivemos, muito mal nos fundamentos básicos do jogo, e de tal forma que, fica determinada a ofensiva em leque, ou seja, os cinco jogadores abertos, fora do perímetro interno, inclusive os alas pivôs, para, de forma avassaladora partirem para a cesta em largas e velozes passadas, a fim de sobrepujar defensores falhos e equivocados, quanto a correta maneira de brecá-los pela boa e eficiente técnica defensiva. Só que, mesmo tomando a frente do defensor, fatalmente encontrará coberturas eventuais, e nesse momento, os princípios técnicos de trocas de mãos e de direção se chocam com a dura realidade de não dominá-los, perdendo o controle da bola, e até das passadas. Com muita sorte, conseguirá uma falta pessoal a favor, ou desfavoravelmente, uma contra si próprio. Muitas e muitas jogadas dessas tem acontecido dentro do errôneo princípio dos “cinco abertos”, a grande arma do atual arsenal dos estrategistas de plantão, plenamente convencidos do poderio da armada americana/argentina que floresce a cada temporada nas franquias, em contra ponto a fraqueza de nossos jogadores nesse quesito, onde se torna cada vez mais corriqueira a presença em quadra de quatro estrangeiros e um único representante nacional do “jogo que você nunca viu, o NBB”…

Espaço para embalar…
E consequente bloqueio

E os caras estão dando as cartas de verdade, tornando uma falsa realidade a glória de muitos dos estrategistas de comandar uma equipe em que o idioma pátrio seja o menos falado, mesmo balbuciando muito mal os idiomas dos caras, que não estão nem aí para taís e insignificantes detalhes, quando o que importa é botar a bola embaixo dos braços, combinarem-se com seus pares, e barbarizarem ao seu modo, vencendo ou perdendo, dentro de um nicho de mercado garantido pela pobreza colonizada daqueles que os pensam dirigir, mas se comportam e agem como meros torcedores de beira de quadra, num erro estratégico que nos cobrará, em breve, um altíssimo preço…

Por acaso, o técnico da nossa seleção poderá contar com esse exército de estrangeiros meia boca em sua maioria no tremendo esforço para a classificação a Paris 2024? Sua solidificada proposta do chega e chuta (nos três artigos anteriores disseco essa proposta, inclusive com  fartos números), agregada ao princípio (?) da abertura em leque acima citada, ambas somadas a dura realidade de nossa carência maior, a defensiva, fundamento absolutamente desprezado desde a formação de base, gerando uma realista e justa apreensão, pelo simples fato de não possuirmos o domínio das técnicas básicas nos fundamentos do jogo, fator que sobra abundantemente nas equipes europeias, americanas, e por que não, argentinas também…

Internacionalmente nos apresentaremos com jogadores nacionais, pensando atuar como se estrangeiros fossem, abrindo em leque para os 1 x 1 de praxe, chutando com ou sem contestações, correndo, saltando e trombando mais ou menos próximos a eles, porém sem os conhecimentos fundamentais da base do grande jogo, e o pior, sem o salutar conhecimento e prática do fundamento maior, a arte de defender, defender, defender, que é aquele responsável pelo desenvolvimento de todos os outros, os ofensivos em particular, praticados individualmente, e acima de tudo, coletivamente…

Pensa realmente nosso head coach que possuímos tal tecnicismo atuando taticamente, como todas as equipes que enfrentaremos atuam em seu sistema único, enriquecido pelo pleno domínio dos fundamentos, mesmo em dupla armação e três alas pivôs ágeis e rápidos, porém sem o domínio daqueles, pensa mesmo?…

Acredito e temo que sim, pois se “atuam daquela forma e vencem, por que não nós também”, por que não? Afinal, parece que temos os melhores arremessadores de três do mundo, ou não? Grande parte de nossos jogadores acreditam piamente que sim, açodados e incentivados por nossos estrategistas, dirigentes, agentes, narradores e comentaristas, verdade ou ilusão?…

Veremos mais adiante, e já os vejo tropeçando em suas próprias pernas ao se verem marcados de verdade, anuladas suas tentativas de três ao se sentirem contestados e serem obrigados a alterar suas trajetórias, perdendo eficiência, e o mais emblemático, terem seus armadores (se jogar com dois), forte anteposição, sem ajudas, pois atuam no sistema único, onde um deles faz o papel de um ala (o tal armador 2), numa composição fajuta para não fugir do tal sistema, quando deveriam atuar o mais próximos possível, propiciando entre ajudas e bloqueios realmente eficientes fora do perímetro, enquanto os três grandes se situam no interno em constante movimentação, prendendo seus marcadores junto a si, em qualquer direção que se locomovam, criando espaços e brechas indefensáveis, a não ser com faltas pessoais…

Mas que nada, pois na concepção atual desses “gênios estratégicos”, sempre existirá um corner player para matar de fora, como acontece frequentemente com nossas fraquíssimas defesas, ao dobrarem sobre os que penetram, pois não dominam as técnicas de defesa 1 x 1, prato feito para as equipes estrangeiras de elite, que a executam com maestria…

E a pergunta que não quer calar inquire: Temos esses jogadores a nível dos que enfrentaremos?  Talvez uns dois, no máximo, porém irremediavelmente atrelados ao indefectível e profundamente burro sistema único, manipulado de fora para dentro das quadras, tendo pranchetas midiáticas e analfabetas na função de mensageiras de hieróglifos ininteligiveis que só funcionam na cabeça de uma turma absolutamente crente de que dominam o grande jogo, minúsculo para a imensa maioria deles todos, aos quais tentei alertar desde sempre em um artigo de a muito publicado, porém pouco levado a serio, infelizmente…

No entanto, uma conclusão pede passagem, a de que atuando em conformidade com as equipes do alto nível que utilizam o sistema único, porém dominadoras dos fundamentos básicos do jogo, jamais teremos chances de grande sucesso, já que altamente carentes no domínio dos mesmos, que é a base exequibilizadora deste ou de qualquer sistema de jogo, por mais simples que sejam, e que são resultantes de uma séria e poderosa formação de base e contínua aprendizagem e aperfeiçoamento nos mesmos, por toda a vida de um jogador…

Enquanto não atingirmos este patamar, urge que joguemos de forma diferenciada, profundamente coletivista, em ajuda constante, com conclusões mais próximas a cesta, logo, mais precisas, condicionando os longos arremessos a condição de complementos, e não básicos de uma equipe, como hoje ousam praticar, com resultados assustadores de tão ruins e perdulários, com acentuadas perdas de tempo, esforços físico e mental…

Quanto ao sistema defensivo, é preciso investir pesado na formação de base, assunto que defendi e aconselhei num recente artigo, e que mesmo carentes individualmente, passemos a defender na Linha da Bola, onde uma flutuação lateralizada compensa bastante falhas individuais, facilitando o posicionamento nos rebotes, pois seus princípios de cobertura se fazem bem mais coerentes e lógicos do que em flutuações longitudinais a cesta…

Atuando com dois armadores, jogando próximos, ajudando e interagindo juntos, alimentando continuamente os jogadores altos em deslocamento constante dentro do perímetro, mantendo seus defensores permanentemente no ! x1, garantindo dessa forma espaços cruciais, mesmo que pequenos, no âmago defensivo, propiciando conclusões perto da cesta, mais precisas e objetivas, com possibilidades reboteiras sempre presentes e atuantes, até mesmo para dificultar contra ataques adversários, possibilitando, inclusive, ótimos passes de dentro para fora, dirigidos aos especialistas de verdade nos longos arremessos, encontrando-os relativamente livres para conseguir bons resultados, colimando um princípio renegado por muitos, de que de 2 em 2 e 1 em 1, podemos atingir grandes placares, onde os tiranbaços de fora estariam restritos, por  sua baixa produtividade, como recurso complementar, e não prioritário, como estamos vendo a cada dia que passa…

Neste Super 8, venceu a equipe do Minas TC, título que, sem dúvida, deve ser comemorado, mas, que no entanto, sacramentou o novo ideário do basquetebol nacional, praticado por todos os integrantes da Liga, conceituando claramente o caminho técnico tático a ser trilhado daqui para frente, cujos reflexos, sem a menor das dúvidas, pautarão o comportamento dos jovens que se iniciam no jogo, e o mais impactante, definirá o comportamento de nossas seleções nos embates internacionais que nos aguardam…

Daqui a pouco estaremos frente a frente com a realidade classificatória, no masculino e feminino também, quando aferiremos, por mais uma vez, a quanto andamos na busca de um processo evolutivo que se esvai década após década, motivado por uma cegueira inconcebível, já se fazendo tarde, bastante tarde, um reencontro com nossas raizes, esquecidas raizes, que nos tornaram, no século passado, a terceira força do basquetebol mundial, o grande, grandíssimo jogo que teimamos em esquecer, nesse imenso, desigual e injusto país…

Que os deuses nos ajudem.

Amém.

`Foto – Reproduções da TV. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.


ABSOLUTAMENTE NADA…

O Prof. Sergio Machado, o grande Sergio Macarrão, medalhista olímpico em Tóquio, autor e editor do blog Kick da Bola, veiculou esse artigo em 21/5/2012, quando divulgou uma troca de mensagens entre mim e o Heleno Lima, onde comentamos as contundentes derrotas de nossos jovens sub 15 para argentinos e uruguaios, num final de ciclo olímpico para Londres, e o início de outro para a Rio 2016. 

De lá para os dias de hoje, após o ciclo Toquio 2021 resta uma pergunta – O que mudou em nossa formação de base ? Resposta? NADA…

* Colando do Professor Paulo Murilo

       Ressonância Magnética do Basquete Brasileiro

       Já citei aqui no blog, mais de uma vez, o Paulo Murilo, um dos ‘craques’ que formou a geração mais vitoriosa da história do basquete do Rio de Janeiro. Foi um tempo, onde a formação era espaço para professores. Quem ensinava sabia o que estava fazendo, onde queria chegar e como. Éramos todos meninos, Paulinho um pouco mais velho, mas já era técnico. Já era um dos ‘craques’. Epaminondas, Gleck, Barone, Paulo Murilo, Geraldo Conceição, Tude Sobrinho, Afro, Olímpio, Passarinho, entre outros, cada um em seu clube, formaram a geração que em 6 anos venceu 5 brasileiros de juvenis. (Assim como hoje, São Paulo dominava, e para surpresa do Brasil, o Rio acumulou essa série de títulos.) Heleno, também foi técnico de ponta no Rio, um pouco depois desses dias. Meu colega na faculdade, e profundo conhecedor de basquete.

      Recebi uma troca de e-mails entre os dois onde se comentava a recente derrota do Brasil para a Argentina no Sul-americano Sub-15 por mais de 40 pontos. Paulo Murilo fez um “triple double”, e por ele autorizado, publico aqui. Todas as loucuras que acredito, ditas dessa forma, nem parecem ser tão loucas assim. Parabéns Paulinho, obrigado. Como te disse, me senti muito melhor quando te li.

———- Mensagem encaminhada ———-

De: heleno lima <helenolima@hotmail.com>

Data: 19 de maio de 2012 13:57

Assunto: RE: BASQUETE ARGENTINO DA UM SACODE NA SELEÇÃO BRASILEIRA SUB-15 MASCULINA

Para: clippingdobasquete02@gmail.com

       Trabalhei muito nestas categorias. A diferença de um ou dois anos é muito grande. Diferenças desaparecem com o tempo à medida que ficam mais velhos. Nós levamos uma equipe com quatro jogadores de 15 anos, sete jogadores de 14 anos e um de 13 anos.

    Podem ter certeza isto explica tudo. Se foi estratégia foi errada. Não é possível que tenhamos somente quatro jogadores de 15 anos em condições de defender nossa seleção da categoria. Tem que haver uma explicação coerente a respeito disto. Levar uma diferença dos portenhos (Uruguai e Argentina) de 64 pontos não tem cabimento. Existe algo errado nisso. Gostaria de ouvir o Prof. Paulo Murilo que entende disso mais do que eu.  

       Prof. Heleno Lima

      O Clipping do Basquete do Alcir Magalhães veiculou a matéria acima, que culmina com o pedido do técnico Heleno Lima para ouvir minha opinião a respeito. Trabalhamos juntos no vencedor projeto do Olaria AC nos anos oitenta, com praticamente todas as categorias, do infantil à primeira divisão, com muita seriedade e competência, num tempo em que a formação de base, não só no Rio, como em muitos estados brasileiros, fluía e se desenvolvia, abastecendo as divisões superiores com jogadores bem treinados nos fundamentos e nos sistemas de jogo, com ótimos técnicos e professores, até o momento em que a modalidade se viu afastada dos clubes pela falta de incentivos e investimentos, até alcançar o estado de penúria em que se encontra.

    Some-se a esta realidade, outra mais perversa ainda, a decadência do ensino do basquete nas escolas superiores de educação física, que deixaram de oferecer três semestres da modalidade, assim como em outras, como o vôlei, o handebol, o futebol, a natação, o atletismo, passando-as a um mínimo insignificante, substituído-as por disciplinas voltadas às áreas médicas, como as fisiológicas, biomecânicas, psicológicas, etc., que passaram a ocupar as grades horárias prioritariamente, numa formação voltada à saúde, como resultado das anexações das escolas aos centros de ciências da saúde, em vez dos centros de formação de professores, onde estavam historicamente situadas. A realidade é que hoje a maioria destas escolas formam paramédicos de terceira categoria, fornecendo pessoal a academias e consultórios, como força de trabalho explorada pelas holdings do culto ao corpo que se espalham velozmente por todo o país, e com uma agravante a mais, com uma formação mais voltada aos cursos de bacharelato do que os de licenciatura, numa inversão absoluta de valores voltados ao processo educacional do país, com o abandono das escolas para a educação física e os desportos.

    Claro que a formação de base se ressente profundamente dessa formação nas universidades, refletindo tal despreparo didático pedagógico nas formações de base de todas as modalidades, que não encontram na maioria dos clubes os subsídios mínimos para suprirem tão vasta deficiência de ensino.

    Por conta de tal situação, ex-jogadores e até leigos são transformados em técnicos formadores, deficientes em tudo o que se refere ao processo educacional de jovens, mas sempre prontos ao sucesso rápido que os catapultem às divisões superiores e melhores salários, situações estas que os poucos convenientemente bem formados não conseguem equiparar, não só por serem minoria, como, e principalmente, por se tornarem onerosos por suas qualificações legais. Por conta dessa distorção, a maior parte dos jovens iniciantes ficam pelo caminho, e aqueles poucos que conseguem prosseguir o fazem eivados de defeitos e limitações, basicamente no instrumental mais precioso para a prática e o domínio do grande jogo, seus fundamentos.

     Outro e incisivo fator define tal situação com grande precisão, a padronização formatada de cima para baixo no preparo daqueles poucos egressos de uma formação altamente deficiente, por parte de federações alinhadas com uma confederação mentora de um único sistema de jogo, cuja maciça divulgação se faz através de clínicas e de cursos patrocinados por uma ENTB totalmente voltada ao mesmo, onde o planejamento, a aprendizagem e fixação do sistema suplanta em muito o ensino, que deveria ser maciço, dos fundamentos,  no que deveria ser o objetivo central a ser alcançado, pois nivelaria todos os jovens jogadores, independendo de funções, estaturas e posições, no pleno conhecimento das técnicas individuais e coletivas que os tornariam aptos aos sistemas de jogo que mais adiante conheceriam e treinariam, sempre respeitando suas individualidades e amadurecimento físico e emocional, variantes que oscilam de individuo para individuo.

     Por tudo isso caro Heleno, é que sempre me insurgi contra esta situação altamente irresponsável, e muitas vezes criminosa, por parte daqueles que ousam querer implantar formatações e padronizações em crianças e adolescentes, da forma mais absurda e, torno a afirmar, irresponsável possível.

    Os 64 pontos acumulados por nuestros hermanos, refletem essa catástrofe, com a mais séria das consequências, por se tratar do futuro do grande jogo, da categoria competitiva inicial, e que não merece ser tratada de forma tão abjeta. Se mudanças têm de ser feitas, é por aí que deverão começar, pela entrega da formação a pessoas qualificadas, altamente qualificadas, as mais qualificadas que possamos recrutar, de uma comunidade que pertencemos, eu e você num passado não tão distante assim, a comunidade daqueles que real e responsavelmente conhecem, estudam, pesquisam, divulgam e ensinam o basquete como deve ser ensinado. E você, como eu, sabemos que existem esses profissionais, só que nunca lembrados, sequer consultados, por quem deveria fazê-lo.

    Heleno, frente a esta realidade, o que mais dizer?

    Amém.

Foto – Reprodução da TV. Clique duplamente na mesma para ampliá-la.

*

Postado há 21st May 2012 por Sérgio Macarrão

REFÉNS…

Em um artigo publicado em 26/11/21, Sob Nova Direção, inclui uma tabela sobre os primeiros sessenta jogos do NBB, agora reproduzida

Contrariando firmemente a grande parte da mídia dita especializada, que conota 60% para os arremessos de 2 pontos, 40% para os de 3, e 70% para os lances livres, quando para o nível internacional, 70, 60 e 90 são os números aceitos e reconhecidos, além do número de erros não ultrapassar os 12/14 por jogo, vemos que estamos muito, muito abaixo do aceitável em se tratando de confrontos internacionais de peso, e não aqueles em que os adversários não atingem um mínimo de qualidade, como Ilhas Virgens e Jamaica, para os quais ousamos perder recentemente em outra classificatória similar: 

Os números finais( 60 jogos) espelham com nitidez esse enfoque:

Arremessos de 2 –  2236/4396   50,8%

Arremessos de 3 –  1103/3318    33,2%

Lances livres       –   1447/2071   69,8%

Erros de fund      –    1628            27,1 pj

Entendendo melhor, para os 2 pontos, na média, a cada jogo dos sessenta tabulados, as equipes converteram 37,2 tentativas e perderam 73,2. Nos 3 pontos, 18,3 e 

55,3, e nos LL 24,1 e 34,5, mais os 27,1 erros de fundamentos.

Vejamos agora o resultado dos seguintes sessenta jogos do referido NBB:

Arremessos de 2 – 1903/3652  52.1%

Arremessos de 3 – 893/2836    31.4%

Lances livres       – 1203/1684  71.4%

Erros de fund      –  1306           21.7 pj

Concluindo, para os 2 pontos, na média, converteram 31.7 e perderam 60.8 tentativas; Nos 3 pontos, 14.8 e 42.8, nos LL, 20.5 e 28.0, mais os 21.7 erros de fundamentos.

A competição continua, e se contabilizarmos mais dados semelhantes, pouco fugiremos das duas tabelas acima, principalmente se as compararmos com os índices de aproveitamento de 70, 60 e 90% exigidos para as altas competições internacionais, pois afinal de contas, é de encontro a elas que deveriamos caminhar a cada ciclo olímpico…

Muito bem, até concordo que são parâmetros para lá de exigentes, mas que não perdoam os 52.1, 31.4, 71.4% e os 21.7 erros por partida. se quisermos avançar técnica e taticamente no concerto internacional, ainda mais no olímpico…

Sem a menor dúvida, tais números espelham com rigor a realidade técnico tática do grande jogo entre nós, da base a elite, num comportamento praticamente padronizado, formatado que vem sendo nas últimas três décadas, onde a imposição do modo NBA de atuar, tornou-se um rígido e inflexível dógma seguido, aplicado e desenvolvido pela esmagadora maioria dos técnicos nacionais, e que agora, finalmente, explodirá nas seleções brasileiras, associado ao “chega e chuta” de invencionice tupiniquim, num preito autofágico que nos levará ao prana supremo, ou aos confins de um inferno que nem Dante visitaria…

Produto de uma pobreza para lá de franciscana, o “chega e chuta”, prestes a alcançar o estado da arte preconizado pela nova direção da seleção nacional, cujo líder já anunciou em rede que jogará como a NBA, pois afinal de contas afirma – “ganham todas as competições da forma como atuam”, tentando cristalizar paleontologicamente um sistema que somente se sustenta na realidade em que vivem, jamais a nossa, que ainda terá de saber administrar a pobreza atávica em que vivemos, bem antes de tentar galgar àquela realidade acima do equador…

Quando tínhamos personalidade própria, jogamos de tal forma diferenciada, que nem mesmo a turma lá de cima nos vencia com facilidade, perdiam também, inclusive grandes competições, mundiais, num singelo exemplo de coragem e técnica pessoal e tática de jogar o grande jogo, e não como hoje, quando simplesmente participamos, copiamos servilmente, e olhe lá…

O nosso formidável “chega e chuta” só se torna possível ante o vazio defensivo, fundamento individual mais do que básico, e para muito além, coletivo, mas que passa despercebido na formação de base, ante a presença castradora das defesas zonais, artifício e artimanha de técnicos/agentes, mais interessados em vitórias enriquecedoras de currículos, do que a formação competente e estratégica de bons jogadores, de jogadores de verdade. E é o que se testemunha nos jogos da liga de elite, o cúmplice conluio inter pares pela fragilização defensiva, estabelecendo os duelos de midiáticas bolinhas de três, com a participação de todos, onde o último a acertar desliga a luz do ginásio, indo saborear a “grande vitória”, enaltecida e deificada por uma mídia tonitruante e absurdamente ignorante, com muito poucas exceções, do que venha a ser basquetebol;;;

Ou será que acreditam em fragilidade defensiva por parte de europeus, americanos e…hermanos? Que acreditam na força dribladora de nossos craques, que necessitam atuar o mais longe possível da cesta, por não dominarem seu instrumento de trabalho, uma volúvel, inconstante e fugaz bola, em ações diversionistas, no intuito de terem muito espaço para partir em velocidade supersônica (a turma de fisiologistas garante que sim…), sobrepondo ao raciocínio e a inteligência, e muitas vezes duelando com a bola que pretensamente julgam dominar? Poucos, muito poucos temos atuando por aqui com esse domínio, em sua esmagadora maioria, estrangeiros, pois o “porraloquismo” (desculpem, não encontrei termo melhor) não é propriedade somente nossa, e a turma de fora prova a cada jogo essa certeza…

Fugimos do perímetro interno como o diabo da cruz, mais por inabilidade pessoal e covardia diretiva, do que o puro e nada saudável desconhecimento do que venha a ser jogar dentro da cozinha do adversário, terreno sagrado e somente penetrável por aqueles que gabaritam o jogo de 2 em 2 com a precisão dos bem formados, qualificando cada ataque com perdas recuperáveis, ao contrário do arrivismo inconsequente dos magos dos 3 pontos, com uma imprecisão matemática, mecânica e estatística em tudo e por tudo superior as tentativas de curta e média distâncias.,com perdas de precioso tempo incontornáveis. Mas como todos em quadra, de um lado ou de outro, rezam pela mesma cartilha, equilibram as perdas e os ganhos, numa ciranda dantesca de assistir, num pastiche mal ajambrado do que venha a ser o grande jogo…

-”Me cheira a prorrogação, que venha uma, duas, quantas vierem melhor”, ululam narradores, rezam comentaristas, ansiando ação, emoção, mesmo que técnica e tática inexistam no calor da refrega, fatores menores ante a digitação de likes e sinos, ante abraços aos fãns e lembranças a parentes, encontros para almoços, churrascos, ou um fraterno chopp, pois basquetebol pode ficar para depois…

Nos jornais, nas transmissões, a NBA dá as cartas, como se fosse do interesse nacional as bodas do provecto Lebron, os triples do Curry, as opiniões políticas do Paul George, etc e tal, nada a ver conosco, que pagamos uma assinatura para ler e se inteirar da campanha do Bulls, que ja  despachou o único brasileiro de sua equipe, mas festeja sua camisa, que só perde em vendas aqui, para a do Lakers, assuntos de transcendental importância para o nosso escanteado basquetebol, que não merece constar em página inteira, sequer a menção de sua liga maior, a tal NBA/nbb, lamentável…

Falam e trombeteiam sobre “basquete moderno”, “novos caminhos e filosofias”, “nova direção”? Por que não novos rumos para a formação de base, aumento significativo de carga horária de disciplinas desportivas nas escolas de educação física, subtraídas que foram pelas da área biomédica, atrasando em três décadas a formação de bons professores e técnicos, hoje substituídos coercitivamente no planejamento e comando por fisiologistas fazedores de atletas saltadores, corredores e trombadores, porém profundamente carentes do pleno domínio dos fundamentos desportivos, tornando-os reféns de pranchetas que exigem deles movimentos básicos individuais e coletivos que, simplesmente desconhecem, e o pior, não encontram praticamente ninguém gabaritado para ensiná-los (afinal, fica bem mais prático e fácil a troca das “peças”…), caracterizando a verdadeira tragédia por que passa o desporto neste imenso, desigual e injusto país…

Por tudo isso cada vez mais me afasto do grande, grandíssimo jogo, sem abandoná-lo jamais, resguardando uma sutil fresta de esperança em dias melhores, onde ainda possamos exercer algo que se aprende, se apreende em toda uma vida, a de amar incondicionalmente a arte de ensinar a ensinar, que tanto nos tem faltado, de verdade. Quem sabe um dia acordemos, um dia quem sabe…

Amém.

Fotos – Reproduções da TV e do O Globo. Clique duplamente nas mesmas para ampliá-las.

O QUARTO MOMENTO…

Oito anos atrás publiquei o artigo TRÊS MOMENTOS (4/8/2013), que agora, num quarto momento, o complemento, dando ao mesmo a sua verdadeira e decisiva dimensão, pois nada mais enfático e realista, do que o testemunho emanado do mesmo sobre a nossa triste e pranteada realidade sobre a extrema fragilidade de uma nova geração prejudicada e perigosamente anulada, por sua mais frágil ainda preparação nos fundamentos do grande jogo, sem os quais, sob competente e indiscutível domínio, torna todo e qualquer sistema de jogo, tradicional ou avançado, simplesmente impraticável, e o mais relevante, torna-a escrava de pranchetas midiáticas eivadas de quiméricas projeções táticas, somente presentes e teoricamente efetivas na mente de estrategistas, dissociados da maior de todas as verdades sobre a arte de praticar o grande jogo, a de que sem o domínio total de seus fundamentos nada será alcançado como concepção de equipe, e sim uma frágil e errática competição de 1 x 1, onde falhas e erros ofensivos e defensivos, desvirtuam o espírito coletivista, substituindo-o por escaramuças individuais, onde o ego, em tudo e por tudo, tenta dar um novo sentido ao mais clássico dos desportos, aquele em que o sentir, dominar e aplicar seus princípios básicos e fundamentais, torna-o imbatível em sua proposta coletivista, principalmente no mais representativo de todos os fundamentos, os arremessos, aqueles que colimam a proposta competitiva de toda equipe séria e muito bem preparada e orientada…

Publicado três anos antes da Rio 16, hoje de triste memória, relembra assuntos que teimam em se repetir neste novo ciclo olímpico para Paris 24, e com um agravante, a formatação e padronização definitiva de algo assustador denominado “basquete moderno”, onde a autofagia insana dos arremessos de três pontos alcança patamares absurdos, na tentativa de desmonte de mais de 100 anos de evolução técnico tática do grande jogo, onde a cada evolução ofensiva, sucedeu uma defensiva, e vice- versa, originando um crescimento técnico equilibrado e coerente aos princípios que sempre o nortearam, muito ao contrário do que vem agora ocorrendo entre nós, onde a fragilidade e quase ausência, diria mesmo, permissividade consensual defensiva, permite e escancara essa ininterrupta hemorragia de longos arremessos, efetuados por todos os componentes de uma equipe, inclusive pivôs, quase sempre livres, para serem exaltados como “gênios”, esquecidos de que seus pares acima do equador, em sua bilionária liga, são pescados e filtrados dentre milhares de escolas, colégios e universidades, onde os fundamentos são levados a sério de verdade, com percentuais bem acima dos 40% considerados ideais aqui em terra tupiniquim. Sugiro que façam coro aos leitores dos artigos mais lidos neste humilde blog, da série ANATOMIA DE UM ARREMESSO, para, definitivamente entenderem que, convergência entre arremessos de 2 pontos e de 3, e perdas de esforço ofensivo na ordem de mais de 60% de tentativas falhas, torna e desfigura o jogo, de uma maneira tão absurda, que qualquer seleção internacional mediana jamais perdoará tanta fraqueza quando as enfrentarmos, fato indiscutível, que nem os “detalhes” podem servir de bode expiatório para justificar tanta cegueira…

Estamos a caminho, de forma célere, para mais um fracasso, apreciando de janela a jogadores estrangeiros, em sua maioria de técnica inaproveitada nas mais de quinze ligas profissionais do mundo, deitando cátedra e independência por sobre estrategistas equivocados e mergulhados em sua pretensa qualificação profissional, que se repetem e se copiam a mais de três décadas, incapazes, por força de um corporativismo atroz e profundamente injusto, de permitir novos e arejados tempos, a não ser toscas adaptações de algo que ouviram, ou mesmo viram de soslaio, sem sequer desconfiar de onde “o galo está cantando”, deixando, ou sendo forçados a assistir as filigranas, arroubos geniais e jogadas de equipe dentro de uma, por parte da maioria deles, perfeitamente alinhados e comprometidos com o “deixa ficar, para ver como é que fica”, pois afinal, foram contratados para vencer jogos, ao preço que for, noves fora a qualidade técnico tática do jogo entre nós, que para eles, nada significa, a não ser os dólares em jogo, ou não?…

Peço aos deuses que algo de positivo possa vir a ocorrer, sem os “monstros”, “ridículos” e “fantásticos tocos e enterradas” que povoam e são incutidos em nossos jovens aspirantes a jogador, para que simplesmente voltem a praticar, amar e desenvolver o grande, grandíssimo jogo de suas vidas, o que não é pouco…

Amém

TRÊS MOMENTOS…

domingo, 4 de agosto de 2013 por Paulo MuriloSem comentários(infelizmente…)

LDB_IMG_0825-660x440
20130803_33302_damiris_gde
P1020756
P1020762
P1020765

Num primeiro momento anexo os números das três primeiras rodadas da etapa da LDB em São José dos Campos com os das duas etapas iniciais do torneio, e o que temos?

– Arremessos de 2 pontos – 1152/2506 (45.9%)

– Arremessos de 3 pontos – 362/1269 (28.5%)

– Lances Livres             – 762/1204 (63.2%)

– Rebotes                       –  2376 (79.2 pj)

– Erros de Fundamentos – 785 (26.1 pj)

Ou seja, mantêm a turma dos 17 aos 22 anos índices de arremessos muito abaixo do desejável nessa altura de suas carreiras, assim como insistem na enxurrada de bolinhas, ocasionando uma média brutal de rebotes pelo acúmulo de desperdício nas mesmas, e com equipes apresentando convergências inacreditáveis, como no jogo São José (13/28 nos 2 pontos e 12/28 nos 3), contra o Grêmio União (12/32 e 10/31 respectivamente), numa partida que me despertou a curiosidade de tê-la assistido, exatamente para acreditar no que veria, assim como constatar in loco ser verídica a inacreditável marca de 26 erros de fundamentos em média, numa prova cabal de que a persistir tão gritante falha, não iremos a lugar algum no universo do grande jogo. Mas na etapa aqui do Rio pretendo assistir pelo menos uma rodada, para me cientificar se tais distorções realmente existem, ao vivo e à cores, ou se não passam de falhas estatísticas…

Claro que boas equipes disputam o torneio, mas infelizmente serem aquelas que contam com jogadores que disputam o NBB, numa clara menção de que o título e a vitrine midiática superam em muito o discurso de que essa competição visa dar cancha aos mais novos em sua ascendente transição, esquecendo de que tal experiência deveria ser ofertada para todos aqueles jogadores que pretendem e sonham ingressar na liga maior, e não para aqueles que lá já se encontram, treinando e jogando com os melhores e mais experientes, garantindo títulos midiáticos e indevidos numa liga de desenvolvimento.

Por outro lado, lamentamos a presença de equipes completamente despreparadas, mal formadas e treinadas, num flagrante desperdício de verbas públicas que alimentam suas participações, e que deveriam ser direcionadas ao desenvolvimento regional, de onde sairiam aquelas vencedoras, para aí sim, num encontro nacional medirem forças por um acréscimo qualitativo, objetivando seu desenvolvimento real, e não feérico como está ocorrendo.

Num segundo momento, consigo sintonizar a transmissão de um jogo via internet da seleção brasileira no sul americano adulto feminino, jogando contra a equipe venezuelana, onde consegue a façanha de perder o primeiro tempo de um jogo assustador pela fragilidade nos fundamentos, todos eles, frente a uma equipe de uma fraqueza absurda, o que me fez desistir do restante da partida, pois em se tratando de uma seleção principal, renovada e com vistas para 2016, deixou-me assustado e absolutamente convicto de que muito poucas chances teremos naquela magna competição, em nossa casa, pela precária e inadmissível situação técnico tática em que se encontra, noves fora os ausentes fundamentos do jogo. Realmente lamentável.

O terceiro momento me foi dado pela estréia da seleção masculina no torneio quadrangular em Salta na Argentina, onde uma equipe bem renovada expôs o quanto de penoso caminho ainda terá de trilhar para alcançar um patamar qualificativo a maiores vôos, principalmente na urgente substituição de alguns super veteranos, que simplesmente não mais alcançam as exigentes valências necessárias ao embate internacional, tanto física como tecnicamente.

No entanto, novos e promissores valores ascendem a equipe, que claramente vai incorporando a dupla armação, às vezes tripla, pelos bons e jovens valores que se apresentam nesses novos tempos, e que se bem orientados, principalmente na interação com os também jovens e promissores alas pivôs, de uma geração que fatalmente sepultará uma tendência aos “cincões”, gerada por uma plêiade de técnicos, analistas, agentes e dirigentes, estreitamente comprometida com o sistema único, ou por desconhecimento real com o conceito NBA, que nos levaram ladeira abaixo no contexto internacional, poderemos evoluir de encontro a novas formas de jogar o grande jogo, com ritmo e cadência pensante na armação de situações táticas, e muita velocidade na conclusão das mesmas, atitude somente possível através jogadores ágeis, flexíveis, rápidos e argutos leitores de jogo, que é uma qualidade adquirida pelo intenso e duro trabalho, capacitando a todos, de que posição forem, inclusive, na real possibilidade de enfrentamento a equipes pesadas, atlética e artificialmente super dimensionadas.

E nesse ponto cabe um esclarecimento, sério e preocupado, dirigido àqueles responsáveis pelo aprimoramento físico, técnico e tático desses futurosos jovens, basicamente aqueles que se destacam na firmeza e precisão nos arremessos médios e longos, focando no aspecto da sintonia fina na execução dos fundamentos, dos arremessos em particular, que será prejudicada, e muitas vezes anulada, quando frente a um preparo físico inadequado e dirigido a aquisição de massa muscular, na maioria das vezes de fundo puramente estético e antinatural. É um crime confundir força com inchaço puro e simples, ocasionando travamentos e perda de sensibilidade dos finos e apurados gestuais técnicos, assim como comprometendo articulações e tendões despropositada e irresponsavelmente.

Fato é que o técnico Magnano se encontra à frente de uma concepção de jogo que nunca foi de sua predileção, mas frente à realidade que se apresenta tende a uma mudança conceitual, que poderá desencadear uma verdadeira revolução em nossa maneira de ver, sentir e jogar o grande jogo, ao ultrapassar a fronteira da dupla armação e os alas pivôs, interagindo entre si dentro do perímetro interno, zona conflagrada das grandes defesas de grandes equipes, que vêem naquele setor o solo sagrado a ser defendido ao preço que for, e que poderão ser derrotadas se falharem e caírem ali mesmo, na ante sala de suas cestas.

Mas para tanto, precisamos aprender e dominar a arte de jogar “lá dentro”, arte esta somente possível priorizando a velocidade, a flexibilidade, a ousadia de fazê-lo, assim como canalizando essa novel energia exercendo uma outra arte, a de defender, com as mesmas valências, velocidade, flexibilidade, ousadia, acrescentando mais uma e fundamental, a percepção antecipativa.

Enfim, acredito firmemente que ousaremos mais, evoluindo a partir daí para um novo tempo, uma nova concepção de jogar.

Assim espero, e humildemente sugiro ao competente Magnano que ouse sempre, pois esses jovens merecem ser proprietários de uma nova forma de jogar o grande jogo, e que poderá inspirar outros jovens como eles, e por que não, os técnicos também…

Amém

Fotos – Divulgação FIBA, LNB e reproduções da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.

Deixe seu comentário

Nome: 

E-mail: 

Website: 

Comentário: 

Assine o Feed

Receba por E-mail

O PAVOROSO TAPETE…

Brasil  77 x  53  Chile

        69% 22/32    2    15/38 39%

        25%   9/36    3      5/22  23%

        46%   6/13   LL     8/16  50%

                     53    R       31

                     15    E       11

            Brasil  81 x  55  Chile

         60% 18/30   2   15/35 42,8%

         41,3%12/29 3     4/22 18,1%

         60%     9/15 LL  13/16 81,2%

                      41    R     26

                        9    E     13

 Tabulando o Brasil nas duas partidas, obtemos:

          Arremessos de 2  – 40/62   64,5%

          Arremessos de 3  – 21/65   32,3%

          Lances Livres       – 15/28   53,5%

          Erros de fund.      –  24        12pj

Que convenhamos, são números muito fracos para uma seleção brasileira adulta, com jogadores atuando regularmente aqui e no exterior, finalizando a cesta mediocremente no fundamento definidor dos jogos, contra uma equipe fraca defensivamente no perímetro externo, e razoável no interno, sendo um fator a ser seriamente encarado para as próximas competições, assim como, uma repaginação completa em nossa forma de jogar, e para tanto, sugiro fortemente o robustecimento do jogo interno, ampliando o recebimento dos passes em movimento por parte dos bons e promissores alas pivôs, cruzando-se continuamente, obrigando o constante deslocamento dos defensores mais altos, originando espaços, que mesmo pequenos, se criarão na cozinha dos adversários, sendo constantemente abastecidos pelos dois armadores com passes incisivos, e não os de contorno, com figurações em oito que além de inócuas, consomem segundos preciosos em cada ataque, e evitando ao máximo a ida dos pivôs para fora do perímetro visando bloqueios, que podem perfeitamente ser exercidos pelos dois armadores, se forem os mais altos em quadra naqueles momentos, mantendo a trinca gigante, veloz e flexível no cerne defensivo, garantindo rebotes e segundas tentativas, provocando as faltas dos defensores pela ativa movimentação interna, para de 2 em 2 e 1 em 1, através arremessos curtos e médios, mais seguros e eficientes, estabelecer pacientemente o comando do placar, deixando os longos arremessos como uma opção pontual, e não principal da equipe, por força da indiscutível imprecisão dos mesmos, como atestam os números acima tabulados, e que aumentarão na proporção direta ao enfrentamento contestatório quando duelarem com equipes europeias, americanas e nuestros hermanos…

Uma equipe agindo dessa forma, otimiza cada ataque pelo aumento percentual de seus arremessos, confrontando as enormes perdas de esforço físico e mental pelas bem maiores falhas através o exagero nos longos arremessos, com seus baixos percentuais, se comparados com os de curta e média distâncias, é isso é inquestionável…

Porém, como venho divulgando e discutindo década após década, dentro e fora das quadras, uma seleção bem espelha o basquetebol que é jogado em seus campeonatos e ligas, e quando o mesmo é adepto fervoroso do sistema único, da formação de base ao adulto, com todos os envolvidos em seu desenvolvimento cumprindo a mesma cartilha, muito pouco pode-se esperar de modificação comportamental e técnico tática em suas seleções, a não ser uma ou outra inovação, que rapidamente é engolfada pelo tsunami da mesmice institucionalizada e do corporativismo arraigado e vigente no âmago do grande jogo, até que um dia, quem sabe, um bendito e almejado dia, saiamos desse pavoroso limbo, agora, mais do que antes, transfigurado e envolto num uniforme absurdo, como um tapete de mau gosto envolvendo os jogadores, cada vez mais distantes do nosso histórico, vencedor e heróico uniforme listrado, que um dia vestiu os mais importantes e brilhantes jogadores deste imenso, desigual e injusto país, e isso é inquestionável, também…

Amém

`Fotos – Divulgação Fiba Americas e CBB. Clique nas mesmas para ampliá-las.

CONSEGUIREMOS EVOLUIR?…

Brasil  77 x  53  Chile

        69% 22/32    2    15/38 39%

        25%   9/36    3      5/22  23%

        46%   6/13   LL     8/16  50%

                     53    R       31

                     15    E       11

Voltem ao artigo anterior, e comparem a última tabela lá publicada com a que inicia esse artigo, comprovando o estado terminal em que se encontra o grande jogo nesse imenso, desigual e injusto país, onde mandarinatos se estabelecem à margem do bom senso e do mérito desportivo, vide a condenação do expoente máximo do olimpismo tupiniquim, medalhado com 30 anos de prisão, pagando sozinho um crime cometido por muitos e muitos outros além dele mesmo, que quem sabe um dia pagarão…

O jogo repetiu o que dele se esperava frente ao propalado “basquete moderno”, ou seja, velocidade descerebrada, alimentada por um poderio desigual nos rebotes, muitos passes de contorno, bateção exagerada de bola, e a cereja do bolo, a chutação desenfreada, culminando na já tradicional convergência negativa de 36 arremessos de 3 ante os 32 de 2 pontos, sendo estes os responsáveis pelo placar a favor com seus 22 acertos. Nos 3, contrariando a incensada qualidade dos mesmos, foram somente 9/36 os convertidos com um fraquíssimo 25% de eficiência…

Com o desigual poderio de alas pivôs no miolo da defesa andina, perdeu-se a oportunidade (mais uma, meus deuses) de prepará-los em condições de jogo visando os duríssimos confrontos que enfrentaremos no desenvolvimento desta seletiva ao Mundial, em benefício da turma de fora, sempre pronta para as bolinhas, e inclusive induzindo a turma de dentro nas tentativas de fora, numa perda de eficiência nas segundas bolas que raia ao absurdo…

No entanto, analistas e comentaristas insistem em conceituar o  basquete moderno, aquele praticado na NBA, aquele que o mundo aceita praticar, aquele que tem em suas formações de base o segredo de seu poderio. E nós, como ficamos perante nossas limitações econômicas, sociais, educacionais, e principalmente técnicas e táticas, como?…

Num email agora recebido, o assíduo leitor e colaborador Fábio assim se expressou -(…) A impressão que me deixou é de um time “äfrouxado” em relação ao que vinha com o Petrovic. O Brasil se impôs pelos pivôs mesmo sem nunca os priorizar no sistema de jogo.

Era assim na geração anterior e continua sendo; o que de melhor produzimos são alas-pivôs, porém os despersonalizamos, desconfiguramos e, caso insistam em jogar dentro, são ignorados. É triste ver o Cipollini se aposentar, o Jaú ser subutilizado, o Dú Sommer abrindo pra chutar de 3, o menino Paulo Scheuer do Pato idem…Mas é a sobrevivência deles no basquete que está em jogo.

Priorizamos o perímetro sem sequer formar bons armadores. Yago e Georginho são ótimos jogadores, mas não sabem controlar o ritmo de um jogo e muito menos se destacam pelos passes.

Tanto que o Brasil virou e se mostrou levemente mais desenvolto com o Elinho na armação, um armador-passador que, servindo os pivôs, fez o time sair da saia justa que os dois anteriores citados não conseguiram fazer durante todo o primeiro quarto.(…)

Creio que não analisaria melhor, muito bom Fábio.

Torçamos para que amanhã melhore um pouco, pois precisamos  evoluir significativamente, o oposto do que aí está, simples assim, claro, se competência e preparo realmente existir, algo não tão simples, porém possível e desejável. Conseguiremos? Logo saberemos…

Amém.

SOB NOVA DIREÇÃO…

Dentro de umas poucas horas a seleção masculina adulta , agora sob nova direção, estreia nas classificatórias para o mundial, jogando contra a fraca equipe do Chile em Buenos Aires…

Como desde sempre faço, procuro projetar nas seleções nacionais, as resultantes do que fazemos e produzimos em nossa formação de base, nos campeonatos regionais, nas competições da CBB, e na liga maior, o NBB. Nessa seleção, dez jogadores atuam no NBB, e três no exterior, fator determinante no comportamento técnico tático de uma equipe com escasso tempo de treinamento, logo, predisposta ao comportamento usual que professam em terra tupiniquim, fator que, sinceramente, preocupa profundamente…

Como exercício persecutório, compilei alguns dados nas sessenta partidas iniciais do NBB, somente não contabilizando as duas restantes, pois os situei em seis módulos de dez, com mais um contendo os números finais, a saber:

-Módulo 1 com dez jogos-

Arremessos de 2 – 384/736   52,1%

Arremessos de 3 –  171/523  30,6%

Lances livres       –   223/343  65,0%

Erros de fund,     –    298         29,8 pj

-Módulo 2 com dez jogos-

Arremessos de 2 –  348/733  47,4%

Arremessos de 3 –  188/552  34,0%

Lances livres       –   254/352  72,1%

Erros de fund      –    274         27,4 pj

-Módulo 3 com dez jogos-

Arremessos de 2 –  393/737   53,3%

Arremessos de 3 –  196/570   34,3%

Lances livres       –   250/373   67,0%

Erros de fund      –    274          27,4 pj

-Módulo 4 com dez jogos-

Arremessos de 2 –  240/686   49,5%

Arremessos de 3 –  172/584   29,4%

Lances livres       –   234/321   72,8%

Erros de fund       –   289         28,9 pj

-Módulo 5 do dez jogos-

Arremessos de 2 –  394/740   53,2%

Arremessos de 3 –  197/547   36,0%

Lances livres       –   251/351   71,5%

Erros de fund      –    247          24.7 pj

-Módulo 6 com dez jogos-

Arremessos de 2  –  377/764   49,3%

Arremessos de 3  –  179/542   33.0%

Lances livres        –   235/331   70.9%

Erros de fund       –    246          24,6 pj

Contrariando firmemente a grande parte da mídia dita especializada, que conota 60% para os arremessos de 2 pontos, 40% para os de 3, e 70% para os lances livres, quando para o nível internacional, 70, 60 e 90 são os números aceitos e reconhecidos, além do número de erros não ultrapassar os 12/14 por jogo, vemos que estamos muito, muito abaixo do aceitável em se tratando de confrontos internacionais de peso, e não aqueles em que os adversários não atingem um mínimo de qualidade, como Ilhas Virgens e Jamaica, para os quais ousamos perder recentemente em outra classificatória similar…

Os números finais( 60 jogos) espelham com nitidez esse enfoque:

Arremessos de 2 –  2236/4396   50,8%

Arremessos de 3 –  1103/3318    33,2%

Lances livres       –   1447/2071   69,8%

Erros de fund      –    1628            27,1 pj

Entendendo melhor, para os 2 pontos, na média, a cada jogo dos sessenta tabulados, as equipes convertiam 37,2 tentativas e perdiam 73,2. Nos 3 pontos, 18,3 e 

55,3, e nos LL 24,1 e 34,5, mais os 27,1 erros de fundamentos. São números pavorosos, mas que conotam um comportamento técnico tático estabelecido rigidamente nas últimas três décadas, da formação de base ao adulto, culminando com o conceito revolucionário do “chega e chuta”, pois fica bem nítida a ausência de qualquer ímpeto contestatório defensivo sobre as bolas de 3, daí a enxurrada das mesmas a cada confronto, subvertendo o jogo, transformando-o num duelo insano de arremessos mais insanos ainda, e o mais constrangedor, contando com a cumplicidade de técnicos, dirigentes, agentes, jornalistas e jogadores também, todos unidos pelo novo, novíssimo tempo que se aproxima…

Claro que logo mais nos fartaremos de bolinhas, pela inexistência defensiva chilena, talvez uma ou outra jogada interior para constar e não pegar mal de todo, num resultado avassalador, avalizando um novo tempo, um novo e moderno basquetebol, quem sabe atuando em dupla armação, e lançando três homens altos e habilidosos no cerne do perímetro interior, numa descoberta ímpar no grande jogo tupiniquim, aquela que ninguém(?) ousou estabelecer até os dias de hoje…

Se os campeonatos nacionais de todas as categorias refletem os comportamentos de suas seleções no concerto internacional, a nossa não poderá se comportar diferentemente, ou não?…

Temos de mudar, radicalmente, basicamente, estrategicamente, pois somente dessa maneira poderemos emergir do abissal fosso em que nos encontramos, e para tal temos de modificar para muito, muitíssimo melhor os números que acima postei, a forma como ensinamos e preparamos nossos jovens, o comportamento e preparo de nossos professores e técnicos, inclusive no aspecto ético, dentro e fora das quadras, assim como um melhor preparo de uma mídia pretensiosa, pouco conhecedora do grande jogo, e enormemente voltada e comprometida ao basquetebol jogado acima do hemisfério norte, numa realidade diametralmente oposta a nossa, em todo e qualquer valor que tentemos comparar em estrutura, organização e poder econômico…

Enfim, vamos ao jogo, que aqui para mim, pouco representa em termos de mudança, ficando no aguardo de um adversário competente, que ao menos exerça o mais importante dos fundamentos, a defesa, que é algo que decididamente esnobamos, para a glória e o gáudio das bolinhas de três, noves fora os tocos e enterradas estratosféricas e “ridículas”…

Amém.

Fotos – Divulgação CBB e reprodução da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.