EQUIVOCADAS ATITUDES…
Chego ao ginásio, com enormes filas para a compra de ingressos, dirijo-me à porta dos jornalistas e dou-me conta que esqueci minha credencial em casa, mas como tenho 73 anos…
O primeiro jogo já se encontrava no quarto final, e pelo placar parecia estar muito disputado. Mas, ao reencontrar os técnicos Aristônio, Miguel Palmier e o José Geraldo, perco-me num papo animado e basqueteiro de costas para a quadra, e quando me dou conta do jogo o Pinheiros já estava doze pontos à frente a dois minutos do final, e um armador tijucano investindo por três ataques sucessivos em busca de uma cesta de doze pontos, quando poderia coordenar ataques de dois e até três pontos, quando aumentariam as chances de sua equipe tentar igualar o jogo. Despeço-me dos amigos, e me refugio numa afastada cadeira para o segundo jogo.
O ginásio já estava abarrotado, calorento, húmido e poeirento, mas animado como num jogo de futebol, cânticos inclusive. Engraçado, bem ali perto dormitava um maracãnanzinho, justa casa do basquete brasileiro, local que foi construído para o Mundial de 53, e onde dez anos depois conquistou nosso basquete o bi campeonato mundial. E vem o vôlei reivindicar o templo para eles, enviando o basquete para uma arena perdida num canto da Barra, inacessível para a maioria…
Jogo por começar e o que vejo incrédulo, a repetição (que ameaça virar rotina, e se tiver transmissão de TV então…) de um petit comitê entre juízes, técnicos e diretores das franquias, para discutir o que, meus deuses, o que? Como vai ser a arbitragem, os critérios, etc e tal? Que tal suspender a bola e dar início a um jogo com regras definidas desde sempre, que tal? Quem não as cumprir penalizado será, simples assim. Mas não vi um único policial presente, ou ser requisitado, a não ser em frente ao ginásio… Saem da reuniãozinha os dois técnicos às gargalhadas, como prefaciando o lamentável espetáculo de vedetismo que veríamos dali para diante. E foi tanto exibicionismo gratuito, com invasões descabidas de quadra, que um dos comandantes acabou justamente excluído do jogo, deixando em seu lugar um pacato e comedido assistente que lá pelas tantas começou, “contagiado” pela massa ululante, o tradicional balé gestualistico de praxe. E o excluído comandante, parece não se dar conta de que está à frente de uma torcida de…FUTEBOL, em sua esmagadora maioria, mordida com os fracassos de sua básica e primaria paixão, isso mesmo, o FUTEBOL, e que se não for muito bem administrada de dentro para fora da quadra, poderemos ver, em breve, invasões altamente perigosas, haja vista que o respeito a não existência histórica e tradicional de uma barreira física que a separa do recinto de jogo pode ser rompida num piscar de olhos, com resultados muito graves.
No outro banco, mais um representante da genial geração de novos técnicos, pressionando ao extremo juízes nitidamente coagidos por eles e pela ensurdecedora massa humana, nervosa e comprimida, perdendo um tempo precioso para perceber que a dupla armação do adversário, forçando o jogo interior, não encontrava balanceamento pela utilização de um único armador, e olhe que um dos melhores jogadores para operar uma dupla armação estava no banco, o Munõz que estreava na equipe, e que só foi utilizado em revezamento com o Elinho, quando ante a opção de seu adversário pela dupla armação não respondia à altura, principalmente quando cabia a um jogador inábil na defesa exterior, o Eddy, exercer, por sua estatura, as anteposições aos arremessos de três, nitidamente batido em todas as tentativas, por sua lenta recuperação nas coberturas. Mas o importante era a pressão na arbitragem, numa atitude que relatei tempos atrás sobre a inconsciente síndrome do álibi às possíveis derrotas, que foi um dos mais sérios problemas que consegui contornar e erradicar de alguns jogadores do Saldanha. Nosso jovem técnico precisa descer rapidamente do enganoso pódio da hipnotizante exposição pública, para se concentrar única e exclusivamente nas minúcias do jogo, fugidias e excludentes se não captadas rápida e pacientemente (o binômio Diagnose/Retificação), e que não se coadunam com exibicionismos gratuitos, inócuos e equivocados. Fiquei desapontado vendo o excelente Muñoz fazendo sinais de jogadas, dando passes lateralizados e profundos, e correndo por trás de uma gigantesca defesa, no mais puro padrão do sistema único, quando deveria se encontrar permanentemente no foco das ações, preferencialmente dividindo o perímetro com o outro bom armador da equipe, assim como agiu seu oponente, que por isso venceu com maestria e precisão.
Pelo que vejo, e com alguma satisfação, já começamos a entender como válida a dupla armação, e o jogo interno sucedâneo à mesma, com a utilização inteligente dos rápidos alas pivôs que já temos, que quando aprenderem (ou forem ensinados…) a marcar pela frente, e se movimentar com mais velocidade no perímetro interno, jogando de frente para a cesta, originando o quase completo desaparecimento dos paquidérmicos cincões, estaremos dando um estratégico salto de qualidade na arte de praticar o grande jogo, e mesmo que o desafio que lancei caia no conveniente esquecimento de vaidosas mentes, já me permite constatar que a “descoberta” de que existem formas de jogar diferentes do sistema único, coercitivo e castrador, se faz presente, o que é inspirador e altamente esperançoso. Que sigam as novas conquistas, sem vedetismos, e com mais precisas e sutis ações criativas e ousadas.
Amém.
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