O TRÁGICO ENGÔDO…
Na parte da tarde, me afastei um pouco dos afazeres inerentes às obras reparadoras na casa para descansar um pouco, e por vício irrecuperável lá fui para o Youtube tentar assistir um jogo da LNB, aquele torneio no qual reservas de equipes de ponta do NBB, com experiência de 3/4 anos na liga maior, atuam ao lado ou contra jovens entre 17 e 19 anos advindos das subcategorias de formação, numa mistura que, absolutamente em nada, os beneficia em termos de competição justa e equilibrada, cuja finalidade seria a de dotá-los de experiência competitiva, e não amargarem derrotas de até, ou mais, de 40 pontos de diferença…
Circunstancialmente, os resultados se apresentam pífios, com a média de erros de fundamentos aumentarem a cada rodada, atingindo até o momento o colossal patamar de 37.7 erros em média por partida (façam as continhas se duvidarem), com uma, entre Pato x Flamengo atingindo a inacreditável marca de 51 (30/21), parecendo que a meta dos 60 erros logo, logo acontecerá, definindo e escancarando, de uma vez por todas, o que nos aguarda logo ali na esquina das verdades irrespondíveis, pelo menos por essa turma que pulula saltitante em torno das quadras deste imenso desigual e injusto pais, claro, as poucas exceções muito pouco podem fazer para equilibrar o desastre…
Depois de algum tempo testemunhando mais uma pelada transcendental, além de ouvir incrédulo, comentários absolutamente irreais, ante o desfile absurdo das indesmentíveis imagens, desligo e volto aos meus afazeres, mais uma vez triste em atestar como o grande jogo vem sendo assassinado cruelmente, sem chances de recuperação frente ao prazo que for, a continuar a liderança que aí está de pranchetas nas axílas…
Mais tarde, me aprumo para o jogo da seleção em Porto Rico, e agora que o descrevo, ou comento, ou mesmo procuro entender o que assisti incrédulo (sentimento que já vinha desde a tarde), com uma seleção, que para minha enorme tristeza, confirmava uma profunda predição, largamente exposta, num sem número de artigos publicados neste humilde blog, a cada ciclo olímpico reiniciado nos últimos 20 anos, de que a coercitiva imposição de um sistema único de jogo, formatado e padronizado desde as categorias de base, complementado pela quase obrigatória supremacia técnico tática dos arremessos de 3 pontos, nos levaria de roldão ladeira abaixo a nível internacional, fator que vem se confirmando a cada competição de que participamos recentemente, e que a continuar dificilmente nos recuperaremos a médio e longo prazos, se é que o faremos…
A “nova filosofia” do ” basquete moderno”, aclamada e deificada por essa geração de adoradores de pranchetas, assim determinou nossa forma de praticar o grande jogo, onde o lugar comum- estando livre, chuta- se impôs por sobre inexistentes defesas, habito nacional desde sempre, quando o último a encestar fecha a porta e apaga a luz, pois somos o país detentor dos maiores arremessadores de três do mundo, bem, assim pensam, já que a realidade é bem outra como atestamos ontem, por mais uma vez, quando contestações de verdade a definiram duramente…
A seleção convocou cinco armadores, quatro alas e três pivôs (não menciono subposições), onde somente dois atuaram mais de 20 min (Huertas e Luz), dois menos de 10min (Yago e George), e um jogando míseros 47 segundos (Scott). Os quatro alas jogaram mais de 20min cada um (Didi, Meindl, Mineiro e Lucas Dias) assim como dois dos três pivôs o fizeram por menos de 20min (Augusto e Felicio), e o outro por 11:30min (Lucas Mariano), numa claríssima opção pela chutação de fora, com os alas arremessando 7/26, os armadores 4/8, e os pivôs 0/1, através o Mariano, auto elegido um especialista das famigeradas bolinhas…
Uma boa olhada nos números finais esclarece com sobras tão canhestras opções, frente uma equipe que vem se afastando do estilo amalucado como sempre atuou, que possui jogadores com melhores fundamentos que os nossos, e jogam perto da táboa com precisão e muita energia, assim como, ao contrário de nós, defendem muito melhor postados em quadra, ainda mais contando com o apoio de sua atuante torcida:
Porto Rico 75 x 72 Brasil
(54,5%)24/44 2 14/31(45,2%)
(25,0%) 6/24 3 11/32(34,4%)
(60,0%) 9/15 LL 11/18(61,1%)
39 R 41
9 E 16
O que vemos de saída foi a terrível, porém habitual, convergência nos arremessos de fora com os de dentro na doentia teimosia de vencer partidas de fora do perímetro, fato corriqueiro aqui dentro de um país onde inexiste uma cultura defensiva, substituindo-a pela “maestria”de nossos arremessadores de longa distância, que quando confrontados com defesas e contestações de qualidade se perdem em erros e péssimas escolhas táticas, e que nessa partida se depararam com um adversário muito bem preparado para o jogo interno, intenso e repetitivo, onde os longos arremessos complementaram sua firme atuação, e não os tornaram prioritários, como nós…
Como sempre lembro e recomendo (mas não aprendem…) uma simples e aritmética continha, a de que bastaria substituir a metade das tentativas falhadas de três, por arremessos internos para vencer com folga, além, é claro, de treinar com afinco os lances livres, pois perder 7 deles numa competição dura como essa se torna fatal. Aliás, foi essa a opção dos costarriquenhos, levando a melhor em tão importante partida, errando menos fundamentos, num 9/16 ingrato para nosotros…
Finalmente, de que adianta levar cinco armadores se somente dois deles atuaram por longo tempo, que apesar de serem bons tecnicamente erraram seis vezes nos fundamentos, ao passo que os outros três erraram 2 vezes, tendo contra si a prioritária pontuação dos elegidos com seus 3/6 nas bolinhas, e um ou outro DPJ, assim como o fracasso dos alas com uma chutação de fora (7/26), severamente contestada, além do Mariano, que enquanto em quadra (7:22 min) procurava o perímetro para, ele também, tentar ao menos uma bolinha (0/1)…
Os últimos cico minutos do jogo foram lapidares, pois os donos da casa foram para dentro do garrafão com gana de vencer, atuando coletivamente, principalmente nos rebotes, defensivos e ofensivos, e nas eficientes penetrações de seus habilidosos armadores. Do nosso lado, insistimos no jogo exterior, por todo o tempo, quando em muitas oportunidades não tinhamos um único jogador dentro do garrafão, num momento em que a luta pelos rebotes se impunha como estratégica. Mas, ora estratégia, o que importa, se a magia de uma prancheta se impõe solene, afinal de contas ela espelha as genialidades de um comando tripartide, jovem e com a experiência que nenhum técnico mais idoso e experiente sequer imagina ostentar. São fatores que precisam ser repensados, seriamente repensados…
Começamos a colher o que plantamos a 20 anos, abdicando do jogo interno, num momento em que abundam bons pivôs no país, fortes, rápidos e elásticos, priorizando o externo com sua fajuta certeza de que dominamos os longos arremessos, e por conta disso, abdicando lamentavelmente os fundamentos do jogo, seu ensino, especialização e divulgação maciça entre os jovens, e por que não, os marmanjos também, pois afinal de contas é o ferramental de trabalho de todos, tornando-os aptos na execução de todo e qualquer sistema de jogo, ofensivo e defensivo, fórmula esta desacreditada por essa turma que, empunhando suas mágicas pranchetas (imaginem quando descobrirem que a do técnico costarriquenho é eletrônica, meus deuses, vai ser o caos…), discorrem sapiência que avaliam transcender o espírito do grande, grandíssimo jogo, enaltecidos e glorificados por uma mídia que, como ontem, passou o tempo todo comentando aspectos e curiosidades sobre a NBA, jantares e passeios, emolduradas com hienasticas gargalhadas de um deles enquanto o jogo transcorria, numa partida importante para a classificação ao Mundial, até que, num repente o som da TV se foi, se mantendo mudo até o final da partida, e que, pasmem, não fez absolutamente falta, muito ao contrário, pois fiquei livre de tanta bobagem, podendo apreciar a partida sem desvios de atenção. No próximo desligo de saída…
Depois de tudo, fazendo jús da minha eterna esperança em dias melhores, sugiro humildemente que mudem a forma de jogar de nossa seleção, que tem bons e talentosos jogadores, apesar de fraquejarem nos fundamentos, bastando treiná-los com mais afinco, intensidade, tanto nos arremessos e nos princípios defensivos, como, e principalmente, utilizando sistemas ofensivos que privilegiem o jogo interno, coletivo e solidário, pois temos bons jogadores altos e rápidos, talentosos armadores, podendo produzir com mais eficiência para o coletivismo tão acalentado, porém anulado se mantida essa absurda “nova filosofia”, implantada por quem, em absoluto, entende um jogo maior, uma modalidade para quem realmente o entende e o ama, de verdade…
Amém.
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