


Nada definiu com mais precisão o terceiro jogo do playoff em São José dos Campos, do que uma tirada do comentarista Wlamir Marques da ESPN BRASIL após um pedido de tempo do técnico de Bauru, questionando seus jogadores com o argumento de que a equipe tinha dez jogadas ensaiadas e não conseguia executar nenhuma – “Guerrinha, se a sua equipe tem dez jogadas ensaiadas, eles só estão executando a décima primeira…”
Perfeita tirada, pois até aquele momento a equipe de Bauru simplesmente não conseguia concatenar sequer um ataque organizado, apelando para o individualismo exacerbado e esbarrando na forte e bem postada defesa do São José, ponto determinante para a fácil vitoria, apesar dos corriqueiros desperdícios em bolas de três (6/21) e um acentuado número de 13 erros. Com o ataque inoperante, os jogadores de Bauru também abusaram das bolinhas (7/25) como de praxe neste campeonato, além de cometerem desastrados 17 erros, totalizando 30, numero inadmissível em um jogo de liga maior.
E nesse ponto um questionamento se faz necessário – Porque equipes fundamentadas em americanos se desestruturam em campo, na mesma proporção daquelas sem os estrangeiros tão ambicionados? – Partindo do pressuposto, de que americanos com sua base fundamental nos detalhes técnicos do jogo, praticam a modalidade com maior domínio técnico tático do que nós, advindos que somos de uma formação básica deficiente e equivocada, o que explicaria os descompassos desses jogadores tão mais bem formados do que os nossos?
Que tal observarmos a questão por outro ângulo, que não o daqueles jogadores, focando a quem os mesmos ficam subordinados? Isso mesmo, os técnicos, que primeiramente pouco dominam o idioma em nível de conversação, fator indispensável a um completo entendimento sobre componentes técnicos, táticos e até comportamentais complementares a sua experiência profissional como um todo, restringindo e omitindo o necessário detalhamento para sua real integração ao sistema proposto, tornando fragmentário, e até ininteligível o diálogo entre ambos, que é o fator mais importante para o estabelecimento da confiança e comprometimento mútuos, base estrutural de uma equipe.
Também o fator qualitativo, pois não podemos desconhecer o fato de que a esmagadora maioria desses profissionais é constituída de jogadores de quarta ou mais linhas no mercado mundial, sendo que os que para aqui são canalizados, o são como décima sétima, ou mais, opções de ligas em países que os remuneram acima da realidade do nosso mercado. Talvez, com a forte recessão econômica na Europa, melhores valores por aqui aportem, inclusive, profissionais para a direção técnica.
Finalmente, o fator referente ao sistema de jogo, que por ser aquele adotado quase que unanimemente por técnicos e jogadores, nacionais e estrangeiros, transformam a todos em “profundos conhecedores” do mesmo, autorizando-os a tomarem iniciativas de cunho próprio sobre algo de domínio público, onde segredos e surpresas inexistem e se repetem sem fim, num carrossel de interesses e pseudo trocas de cunho imediatista e oportunista.
Enfim, mesmices assim são criadas e perenizadas, em nome dos “modernos conceitos de basquetebol”, reino privatizado por uns poucos, corporativados para que nada possa ferir, ou sequer arranhar o domínio que exercem sobre esse impensável e absurdo caos, mesmo sob o holofote das discussões e cobranças midiáticas e picarescas.
Temo, sinceramente, que algo de novo e ousado custe muito, e talvez seja impossibilitado de ocorrer no âmago do grande jogo em nosso país, o que saberemos com certeza e alguma precisão no próximo março, quando seis ou meia dúzia dirigirão por sobre mais um ciclo olímpico, a não ser que uma terceira e redentora via venha a iluminar o descaminho que se descortina no horizonte.
Até lá, continuemos a assistir jogadores aplicarem décimas primeiras jogadas, já que as dez “exaustivamente treinadas” sucumbem a uma defesa razoavelmente postada, e se zonal, ai sim, com o caos declarado, e isso para todas as equipes da LNB, no breve a ser iniciado NBB5
Amém.
Fotos – 1- Ataque paralisado e de cunho individual
2- A cobrança das dez jogadas…
3- A prova da mesmice endêmica.
Fotos reproduzidas da TV. Clique nas mesmas para ampliá-las.