QUEM FAZ UM CESTO,FAZ…

Minha saudosa avó materna sempre afirmava quando se deparava com situações e criaturas reincidentes: “Quem faz um cesto, faz um cento”! Boa e oportuna citação nordestina, e que se encaixa com perfeição na atual e triste situação do basquete tupiniquim.

Mal saída do forno requentado, a convocação do espanhol já começa a suscitar cruciais dúvidas, principalmente quanto às verdadeiras intenções da turma da NBA, em contraste com as juras de fidelidade da turma européia, confrontados em suas afirmações pelo defenestrado Marcos, único amotinado em Las Vegas a ser alijado do processo, exatamente por incorrer no pecado mortal de expor as mazelas ocorridas intramuros naquele nefasto Pré-Olímpico. Foi ele, que magoado ou não, infantilmente ou não, arrazoado ou não, mas sem dúvida alguma sincero em sua catilinária, quebrando o principio mafioso do segredo inter pares, que escancarou ao mundo a atitude pusilânime de um grupo, que ao quebrar e romper o principio de comando, aceito por todos, inclusive ele, ao inicio da organização grupal, lançou aos porões da infâmia todo o trabalho realizado, que se por acaso não vinha tendo bons resultados, jamais caberia uma ação de rebelião por parte de quem estava ali para jogar, e não tomar indevida e absurdamente em mãos o comando técnico-tático da seleção. E por conta do lembrete de minha avó, foi o amargo Marcos retirado do processo antes de “fazer um cento”, que se colocou na posição de poder observar de fora a possibilidade real de que “outros centos” possam vir a ocorrer com os que lá se mantêm.

No blog UOL de ontem, sob o título “Trio da NBA pode desfalcar Brasil no Pré-Olímpico da Grécia”, segundo o Estado De São Paulo, a comissão técnica da equipe, liderada pelo espanhol Moncho Monsalve, teme que Leandrinho, Nenê e Anderson Varejão não se apresentem até o dia 8 de junho. Ao largo das explicações sobre contusões e tratamentos por que passam os jogadores mencionados, os dois últimos parágrafos da matéria é que sugere em suas entrelinhas alguns dos motivos que põe em cheque as possíveis ausências : – A lesão dos jogadores, no entanto, pode não ser o único obstáculo para a participação do trio no Pré-Olímpico na Grécia. Isso porque os atletas contavam com a contratação de um treinador norte-americano e não de um europeu para comandar o Brasil.

– O ala Marquinhos, deixado de fora da convocação de Moncho Monsalve, confirmou o interesse dos atletas da NBA em março. “ A gente queria um técnico americano, mas ninguém deu bola”, afirmou o jogador ex-New Orleans Hornets.

Como vemos e podemos imaginar, os resquícios do motim em Las Vegas ainda rende frutos, amargos frutos, colhidos pela traição de um grupo que se considera acima de comandos e decisões, de leis e princípios desportivos, acobertados por uma direção confederativa acéfala e suspeita, e que tudo faz e realiza para se manter “de bem” com uma pseudo liderança de jogadores travestidos de donos do pedaço, encastelados em suas capitanias hereditárias, ao largo do bom senso e compreensão dos verdadeiros e autênticos princípios de esporte e da convivência humana. Se auto convocam, dão entrevistas, definem comportamentos e emitem opiniões sobre grupos fechados, assim como desfilam argumentos sobre maneiras de atacar e defender, como arautos do conhecimento pleno do grande jogo, que ante seus posicionamentos se apequena, até sumir no caudal de derrotas humilhantes, engolfadas pelos seus lastimáveis e despropositados egos.

Não só erros de comando de técnicos e comissões devam ser responsabilizados por fracassos. Também jogadores podem ter participação determinante no processo de formação, sucesso ou fracasso de uma equipe, basicamente quando se insurgem contra a hierarquia de comando, inviabilizando a consecução do mesmo, assumindo um papel que não o seu, que é o de jogar e defender uma camisa, uma bandeira, uma equipe. Hoje até se negam a fazê-lo, em quadra e fora dela, e até quando interesses financeiros vultosos estão em jogo.

No entanto, muitos jogadores de bom nível técnico, assim como excelentes técnicos são omitidos em convocações, e que nem a capacidade inovadora corajosa de alguns, sensibiliza um departamento técnico desprovido de conhecimento, de discernimento e de comprometimento com o basquete nacional. Quando muito (ou pouco…) premia acólitos e protegidos, diluídos, porém garantidos, no rol de até bons jogadores, que serão preteridos mais adiante, em prol de interesses que transcendem os verdadeiros e justos objetivos que compõem uma autêntica seleção.

“Quem faz um cesto, faz um cento”. Creio que todos nós já vimos esse filme, em estéreo e a cores, porém com um final trágico e infeliz, fazendo com que perguntemos indignados : Quando vamos aprender? Quando vamos aprender de verdade? Quando meus deuses?

Amém.



4 comentários

  1. Walter Carvalho Neto 27.05.2008

    Professor Paulo Murilo,

    Mas que vergonha! Ainda me lembro de uma basquetebol de uma fase “Fantastica” e “Romantica” onde eu pegava o meu cachorro quente do genial e um mate e ia sentar nas cadeiras azul do Maracanazinho para assistir com ORGULHO a selecao brasileira jogar contra Uniao Sovietica, Iugoslavia, Mexico, Estados Unidos (equipes universitarias), Argentina e Uruguai. Nossa selecao na epoca dirigida por tecnicos brasileiros que se impunham e tinham lideranca. Ainda me recordo do Edson Bispo, do Edvar e outros dirigindo jogadores fantasticos que tinham orgulho em representar e vestir a camisa do Brasil como Marquinhos, Menon, Helio Rubens, Adilson, Carioquinha, Dodi, entre outros. Imagino o que aconteceria se algum desses craques de hoje, formados pela midia, tivessem este tipo de comportamento com o Edson Bispo ou com o Edvar, este jogador levaria uma porrada! Que saudade eu tenho da epoca de Pedrinho, Marvio, Doinha, Pedrao, Montenegro, Carioquinha, Marcel, Luisinho, Rogerio, Felipao, Felinto, Robertinho, Marvio, os irmaos Iva e Erico, William do Botafogo! e de tecnicos como o Kanela, Jose Carlos, Emanuel Bonfim, Paulo Murilo, Marcelo, Waldir, Tude Sobrinho, Sr. Gleck, Guilherme do Mackenzie,e outros mais. Jogadores e tecnicos dedicados e nao formados pela midia!que eram exemplos de dedicacao, competidores e eram MUITO Machos! e sabiam liderar, se impor e ser exemplo para nos jogadores mais novos e para toda uma geracao. Gracas a Deus eu tive a oportunidade de estar ligado a uma geracao como a do Marcel, Israel, Paulinho, Gerson, Oscar entre outros que ao entrar na quadra botavam pra quebrar! Era tudo Brasil. Me recordo que no Torneio pre-olimpico de 1992 em Portland no jogo contra o Mexico, jogo este que determinaria ou nao a a classificacao do Brasil para a Olimpiada de Barcelona, o Medalha pediu tempo, faltando 3 minutos para acabar o jogo com o Brasil liderando por 1 ponto, e chamou o Marcel. Este ainda nao tinha participado do jogo. Na primeira posse de bola da zona morta, resultado de jogada previamente treinada de lateral, o Marcel arremesou uma bola de 3 pontos e o resto e historia! Nos classificamos para a Olimpiada. Fico pensando que hoje em dia jogadores que nao chegam nem aos pes do Marcel se recusam a entrar em quadra especialmente se faltar pouco tempo para acabar o jogo. Outros escolhem os tecnicos ou nacionalidade dos mesmos! E uma vergonha!

  2. Clóvis Rafael 27.05.2008

    Professor Paulo,

    Me sinto envergonhado e traído pelos atletas que se consideram “estrelas” e principalmente pela CBB, que teima em manter uma pessoa acéfala e mau-caráter!!!!

    Escrevi no REBOTE e vou escrever aqui, se eu fosse MONCHO MONSALVE faria o seguinte, se o TRIO não aparecer no dia 8, corta e chama seus substitutos!!!

    Pelo menos chamaria HÉLIO(FLA) e TAVERNARI, e manteria o restante!!! E focar com esse pessoal, treinar e mostrar pulso firme… Me parece que SPLITTER, ALEX e TAVERNARI estão muito afim de participar de uma olimpíada, pq não utilizar a gana dos jogadores que ainda aceitam jogar por amor e por um ideal, e assim formar uma equipe competitiva?????

    Fico aqui triste por não ter mais o basquetebol, o mesmo romantismo e o mesmo ideal de 3 ou 4 décadas atrás!!!

    Um abração Professor!!!

  3. Basquete Brasil 28.05.2008

    Prezado Walter,realmente é uma vergonha o que já ensaia acontecer,e que vai acontecer,infelizmente.A tentativa de jogar pra baixo do tapete os tristes acontecimentos de Las Vegas,reforça a amarga sensação de uma reprise indesejada,mas incontrolável.Os mesmos interpretes daquela farsa estarão mais presentes do que nunca,assim como a turba que os prestigiam e apoiam.Cardeais não perdem a mitra,com a qual golpeiam os que tentam desalojá-los de suas lideranças negativas,mesmo pagando o prêço da derrota.Outras reuniões secretas ocorrerão,queira ou não o espanhol de plantão],que deverá tomar muito cuidado ao pisar em terreno tão minado.Quem faz um cesto,faz um cento.E farão,sem dúvida. Um abraço,Paulo Murilo.

  4. Basquete Brasil 28.05.2008

    Prezado Clovis,por que se sentir envergonhado e traido por uma turma que não está nem ai para tais sentimentos? Por que não orientarmos nossas esperanças e orgulho aos novos bons jogadores que estão surgindo,ao lado de bons veteranos que jogam de verdade? Infelizmente não podemos dizer o mesmo da maioria de nossos técnicos,mais preocupados com suas performances ante a midia,garantidora daqueles 15 minutos de gloria preconizado pelo Andy Worhol.Mais um dia as fichas cairão,e só rezo aos deuses para que não seja tarde demais.Um abraço,Paulo Murilo.

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